TIPOS DE OBREIROS NA SEARA
Antonio Gilberto
Conheça as principais características dos obreiros da igreja contemporânea
Jesus destacou a importância de se ter obreiros
dedicados para a expansão do Reino de Deus na Terra. Isso porque o
ministério é indispensável para a obra de Deus.
Em Lucas 10.2, lemos as seguintes palavras de Jesus
aos setenta, aos quais enviou de dois em dois a todas as cidades e
lugares aonde havia de ir: “Grande é, em verdade, a seara, mas os
obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros a
sua seara”. A Igreja precisa de bons obreiros.
PRIMÓRDIOS DO MINISTÉRIO
Os primórdios do ministério na Bíblia estão em
Gênesis. O Livro dos Começos nos mostra que, nas primeiras famílias, os
pais tementes a Deus eram os sacerdotes da família. Há muitos exemplos
que apontam para isso.
Abel apresentou uma oferta (de animais) ao Senhor
(Gn 4.4 e Hb 11.4). As Escrituras nos dizem que com Sete se começou a
invocar o nome do Senhor (Gn 4.26). Noé edificou um altar e ofereceu
holocaustos ao Senhor (Gn 8.20). Esta é a primeira menção de altar na
Bíblia.
Melquisedeque era sacerdote do “Deus Altíssimo” (Gn
14.18 e Hb 7.1). Abraão edificou altares ao Senhor em Siquém, Betel e
Hebrom (Gn 12.6-8; 13.4,18). Isaque fez a pergunta: “Onde está o
cordeiro para o holocausto?”, Gn 22.7. Isso mostra que ele estava
habituado a ver seu pai Abraão oferecer sacrifícios ao Senhor (Gn
22.13). O próprio Isaque edificou um altar ao Senhor (Gn 26.25).
Jacó também edificou um altar ao Senhor (Gn 33.20;
35.1,3,7). Jó, contemporâneo dos patriarcas, oferecia holocaustos ao
Senhor. Isso implica altar (Jó 1.5).
Mais à frente, vemos Israel, como nação, sendo
colocada por Deus como “um reino sacerdotal” (Ex 19.6; 2Pe 2.9 e Ap
1.6). Em Êxodo 19.22,24 e 24.5, vemos o sacerdócio mosaico. Já em
Levítico 3.6 e Números 18.2, vê-se a instituição do sacerdócio levítico.
Os textos de Êxodo 28.1 e Números 18.1 falam justamente de Arão e seus
filhos, que eram da casa de Coate e serviriam no sacerdócio. Os filhos
de Arão eram Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar.
Na igreja atual, de forma geral, há quatro tipos de
obreiros na Seara: o bom obreiro, o mau obreiro, o falso obreiro e o
ex-obreiro.
O BOM OBREIRO
O bom obreiro tem suas características destacadas
nas Sagradas Escrituras. Em 1 Timóteo 4.6, Paulo fala ao jovem obreiro
Timóteo a ser fiel e diligente no ministério, pois, assim, ele seria “um
bom ministro de Jesus Cristo”.
Em Mateus 25.21,23, na parábola dos dez talentos,
Jesus fala que os servos que investiram nos talentos que lhes foram
deixados para administrar receberam de seu senhor o reconhecimento como
servos bons e fiéis: “E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e
fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo
do teu senhor”.
“Bom”, segundo os textos bíblicos de Timóteo e
Mateus, é ser sadio na fé, no viver e na doutrina bíblica; equilibrado
em tudo; capaz; aprovado (2Tm 2.15); limpo quanto ao bom combate
espiritual (2Tm 4.8); e duradouro quanto ao seu trabalho e aos frutos de
seu trabalho.
Os sinais de um bom obreiro são nítidos. Ele é fiel,
leal a toda prova e humilde. O humilde aprende mais, resiste mais,
aparece pouco, mas faz muito. Um exemplo disso está em Lucas, em Atos
dos Apóstolos; Aristarco (Cl 4.10) e Epafras (Fm 23).
Outros sinais são a sua espiritualidade e
consagração. Ele também é dócil. É fácil de se lidar com ele. Em outras
palavras, ele é exatamente o oposto do obreiro “difícil”.
O obreiro difícil é aquele complicado para dialogar e
tratar de assuntos da obra e das ovelhas. E difícil pô-lo em movimento,
fazê-lo funcionar. Ele é difícil de participar, comparecer e cooperar, e
costuma ser evitado. Um obreiro que teve má formação ministerial pode
ficar estragado pelo resto da vida se não acordar para a realidade dos
fatos.
O bom obreiro é diligente, esforçado. As vezes até
exagera no trabalho do Senhor. Temos o exemplo de Epafrodito (Fp
2.25-30). Ele também é discreto e controla seus impulsos e sua língua ao
falar. Apóstolo Paulo é um exemplo, como podemos ver no texto em que
fala de suas “visões e revelações do Senhor” (2Co 12.1) e de seu
“espinho na carne” (2Co 12.7). Outro exemplo do modo como ele sabia
controlar seus impulsos está no comentário a respeito de Demas, seu
obreiro auxiliar: “Demas me desamparou, amando o presente século, e foi
para Tessalônica”, 2Tm 4.10. Nada mais Paulo quis falar sobre Demas.
Outro sinal marcante de um bom obreiro é a
sociabilidade. Ele é sociável com os seus pares de ministério, a sua
congregação e a família. Imagine um obreiro que ninguém o quer por ser
antissocial. E inadmissível.
EXEMPLOS DE BONS OBREIROS
A Bíblia está repleta de exemplos de bons obreiros.
Zadoque, o sacerdote, descendente de Arão por seu filho Eleazar, é um
deles (1Cr 24.3). Ele foi fiel e leal a Davi em todo o seu reinado, do
princípio ao fim (1Cr 12.23,28; 2Sm 19.11; 20.25; 1Rs 1.8; 2.25).
Abiatar, outro sacerdote descendente de Arão, por seu filho Itamar, e
contemporâneo de Zadoque, não teve o mesmo procedimento. A Bíblia nos
diz que ele não foi fiel a Davi até o fim. Falaremos dele ao
discorrermos sobre o mau obreiro.
Itaí, o giteu (2Sm 15.17-22; 18.2), é outro grande
exemplo, ao lado de Husai, o arquita. Itaí era estrangeiro, de um país
inimigo, mas foi fiel. Husai, o arquita (2Sm 16.6; 17.15-22), era um
efraimita (Js 16.2).
Podemos destacar, já no Novo Testamento, bons
obreiros como Demétrio (3Jo 12) e Barnabé (At 11.22-24). Diz as Sagradas
Escrituras que Barnabé “era um homem bom” (At 11.24, versão Almeida
Revista e Atualizada). Temos ainda os obreiros que trabalharam com Paulo
e que são citados nominalmente por ele (Cl 4.7-14).
O MAU OBREIRO
“Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão!”, Fp 3.2.
“Respondendo-lhe, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo”, Mt 25.26.
“Então, o seu senhor, chamando-o à sua presença,
disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me
suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro,
como eu também tive misericórdia de ti?”, Mt 18.32-33.
“Não terão conhecimento os obreiros da iniquidade,
que comem o meu povo como se comessem pão? Eles não invocam ao Senhor”,
Sl 14.4.
Os textos acima deixam claro que obreiro de má
qualidade é aquele que é infiel e não procura melhorar. Mas como um bom
obreiro torna-se mau ou ruim?
O bom obreiro costuma tornar-se mau aos poucos.
Temos os exemplos bíblicos de Judas Iscariotes, discípulo de Jesus;
Geazi, servo do profeta Eliseu; e Pernas, cooperador do apóstolo Paulo. A
mudança é fruto dos maus costumes e maus hábitos que o obreiro trouxe
do passado, ou os adquiriu depois, e não largou.
Outra coisa que pode afetar um bom obreiro,
tornando-o ruim é o desconhecimento do seu temperamento e o agir segundo
este (Pv 16.32; 23.12; 25.28). Há também o caso de bons obreiros que se
tornam maus por copiarem maus exemplos dos outros e de fora ou por ter
má formação ministerial (Lc 9.49-50).
Um obreiro estranho, misterioso, enigmático, isolado
de todos, também tem tudo para se tornar um mau obreiro, bem como o
obreiro sempre imaturo social, emocional e espiritualmente (Ec 10.16).
Por último podemos citar como fator que pode provocar essa mudança
negativa o obreiro receber poderes em demasia, como no caso de Joabe
(2Sm 3.39; 16.10; 19.22).
Os sinais de um mau obreiro estão listados em Mateus
25.26, Jeremias 6.13 e 50.6, e Miquéias 3.9-11. Ele é parasita,
indolente, ocioso, preguiçoso, desordenado na sua vida, na família e no
seu trabalho; não tem ordem, é ambicioso por posição, cargo e
credencial; é invejoso, mercenário e mercadeja os dons e as coisas de
Deus. Neste caso, temos os exemplos de Balaão e Simão, o mago (At 8.18).
O mau obreiro também é liberal na doutrina bíblica, e
nos bons e santos costumes da igreja, como o sacerdote Urias (2Rs 16) e
as duplas Himeneu e Fileto, e Himeneu e Alexandre (2Tm 2.17,18 e
4.14,15). Aliás, muitos maus obreiros costumam agir em dupla.
O mau obreiro é briguento. Daí, passa a
politiqueiro. É divisionista por rebeldia (1Rs 13.26) e reclamador
crônico, diferente de Jesus, do qual é dito em Isaías 53.7 que “não
abriu a sua boca”. Ele ainda procura ser “independente” e isolado.
Geralmente, para ser insubmisso. É constantemente problemático. E um
problema para si mesmo. Ele dá problema, gera e depois alimenta o
problema. Em outras palavras, ele complica um problema já existente.
Ezequiel 34 diz que o mau obreiro larga as ovelhas e
o seu campo. Ele tem mau caráter, e isso é altamente comprometedor.
Quando ele dá fruto, este não vinga.
EXEMPLOS DE MAUS OBREIROS
Uma das duplas de maus obreiros célebres nas
Escrituras é Nadabe e Abiú. Ela é conhecida como a dupla inovadora (Lv
10.1-10). Coré (Nm 16.13) foi insubmisso ante Moisés, o dirigente
constituído por Deus. Aitofel, o gilonita, portanto de Judá (2Sm
15.12-13), era conselheiro pessoal de Davi, mas juntou-se a Absalão na
revolta deste contra o rei, seu pai. Por isso, Aitofel é chamado por
alguns “o Judas do Antigo Testamento”.
Geazi, o auxiliar do profeta Eliseu, que aparece em 2
Reis 4 em diante, era oportunista, mercenário e ganancioso. Diótrefes
(3Jo 9-10) era indelicado, violento e perseguidor. Contrasta com isso a
proverbial cortesia de Paulo, como podemos constatar na sua Epístola a
Filemon. É como no Templo, onde havia pedras preparadas (1Rs 6.7), mas
que não eram vistas (1Rs 6.18).
Abiatar, o sacerdote (2Sm 8.17), ajudou a conduzir a
Arca do Senhor (1Cr 15.11), mas foi infiel no final do reino de Davi
(1Rs 1.7; 2.27). Joabe, o grande general de Davi (2Sm 8.16), não foi
fiel a Davi até o fim (1Rs 1.7; 2.28). Ele juntou-se a Adonias, o filho
mais velho de Davi, no seu complô contra o pai.
Há muitas figuras de mau obreiro nas Escrituras.
Simei é a do mau obreiro declarado (2Sm 16.5-9,13). Podemos ver também 2
Samuel 19.18-23 e 2 Reis 2. Ziba, no passado, fora servo do rei Saul
(2Sm 9.2). Ele é figura do mau obreiro camuflado (2Sm 16.1-4;
19.16,17,25,26).
Aimaás, filho do sacerdote Zadoque, era muito
apressado. Ele era também um grande corredor, mas não tinha mensagem
para entregar, como podemos ver em 2 Samuel 18.19 em diante.
O FALSO OBREIRO
O pseudo obreiro é aquele que nunca foi obreiro de
fato. O falso obreiro vê o ministério como uma carreira profissional,
uma profissão. Um exemplo é o levita de Juízes 17.6-12 e 18.14.
Paulo escreveu sobre o falso obreiro em suas
epístolas. “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos,
transfigurando-se em apóstolos de Cristo”, 2Co 11.13. “E isso por causa
dos falsos irmãos que se tinham entremetido e secretamente entraram a
espiar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus, para nos porem em
servidão”, Gl 2.4.
Na assembleia de Jerusalém, apóstolo Tiago falou
acerca desses obreiros: “Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre
nós vos perturbaram com palavras e transtornaram a vossa alma (não lhes
tendo nós dado mandamento)”, At 15.24. João também se referiu a eles:
“Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam
conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós”,
1Jo 2.19.
No Antigo Testamento, Moisés falou sobre o castigo
dos falsos profetas, e descreveu estes como filhos de Belial: “...uns
homens, filhos de Belial, saíram do meio de ti, que incitaram os
moradores da cidade...”, Dt 13.13.
O EX-OBREIRO
Ex-obreiro, aqui, não se trata do obreiro jubilado,
nem do obreiro licenciado temporariamente, nem do portador de doença
crônica, etc. Trata-se do obreiro que renunciou e abandonou o seu
ministério. É o obreiro que abdica de seu ministério.
Paulo, escrevendo em 1 Coríntios 9.27, fala de sua
preocupação quanto à reprovação: “Para que eu mesmo não venha de alguma
maneira a ficar reprovado”. Demas é um exemplo de obreiro reprovado (2Tm
4.10). Em Filemom, versículo 24, Paulo o cita como um de seus
cooperadores. Em Colossenses 4.14, mais uma vez vemos Paulo citando-o
com apreço. Mas, em 2 Timóteo 4.10, o apóstolo nos conta o desvio de
Demas: “Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para
Tessalônica”.
Em Atos 1.25, lemos o relato dos apóstolos acerca de
Judas, que também se encaixa nesse perfil. “Neste ministério e
apostolado, de que Judas se desviou”, diz o texto bíblico.
Jesus exortou seus discípulos, dizendo do perigo de
“quem lança mão do arado, e olha para trás”: “Ninguém que lança mão do
arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus”, Lc 9.62. Paulo,
escrevendo em 1 Timóteo 1.6, lembra que alguns obreiros não foram até o
fim: “Do que desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas”. Ainda
falando a Timóteo, Paulo deixa claro que, infelizmente, “alguns fizeram
naufrágio na fé” (1Tm 1.19).
Certa vez, depois de um discurso considerado duro, o
Mestre perguntou aos doze, os únicos que permaneceram após as suas
palavras: “Quereis vós também retirar-vos?”. Ao que Simão Pedro
respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida
eterna” (Jo 6.67-68).
COMO O BOM OBREIRO PODE MELHORAR
Para que o bom obreiro possa continuar a melhorar no
exercício de sua função na obra de Deus, ele terá que observar pelo
menos alguns pontos considerados essenciais para sua formação.
Em primeiro lugar, o bom obreiro deve gostar de ler,
e ler muito. E bom também que ele curse formalmente ou no mínimo que
seja um bom autodidata. Ele deve ainda contatar e conviver com pessoas
cultas, tanto na cultura bíblica como secular.
Em segundo lugar, deve o obreiro fazer uma constante
auto-avaliação. O bom obreiro deve ter autocrítica. Para o nosso
melhoramento como obreiros do Senhor, devemos analisar o nosso gráfico
constantemente. Estamos subindo, conforme as palavras de Paulo em
Filipenses 3.14? Estamos parados, conforme o servo mau e negligente da
parábola do Mestre em Mateus 25.25? Ou estamos descendo, conforme a
descrição dos sacerdotes inferiores aos levitas em 2 Crônicas 29.34?
Em terceiro lugar, o bom obreiro deve frequentar
ambientes de culto. Em quarto lugar, ele deve ser humilde. O humilde
aprende muito mais, e mais depressa. Em quinto, ele deve ser atento
observador dos bons obreiros.
Em sexto lugar, o bom obreiro deve exercitar-se na
prática do trabalho do Senhor. A experiência é um grande mestre. E em
sétimo e último lugar, ele deve estudar a Palavra de Deus continuamente;
e não apenas lê-la. “Tu, pelos teus mandamentos, me fazes mais sábio
que meus inimigos, pois estão sempre comigo”, Sl 119.98.
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