A doutrina da santificação
Foi especificamente esta palavra
grega, desprovida da ideia de moralidade e caráter, que os escritores do N. T.
escolheram para falar da santificação em Cristo, da mesma forma que a palavra
hebraica ‘qodesh’ significa separar no A. T. No entanto, observa-se que, muito
tempo depois, a palavra que se traduz para ‘santificação’ passou a apresenta um
novo sentido conforme a concepção dos religiosos. Este novo sentido da palavra
passou a predominar gradualmente, passando a estar vinculada à moral e ao que é
religioso.
“Que dizem: Fica onde estás, e não te
chegues a mim, porque sou mais santo do que tu. Estes são fumaça no meu nariz,
um fogo que arde todo o dia” (Is
65:5 2 O tempo todo estendi as mãos a
um povo obstinado, que anda por um caminho que não é bom, seguindo as suas
inclinações; 3 esse povo que sem cessar me provoca abertamente, oferecendo
sacrifícios em jardins e queimando incenso em altares de tijolos; 4 povo que vive nos túmulos e à
noite se oculta nas covas, que come carne de porco, e em suas panelas
tem sopa de carne impura; 5 esse povo diz: 'Afasta-te!
tem sopa de carne impura; 5 esse povo diz: 'Afasta-te!
Não te aproximes de mim, pois
eu sou santo!'
Essa gente é fumaça no meu
nariz!
É fogo que queima o tempo todo!)
Introdução
Por ser um tema controverso, surgem inúmeras
questões sobre o lado prático da Santificação, por exemplo:
O que promove a santificação?
A oração?
O jejum?
A leitura bíblica?
A adoração?
A obediência?
Manter-se separado de outros
pecadores?
Depende de tempo?
Os teóricos procuram dar uma
estrutura à doutrina da santificação:
O que é ser santo?
O que a palavra santa designa ou
descreve?
É por graça somente, sem qualquer vínculo
com a lei?
Ciente da problemática em torno do
tema Santificação e das dificuldades decorrentes das variadas correntes de
interpretação bíblica, resta uma pergunta que motivou este trabalho: é possível
ser mais santo do que outro irmão em Cristo?
Há quem diga que o crente
precisa ‘entrar pra valer na corrida para a santificação’.
Como este tema é de extrema
relevância para os cristãos, não poderíamos nos furtar em apresentar um
trabalho que abordasse este tema, do qual, as várias correntes de interpretação
acabaram por tornar controverso.
Nós cristãos precisamos compreender
como ocorre a santificação, e por que somos designados santos, para que não
incorramos nos mesmos erros do povo de Israel, e de muitos seguimentos
religiosos da atualidade: legalismo, formalismo e tradicionalismo.
A palavra ‘santo’ e ‘santificação’
Para o nosso estudo faz-se necessário
que o leitor considere as palavras do Dr. Bancroft, extraída do seu livro
Teologia Elementar:
“A raiz da qual se originam esta e
outras palavras correlatas, é o vocábulo grego ‘hagios’. O pensamento mais
próximo da santidade de que era capaz o grego secular era “o sublime, o
consagrado, o venerável”. O elemento moral está totalmente ausente.
Ao ser adotada esta palavra nas Escrituras, entretanto, foi necessário
proporcionar-lhe novo sentido. Empregando a palavra ‘santo’ em seu sentido mais
elevado, quando aplicada a Deus, os melhores lexicógrafos definem-na como
‘aquilo que merece e exige reverência moral e religiosa'” BANCROFT, Emery. H., Teologia
Elementar – 3º Edição 2001, Ed. EBR, Pg. 261. (grifo nosso).
A palavra grega ‘hagios’ possui
variadas formas, porém, é traduzida para ‘santo’, ‘santificação’, ‘santificar’,
‘santidade’ e ‘santificado’. Esta palavra grega trazia a ideia do sublime, do
consagrado e do venerável sem qualquer referência à moral ou ao caráter.
Foi especificamente esta palavra
grega, desprovida da ideia de moralidade e caráter, que os escritores do N. T.
escolheram para falar da santificação, da mesma forma que a palavra hebraica
‘qodesh’ significa separar no A. T.
No entanto, observa-se que, muito
tempo depois, a palavra que se traduz para santificação passou a apresenta um
novo sentido. Este novo sentido da palavra passou a predominar gradualmente,
passando a estar vinculada à moral e ao que é religioso.
Observe o que Bancroft disse:
“Os melhores lexicógrafos definem-na
como ‘aquilo que merece e exige reverência moral e religiosa”.
Neste sentido, Erickson também diz:
“Esse sentido passou gradualmente a
predominar. Ele designa não apenas o fato de os crentes serem formalmente
separados, ou pertencerem a Cristo, mas que devem, portanto, agir de acordo com
isso. Eles devem viver em pureza e bondade” Introdução à Teologia Sistemática, por Millard J. Erickson, 1 ª
ed. Vida Nova, Pg 418.
Era mesmo necessário proporcionar um
novo sentido às palavras gregas e hebraicas que foram traduzidas pelas palavras
‘santidade’ e ‘santo’? Os apóstolos não tinham bem definido em suas mentes qual
o sentido exato da palavra que utilizaram para escrever sobre a santificação?
O significado das palavras ‘hagios’ e
‘qodesh’ é separado para Deus, e em ambos os testamentos foram utilizadas para
designar pessoas e coisas. Quando tais palavras são utilizadas para coisas, não
há qualquer referência à qualidade moral. Porém, quando se refere à pessoas,
este deveria ser o mesmo tratamento, visto que, por mais que uma pessoa procure
separa-se para ser santa, jamais alcançará tal intento, se Deus não o fizer.
Por que a palavra traduzida por
santificação deixou de designar o fato dos crentes serem separados, ou
pertencentes a Deus, para apontar um dever de se agir conforme um padrão de
moral rotulado ‘santo’, ou que se deva agir de acordo com o certo e errado?
O trabalho de um lexicógrafo se
resume em estudar as origens e evolução das palavras. O sentido que os
dicionários empregam para cada palavra decorrem da sua origem, e conclui-se com
a sua evolução ao longo do tempo, o que deve ser feito sem qualquer influência
do estudioso em questão.
Nos resta a pergunta: quem foram os
responsáveis por influenciar e fazer evoluir o sentido da palavra traduzida por
santificação? Os religiosos ao longo dos anos. Sobre quais princípios as
religiões se fundamentam? Não é sobre comportamento, moral, ética, caráter, e
outros elementos humanos?
Quando os escritores bíblicos
empregaram as palavras ‘hagios’ e ‘qodesh’ para falar sobre a santificação em
Cristo, nem de longe fizeram qualquer referência a merecimento, exigência,
moral e religiosidade, como hoje os lexicógrafos definem.
Como definir o significado de uma
Palavra?
Se quisermos saber o significado de
uma palavra, a melhor maneira de saber o seu significado é através de um bom
dicionário. Neste aspecto, é de suma importância o trabalho de um lexicógrafo.
Você terá em mãos o significado atual da palavra, e a sua evolução ao longo dos
anos.
Mas, se você extraiu a palavra de um
texto, a melhor maneira de se entender aquela palavra em específico, é
estudando o contexto no qual ela está inserida.
Um dicionário poderá auxiliar, mas o
sentido exato da palavra é determinado pelo contexto geral do texto.
Esta regra de interpretação de uma
palavra não é diferente quando se trata de textos bíblicos.
Em se tratando de uma palavra
bíblica, o que é mais apropriado para a interpretação do texto: o sentido atual
da palavra, ou o sentido original?
Claro está que o mais importante para
a leitura de um texto bíblico é o sentido original da palavra, e não o seu
sentido atual. Se queremos abstrair um entendimento acerca de uma única palavra
de um texto, o melhor a se fazer é estudar o contexto, fixando a análise no
sentido original da palavra.
Para o nosso estudo, estaremos
utilizando o sentido secular das palavras gregas e hebraicas ‘hagios’ e
‘qodesh’, que significam respectivamente ‘o sublime, o venerável, o consagrado’
e ‘separar’.
Sem antes analisar os textos em que
as palavras são empregadas, não as empregaremos no sentido que gradualmente
passou a predominar.
Como obter a Santificação?
O Dr. Russell Shedd, em seu livro
Lei, Graça e Santificação deixou a seguinte nota:
“Deus quer filhos à Sua imagem,
que imitem a Sua santidade” Shedd, Russell P., Lei, Graça e
Santificação, 2º ed, 1998, ed. Edições Vida Nova, Pág. 55.
Daí surge a seguinte pergunta: a
santidade dos filhos de Deus provem da capacidade deles em ‘imitar’ a santidade
do Pai, ou por serem gerados d’Ele?
A Bíblia é muito clara ao demonstrar
que a regeneração, a justificação e a santificação são provenientes de Deus por
meio da fé em Cristo. É condição adquirida por terem sido gerados de novo
segundo Deus, e não segundo a semente corruptível de Adão.
Através da fé em Cristo o homem é
Santificado: “Para
lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás
a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são
santificados pela fé em mim”
(At 26:18 17 Eu o livrarei do seu próprio
povo e dos gentios, aos quais eu o envio 18 para abrir-lhes os olhos e
convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de
que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela
fé em mim'.).
De igual forma, o homem é Justificado
pela fé em Cristo: “Sabendo
que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo,
temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo,
e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será
justificada”
(Gl 2:16 15 "Nós, judeus de nascimento
e não gentios pecadores, 16 sabemos que ninguém é
justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós
também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não
pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado.).
A Regeneração é por meio da fé: “Necessário vos e nascer de novo (…)
para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna”
(Jo 3:7 e 15 7Não se surpreenda pelo fato de
eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo.
14 Da mesma forma como Moisés
levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem
seja levantado, 15 para que todo o que nele crer
tenha a vida eterna.).
Através dos versículos acima,
verifica-se que a fé é o elemento comum e essencial à regeneração, à
santificação e à justificação.
Por meio do evangelho, Deus oferece
Salvação graciosa a todos os homens que encontram-se perdidos, sendo que a
Salvação é adquirida pela fé em Cristo: “Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”
(Ef 2:8 8 Pois vocês são salvos pela
graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9 não por obras, para que ninguém
se glorie.).
O chamado de Salvação é para todos os
homens, sem distinção alguma. Porém, somente quando o homem crê em Cristo, ou
seja, descansa na promessa proposta, entra em ação o poder de Deus, que é
concedido àqueles que creem para Salvação
(Jo 1:12 12 Contudo, aos que o receberam,
aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, 13os quais não nasceram por
descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum
homem, mas nasceram de Deus.).
A oferta de salvação é proposta ao
homem na condição de pecador, porém, o homem não pode ser salvo enquanto
pecador. É neste ponto que Deus realiza uma obra maravilhosa, segundo a sua
vontade e poder: a Regeneração. O homem que recebe a proposta de salvação e
crê, tem que morrer, e verdadeiramente morre com Cristo, sendo sepultado com
Ele. Isto porque Deus não salva a planta que não foi plantada por Ele, antes
ela é arrancada
(Mt 15:13 13 Ele respondeu: "Toda
planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada pelas raízes.).
A semente incorruptível que foi
plantada no coração do homem, somente germina quando este morre e é sepultado
com Cristo “Na
verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não
morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”
(João 12: 24 24 Mas, quando
os fariseus ouviram isso, disseram: "É somente por Belzebu, o príncipe dos
demônios, que ele expulsa demônios".).
Neste sentido, Cristo não veio trazer
conciliação com a velha natureza presente no homem, mas sim, trazer espada
(Mt 10: 34 34"Não
pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.).
Na Regeneração Deus cria um novo
homem. Este é gerado de Deus “Segundo
a sua vontade, Ele nos gerou de novo…”
(Tg 1:18 18 Por sua
decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos como os
primeiros frutos de tudo o que ele criou.
Ef 2:10 10 Porque somos criação de Deus realizada em
Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as
praticarmos.).
O homem passa a ser a planta plantada
pelo Pai. Esta nova criatura, e somente esta, recebe a Salvação de Deus. A
oferta de Salvação foi feita ao homem na condição de pecador, mas a Salvação se
efetiva naqueles que são de novo criados, segundo Deus
(Jo 1:12 -13 12 Contudo, aos que o receberam,
aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, 13 os quais não nasceram por
descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum
homem, mas nasceram de Deus.).
Na Regeneração o homem ressurge com
Cristo uma nova criatura, e somente este homem pode receber o prêmio da
salvação, por não permanecer no pecado. Pois para isso Cristo ressurgiu “E, se Cristo não foi ressuscitado, é
vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1Co 15:17 15 Mais que
isso, seremos considerados falsas testemunhas de Deus, pois contra ele
testemunhamos que ressuscitou a Cristo dentre os mortos. Mas, se de fato os
mortos não ressuscitam, ele também não ressuscitou a Cristo.).
Da Regeneração decorre a Justificação
e a Santificação.
A Justificação refere-se a declaração
de Deus à nova criatura, visto que ela foi criada segundo a natureza divina:
justa. Deus declara justo o justo que ressurgiu com Cristo dentre os mortos.
Isto, porque não haveria como o velho homem que recebeu a proposta de salvação
ser declarado justo. Na justificação entende-se também que o homem está livre
da condição anterior, quando vivia no pecado.
Já, a Santificação refere-se à nova
natureza recebida na Regeneração. Quando o homem é sepultado com Cristo, ele se
reveste das condições pertinentes a Cristo
(Gl 3:27 26Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, 27pois os que em Cristo foram
batizados, de Cristo se revestiram.).
Deus não tem o culpado por inocente,
mas por sermos vivificados com Cristo, alcançamos o perdão de todos os delitos
(Cl 2:13 13 Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua
carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões 14 e cancelou a escrita de dívida,
que consistia em ordenanças e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a
na cruz, 15 e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um
espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz.).
O cristão não vive mais à ‘sombra das
coisas futuras’, a Santificação é uma realidade na sua vida, pois a realidade é
Cristo
(Cl 2:17 17 Essas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade,
porém, encontra-se em Cristo.).
Não depende de esforço da parte do
homem, visto que, ao ser de novo gerado, temos nos tornados participantes de
Cristo
(Hb 3:14 13 Ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o
tempo que se chama "hoje", de modo que nenhum de vocês seja
endurecido pelo engano do pecado, 14 pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato,
nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio.).
A Salvação em Cristo é adquirida por
meio da fé, sendo que, aqueles que creem recebem poder para serem feitos
(criados) filhos de Deus
(Jo 1:12 12
Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes
o direito de se tornarem filhos de Deus, 13
os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade
da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.).
A filiação divina é adquirida por
meio da fé na mensagem do evangelho (a semente incorruptível). Por meio da
semente incorruptível o homem recebe poder para ser feito, criado, ou gerado de
novo “Segundo a sua vontade, ele nos gerou
pela palavra da verdade…”
(Tg 1:18 18 Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da
verdade, a fim de sermos como os primeiros frutos de tudo o que ele criou.).
O Novo Nascimento é condição
indispensável à salvação, conforme Jesus disse a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo”
(Jo 3:7 7 Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês
nasçam de novo.).
Somente pela fé é possível alcançar a
Regeneração, pois apenas os gerados de novo podem herdar a salvação
(Jo 3:16 16 "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o
seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna.).
O pecador não poder ser salvo,
somente o homem redimido e remido é salvo.
Não podemos esquecer que o velho
homem se originou da queda de Adão, e que a condição de culpável, condenável,
inimigo de Deus e destituído da glória de Deus passou a todos os homens. Por
natureza o homem nascido segundo a semente corruptível de Adão é filho da
desobediência e da ira. Todos os homens que veem ao mundo estão em igual
condição diante de Deus
(Rm 5: 18 18 Consequentemente, assim como
uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um
só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens.).
A argumentação de Paulo de que todos
pecaram e foram destituídos da glória de Deus se fundamenta na natureza decaída
que a semente de Adão produz
(Rm 3:23 21 Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus,
independente da Lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, 22justiça de Deus mediante a fé
em Jesus Cristo para todos os que creem. Não há distinção, 23pois todos pecaram e estão
destituídos da glória de Deus, 24sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da
redenção que há em Cristo Jesus.).
Após crer em Cristo, o homem recebe
de Deus poder para ser feito (criado), filho de Deus. Este homem criado ou
gerado segundo a vontade e poder de Deus é declarado justo. É o que denominamos
justificação. A justificação divina não guarda semelhança com a justiça emanada
dos tribunais humanos. Somente o novo homem gerado segundo a palavra da verdade
pode ser declarado justo por Deus, visto que este novo homem é participante da
natureza divina, por ter sido de novo criada em verdadeira justiça.
O homem que estava morto em delitos e
pecados, após ouvir o convite e crer no evangelho (que é poder de Deus para que
o homem seja criado segundo Deus), ressurge com Cristo dentre os mortos, nova
criatura. Esta nova criatura é declarada justa por Deus. Para que fossemos
declarados justos, Jesus ressuscitou, e, ao ressurgimos juntamente com Ele,
somos declarados justo em decorrência da nova vida
(Rm 4:25 25 Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para
nossa justificação.).
Da mesma maneira que a Justificação,
a Santificação vem por meio da filiação divina. O homem nascido segundo a
vontade de Deus é participante da natureza divina
(2Pe 1:4 4 Dessa maneira, ele nos deu as suas grandiosas e
preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da
natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça.).
Segundo o poder de Deus, o homem que
crê, é criado novamente em verdadeira justiça e santidade.
Observe que a vontade eterna de Deus
é que Cristo seja primogênito dentre os mortos e primogênito de toda a criação,
para que em tudo tenha a preeminência (Cl 1:15 e 18 15 Ele
é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, 16 pois
nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos sejam soberanias, poderes ou autoridades; todas as
coisas foram criadas por ele e para ele.
17 Ele
é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.
18 Ele
é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito
dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia.).
dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia.).
Em Cristo, o homem é uma nova
criatura
(2Co 5:17 17 Portanto, se
alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que
surgiram coisas novas!),
sendo gerado de novo e tido por Deus
como filhos por adoção
(Rm 8:15 15 Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para
novamente temerem, mas receberam o Espírito que os torna filhos por adoção, por
meio do qual clamamos: "Aba, Pai".).
Por meio de Cristo é conduzido à
glória de Deus muitos filhos (Hb 2:10 10 Ao levar muitos filhos à glória, convinha que Deus, por causa de
quem e por meio de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento,
o autor da salvação deles.),
onde a condição de preeminência de Cristo diante de toda criação se torna
efetiva.
Quando os homens que creem são
recebidos por filhos de Deus, irmãos de Cristo e herdeiros com Ele de todas as
coisas, é conferido a Jesus a condição de primogênito de toda criação e dos mortos.
Pois só é possível alguém reclamar o direito de primogenitura quando se tem
irmãos. O unigênito que nos fez conhecer o Pai, agora, após conduzir muitos
filhos a Deus, torna-se o primogênito de toda criação.
Desta forma, Deus quis e gerou pelo
Espírito Eterno filhos para si. Filhos à sua imagem e semelhança, que receberam
d’Ele a plenitude
(Cl 2:10 9 Pois
em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, 10 e,
por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a
plenitude.).
Estes não precisam imitar o Pai em
sua santidade, antes são gerados de novo e detém a natureza do Pai: santos. Não
há como imitar a santidade de Deus, visto que ela decorre da própria natureza
divina.
Sobre este aspecto Jesus
alertou: “Toda planta que meu Pai celestial não
plantou, será arrancada”
(Mt 15:13 13Ele respondeu: "Toda
planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada pelas raízes.).
Quais são as plantas que o Pai não
Plantou? Aqueles nascidos da semente corruptível de Adão! Já os nascidos de
semente incorruptível, que é a Palavra de Deus, este são ‘plantas’ plantadas
pelo Pai
(Jo 3:9 9 Perguntou Nicodemos: "Como pode ser isso?"
1Pe 1:23 23 Vocês foram regenerados, não de uma semente
perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente.).
A santidade daqueles que creem não pode ser uma mera imitação. Ela deve ser
autentica, ou seja, em verdade. A santificação não fica a cargo do homem, e
sim, de Deus.
É Deus que tem o poder de dar nova
vida ao homem. Vida que procede d’Ele e que faz o homem ser participantes da
sua natureza. Deus é luz, e aqueles que creem em seu Filho tornam-se filhos da
luz “Enquanto tendes luz, crede na luz,
para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se,
escondeu-se deles”
(Jo 12:36 36 Creiam na
luz enquanto vocês a têm, para que se tornem filhos da luz". Terminando de
falar, Jesus saiu e ocultou-se deles.
1Ts 5:5 5 Vocês todos são filhos da luz, filhos do dia.
Não somos da noite nem das trevas.).
Da mesma forma que a justificação é
de vida, a santificação também o é
(Rm 5:18 18 Consequentemente, assim como
uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um
só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens.).
O Dr. Shedd ao falar da santificação
e justificação, argumentou que:
“Enquanto a justificação (grego
dikaiosune) foi uma declaração de absolvição, da parte de Deus, que nos deu o
status de santos, sem nenhuma condenação (Rm 8. 11 Portanto,
agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, 2porque
por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado
e da morte.) não entendemos a santificação da
mesma maneira. Paulo chama a igreja de Corinto, aquela singularmente mundana e
carnal, como composta dos que são ‘santificados em Cristo Jesus’ (1 Co 1. 2 1 Paulo,
chamado para ser apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão
Sóstenes, 2 à
igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus e chamados
para serem santos, com todos os que, em toda parte, invocam o nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: 3 A vocês, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e
do Senhor Jesus Cristo.).
Obviamente os que recebem o Espírito de Deus, incorporados em Cristo, são
posicionalmente santos. Por isso um dos títulos mais comuns atribuídos à Igreja
no Novo Testamento é ‘santos’. Neste sentido os dois vocábulos, ‘justo’ e
‘santos’, são sinônimos” Shedd,
Russell P., Lei, Graça e Santificação, 2º ed, 1998, ed. Edições Vida Nova, Pág.
56.
A Justificação não é uma declaração
de absolvição. O termo justificação significa declarar justo, ou seja,
justificação é uma declaração de justo a quem verdadeiramente é justo. Deus não
absolve o culpado, pois o culpado não pode ser tido por inocente
(Na 1:3 3 O Senhor é muito paciente, mas o seu poder é imenso; o Senhor não
deixará impune o culpado.
O seu caminho está no vendava e
na tempestade, e as nuvens são a poeira de seus pés.).
Na justificação o homem não adquire
‘status’ de justo, antes adquire a justiça que é proveniente de Deus. Qual é a
justiça proveniente de Deus? Uma nova vida “… justificação
de vida” (Rm 5:18 18 Consequentemente, assim como
uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um
só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens.), onde tudo se fez novo. Até o tempo
é novo: tempo de paz, gozo e alegria no Espírito Santo de Deus. Deus declara
justo a nova criatura que é criada através do seu poder regenerador. A velha
criatura recebe o que preconiza a lei quando o homem é crucificado com Cristo:
a alma que pecar, essa morrerá!
A Santificação e a Justificação não é
posicional e por isso, não são sinônimas. A Justificação refere-se à declaração
que o Cristão recebe de Deus, e a Santificação à nova natureza do Cristão.
Estes equívocos na abordagem do Dr.
Shedd ocorrem por ele entender que a pecaminosidade da humanidade reside na
vontade própria, sendo que a bíblia demonstra que a pecaminosidade decorre da
natureza herdada em Adão.
Ser santo não implica em ser
distinto. A santidade de Deus não é pertinente àquilo que é difere, e sim, à
Sua natureza. Como a santidade procede da natureza de Deus, jamais ela pode ser
atribuída ou imputada, antes decorre da Regeneração (gerar de novo), onde o
homem passa a ser participante da natureza divina (1Pe 1:3 3 Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande
misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4 para
uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor.
Herança guardada nos céus para vocês 5 que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de
Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo.).
Sobre este aspecto o apóstolo Pedro
escreveu: “Visto
como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo
conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; Pelas quais ele
nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis
participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela
concupiscência há no mundo” (1Pe
1:3 -4 3 Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande
misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4 para
uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor.
Herança guardada nos céus para vocês 5que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de
Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo.).
Deus chamou os que creem pela sua
glória e virtude, ou seja, os cristãos foram chamados para louvor de sua glória
e em amor, a virtude de Deus
(Ef 1:4-6 4 Porque
Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis em sua presença.
5 Em
amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus
Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, 6 para
o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.).
Para ser participante da natureza
divina, os cristãos foram abençoados com a predestinação, ou seja, aqueles que creem
em Cristo não possuem outro destino, se não, serem filhos de Deus.
Só é possível escapar da corrupção
que há no mundo (natureza pecaminosa herdada em Adão), quando se torna
participante da natureza divina (filiação). Tudo isto é dado aos cristãos
através do poder de Deus, que concede vida, o que contrasta com a condição antes
de se ter a Cristo: morte. Esta nova vida deve ser desfrutada em piedade, ou
seja, o cristão deve andar segundo as boas obras que Deus preparou
(Ef 2:1010 Porque somos criação de Deus realizada em
Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as
praticarmos.).
Como Deus desejou ter filhos para que
o seu Filho obtivesse a preeminência em tudo, os cristãos são feitura Sua,
criados em Cristo e à Sua imagem, em verdadeira Justiça e Santidade
(Ef 2:10 10 Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para
fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos.
Ef 4:24 22 Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram
ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, 23a
serem renovados no modo de pensar e 24 a revestir-se do novo homem, criado para ser
semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.).
A santificação é uma meta dos cristãos?
Deus não deu uma ordem impossível:
“Sede santo”, antes, expressou a sua vontade, e ofertou o corpo de Cristo para
levá-la a efeito. A palavra de Deus é expressão da sua vontade, e por isso ele
disse: Haja luz, e houve luz. Ele disse: ‘Sede santo’, e é através da sua
palavra que os cristãos são santificados (Ef 5:26 -27 25 Maridos,
ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela
26 para
santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, 27 e
para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa
semelhante, mas santa e inculpável.),
pela oferta do corpo de Cristo, o Verbo encarnado (…) A Santificação é obra
exclusiva de Deus e a glória proveniente desta obra Ele não passará a ‘outrem’.
“Olhando para Jesus, autor e consumador
da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando
a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus”
(Hb 12:2)
Qual é a meta dos cristãos?
Qual a inclinação daqueles que
professam a Cristo?
Esta duas perguntas surgiram após a
leitura deste seguinte parágrafo do livro ‘Lei, Graça e Santificação’ do Dr.
Russell P. Shedd:
“Ainda descobriremos, se estivermos
inclinados a isso, muitas práticas e atitudes que devem ser mudadas, caso a
nossa meta seja sermos ‘santos e irrepreensíveis perante ele’” (Ef 1. 4). Mas
mudar requer disciplina em torno de alvos escolhidos de joelhos e com a Bíblia
aberta” Sheed, Russell P., Lei, Graça e
Santificação, 2ª Ed., editora Vida Nova, pág. 103.
O Dr. Shedd aponta como meta dos
cristãos serem santos e irrepreensíveis perante Deus, e cita as seguintes
palavras contidas na carta de Paulo aos Efésios capítulo um, versículo
quatro: “santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef 1:4).
Porém, se observarmos o que
estabelece Efésios 1: 4, fica claro que a santificação e a irrepreensibilidade
não é uma meta que os cristãos devam alcançar, antes é uma condição que
pertence àqueles que estão em Cristo segundo a eleição “Pois nos elegeu nele antes da fundação
do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele”
(Ef 1:4).
Se a santificação é segundo a
eleição, exclui-se qualquer outra via, ou seja, a santificação não é uma meta
que se deva alcançar através de mudanças de práticas e atitudes.
A santificação não é alcançada
através de mudanças de hábitos, atitudes e praticas, pois a Bíblia diz que os
cristãos foram novamente criados em verdadeira justiça e santidade “… que segundo Deus é criado em
verdadeira justiça e santidade”
(Ef 4:24).
Também demonstra que Cristo se
entregou pelo seu corpo, que é a igreja, para santificá-la pela palavra, a fim
de apresentar os cristãos sem mancha ou ruga: santos e irrepreensíveis
(Ef 5:26 -27).
Ora, o que Jesus propôs fazer e
entregou-se para realizar agora é uma meta para os cristãos?
A obra de Cristo não é perfeita?
Os cristãos já não são santificados
pela fé em Cristo?
(Atos 26: 18).
Num primeiro momento achei que o Dr.
Shedd chegou a esta conclusão após ler Hebreus 12: 14 que diz: “Segui a paz com todos, e a
santificação; sem a santificação ninguém verá o Senhor”
(Hb 12:14).
Para um leigo é possível concluir
através deste versículo que a santificação é uma meta, porém, para alguém que
investiga as escrituras, percebe-se que só é possível chegar até Deus através
de Cristo: “Disse-lhe
Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por
mim”
(Jo 14:6).
Ao ler II Timóteo 2: 22, fica
demonstrado que somente aos cristãos é possível seguir a Paz, ou seja,
juntamente com aqueles que tem um coração puro por invocarem a Deus os cristãos
devem seguir a Paz (segui a paz com todos). De que paz o escritor aos Hebreus
falou? Que os cristãos devem ter paz com todos os homens, ou que, com todos que
seguem a Paz, que é Cristo, os cristãos devem em união segui-Lo?
Somente os cristãos seguem a Paz e a
Santificação que é Cristo. Seria um contra senso ter paz com todas as pessoas,
se há condição para isto: se possível for “Se
for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens”
(Rm 12:18).
Ora, no que depende dos cristãos é
para ter paz com todos os homens, porém, para seguir a Paz que excede a todo
entendimento, que é Cristo, para esta recomendação não há a restrição “se
possível for”, antes deve seguir com todos que tem um coração puro e invocam ao
Senhor a paz, a justiça, a fé, o amor, etc.
É pela vontade de Deus que os
cristãos foram santificados através da oferta do corpo de Cristo (Hb 10:10). É
nesta vontade: “Sede santos, porque Eu sou santo” que os
cristãos foram santificados pela oferta do corpo de Cristo “Sereis para mim santos, porque eu, o
Senhor, sou santo, e vos separei dos povos para serdes meus” (Lv 20:26).
Deus não deu uma ordem impossível:
“Sede santo”, antes, expressou a sua vontade, e ofertou o corpo de Cristo para
levá-la a efeito. A palavra de Deus é expressão da sua vontade, e por isso ele
disse: Haja luz, e houve luz. Ele disse: ‘Sede santo’, e é através da sua
palavra que os cristãos são santificados (Ef 5:26 -27), pela oferta do corpo de
Cristo, o Verbo encarnado.
Deus é o Deus da providência, e Ele
proveu o Cordeiro imaculado pelo qual os homens são santificados. Abrão é um
exemplo clássico, pois Deus disse: “SENDO,
pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e
disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito”
(Gn 17:1).
Ora, bastava Abrão andar na presença
do Senhor (crer) que a condição de perfeição seria efetiva.
Deus não deu uma ordem a Abrão como
meta para ele alcançar a perfeição, antes demonstrou que, caso ele andasse na
presença do Todo-Poderoso, haveria de ser perfeito. Logo após lemos: “E creu ele no SENHOR, e imputou-lhe
isto por justiça”
(Gn 15:6).
Esta é a vontade de Deus para os que
descansam sob Sua providência “Perfeito
serás, como o SENHOR teu Deus”
(Dt 18:13).
Por que para Russell a santificação é
uma meta para os cristãos? Porque ele entende que o pecado decorre de um
processo de aprendizagem:
“É assim que aprendemos a
pecar: linguagem obscena, comentários desnecessários prejudiciais, usar o nome
de Deus em vão, tornam-se hábitos pela pratica dentro de um ambiente onde
ninguém cria objeção alguma”Sheed,
Russell P., Lei, Graça e Santificação, 2ª Ed., editora Vida Nova, pág. 99.
Grifo nosso.
O erro está em acreditar que é
possível ‘aprender pecar’ (É assim que aprendemos a pecar). Para quem acredita
que é possível ‘aprender pecar’, a inclinação para o pecado resume-se em
hábitos, condutas, práticas, falhas de caráter, formação de caráter, o ambiente
onde se vive, etc. Para o posicionamento de que o pecado deriva de um processo
de aprendizagem, o meio e o tempo são agentes que exercem influencia direta na
santificação.
A Bíblia diz que a inclinação da
carne, por ser sujeita ao pecado, é morte (Rm 8:6), e as imposições da carne
(doutrina de homens) repousa em práticas, condutas e hábitos.
Não importa qual seja o comportamento
dos servos do pecado, se bom ou ruim, o salário é o mesmo: a morte! É de
conhecimento geral que há servos do pecado que são regrados, decentes,
comportados, prestativos, carismáticos, cordatos, flexíveis, disciplinados,
religiosos, etc., porém, o salário é a morte (ex: monges, padres, ascetas,
filósofos, etc). Também há servos do pecado que são depravados,
irreconciliáveis, desobedientes, avarentos, maldosos, soberbos, detratores,
presunçosos, etc., mas o salário deles é a morte.
Quem tem este posicionamento acredita
que ao viver em um ambiente disciplinado, regrado, de bons hábitos, que corrige
falhas de caráter, que preza o bom comportamento, o homem não é sujeito ao
pecado? Segundo este posicionamento, os que vivem à margem da sociedade são os
‘maiores’ pecadores?
Como anular a Escritura que
diz: “Todos se extraviaram, e juntamente se
fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nenhum só” (Rm 3:12)?
Que dizer da declaração do salmista
Davi: “Certamente em iniquidade fui formado,
e em pecado me concebeu a minha mãe”
(Sl 51:5).
Qual a diferença entre nascer EM
pecado, e aprender a pecar?
Acreditar que é possível aprender a
pecar decorre de outro erro, onde o Dr. Shedd define que carne é o mesmo que ‘o
esforço do homem independente’:
“Certa noite, um líder dos fariseus,
chamado Nicodemos, ouviu esta mesma exigência. Jesus declarou que a carne, isto
é, o esforço humano independente, somente é capaz de gerar carne (Jo 3. 6)” Sheed, Russell P., Lei, Graça e
Santificação, 2ª Ed., editora Vida Nova, pág. 22 e 23.
A Bíblia nos mostra que a carne não é
o mesmo que esforço humano. Carne diz da natureza pecaminosa herdada de Adão,
ou seja, quem é nascido segundo a semente corruptível de Adão é carnal, porém,
aqueles que são nascidos da semente incorruptível, que é a palavra de Deus, são
espirituais.
Ninguém aprende a pecar. Os homens
são pecadores porque nasceram em pecado. Há uma grande diferença entre
‘aprender pecar’ e ‘nascer em pecado’. A bíblia demonstra que todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus, não foi a escola da vida, regrada ou não,
que os ensinou a pecar. Eles pecaram porque um homem pecou
(Rm 5:16).
A inclinação dos pecadores não se
revela na conduta, visto que há pecadores devassos (samaritana), e há pecadores
religiosos (Nicodemos). A inclinação dos pecadores é morte, segundo a natureza
e condenação herdada de Adão.
A inclinação dos que creem em Cristo
é vida e paz, pois são (existem) segundo o Espírito
(Rm 8:5 -6).
Não há mais nada que os cristãos
devam descobrir ou metas a alcançar porque a justiça de Deus revela-se no
evangelho (Rm 1:16 -17).
Segundo o idealismo platônico, a
ascese (prática de renunciar ao prazer com o fins espirituais) servia para
aproximar a pessoa (o asceta) da verdadeira realidade espiritual e ideal, ao
desligar-se da imperfeição e materialidade do corpo através de esforço metódico
e continuado para favorecer o pleno desenvolvimento da vida espiritual,
aplicando meios e superando obstáculos. Utilizam e organizam meios e práticas
para vida espiritual: oração, penitência, retiro, exame de consciência, direção
espiritual, sacramentos, etc.
Que práticas e atitudes o ‘cristão’
deve acolher para alcançar a meta de ser ‘santo’? Disciplina? Orações?
Inclinações? Práticas? Atitudes? Quais são os alvos entorno dos quais se deve
resignar-se com disciplina? Seriam os mesmos alvos estipulados pelo idealismo
platônico? Esforço continuado e metódico de joelho e com a bíblia aberta?
Russell indica, em seu livro, alguns
hábitos para se avançar na santificação, e dentre eles destacamos:
“Outro hábito valioso na
obtenção de maiores avanços na santidade é o de estabelecer alvos
definidos com datas marcadas, indicando quando se espera alcançá-los. Uma vez
que se tenha convicção da vontade de Deus quanto a práticas e afazeres, é útil
estabelecer alvos para disciplinar as mudanças” Idem, pág 102. Grifo nosso.
Russell afirma:
“A nova vida do ‘novo homem’ substitui
a anterior em conseqüência de uma vida disciplinada e comprometida com a
instrução das Escrituras (2 Tm 3: 16, 17)” Idem,
pág. 101.
A nova vida substitui a anterior em
conseqüência de uma vida disciplinada e comprometida?
Não há uma substituição ou
afastamento do velho homem. As escrituras revelam que o velho homem deve morrer
com Cristo “Porém
não matou os filhos deles; mas fez segundo está escrito na lei, no livro de
Moisés, como o SENHOR ordenou, dizendo: Não morrerão os pais pelos filhos, nem
os filhos pelos pais; mas cada um morrerá pelo seu pecado” (2Cr 25:4). Ao ‘velho homem’
está reservado a cruz e a sepultura para que Deus crie o novo homem em
verdadeira justiça e santidade.
Após ser de novo gerado em verdadeira
justiça e santidade, a inclinação dos cristãos é vida e paz (Rm 6:12), porque o
Espírito de Deus habita em quem crê. Pelo fato de Deus habitar no crente, isto
o torna separado (santificado) do mundo.
Deu é luz, e não há nele trevas
alguma. Deus não habita em meio a trevas, e é por isso mesmo que a bíblia diz
que os cristãos são luz “Mas
vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1Pe
2:9).
A meta do cristão é perseverar na
doutrina dos apóstolos, olhando para Jesus, o autor e consumador da fé “Olhando para Jesus, autor e consumador
da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando
a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hb 12:2);
“Porque nos tornamos participantes de
Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim”
(Hb 3:14).
O comportamento, hábito ou dever dos
cristãos é portar-se de modo digno, não dando motivo de escândalo a gregos,
judeus e nem a igreja de Deus “Portai-vos
de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de
Deus”
(1Co 10:32).
A santificação não é uma meta, pois
ao ser de novo gerado, os cristãos passam a estar naquele que é verdadeiro,
sendo verdadeiramente justos e santos.
A meta do cristão é não demover-se da
doutrina do evangelho, pois ficar firme (perseverança) é a obra completa da fé
(Tg 1:4);
“Porque nos tornamos participantes de
Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim” (Hb 3:14);
“Portanto, tomai toda a armadura de
Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6:13).
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