quarta-feira, 12 de setembro de 2018

SALMO 1


Salmo 1 – Bem-aventurança

 

Se o homem tem Cristo, o tal é conhecido de Deus, uma vez que é de novo criado na condição de filho de Deus. Não é o comportamento do homem que concede a filiação divina, mas sim o nascer da água e do Espírito.

Salmo 1

1- Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
2 – Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
3 – Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.
4 – Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha.
5 – Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.
6 – Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.

As profecias
Este salmo é a primeira profecia que compõe os salmos.
Antes de se lançar a recitar este cântico hebraico é bom considerar que os salmos são composições proféticas. Para analisa-lo e compreende-lo, se faz necessário considerar também que, quando o rei e profeta Davi separou alguns homens para o ministério dos cânticos, os designou para profetizarem ao som de instrumentos musicais (1Cr 25:1 -3).
O rei Davi era profeta (At 2:30), e grande parte das suas previsões tinha por tema o Cristo (At 2:31). As previsões de Davi e dos seus ministros abordaram vários aspectos da vida de Cristo. Os salmos apresentam Cristo em seus vários aspectos:
o filho do homem,
o filho de Davi,
o Senhor que criou os céus e a terra,
o servo do Senhor,
o Grande Rei, etc.

A leitura dos salmos, se feita meticulosamente comparando coisas espirituais com as espirituais, nos leva a uma interpretação segura como a que os apóstolos apresentam em suas exposições em todo o Novo Testamento.

Salmo Primeiro
O Salmo primeiro é o salmo da bem-aventurança, da alegria, do regozijo, da felicidade, porém, chama-nos a atenção o fato de o rei Davi apresentar a bem-aventurança apontando para um único homem: “Bem-aventurado o homem…” (v. 1).

Por que o salmista não disse ‘bem-aventurados os homens’? Ora, nas escrituras temos várias passagens que enfatizam a bem-aventurança de todos quantos confiam em Deus. Ex:
“Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam” ( Sl 2:12 );
“Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, e que o buscam com todo o coração” ( Sl 119:2 ).

O que distingue o homem do Salmo primeiro, verso 1, dos homens do verso 12, do Salmo segundo? A distinção está no fato de o homem ditoso (bem-aventurado) não andar segundo o conselho dos ímpios.
Qual é o conselho dos ímpios? Ora, o conselho dos ímpios tem por base o engano, a mentira, a falsidade, e não a palavra de Deus, que é a verdade “Os pensamentos dos justos são retos, mas os conselhos dos ímpios, engano” (Pv 12:5).

O conselho dos ímpios é formado pelos religiosos em Israel, que utilizavam a lei por pretexto, porém, seguiam os desvarios dos seus corações enganosos. Diz dos homens que honram a Deus com os lábios, mas que o coração está longe ( Is 29:13 ).

O salmo 12 apresenta a essência do conselho dos ímpios:
“Cada um fala com falsidade ao seu próximo; falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado. O SENHOR cortará todos os lábios lisonjeiros e a língua que fala soberbamente. Pois dizem: Com a nossa língua prevaleceremos; são nossos os lábios; quem é SENHOR sobre nós?” (Sl 12:2 -4).

Com coração enganoso, os fariseus falavam entre si e, diante do Cristo, o enviado de Deus, declaravam: Quem é o Senhor sobre nós? Ninguém entre os religiosos judeus falava a verdade, antes com a lingua destilavam veneno semelhante ao da serpente (Sl 58:1 4).
Cristo não trilhou pelo conselho dos ímpios porque obedeceu a palavra de Deus em verdade, e nunca houve engano em sua boca.
“Quanto ao trato dos homens, pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor” ( Sl 17:4 ).
A impiedade é condição que decorre de nascimento, e não de comportamento. Os homens alienam-se de Deus desde o ventre, e no ventre se tornam ímpios em função da condenação ocorrida no Éden (Sl 58:3).
O Salmo 1 apresenta um conselho formado por ímpios, homens oriundos e um geração má e que nunca se lavaram da imundície herdade de Adão (Pv 30:11 -12). Os ímpios falam mentiras desde que nascem, porém, há o conselho dos ímpios: homens que se organizam entorno de uma doutrina, um pensamento, uma religiosidade, e impõe-na aos outros.
A mentira do conselho dos ímpios procede do coração enganoso que receberam quando do nascimento natural (Jr 17:9). É em função deste coração enganoso que Jesus alertou os escribas e fariseus, dizendo:
“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca (Mt 12:34).

É por causa desta ‘mentira’ que o apóstolo Paulo diz:
“De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, E venças quando fores julgado” ( Rm 3:4 ).

De todos os homens que vieram ao mundo, Cristo é o bem-aventurado de Deus, pois nunca se achou engano na sua boca, pois somente Ele não foi gerado segundo o sangue, a vontade da carne e a vontade do varão
(Jo 1:12 -13
1Pe  2:22 ).

Dele, em espírito, disse Davi:
“JULGA-ME, SENHOR, pois tenho andado em minha sinceridade (…) Mas eu ando na minha sinceridade” ( Sl 26:1 e 11).

Ora, todos os outros homens quando nascem, alienam-se desde o ventre da mãe, andam errados e proferindo mentiras.
“Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua” 
(Sl 5:9
Sl 51:5
Sl 58:3
Sl 53:3
Is 48:8).
Com Cristo não ocorreu o que ocorre com a humanidade, pois Ele foi lançado na madre por Deus, e não por um homem vendido ao pecado como escravo 
(Sl 22:10).
No salmo 38, o salmista descreve a ação do conselho dos ímpios:
“Também os que buscam a minha vida me armam laços e os que procuram o meu mal falam coisas que danificam, e imaginam astúcias todo o dia. Mas eu, como surdo, não ouvia, e era como mudo, que não abre a boca. Assim eu sou como homem que não ouve, e em cuja boca não há reprovação” (Sl 38:12 – 14).
Quando entrou no mundo, Cristo não seguiu o ‘conselho’ vão dos ímpios “Não me tenho assentado com homens vãos, nem converso com os homens dissimulados. Tenho odiado a congregação de malfeitores; nem me ajunto com os ímpios” (Sl 26: 4- 5).
Jesus não se assentou com os escribas e fariseus para compartilhar da doutrina (pão) que se alimentavam “Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus” (Mt 16:12).
Cristo é o rebento do tronco de Jessé, o renovo justo prometido a Davi, a verdade que brotou: “PORQUE brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará” (Is 11:1); 
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra” ( Jr 23:5 ); 
“A verdade brotará da terra, e a justiça olhará desde os céus” (Sl 85:11).
caminho dos pecadores é pertinente a todos os homens gerados da carne de Adão, porém, dentre os pecadores há os ímpios e os escarnecedores. Os ímpios são aqueles que tropeçam na pedra eleita e preciosa, que é Cristo “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam” (Pv  4:19). Os escarnecedores, por sua vez, são aqueles que, apesar do alerta das Escrituras, nem mesmo investigam a possibilidade o Cristo ser o servo do Senhor.
O caminho dos pecadores decorre da porta larga por onde todos os homens entram ao ‘abrir’ a madre. É na madre que todos os homens juntamente se desviam e alienam-se de Deus
(Sl 58:3 ;
Sl 53:3).
É na madre que todos os homens juntamente se desviam, aliena-se e tornam-se imundos!
Os ímpios que compõe o conselho do verso 1 são os loucos, os néscios, os filhos de Jacó, homens a que a palavra de Deus lhes foi confiado, que honram a Deus com a boca, porém, o coração está longe de Deus. Tudo o que dizem reflete impiedade e o desvairo de seus corações impenitentes. Os ímpios são aqueles que tomam o nome de Deus em vão, que o invocam, mas não em justiça e nem em verdade
( Rm 3:2 ;
Rm 2:20 ;
Is 48:1 ;
Sl 139:19 -20).
Os ímpios são homens de violência, ou seja, que não confiam em Deus, antes confiam na força dos seus braços, confiam na carne, pois se declaram filhos de Deus por serem descendentes da carne de Abraão.
Os salmos geralmente vaticinam que os ímpios são homens maus, violentos, e o conselho deles continuamente são de guerra, pois haveriam de espreitar o Ungido de Deus com suas línguas afiadas e, continuamente, espreitariam o Cristo para verem se o pegavam nalguma contradição.
“Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. (Selá.) Guarda-me, ó SENHOR, das mãos do ímpio; guarda-me do homem violento; os quais se propuseram transtornar os meus passos. Os soberbos armaram-me laços e cordas; estenderam a rede ao lado do caminho; armaram-me laços corrediços” (Sl 140:2- 5).

Deleite
O bem-aventurado tem o seu prazer na lei do Senhor! O único homem que assim se portou foi Cristo, pois Ele mesmo disse:
“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” ( Jo 6:38 ).
O deleite, a comida, a satisfação de Cristo estava em fazer a vontade do Pai.
“Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” ( Jo 4:34 ).
Enquanto os homens se deleitam (fartam) com o engano proveniente dos seus corações enganosos (fruto dos seus ventres) , o prazer de Cristo estava em cumprir a lei do Senhor.
“Do fruto da boca de cada um se fartará o seu ventre; dos renovos dos seus lábios ficará satisfeito” ( Pv 18:20 )
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir” ( Mt 5:17 ).
Sobre meditar de dia e de noite na lei do Senhor, o salmista Davi predisse:
“Louvarei ao SENHOR que me aconselhou; até os meus rins me ensinam de noite. Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei. Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” ( Sl 16:7 -10).
O profeta Isaias vaticinou que o Messias teria língua erudita e que teria os ouvidos despertos para ser instruído pelo Senhor ( Is 50:4 ). Ao realizar a vontade do Pai, Jesus voltou a sua atenção para as palavras das profecias e nela meditava de dia e de noite.
Como resultado, Cristo é comparável a uma árvore plantada junto a ribeiros e águas, pois deu o seu fruto ao seu tempo. Cristo é a videira verdadeira ( Jo 15:1 ),
e os que creem são as varas ( Jo 15:5 ).
As palavras de Cristo são fruto de vida, palavras de vida eterna (Jo 6:68); 
“O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio” (Pv 11:30).
Tudo quanto Cristo fez prosperou, pois Deus mesmo disse: “Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Is 55:11).
Cristo é o Verbo encarnado que fez o que era aprazível a Deus. Tudo quanto fez prosperou, pois conduziu muitos filhos à glória de Deus.
“Eu, eu o tenho falado; também já o chamei, e o trarei, e farei próspero o seu caminho” (Is 48:15).
O homem ditoso do Salmo primeiro é Cristo, o Servo do Senhor, o Justo.
“Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si” ( Is 53:11 ).

Como alcançar a ditosa alegria (bem-aventurança)
Para entender plenamente os conceitos que este Salmo apresenta, necessário é analisar outros capítulos que compõe os livros dos Salmos, complementando a análise com o conhecimento que há no Evangelho de Cristo.
O evangelho demonstra que homem algum será salvo por intermédio de suas realizações e condutas pessoais, ou seja, a salvação de Deus é alcançada somente através de Cristo, a fé que se manifestou (Gl 3:23).
O conhecimento prévio da verdade do evangelho e a analise de outras passagens dos salmos faz com que a leitura do Salmo Primeiro seja esclarecedora. Observe:
·        “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto” (Sl 32:1);
·        “Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano” (Sl 32:2);
·        “…bem-aventurado o homem que nele confia” (Sl 34:8);
·        “Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança, e que não respeita os soberbos nem os que se desviam para a mentira” (Sl 40:4);
·        “Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios” (Sl 65:4);
·        “Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados” (Sl 84:5).

Há um padrão de ideia específico nos versículos acima que torna o Salmo Primeiro diferente dos outros salmos. Enquanto o Salmo Primeiro demonstra que o bem-aventurado é aquele que não anda segundo o conselho dos ímpios, os outros salmos demonstram que só os que confiam em Deus são acolhidos por bem-aventurados.
É contra senso entender que o Salmo Primeiro destaca que a bem-aventurança decorre de questões comportamentais como:
a) não andar em uma mesma estrada com pessoas que não comungam de uma mesma religião;
b) não se assentar em uma mesa com homens que não possuem os mesmos costumes, e;
c) não parar em uma roda de pessoas que não pertencem a um mesmo povo.
Os judeus tinha um cuidado extremo com relação às questões da contaminação, pois se mantinham separados dos outros povos em tudo, pensando que através desta prática estavam cumprindo o estipulado no Salmo primeiro.
Mas, sobre este aspecto, o apóstolo Paulo assevera:
“Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo” ( 1Co 5:10 ).
Conforme Paulo demonstra, se a bem-aventurança é alcançada através de questões comportamentais, necessariamente o bem-aventurado não mais estaria no mundo. Porém, Jesus mesmo disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” ( Jo 17:15 ).
A bem-aventurança não é proveniente de questões comportamentais tais como não entrar na casa de pecadores; não andar com eles em um mesmo caminho ou, assentar-se com eles para comer. Os escribas e fariseus seguiram esta linha de interpretação comportamental e tropeçaram na pedra de esquina, pois não analisaram o Messias segundo as Escrituras, e sim com base em uma carnal compreensão.
Quem é bem-aventurado? A resposta sobre quem é bem-aventurado encontra-se no último versículo do Salmo Primeiro, a saber: somente é bem-aventurado aquele que tem o seu caminho conhecido pelo Senhor! (v. 6a).

“Pois o Senhor conhece o caminho dos justos” (Sl 1:6).
O que realmente torna o caminho do homem conhecido de Deus? Quando é que os homens tornam-se bem-aventurados? Quando:
·        A transgressão é perdoada por Deus;
·        O pecado é encoberto por Deus;
·        Não é imputada a maldade;
·        Confia-se em Deus, etc.
Para ter o caminho ‘conhecido por Deus’, o homem não pode estar firmado em argumentos pobres e fracos tais como: “Não toques, não proves, não manuseies?” ( Cl 2:21 -23). Isto porque os princípios ou argumentos que decorrem de questões comportamentais são fracos e pobres diante de Deus “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” ( Gl 4:9 ).
Aquele que tem o caminho conhecido pelo Senhor, este é justo diante d’Ele, pois o caminho conhecido pelo Senhor é Cristo. Somente é justo perante Deus quem entra pela porta estreita. Quem entra pela porta estreita tem o seu caminho aplainado por Deus. Para alcançar tal bênção é preciso confiar em Deus. Só é justo quem obteve o perdão das transgressões. Somente aqueles que preenchem os quesitos anteriores são verdadeiramente ‘conhecidos’ do Senhor, ou seja, possuem comunhão plena.
As poesias hebraicas trabalham ideias, o que substitui o ritmo e a rima, características essenciais as poesias da nossa cultura. É por causa dessa construção do texto poético (paralelismo) que a última frase da poesia complementa a ideia da introdução do salmo.
A ideia que o salmo primeiro enfatiza é: o homem somente é bem-aventurado quando trilha o caminho conhecido pelo Senhor. Ora, para que o homem seja bem-aventurado é necessário nascer de novo, entrando por Cristo, que é o caminho pelo qual os justo entram ( Sl 118:20 ). Todos os que entram por Cristo passam a trilhar o caminho que o conduz a Deus. A semelhança de Cristo tal homem é feito santo e justo, portanto, bem-aventurado! Aleluia!
Já o caminho dos ímpios perecerá como consequência de Deus não ‘conhecer’ o caminho deles. Não há comunhão entre a luz e as trevas.
A ideia que a palavra ‘conhecer’ transmite neste verso é a ideia de união plena, de comunhão intima, é o mesmo que se tornar um só corpo. Transmite a ideia de que Deus uniu-se ao homem e o homem uniu-se a Deus ( IJo 4:15 -16). Somente aqueles que foram gerados de Deus por intermédio do evangelho, trilham o caminho conhecido pelo Senhor.
Os ímpios perecerão, mas não em consequência de terem se assentado em rodas de beberrões para contar anedotas. Não é porque frequentam lugares reprováveis pela moral humana que os ímpios estão perdidos. Eles perecerão porque Deus não conhece o caminho deles! Perecerão porque Deus não está neles, e vice-versa. Perecerão porque trilham um caminho errôneo desde que nascem. Perecerão porque entram pela porta larga, que é Adão e seguem por um caminho que os conduz à perdição.
Embora os fariseus e os escribas mantivessem uma vida regrada, frequentando as sinagogas e o templo, eram ímpios. Eles formavam o conselho dos ímpios, e juntamente estavam em um caminho que os conduziam à perdição.
Observe que o salmo faz referência a um caminho, e não a vários caminhos: “Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá” (v 6). Ora, sabemos que só há dois caminhos, o largo e o estreito (Mt 7:13).
Os homens sem Cristo não subsistirão no juízo em decorrência do caminho que estão, e não por questões comportamentais e morais. Isto porque, antes mesmo de comparecerem perante o Tribunal do Grande Trono Branco, todos eles já estão condenados e as suas obras não lhes aproveitarão (Jo 3:18).
O que levou a humanidade à condenação foi a queda de Adão (Rm 5:19).
Lá no Éden os homens juntamente se desviaram e tomaram um caminho ‘desconhecido’ por Deus (Sl 53:3).
Haverá um dia em que os ímpios estarão excluídos do ajuntamento solene, visto que, os justos terão um lugar separado dos ímpios. Este trecho não se refere aos nossos dias! Acaso, hoje, não existem ímpios em nossas reuniões solenes?
Quando o homem crê em Cristo é criado de novo e passa a condição de filho de Deus, e tudo quanto se refere a Cristo torna-se válido aos que creem.
1º ) “Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará!” (v. 3) – Aquele que crê em Cristo passa a ser conhecido do Senhor, e é COMO uma árvore plantada junto a ribeiros de águas. É planta plantada pelo Pai ( Mt 15:13 ), árvore de justiça. Os que creem produzem seu fruto na estação certa porque está ligado à videira verdadeira, e é dela que vem o fruto. A união entre o homem e Cristo faz com que produzamos bons frutos à seu tempo ( Jo 15:2 ), pois tudo o que produzirmos será segundo a natureza de Cristo. Não há como uma árvore boa produzir frutos maus, assim como é impossível uma árvore má produzir bons frutos.
2º ) “Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha” (v. 4). – Enquanto o justo está edificado sobre a pedra de esquina, os ímpios são comparados à moinha levada pelo vento. Não tem um local fixo.
Por fim, compare:
“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1:1 -2).
“Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá” (v. 6).
Observe os dois versículos acima e perceba que existem vários ímpios, mas só um ‘conselho’. Existem vários pecadores, mas só um ‘caminho’. Existem inúmeros escarnecedores, mas uma só ‘roda’.
Semelhantemente, existem vários justos, mas só um caminho é conhecido pelo Senhor. Muitos ímpios perecerão, mas o caminho deles é único, o caminho espaçoso que leva à perdição.
A diferença entre justos e ímpios está no caminho em que estão trilhando, e não em questões comportamentais. É por isso que Jesus disse que há dois caminhos: o caminho estreito e o caminho largo “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” (Mt 7:13).
Alguém pode questionar: Por que não é o comportamento que faz diferença entre quem é justo ou ímpio?
Analise: há pessoas não crentes (pessoas que não conhecem a Cristo) que são sinceras, regradas e fiéis no trato, mas que não alcançam salvação. O comportamento destas pessoas interessa a elas e a sociedade em que convivem, mas para a salvação, o comportamento social delas não é de valor algum.
O apóstolo João evidencia esta verdade: “Quem tem o Filho tem a vida, mas quem não tem o Filho de Deus não tem vida” (1Jo 4:12). Para ser salvo é preciso ter a Cristo, pois boas ações não salva o homem. Como ter o Filho? Basta recebê-lo, ou seja, crendo n’Ele ( Jo 1:12 ). Quem tem bom comportamento e goza de uma boa moral na sociedade necessita de Cristo, visto que ainda não tem vida em si mesmo ( Ef 2:1 ).
Se o homem tem Cristo, o tal é conhecido de Deus, uma vez que é de novo criado na condição de filho de Deus. Não é o comportamento do homem que concede a filiação divina, mas sim o nascer da água e do Espírito.
“Não é aquilo que o homem faz, ou que deixa de fazer (ação ou omissão) que lhe dará direito à vida eterna, mas sim, ter o caminho conhecido pelo Senhor. Para ter o caminho conhecido pelo Senhor é necessário entrar pela porta estreita, que é Cristo. Este verdadeiramente é bem-aventurado, pois aprendeu com aquele que é humilde e manso de coração”
Os bem-aventurados são aqueles que têm o caminho ‘conhecido’ pelo Senhor, ou seja, que contemplam o Senhor na beleza da sua santidade. Os benditos do Senhor, além de serem agradáveis a Deus por Jesus Cristo, portam-se de modo a não dar escândalo aos judeus, aos gregos e à igreja de Deus, pois transformam o seu entendimento e gozam da liberdade concedida por Deus de modo diferenciado dos homens devassos deste mundo.
Porém, vale destacar que não é o comportamento diferenciado daqueles que alcançaram a bem-aventurança que lhes deu o direito à condição de alegria verdadeira e permanente em Deus. O que lhes garantiu tal condição é a fé (Cristo) que opera pelo amor (obediência).










A parábola dos dois caminhos


O nascimento natural é a porta larga que dá acesso ao caminho largo de perdição, e o novo nascimento a porta de entrada que dá acesso ao caminho estreito que conduz a salvação. É através do nascimento que o homem entra pelas portas, tanto para a porta larga, quanto para a porta estreita.

A parábola dos dois caminhos

“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mt 7:13 -14).
Jesus apresentou aos ouvintes do Sermão do Monte uma necessidade: a necessidade de entrarem pela “porta estreita”. Em seguida Ele apresentou o motivo pelo qual é necessário entrar pela porta estreita: “Pois larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição…” ( Mt 7:14 ).
Diante da necessidade que Jesus apresentou, surgem as perguntas: O que é a porta estreita? Como entrar por ela? Por que entrar pela porta estreita é a única saída para o homem livrar-se da perdição?
O ‘Sermão do Monte’ não pode ser visto como um aglomerado de idéias desconexas, ou um apanhado geral de conduta e normas sociais. A proposta do Sermão do Monte trata de questões eternas. Através das ‘Bem-aventuranças’ anunciadas Jesus conquistou a atenção dos seus ouvintes ( Mt 5:1 -12), e, em seguida, ele apresentou a nova condição dos seus discípulos: “Bem-aventurados” ( Mt 5:13 -16).
A multidão que reuniu-se para ouvir a mensagem de Cristo não sabia qual a missão de Jesus, e Ele aproveita para destacar alguns aspectos importantes da sua missão:
a) Jesus não veio destruir e nem descumprir a lei e os profetas (v. 17);
b) Jesus demonstrou aos seus ouvintes que é impossível entrar no reino dos céus seguindo a doutrina dos escribas e fariseus, uma vez que, eles não haviam alçando a justiça de Deus (v. 20);
c) Jesus apresentou exemplos práticos de como é impossível entrar no reino dos céus através do cumprimento da lei, ao apresentar aos seus ouvintes o inatingível espírito da lei “Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério…” (Mt 5:21 à Mt 7:11);
d) Jesus demonstrou que a lei e os profetas resume-se em um mandamento: ‘amar o próximo como a si mesmo’ (Mt 7:12).
Após demonstrar a impossibilidade dos homens entrarem no reino dos céus através da doutrina dos escribas e fariseus (Mt 5:20) Jesus, apresenta a parábola dos ‘Dois Caminhos’ para ilustrar o único meio de salvação (Mt 7:13).
Somente após entrar pela ‘Porta Estreita’ o homem alcança a ‘justiça superior’ à justiça dos escribas e fariseus.
A mensagem que o Senhor Jesus trouxe no Sermão do Monte é una, concisa e precisa no que propõe. Na essência, a ideia apresentada no Sermão do Monte é a mesma apresentada no diálogo entre Jesus e Nicodemos. O que difere é a abordagem: no ‘Sermão do Monte’ o público alvo era misto e composto principalmente por leigos, já o ensinamento de Jesus a Nicodemos, um mestre erudito, é a altura de um conhecedor da lei.
Tudo que foi demonstrado no Sermão do Monte, Jesus também revelou a Nicodemos:
a) Era impossível a Nicodemos entrar no reino dos céus, embora representasse o melhor da religião, do conhecimento, do comportamento e da moral humana;
b) Jesus demonstra que a doutrina que Nicodemos seguia não o conduziria à salvação, antes, era necessário nascer de novo;
c) Da mesma forma que, para o mestre em Israel era necessário nascer de novo, para o povo ‘leigo’ era necessário entrar pela porta estreita.
novo nascimento equivale à figura da porta estreita. A equivalência entre porta estreita e novo nascimento decorre da necessidadepois necessário é entrar pela porta estreita, o que só é possível através do novo nascimento. Não há outro meio de acesso à porta estreita, a não ser através do novo nascimento, que se dá por intermédio do evangelho ( Jo 3:16 ).
Por que é necessário nascer de novo? Por que é necessário entrar pela porta estreita? Porque somente após nascer de novo o homem entra pela porta estreita, deixando de trilhar o caminho espaçoso que todos se põem a trilhar quando nascem segundo Adão, e que conduz à perdição ( Jo 3:16 ; Mt 7:13 ).
Quando disse que era necessário Nicodemos nascer de novo, Jesus estava demonstrando que era impossível alcançar a vida eterna seguindo a doutrina dos fariseus. O maior problema de Nicodemos não estava na prática da Lei, antes, ter entrado por uma porta larga que dá acesso a um caminho que conduz à perdição.
Por que era necessário Nicodemos nascer de novo, ou seja, entrar pela porta estreita? Quando foi que ele entrou pela porta larga? Quem é a porta larga?
Sabemos que Jesus é a ‘Porta Estreita’, e que Ele é o ‘Caminho Apertado’ que conduz o homem à salvação, porém, o que é a porta larga? A resposta é deduzida do versículo seguinte: “Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante”( 1Co 15:45 ).
Observando o que Paulo escreveu aos Coríntios, percebe-se que Adão é a porta larga, e Cristo, o último Adão, a “Porta Estreita”. O maior problema de Nicodemos estava na porta que ele havia entrado quando veio ao mundo: Adão.
Ou seja, o nascimento natural é a porta larga que dá acesso ao caminho largo de perdição, e o novo nascimento a porta de entrada que dá acesso ao caminho estreito que conduz a salvação. É através do nascimento que o homem entra pelas portas, tanto para a porta larga, quanto para a porta estreita.
O homem entra pela porta larga através do nascimento natural por nascer de uma semente corruptível, a semente de Adão. Somente é possível entrar pela porta estreita quando o homem nasce da Palavra de Deus, a semente incorruptível.
Ou seja, tanto a porta larga quanto a porta estreita são ‘acessadas’ por meio do nascimento. A porta larga é acessada quando os homens vêem ao mundo, ao nascer da semente de Adão (a semente corruptível). Da mesma forma, a porta estreita só é acessada através do novo nascimento, quando o homem nasce da Palavra de Deus (a semente incorruptível) ( 1Pe 1:23 ).
Nicodemos precisava nascer de novo, uma vez que era nascido segundo Adão. Ele era filho da ira e da desobediência, a desobediência de Adão. Por mais que ele procurasse seguir os quesitos da lei, o seu caminho era de perdição, pois a porta que Nicodemos havia entrado era larga e seguia para a perdição.
A humanidade sem Cristo entra pela porta larga, pois são gerados segundo Adão, e seguem por um caminho largo de perdição. São muitos os que seguem o caminho largo, visto que, poucos são os que entram por Cristo.
Nicodemos foi informado que, para entrar pela porta estreita, que é Cristo, era necessário nascer novamente. Era necessário crer em Cristo, o enviado de Deus, para que ele pudesse nascer de novo.
Por meio da fé na mensagem do evangelho o homem nasce da semente incorruptível (que é a palavra de Deus), e tem acesso ao caminho apertado. São ‘poucos’ os que encontram a porta estreita, se comparado aos que entram pela porta larga.
Verifica-se então que a parábola dos ‘Dois Caminhos’ refere-se à necessidade do novo nascimento, pois se apegar a quesitos da lei não produz salvação, como muitos à época de Cristo pensavam.
Se a lei fosse para a salvação, não seria preciso Moisés clamar ao povo, logo após a entrega da lei, a seguinte ordem: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz” (Dt 10:16).
Observe que o cumprimento da lei real (amor) somente tem valor após a obediência ao mandamento divino, que é crer em Cristo: “Ora, o seu mandamento é este, que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo…” ( 1Jo 3:23 ), ou seja, amar o próximo, somente é válido diante de Deus após o novo nascimento, ou seja ‘…segundo o mandamento que nos ordenou’ (v. 23) “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis” ( Tg 2:8 ).
Quando entendemos o que Jesus propôs na parábola dos ‘Dois Caminhos’ compreendemos que em momento algum os ensinamentos de Jesus e Paulo destoam, visto que, ‘entrar pela porta estreita’ é o mesmo que ‘viver em Espírito’, ou seja, ambos decorrem do ‘novo nascimento’. Andar no caminho apertado que conduz à vida é o mesmo que ‘andar em Espírito’, ou seja, andar como filhos da Luz (Gl 5:25 e Ef 5:8).

Perguntas e Respostas:
1) Quem é a porta estreita? ( Jo 10:9 )
R. Jesus identificou-se como a porta estreita.

2) Quem é a porta larga? (1Co 15:45)
R. Assim como Jesus, a porta estreita, é o último Adão, a porta larga é Adão.

3) Como entrar pela porta larga? (Jo 1:13)
R. É simples! Todos os homens ao nascerem neste mundo entraram pela porta larga, e seguem pelo caminho largo que conduz a perdição.

4) Como entrar pela porta estreita? (1Jo 3:23)
R. É preciso nascer de novo, da água (palavra de Deus) e do Espírito (de Deus).

5) É possível entrar pela porta estreita antes de entrar pela porta larga? (1Co 15:46)
R. Não! Primeiro vem a existência o homem carnal, para depois vir o homem espiritual.

6) Com base no que o texto ‘Os dois Caminhos’ expõe, que é a árvore que o Pai não plantou? (Mt 15:13)
R. Todos os homens que entraram pelo caminho largo que é nascer de Adão são as plantas que o Pai não plantou.

7) No Novo testamento é preciso nascer de novo. E o que era preciso no Velho testamento? (Dt 10:16)
No Antigo Testamento a recomendação era a circuncisão do coração, ou seja, era preciso fazer uma incisão no coração que levaria a morte da velha natureza, algo só possível pela fé em Deus.

8) No Novo Testamento o Novo Nascimento é através da Fé e a circuncisão do coração é pela _Fé___ e alcança tanto homens quanto __as mulheres___.

9) ‘Viver em Espírito’ decorre do __Novo Nascimento____, e ‘andar em Espírito’ equivale a __andar como Filhos da Luz_____ .

10) Basta amar o próximo para ser salvo? (1Jo 3:23)
R. Não! É preciso nascer de novo pela fé em Cristo, o último Adão.

11) O que é preciso para ser salvo? Qual é a obra que o homem deve fazer? (1Jo 3:23)
R. É preciso abandonar os antigos conceitos de como ser salvo (arrepender-se), e crer em Cristo Jesus como diz as Escrituras. Não há obra alguma a ser realizada para ser salvo, pois a obra é de Deus, que cria o novo homem em verdadeira justiça e santidade.

12) Qual o caminho estreito?
R. O caminho estreito é Cristo.

13) Como se dá o acesso ao caminho estreito?
R. Todos que nascem de novo estão trilhando o caminho estreito que conduz a salvação.

14) Qual o caminho largo?
R. É o caminho que a humanidade gerada em Adão trilha.

15) Qual o acesso ao caminho largo?
R. Adão é o acesso ao caminho largo.
16) É correto alegar que uma igreja de costumes liberais é uma porta larga?
R. Não. Ao adotar este posicionamento estaria distorcendo o verdadeiro significado da parábola dos dois caminhos.



 

 

 

 

 

Duas portas, dois caminhos

 

 ‘Estreito’ e ‘largo’ referem-se, somente, à quantidade de pessoas que entram pelas portas e estão nos caminhos: poucos e muitos. Se Jesus declarou que o seu jugo é suave e o seu fardo leve, como é possível o ‘caminho estreito’ ser um estilo de vida de dificuldades? (Mt 11:30) Que vida difícil há em entrar por Cristo, a porta que concede salvação e excelentes pastagens? (Jo 10:9)

Duas portas, dois caminhos

Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontram” (Mt 7:13-14).

O Pr. Silas Malafaia fez um comentário à parábola dos Dois Caminhos em um livreto intitulado ‘Dois caminhos e uma escolha’ e, diante da explicação apresentada, não pude me furtar de tecer este comentário.
O Pr. Malafaia afirma, no seu livreto, que os ‘Dois Caminhos’ que Jesus apresentou aos seus ouvintes, no final do Sermão da Montanha, referem-se a dois estilos[1] de vida, rotulando o caminho largo de uma vida de facilidades e o caminho estreito, por sua vez, de uma vida de dificuldades. Ele, também, afirma que cada ser humano entrará por uma dessas duas portas e encontrará seu destino:  perdição ou, salvação, como resultado de uma escolha que todos os homens fazem.
“O Senhor Jesus Cristo lançou mão de uma linguagem simbólica para nos falar sobre dois estilos de vida que marcam a trajetória de todo o ser humano: o da porta larga e o da porta estreita. Cada um de nós entrará por uma dessas portas e encontrará seu destino: ou a perdição, ou a salvação (…) Além de mostrar essas duas opções, Jesus também revelou o resultado final para quem preferiu seguir uma vida de facilidades, no mundo, e para quem escolheu trilhar uma vida difícil, de piedade, pelo caminho estreito que leva à vida eterna” – Malafaia, Silas, Dois caminhos e uma escolha, Editora Central Gospel, Rio de Janeiro, 2009.
A abordagem do Pr. Silas Malafaia, no livreto ‘Dois Caminhos e uma escolha’, possui traços de vários segmentos filosóficos, como ‘orfismo’[2][3], ‘estoicismo’[4][5], etc., pois segue o ideário de um movimento filosófico sincrético, o neoestoicismo, que amalgamou o estoicismo a uma doutrina pseudocristã, semelhante ao ensinamento que há na Didaqué dos Doze Apóstolos[6] e no escrito apócrifo Epístola de Barnabé. Ao abordar a parábola dos Dois Caminhos, como propositura de dois estilos de vida, o Pr. Malafaia anuncia um ‘evangelho’ essencialmente moralizante e se afasta da verdade proposta por Cristo.
“Didaqué c. 1-6, red in Die apostolischen Väter, ed. Karl Bihlmeyer (Tubinga, 1924). O mesmo tratamento extensivo dos ‘dois caminhos’ encontra-se na Epístola de Barnabé c. 18, ibid. Dado que certas diferenças na disposição do material em ambos os documentos tornam impossível derivar qualquer deles do outro, parece evidente que ambos provêm de uma fonte comum. Esta fonte parece ter sido um tracto judeu moralizador e, com efeito, a própria doutrina dos dois caminhos pouco ou nada tem a que se possa chamar especificamente cristão. O neopitagórico Pinax de Cebes (cf. a nota 19), que contém a mesma doutrina moral, prova sem qualquer dúvida que emana em última análise de uma fonte helenística, que não era nem judaica nem cristã” Jaeger, Werner, Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, Edições 70, Lisboa/Portugual. (Nota de Rodapé), pág. 22.
Aqui fica um alerta! Antes de anunciar o que se depreende de uma passagem bíblica, principalmente, quando se trata de parábolas, primeiro se faz necessário compreender a essência da exposição, para não incorrer no mesmo erro das pessoas que testemunharam falsamente contra Jesus, alegando que ouviram Ele dizer que destruiria o templo de Herodes e o reergueria em três dias.
“E, levantando-se alguns, testificaram falsamente contra ele, dizendo: Nós ouvimos-lhe dizer: Eu derrubarei este templo, construído por mãos de homens e, em três dias, edificarei outro, não feito por mãos de homens” (Mc 14:57-58);
“Jesus respondeu e disse-lhes: Derrubai este templo e, em três dias, o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo” (Jo 2:19-21).
Se não fosse o adendo explicativo inserido pelo evangelista João: “Mas ele falava do templo do seu corpo”, talvez, em nossos dias, muitos acreditassem que Jesus intentava destruir o templo de Herodes para reconstruí-lo em tempo recorde.
Um enunciado que contém enigmas, não será decifrado, facilmente, pela mente do homem natural. Isso se observa, quando Jesus alertou aos seus discípulos para terem cuidado com o ‘fermento’ dos fariseus e eles entenderam que Jesus estava censurando o fato de terem se esquecido de se provisionar de pão (Mt 16:7).
A má interpretação, acerca da parábola dos Dois Caminhos, contida no livreto, fica patente, se a ideia do Pr. Silas for confrontada com as Escrituras. A concepção de que cada indivíduo entrará por uma das portas (larga ou estreita) e, ao final, encontrará o seu destino: a perdição ou, a salvação, não se sustém, ante a verdade contida nas Escrituras.
Os qualificativos ‘estreito’ e ‘largo’, que acompanham a figura da porta e do caminho, não tem relação alguma com ‘conforto’ ou ‘desconforto’, ‘facilidade’ ou ‘dificuldade’, até porque o apóstolo João esclarece que os mandamentos de Cristo não são penosos (1 Jo 5:3), ao passo que os mandamentos dos homens são descritos como fardos pesados e difíceis de suportar (Mt 23:4).
‘Estreito’ e ‘largo’ referem-se, somente, à quantidade de pessoas que entram pelas portas e estão nos caminhos: poucos e muitos. Se Jesus declarou que o seu jugo é suave e o seu fardo leve, como é possível o ‘caminho estreito’ ser um estilo de vida de dificuldades? (Mt 11:30) Que vida difícil há em entrar por Cristo, a porta que concede salvação e excelentes pastagens? (Jo 10:9)
A exposição do Pr. Silas contraria o anunciado por Jesus, que disse:
“Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3:18).
Quando Jesus diz que, quem n ‘Ele crê, não é condenado, significa que, ao crer em Jesus, o homem crente livrou-se da condenação. Mas, qualquer que não crê, já está condenado, o que significa que, antes de crer em Cristo, todos os homens entraram pela porta larga e estão em um caminho, cujo destino é a perdição.
O evangelho de Cristo apresenta uma realidade que difere da do pensamento do homem natural, que pensa ser necessário aos homens tomarem boas decisões hoje, para livrarem-se de uma condenação futura. Com base na verdade do evangelho, fica patente que o homem já está condenado por causa de uma ofensa no passado da humanidade, de modo que precisa de salvação hoje.
“Pois, assim como, por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim, também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens, para justificação de vida” (Rm 5:18).
Observe a argumentação paulina, de que o juízo já foi estabelecido para condenação, condenação esta que alcançou todos os homens. A verdade do evangelho é coerente, quando oferece salvação a quem já está condenado, diferentemente do pensamento do homem natural que, inconsistentemente, recomenda um estilo de vida, hoje, para o homem se livrar de uma condenação que ainda poderá ocorrer.
A abordagem do Pr. Silas dá a ideia de que cada pessoa, em um momento crucial da sua vida, terá que se decidir entre a porta larga e a porta estreita. Essa concepção é comum ao homem natural, que presume de si mesmo, que o que, faz em vida, ecoa na eternidade.
“Se pecares, que efetuarás contra ele? Se as tuas transgressões se multiplicarem, que lhe farás? Se fores justo, que lhe darás ou, que receberá ele da tua mão? A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria ao filho do homem” (Jó 35:6-8).
Jesus anunciou que, antes dos dois caminhos, há duas portas. As escolhas que os homens fazem, enquanto estão no caminho, não altera o destino dos caminhos, pois o destino não está atrelado ao homem, mas, ao caminho.
A Bíblia ensina que todos os homens entram pela porta larga, quando vem ao mundo, e estão em um caminho largo, que os conduzirá à perdição. Não está franqueado a nenhum homem escolher entre caminho largo e estreito, pois, ao entrar no mundo, entrou pela porta larga. Nenhum descendente de Adão teve a oportunidade de escolher entrar pela porta larga, visto que a porta larga é figura do nascimento natural.
Do mesmo modo que nenhum ser humano escolhe nascer, não é dada a oportunidade de escolher a porta larga. Enquanto a exposição de Jesus demonstra que a humanidade está sob a égide do pecado, pelo fato de ter entrado no mundo, através de Adão, e que precisa decidir pela oferta de redenção em Cristo, a concepção humana é e que há a possibilidade de escolha entre dois caminhos.
A porta larga está para Adão, assim como a porta estreita está para Cristo, por isso mesmo Cristo é o último Adão.
“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante” (1 Co 15:45).
Certo é que Jesus lançou mão de uma linguagem simbólica, ao contar a parábola dos Dois Caminhos, mas, não para falar acerca de estilos de vida e, sim, apresentar, através de duas figuras: a porta larga e a porta estreita, respectivamente, o nascimento natural e o novo nascimento, e consequentemente o destino do caminho largo e do caminho estreito, figuras que remetem às pessoas de Adão e Cristo.
O Pr. Silas assinala que, escolher um estilo de vida de prazer, é atitude que marca quem preferiu entrar pela porta larga. Que matar, roubar, prostituir, idolatria, feitiçaria, iras, brigas, etc., são práticas de um estilo de vida de facilidades. Entretanto, a Bíblia denuncia religiosos que tinham um estilo de vida isenta dessas práticas e, mesmo assim, não foram aceitos por Deus.
“Esta linguagem metafórica e este simbolismo, usado pelo Mestre, assinalam o estilo de vida de quem escolheu uma vida de prazeres mundanos. Entre tantas outras, são estas as atitudes que marcam a vida de quem preferiu entrar pela porta larga: viver no pecado, amar o mundo, considerar Deus apenas um detalhe e estabelecer a sua própria escala de valores espirituais”. Idem, ibidem.
Um exemplo vê-se no fariseu, que foi ao templo e apresentou o seu estilo de vida, diante de Deus, dizendo:
“O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano” (Lc 18:11).
Temos também o Jovem Rico, que disse:
“Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade” (Mc 10:19-20).
O estilo de vida desses homens, segundo a religião judaica, era para assinalar que haviam entrado pela porta estreita, visto que escolheram trilhar uma vida difícil, seguindo os pesados preceitos dos seus pais.
Se a porta estreita diz de um estilo de vida, isso significaria que padres, freiras, monges, faquires, mestres orientais, gurus, etc., seguem por um caminho estreito? É claro que não!
Jesus se apresentou como a porta estreita, ao dizer:
“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, entrará, sairá e achará pastagens” (Jo 10:9).
Cristo se apresentou como o caminho, a verdade e a vida e não como um estilo de vida, de modo que só é possível salvar-se através d’Ele:
“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14:6).
Quando Jesus apresenta a parábola das Duas Portas e dos Dois Caminhos, não apresenta uma oportunidade de escolha, antes, dá uma ordem e apresenta dois motivos:
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontram” (Mt 7:13-14).
Se Cristo é a porta estreita, como entrar por Ele?  Nascendo de novo, de uma semente incorruptível, que é a palavra de Deus (1 Pe 1:23). Jesus disse que o que dá vida ao homem é o espírito e que as suas palavras são espírito e vida, por isso mesmo, Ele é o último Adão, espírito vivificante (1 Co 15:45).
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6:63).
Ao falar com Nicodemos, Jesus alertou que era necessário nascer de novo, da água e do espírito. É através do novo nascimento que o homem entra pela porta estreita, que é Cristo, o único meio de o homem estar em Cristo: o caminho que conduz a Deus.
O homem não escolhe entre dois caminhos, antes, precisa decidir-se entrar pela porta estreita, a única opção que livra da condenação do caminho largo. Nenhum homem escolhe entrar pela porta larga, pois é por meio dela que os homens têm acesso ao mundo. Basta nascer no mundo que o homem estará no caminho largo que o conduzirá à perdição.
O Salmo 1 apresenta os dois caminhos:  “Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém, o caminho dos ímpios perecerá” (Sl 1:6), e a porta dos justos: “Esta é a porta do SENHOR, pela qual os justos entrarão” (Sl 118:20), o que pressupõe que há uma porta própria aos ímpios.
O homem natural pensa que as suas decisões definirão o seu destino e não atina que há duas portas. Por isso, o alerta do Pregador: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” (Pv 14:12). O homem sempre irá se decidir ao que lhe parece direito, mas, inexoravelmente, o seu caminho é de morte.
A porta larga não se refere a um estilo de vida, não diz do pecado, nem diz de uma instituição ou, até mesmo, do diabo. Como a porta estreita diz de um homem – Jesus Cristo – o último Adão, a porta larga refere-se a outro homem: Adão. Qualquer ideia que destoe dessa verdade, conforme o anunciado por Cristo, deve ser rejeitada.
Por fim, para validar a ideia de que os dois caminhos tem relação com as escolhas dos homens e o estilo de vida que adotaram, o Pr. Silas Malafaia aponta para um suposto juízo final, quando os homens serão julgados e condenados. O Pr. Silas toma por base uma passagem bíblica que fala do julgamento das nações, como se fosse um texto que apresenta o julgamento de indivíduos.
“E quando o Filho do homem vier em sua glória e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então, dirá o Rei, aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25:31-34).
A Bíblia fala do juízo do Tribunal do Trono Branco, quando serão julgadas as obras dos filhos dos homens, mas, sabemos que todos que comparecerem ante o Tribunal do Trono Branco já estão condenados, com eterna perdição, e o que está em julgamento são as obras. No Tribunal do Trono Branco, não haverá julgamento, para verificar se alguém será salvo, do mesmo modo que o julgamento das nações, não decidirá quem será salvou ou não.
Interpretar, erroneamente, uma parábola, por causa da complexidade das figuras, símiles e enigmas contidos nela, parábola, é até compreensível, o que não deixa de ser perniciosa a abordagem. Entretanto, citar um texto para validar uma ideia equivocada, como o evento em que Jesus julgará as nações, assim como um pastor separa os bodes das ovelhas[7], é peçonha cruel.

Correção ortográfica: Pr. Carlos Gasparotto

[1] “O Senhor Jesus Cristo lançou mão de uma linguagem simbólica para nos falar sobre dois estilos de vida que marcam a trajetória de todo o ser humano: o da porta larga e o da porta estreita. Cada um de nós entrará por uma dessas portas, e encontrará seu destino: ou a perdição, ou a salvação” Malafaia, Silas, Dois caminhos e uma escolha, Editora Central Gospel, Rio de Janeiro, 2009.
[2] “Um desses grupos era o dos chamados Pitagóricos, que pregavam o modo de vida ‘pitagórico’ e utilizavam como símbolo um Y, o sinal da encruzilhada em que um homem tinha de decidir o caminho a tomar, o bom ou o mau” Jaeger, Werner, Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, Edições 70, Lisboa/Portugual, pág. 21.
[3] “Mas, de todos esses discursos, os mais estranhos são os que fazem acerca dos deuses e da virtude. Os próprios deuses, dizem eles, reservaram muitas vezes aos homens virtuosos o infortúnio e uma vida miserável, ao passo que concediam aos maus a sorte contrária. Por seu lado, sacerdotes mendigas e adivinhos vão às podas dos ricos e os convencem de que obtiveram dos deuses o poder de reparar as faltas que eles ou os seus antepassados cometeram, por meio de sacrifícios e encantamentos, com acompanhamento de prazeres e festas; se se quer prejudicar um inimigo por uma módica quantia, pode-se causar dano tanto ao justo como ao injusto, por intermédio das suas evocações e fórmulas mágicas, dado que, segundo afirmam, convencem os deuses a se colocarem a seu serviço. Em apoio a todas essas assertivas, invocam o testemunho dos poetas. Uns falam da facilidade do vício: Para o mal em bandos nos encaminhamos facilmente: ‘o caminho é suave e ele mora perto; mas diante da virtude os deuses colocaram suor e trabalho’. Os outros, para provar que os homens podem influenciar os deuses, alegam estes vemos de Homero: ‘Os próprios deuses deixam-se dobrar; e, pelo sacrifício e devota prece, as libações e das vítimas, a fumaça, o homem aplaca-lhes a ira quando infringiu as suas leis e pecou’. E produzem grande quantidade de livros de Museu e Orfeu, descendentes, dizem eles, de Selene e das Musas. Regulam os seus sacrifícios por esses livros e convencem não apenas os simples cidadãos, mas também as cidades, de que se pode ser absolvido e purificado dos crimes, em vida ou depois da morte, por intermédio de sacrifícios e festas a que chamam mistérios. Estas práticas os livram dos males do outro mundo, mas, se as desprezarmos, esperam-nos terríveis suplícios.  Todos estes discursos, amigo Sócrates, e muitos outros que se fazem sobre a virtude, o vício e a estima que lhes dedicam os homens e os deuses, que efeito cremos que produzem na alma do jovem dotado de bom caráter que os ouve e é capaz, saltando de uma opinião para outra, de extrair daí uma resposta a esta pergunta: o que se deve ser e que caminho se deve seguir para atravessar a vida da melhor maneira possível?”Platão, A República.
[4] “Em tempos helenísticos, encontramos este ensinamento dos dois caminhos, que era evidentemente muito antigo (ocorre em Hesíodo, por exemplo), num popular tratado filosófico, O Pinax de Cebes, que descreve uma imagem dos dois caminhos encontrada entre as ofertas votivas de um templo”. Jaeger, Werner, Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, Edições 70, Lisboa/Portugual, pág. 21.
[5] “estoicismo – fil doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264 a.C.), e desenvolvida por várias gerações de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbabilidade, a extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade [O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.].”
[6] “O catecismo cristão mais antigo, que foi descoberto no século XIX e se autodenomina a Didaqué dos Doze Apóstolos, oferece o mesmo ensinamento dos dois caminhos como essência da doutrina cristã, que combina com os sacramentos do batismo e eucaristia”. Jaeger, Werner, Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, Edições 70, Lisboa/Portugual, pág. 22.
[7] “Todos temos o livre-arbítrio para escolher entre o bem e o mal, a morte e a vida, o gozo e o castigo eterno, o céu e o inferno. Um desses destinos se tornará palpável para cada um de nós quando, no juízo final, Cristo apartar salvos e condenados, como o pastor separa os bodes das Ovelhas”. Malafaia, Silas, Dois caminhos e uma escolha, Editora Central Gospel, Rio de Janeiro, 2009.













Perdição e salvação estão atreladas aos caminhos, e não aos homens


O termo ‘conduz’ utilizado na parábola dos caminhos apresenta a função que o caminho desempenha, ou seja, conduzir a um destino àquele que entra pela porta. A perdição é o destino do caminho espaçoso, e a salvação é o destino do caminho estreito. Como são os caminhos que possuem destinos (salvação e perdição), através da parábola Jesus exclui qualquer conceito de sina, determinismo ou fatalismo quando ao futuro dos homens.

Perdição e salvação estão atreladas aos caminhos, e não aos homens

Após analisar a parábola das duas portas e dos dois caminhos, o leitor será capaz de dizer se verdadeiramente Deus predestinou alguns homens à salvação e o restante à danação eterna.
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” ( Mt 7:13 -14)

Quando anunciou o reino dos céus no Sermão da montanha, Jesus instruiu os seus ouvintes a ‘entrarem pela porta estreita’ “Entrai pela porta estreita” ( Mt 7:13 ). Jesus é a porta estreita pela qual os justos haveriam de entrar, pois Ele mesmo disse: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” ( Jo 10:9 ).
O salmo 118 é messiânico e apresenta Cristo como a porta dos justos, assim como Ele é a pedra angular, a pedra de esquina, o servo ferido, a destra do Altíssimo, a Luz que veio ao mundo, o Bendito que vem em nome do Senhor e a vítima da festa “Esta é a porta do SENHOR, pela qual os justos entrarão” ( Sl 118:15 -27 )
Mas, por que é necessário entrar por Cristo? Como entrar por Cristo?
Jesus apresentou três motivos pelos quais é imprescindível entrar pela porta estreita:
“… porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” ( Mt 7:13 )
§     A porta é larga;
§     Dá acesso ao caminho de perdição, e;
§     Muitos entram por ela.

Identificando a porta larga
A parábola apresenta somente duas portas e, com relação às portas, Jesus se apresenta como a porta estreita “Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão” ( Lc 13:24 -25; Jo 10:9 ).
A Bíblia não contém uma definição explícita da porta larga, porém através de Cristo, que é a porta estreita, é possível determinar o que é, ou quem é a porta larga.
Há várias concepções que apresentam alguns candidatos para ocupar o ‘cargo’ de porta larga, entretanto, devemos considerar que há uma justa posição entre a figura da porta larga e a figura da porta estreita, de modo que, há quesitos a serem satisfeitos para que um ‘candidato’ à porta larga se enquadre perfeitamente na figura.
Se a porta estreita, que é Cristo, é um homem, segue-se que a figura da porta larga deve fazer referência a um homem. Se a porta estreita é cabeça de uma nova geração, a porta larga também deve fazer referência à cabeça de uma geração.
Muitos indicam o diabo para o cargo de porta larga, entretanto, ele é um anjo caído (não é um homem), e como não pode trazer a existência seres semelhantes a ele, logo, não pode ser cabeça de uma geração. O diabo não se enquadra na justa posição que há entre as figuras da porta larga e da porta estreita ( Lc 20:35 -36).
O pecado, por sua vez, diz de uma condição a que o homem está sujeito, ou seja, alienado de Deus, portanto, não é um ser, não é anjo e nem homem. O pecado não se enquadra no cargo de porta larga, além de ser impossível o pecado assumir a posição de cabeça de uma geração ( Is 59:2 ).
As instituições humanas também são, muitas vezes, indicadas como porta larga, porém, uma instituição é composta de vários homens reunidos em torno de um objetivo. Não passa de uma assembleia de pessoas, de modo que não se ajusta à figura de porta larga.
O mundo não é a porta larga, visto que o mundo, na bíblia, diz dos homens alienados de Deus regidos por suas paixões, pela concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e pela soberba da vida ( Ef 2:2 ; Cl 2:8 ). Logo, não podemos considerar que a porta larga é o diabo, o pecado, o mundo ou uma instituição religiosa.
Resta-nos considerar que, se a porta estreita é um homem, a porta larga necessariamente deve ser um homem. Como Cristo, a porta estreita, veio ao mundo sem pecado, o candidato à porta larga também deve ser um homem que veio ao mundo sem pecado. Como Cristo é a cabeça de uma nova geração de homens espiritais, a porta larga refere-se à cabeça de uma geração de homens. O único homem que se encaixa na figura da porta larga é Adão, pois veio ao mundo sem pecado e é a cabeça de uma geração de homens carnais.
Como pode ser isso? Ora, na bíblia a porta é figura que possui diversos significados, porém, as figuras das portas que Jesus apresentou no Sermão da montanha dizem de nascimento, de modo que Adão é a porta larga por quem todos os homens entram no mundo. Todos os homens quando vem ao mundo (abrem a madre) são gerados segundo a semente de Adão. Todos os homens, exceto Cristo, entraram no mundo através de Adão, que é a porta larga.
Cristo foi lançado pelo Espírito Santo no ventre de Maria, ou seja, desassociado da semente corruptível de Adão. Por ter sido introduzido no mundo por Deus, Cristo é o último Adão, a cabeça de uma geração de homens espirituais ( 1Co 15:45 ). Em outras palavras, Adão é o tipo e Cristo é o antítipo. Adão a figura e Cristo a realidade “… Adão, o qual é figura (tipo) daquele que havia de vir (antítipo)” ( Rm 5:14 ).
Para estar sujeito à paixão da morte, Cristo teve que vir ao mundo à semelhança dos homens (carne do pecado), porém, sem pecado ( Hb 2:9 ). Para isso foi introduzido pelo Espírito Santo no ventre de Maria, pois se fosse gerado segundo a carne, estaria sob a mesma condenação que se abateu sobre a humanidade ( Gl 4:4 ; 1Jo 3:9 ). Já no Éden foi anunciado que o descendente viria da descendência da mulher, em vista da oposição que haveria entre as duas sementes ( Gn 3:15 ).
Vale destacar que, quando Cristo criou o homem no Éden ( Hb 2:10 ), Adão foi criado à imagem e semelhança do Cristo-homem, e não à semelhança do Deus invisível e em glória ( Hb 2:9 ). Adão foi criado à imagem e semelhança do Cristo-homem que havia de vir ao mundo, sendo gerado no ventre de Maria ( Rm 5:14 ), ou seja, não a semelhança do Cristo glorificado, pois tal condição Cristo somente alçou após ressurgir dentre os mortos “Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar” ( Sl 17:15 ).

A porta é larga
A porta é designada larga porque todos os homens, para virem ao mundo, necessariamente tem que entrar por Adão ( 1Co 15:46 ). Jesus deixa claro que são muitos que entram pela porta larga, e não todos, isto porque Cristo foi exceção à regra. Enquanto os homens naturais foram lançados na madre através de uma semente corruptível, Jesus foi lançado na madre através da operação sobrenatural do Espírito Santo ( Sl 22:10 ).
Antes de Adão não havia desobediência, pecado ou morte para a humanidade. Com a transgressão de Adão, entrou no mundo o pecado e a morte ( 1Co 15:21 -22 ). Por causa da ofensa de Adão todos os seus descendentes juntamente alienaram-se de Deus ( Sl 53:3 ).
A Bíblia é clara quando demonstra que todos os homens juntamente se desviaram, alienaram de Deus. Como foi possível aos homens alienarem-se de Deus juntamente? Ora, existiu um único evento no qual todos os homens estavam ‘juntamente’ reunidos. Por interpretação (Hb 7:2), no Éden todos os homens estavam reunidos na ‘coxa’ de Adão (Hb 7:10). Quando Ele transgrediu, todos se tornaram transgressores. Quando Adão tornou-se imundo, contaminou toda a sua linhagem, pois do imundo não há como vir o puro ( Sl 53:3 ).
Quando os homens alienaram-se de Deus? Alienaram-se de Deus no Éden. Lá no Éden pereceu o homem piedoso e todos os seus descendentes tornaram-se imundos “Já pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja justo; todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão com a rede” (Mq 7:2). É em função da transgressão no Éden que os homens alienam-se de Deus desde a madre, são gerados de uma semente corruptível, a semente de Adão. Como consequência, andam errantes desde que nascem, pois estão em um caminho que os conduz à perdição (Sl 58:3).

O caminho de perdição
Após abrir a madre (nascer), ou seja, ‘entrar pela porta larga’ o homem trilha um caminho específico atrelado à perdição. A parábola mostra que a figura do caminho é funcional, pois demonstra que o caminho leva, ou seja, conduz todos os homens que nele se encontram a um único lugar: perdição. De igual modo, a parábola demonstra que o caminho estreito conduz todos os homens que nele se encontram à vida, ou seja, o caminho estreito possui como destino um lugar específico: salvação ( M 7:13 -14).
O termo ‘conduz’ utilizado na parábola dos caminhos apresenta a função que o caminho desempenha, ou seja, conduzir a um destino àqueles que entram pelas portas. A perdição é o destino do caminho espaçoso, e a salvação é o destino do caminho estreito. Como são os caminhos que possuem destinos (salvação e perdição), através da parábola Jesus exclui qualquer conceito de sina, determinismo ou fatalismo quando ao futuro dos homens.
O termo ‘conduz’ evidência a função do caminho, e nada mais. O caminho conduz a um destino específico e certo. Por exemplo: a perdição é o destino do caminho espaçoso, e a vida é o destino do caminho estreito. Ora, a parábola não apresenta a salvação ou a perdição atreladas aos homens, antes a salvação e a perdição foram apresentadas atrelados aos caminhos.
Ninguém vem a Deus se não por Cristo, pois Ele é o caminho que conduz o homem a vida. De igual modo, ninguém vai à perdição se não pelo caminho espaçoso, que conduz à perdição. Enquanto os judeus e os gregos possuíam uma visão fatalista e determinista de mundo, Jesus demonstra que a sua doutrina não segue a concepção da humanidade. Jesus não apresenta a salvação e nem a perdição com destino dos homens, antes como destino dos caminhos, de modo que o evangelho não segue as bases de correntes filosóficas como o fatalismo e determinismo.
Por que é necessário evidenciar esta peculiaridade dos caminhos? Para desmistificar algumas concepções, pois em algumas civilizações antigas, como a dos gregos, o mundo e os seus eventos cotidianos eram regidos por uma sucessão de eventos inevitáveis e preordenados por uma determinada ordem cósmica ou divindade. Tal doutrina afirma que todos os acontecimentos ocorrem de acordo com um destino fixo e inexorável, sem que os homens não podem controla-los ou influenciá-los.
Na mitologia grega têm-se as Moiras, três irmãs que, através da Roda da Fortuna, determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos, portanto, o destino submetia os deuses, que por sua vez, deveriam resignar-se à sua sorte, sina, fado.
Além da cultura greco-romana, temos o fatalismo regendo o estoicismo romano e grego, que por fim, influenciou a doutrina dita cristã da Divina Providência. Divina Providência tornou-se um pensamento teológico que confere à onipotência de Deus controle absoluto sobre todos os eventos nas vidas das pessoas e na história da humanidade. Tal concepção afirma que Deus decidiu e preordenou todos os eventos e nada acontece sem que Deus permita.
Outra corrente filosófica, o determinismo, afirma que todo acontecimento (inclusive o mental) é explicado por relações de causalidade (causa e efeito).
Na bíblia tais pensamentos, sejam mitológicos ou filosóficos, não encontram eco, pois o ‘destino’ é apresentado única e especificamente como o local que se chegará após trilhar um caminho. Na bíblia o termo ‘destino’ é empregado no sentido de local, lugar, porém, não envolve a ideia de preordenação “Como também trezentos escudos de ouro batido; para cada escudo destinou trezentos siclos de ouro; e Salomão os pôs na casa do bosque do Líbano” (2Cr 9:16).
Quando se lê: “E eu vos destino o reino, como meu Pai mo destinou” (Lc 22:29), não há nada de determinismo no sentido filosófico ou mitológico, antes Jesus indicou que, da mesma forma que Deus reservou o reino para o seu Filho, certo é que o reino pertence aos que creem, pois herdarão com Cristo todas as coisas.
Ora, os dois versos acima possuem o mesmo princípio: assim como o ouro foi preparado em função do escudo, o reino foi preparado para os que creem em Cristo. Isto não quer dizer que algumas pessoas foram destinadas ao reino, e outra não, antes que o reino foi preparado para os que creem. O equivoco de alguns se dá em função da linguagem, pois deixam de considerar que, na antiguidade, as coisas eram definidas pela sua função, serventia“Todas as coisas se definem pelas suas funções” (Aristóteles, A Política. Tradução Nestor Silveira Chaves. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2011, p. 22).
Quando lemos: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo” ( 1Ts 5:9 ), temos que considerar que o apóstolo apresenta a figura do caminho estreito: ‘por nosso Senhor Jesus Cristo’. No verso em comento, o termo ‘destinar’ não foi empregado no sentido de preordenar, e sim, no sentido de reservar.
Como o apóstolo está tratando com os cristãos e trazendo a memória deles a atual condição em Cristo: filhos da luz (1Ts 5:5), recomenda que deveriam permanecer vigilantes e sóbrios (1Ts 5:7), revestindo-se do poder de Deus, que é o evangelho (1Ts 5:8). Pois agora, diferente do tempo em que estavam nas trevas e eram filhos da ira, os cristãos, em função do caminho que conduz à vida (Jesus Cristo nosso Senhor), alcançaram, adquiriram salvação. Ou seja, o apóstolo não diz que os cristãos foram predestinados a salvação, antes que, por estarem no caminho estreito, o destino agora é de salvação, diferente do caminho espaçoso, que é de ira.
Qual a função de um caminho? Conduzir a um lugar, ou seja, destino certo. O lugar vincula-se ao caminho sem qualquer conotação de ‘predestinação’, ‘previsão’, ‘preordenação’. O destino do caminho ligado à porta larga é de perdição, assim como o destino da Rodovia Presidente Dutra é o Rio de Janeiro para quem sai de São Paulo.
Devemos considerar que o Senhor Jesus afirmou que quem tem destino é o caminho ao exortar as pessoas que porfiassem por entrar pela porta estreita. Deste modo, Jesus demonstra que o viajante não está preordenado, predestinado, etc., à perdição, antes é o caminho que dá em um lugar de perdição.
Diante do alerta de Cristo, verifica-se que o viajante pode trocar de caminho, assim como é possível a alguém que está em São Paulo a caminho do Rio de Janeiro pela Rodovia Presidente Dutra pegar a Rodovia Raposo Tavares com destino ao estado do Paraná.
§     “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” (Mt 7:13);
§     “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt 23:13);
§     “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (Jo 10:9);

A porta é espaçosa porque muitos entram por Adão, e o caminho é espaçoso porque todos que são gerados de Adão são conduzidos à perdição. Jesus vinculou a perdição ao caminho, e não aos homens. Através da parábola fica evidente que o destino vincula-se ao caminho. O caminho e o destino são fixos e atrelados, porém, o homem é atrelado à porta (nascimento), o que significa que é possível deixar o caminho em que está e passar para o outro.

O caminho é espaçoso
A porta é espaçosa porque todos os homens, exceto Cristo, entram por Adão e o caminho é espaçoso porque muitos homens são conduzidos à perdição.
Na parábola dos dois caminhos Jesus vinculou a perdição ao caminho, e não aos homens. Através de uma leitura atenta da parábola é evidenciado que o destino está atrelado ao caminho.
O homem nasce pela primeira vez segundo a carne, o sangue e a vontade do varão, ou seja, nasce vinculado à porta larga. Não foi Deus quem estabeleceu que o homem seria gerado em pecado, antes quando Adão desobedeceu, sujeitou-se à condição de alienado de Deus (pecado) e arrastou todos os seus descendentes para a mesma condição. A porta larga surgiu em Adão, que pecou e vendeu todos os seus descendentes ao pecado, de modo que, ao vir ao mundo, nenhum homem é livre do pecado.
A entrada dos homens ao mundo pela porta larga ficou vinculada ao primeiro pai da humanidade, pois nascer da carne é o único meio de o homem entrar no mundo “Teu primeiro pai pecou, e os teus intérpretes prevaricaram contra mim” (Is 43:27; Os 6:7). Para entrar pela porta larga o homem não exerce escolha, assim como os que descendiam (filhos) dos escravos não escolhiam a condição social quando viam ao mundo. Ou seja, ninguém que entra pela porta larga escolheu entrar por ela.
A figura é completa em si mesma, pois os caminhos possuem um destino certo e imutável, porém, os homens não estão atrelados a um destino, quer seja perdição ou salvação.
No dia a dia, se um homem quiser chegar a um destino, necessariamente terá que escolher qual caminho tomar, pois o destino está atrelado ao caminho. Se um viajante deseja sair de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro, terá de percorrer a Rodovia Presidente Dutra.
Através da parábola dos dois caminhos é patente que Deus não predestinou ninguém à salvação eterna ou a danação eterna. Quando um novo homem vem ao mundo, necessariamente entra pela porta larga e estará em um caminho largo que o conduz á perdição.
Ninguém que entra no mundo por Adão está predestinado à perdição, pois é o caminho que conduz à perdição. O caminho espaçoso possui um destino, ou seja, está atrelado a um lugar. O lugar que o caminho espaçoso conduz é de perdição, diferente do caminho estreito, que conduz à salvação.
Semelhantemente, ninguém que entra por Adão está predestinado à salvação, visto que, por ter entrado no mundo através da porta larga, está em um caminho largo que o conduz à perdição. A concepção de que há homens que veem ao mundo predestinados à salvação deixa de considerar que todos são formados em iniquidade e concebidos em pecado, portanto, nascem pecadores e no caminho de perdição.
Ora, se houvesse predestinação para salvação, necessariamente o indivíduo predestinado não poderia vir ao mundo por Adão. Teria que entrar por outra porta, à parte de Cristo ou de Adão, porém, tal porta não existe. Para entrar por Cristo, primeiro o homem tem que entrar por Adão, e após entrar por Adão, somente é possível entrar no reino dos céus fazendo obra que exceda a dos escribas e fariseus: crer em Cristo, ou seja, nascendo de novo
(Mt 5:20
Jo 3:3
Jo 6:29).
Quem nasce apenas uma vez permanece no caminho espaçoso, quem nasce de novo, ou seja, a segunda vez, sai do caminho de perdição e passa para o caminho que conduz à salvação, que é Cristo.
Salvação e perdição não são destinos preordenados aos homens antes de nascerem, pelo contrário, salvação e perdição estão vinculadas ao caminho que os homens trilham após entrarem pelas portas. Os homens acessam as portas uma por vez e na seguinte ordem: primeiro a porta larga, depois a estreita. Se entrar por Adão, estará em um caminho de perdição, se por Cristo, em um caminho de salvação.

Muitos entram pela porta larga
Quando nascem, os homens estão em um caminho de perdição (exceto Cristo), porém, lhes é concedido a oportunidade de entrarem pela porta estreita. Todos os homens entram pela porta larga e, para receber salvação, precisam entrar por mais uma porta, de modo que, para alcançar vida eterna, os homens devem passar por duas portas, ou seja, por dois nascimentos.
Como já afirmamos, o destino de um caminho é imutável, ou seja, se há alguma espécie de fatalismo ou determinismo expresso no cristianismo, ele recai única e exclusivamente sobre o caminho, jamais sobre os viajantes.
Todos os homens entram neste mundo por Adão, e nenhum deles está predestinado à salvação. O que a bíblia demonstra é que todos que entram por Adão percorrerem um caminho largo que os conduz à perdição. Os dois caminhos estão atrelados a lugares específicos (destinos) e imutáveis.
Como a perdição (destino, lugar) está atrelada ao caminho espaçoso, e não aos homens, Jesus faz um convite solene, verdadeiro e real a todos os homens nascidos de Adão: “Entrai pela porta estreita” ( Mt 7:13 ). Tal convite demonstra que é possível mudar do caminho com destino à perdição para o novo e vivo caminho cujo destino é a vida eterna.
A porta larga é figura de nascimento natural e a porta estreita do novo nascimento. A porta larga trás ao mundo almas viventes e a porta estreita trás homens espirituais. O novo nascimento diz de uma nova geração proveniente da semente incorruptível (palavra de Deus), diferente do nascimento natural, que é decorrente da semente corruptível (1Pe 1:23).
Nesta parábola, porta é o mesmo que nascimento, de modo que, todos quantos são nascidos de Adão, são carnais e seguem por um caminho que conduz à perdição. Semelhantemente, todos quantos entram por Cristo, nascem de novo, estão em um caminho estreito que os conduz a Deus.
Jesus disse: – “Eu sou a porta”! “Eu sou o caminho”! Primeiro o homem entra neste mundo por Adão, depois é necessário entrar por Cristo, nascendo de novo da água e do Espírito. Cristo é o caminho que conduz o homem a Deus. Cristo é o caminho que possui salvação como destino. Qualquer que entra por Ele está no caminho que o conduz única e especificamente a Deus.
O caminho é estreito porque poucos entram por Cristo, e o caminho é largo porque são muitos que entram por Ele. Não é comportamento, moral ou caráter que qualifica a largura do caminho, e sim a quantidade de acesso.

Mudança de caminho
Como sair do caminho largo e entrar no caminho estreito?
Para o homem nascer de novo, primeiro é necessário tomar sobre si a sua própria cruz e seguir após Cristo, ou seja, para nascer de novo primeiro é necessário morrer (Cl 3:3). Sem morrer é impossível nascer de novo “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” 
(Gl 2:20
Rm 6:6).
Fica evidente que dentre os nascidos de Adão não há ninguém predestinado à salvação, visto que, se não nascer de novo, não entrará no reino dos céus. Ora, quem entra nos céus é a nova criatura, porque a velha gerada em Adão é crucificada e morta, evidenciando que é impossível aos gerados em Adão herdarem a salvação.
Se alguém gerado da semente de Adão fosse predestinado à salvação, não necessitaria morrer com Cristo. Mas, se é necessário morrer com Cristo, evidentemente ninguém é predestinado à salvação. Se houvesse predestinação para salvação, certo é que o homem não seria sujeito à morte: nem a física, nem a morte com Cristo.
O homem que herda a salvação não é o mesmo que veio ao mundo, visto que do homem que veio ao mundo só é aproveitado o barro, a massa, porém, é dado um novo coração e um novo espírito. Quando o homem morre com Cristo, o vaso de desonra é quebrado e feito um novo vaso de honra da mesma massa. É por está peculiaridade que é impossível ao homem gerado de Adão ter sido predestinado à salvação, pois é necessário um novo nascimento, uma nova criação, um novo pai de família, um novo coração e um novo espírito “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Rm 9:21).
O homem pode assumir duas condições: a de perdido, pois quando nasce segundo a carne é homem natural, velha criatura, velho homem, velho ‘eu’, carnal, terreno, etc., e: a de salvo, pois quando nasce de novo, crucificou a velha natureza e foi de novo criado em verdadeira justiça e santidade. Se a velha criatura é crucificada e morre, certo é que tal indivíduo não foi predestinado à salvação.
Volto a repetir, se o homem fosse predestinado à salvação não seria necessário morrer para ser gerado um novo homem.
O novo homem é criado em verdadeira justiça e santidade, diferente do velho homem que foi gerado em iniquidade e em pecado (Sl 51:5). O novo homem possui um novo coração e um novo espírito, portanto, não possui vínculo com o velho homem que herdou um coração de pedra. O velho homem não foi predestinando à salvação, pois é necessário a todos que se salvam crucificarem a velha natureza com as suas concupiscências (Gl 5:24).
A ideia de que Deus predestinou alguns homens à salvação e outros à danação eterna antes mesmo de virem ao mundo, não coaduna com o posicionamento da bíblia, pois se assim fosse, os homens gerados de Adão predestinados à salvação não teriam que ser crucificados “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2:20). Como é imprescindível a crucificação com Cristo, certamente não há predestinação de indivíduos à salvação. Como é imprescindível morrer e renascer, certamente o homem salvo não é o mesmo que nasceu segundo a carne e o sangue ( Jo 1:12 -13).
A predestinação que a bíblia apresenta é para ser filho por adoção, difere muito da ideia de predestinação para salvação ( Ef 1:5 ).
O que isso significa ser predestinado para filho por adoção? Que qualquer que entrar por Cristo e perseverar n’Ele não terá outro destino: será um dos filhos de Deus ( Rm 8:29 ).
Todos que entram pela porta estreita, que é Cristo, conhecem a Deus, ou antes, foram conhecidos d’Ele (conhecer=tornar-se um só corpo, comunhão íntima). Para que Cristo fosse alçado à posição de primogênito entre muitos irmãos após morrer e ressurgir (uma vez que fora introduzido no mundo sendo o Unigênito de Deus), todos os que entraram por Cristo foram predestinados a serem filhos de Deus “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ).
Sem a igreja, a assembleia dos primogênitos, não haveria como Jesus ser primogênito entre muitos irmãos. Em função do propósito de tornar Cristo preeminente em tudo, Deus criou uma nova categoria de homens semelhantes a Cristo, sendo Ele a cabeça. Para o primogênito ser preeminente, há a necessidade de irmãos semelhantes a Ele em tudo. Entre sublimes, Cristo é mui sublime. É neste sentido que Deus predestinou os que conheceram a Cristo para serem filhos por adoção, assunto diverso da ideia de predestinação para salvação (Ef 1:5).
Todas as vezes que o apóstolo Paulo aborda a questão da predestinação, o faz em conexão com a filiação divina, de modo que, qualquer que entrar por Cristo, inexoravelmente será filho de Deus. Não há outro destino, ou destinação para aqueles que entram por Cristo: são filhos por adoção, portanto, santos e irrepreensíveis.
Uma má leitura das Escrituras que despreza o fato de que salvação não é o mesmo que filiação divina levará o leitor a considerar que o termo predestinação se aplica à salvação e à perdição, porém, o equivoco ocorre pode alcançar a salvação sem, contudo alcançar a condição de semelhante a Cristo, condição exclusiva para os que compõe o corpo de Cristo: a igreja.
Os homens salvos no milênio não farão parte da igreja, não serão filhos por adoção e nem serão semelhantes a Cristo. A bíblia demonstra que, além de serem salvos da condenação estabelecida em Adão, por ser o corpo de Cristo, os que creem alcançaram a posição de semelhantes a Cristo, filhos de Deus, participantes da assembleia dos primogênitos, para que Cristo seja o primogênito e tenha a preeminência entre muitos irmãos.
A condição dos membros do corpo de Cristo na plenitude dos tempos (Gl 4:4), a igreja, é completamente distinta dos salvos em outras épocas. O grande diferencial está no quesito filiação. Enquanto os salvos à parte da igreja são contados como filhos de Israel, os cristãos são contados como filhos de Deus, pois assim como Cristo é, os cristãos hão de vê-Lo e serão semelhantes a Ele. Por causa desta condição, à saber: a de semelhantes a Cristo, será dado à igreja a autonomia de julgar os anjos (1Co 6:2 -3).

O equilíbrio entre as figuras
Há equilíbrio entre os elementos que compõem as figuras das duas portas e dos dois caminhos. Por exemplo: Como Cristo é a cabeça de uma geração de homens espirituais (servos da justiça), e é a porta estreita; a porta larga também se refere à cabeça de uma geração de homens, porém, de homens carnais, servos do pecado.
Para compreender melhor a figura das duas portas, é essencial compreender que em Cristo, Deus estabelece a sua justiça, de modo que, pela desobediência do primeiro Adão a penalidade da morte foi imposta e todos morreram e, pela obediência do último Adão, a ressurreição veio, portanto, todos que creem são vivificados ( 2Co 15:21 -22).
Ora, se a justiça está na obediência de Cristo e a injustiça na desobediência de Adão, a justiça de Deus é substituição de ato: obediência em lugar da desobediência.
Ora, os nascidos da desobediência são filhos da ira, da perdição; já os filhos da obediência são filhos de Deus.
A relação que há entre Jesus e Adão é nítida em Romanos 5, versos 14 à 19: “No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos”.
Quando observamos os homens: Adão e Cristo, respectivamente, temos a figura e a imagem exata. Enquanto este trouxe a morte, aquele a vida. Enquanto Adão é o primeiro homem, Jesus é o último Adão. Enquanto Adão, que estava vivo, trouxe a condenação na morte, Jesus morreu e trouxe a redenção (1Co 15:45 -47).

O destino é atrelado ao caminho, e não aos homens
Através das figuras dos dois caminhos, constata-se que os caminhos permanentemente estão atrelados a um lugar, um destino. Através da figura das duas portas verifica-se que os homens estão atrelados a uma condição decorrente do seu nascimento: perdição, em função do caminho largo que está.
Deus não mudará o destino dos caminhos (salvação e perdição) e nem a condição decorrente do nascimento (pecado e justiça), ou seja, há lugar de perdição e lugar de descanso e, perdidos e salvos. Mas, como a condição de nascimento pode ser alterada, Deus roga, pelos seus embaixadores, que os homens porfiem por entrar pela porta estreita “Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão” ( Lc 13:24 ); “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus” ( 2Co 5:20 ).
A mensagem dos embaixadores de Cristo é de reconciliação (2Co 5:18). Na reconciliação há oportunidade, e não preordenação. Em Deus há liberdade, pois liberdade é pertinente ao Espírito de Deus. Se há liberdade diante do espírito que concede vida, certo é que nada foi preordenado quanto ao futuro dos homens, evidenciando assim a soberania e a justiça de Deus que a ninguém oprime “Ao Todo-Poderoso não podemos alcançar; grande é em poder; porém a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça” (Jó 37:23).
O homem sem Cristo está separado de Deus em função do caminho, e não em função de um destino, sina, fado, preordenação, etc. 
“Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá” (Sl 1:6); 
“E os teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda” (Is 30:21).







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