Parábolas de Jesus
As Parábolas de Jesus são
narrativas breves, dotadas de um conteúdo alegórico,
utilizadas nas pregações e sermões de Jesus com
a finalidade de transmitirem ensinamento.
Quanto à sua definição exata,
a parábola pode ser uma narração alegórica na
qual o conjunto de elementos evoca outra realidade de ordem superior[1] ou uma espécie de alegoria
apresentada sob forma de uma narração, relatando fatos naturais ou
acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar ou ilustrar uma ou
várias verdades..
As
parábolas são apresentadas no Antigo
Testamento da Bíblia
nas
literaturas rabínicas e no Novo
Testamento.
Nos Evangelhos sinópticos, as parábolas e
ditos parabólicos proferidos por Jesus somam em torno de 60, ou seja,
representam a terça parte de todas as palavras dele que foram registradas nas
quatro biografias, de acordo com alguns estudiosos, tornando as parábolas uma
importante característica do discurso de Jesus.
Jesus
utiliza-se das parábolas para transmitir ensinamentos profundos. A despeito
disso, a maioria delas sempre é marcada pela simplicidade e brevidade. Poucas
delas são longas, como acontece com a Parábola dos Talentos
(Lucas 11:32).
Embora,
em alguns casos, Jesus inclua exageros — a Parábola dos dez mil talentos,
uma soma astronômica de dinheiro — ou implicações alegóricas – maus vinicultores, que necessita de
interpretação — ou ainda símiles e metáforas.
As parábolas de Jesus são sempre tiradas da realidade do mundo cultural e
social em que ele vivia, contadas com o propósito de transmitir verdades espirituais.
É importante observar que as parábolas de Jesus são compreendidas a partir do
momento que existe disposição interior para compreender o próprio Mestre.[5]
Jesus ministrava sua mensagens com facilidade em
todos os níveis sociais. Ele tinha conhecimento das mais diversas áreas da
sociedade e sabia quais eram as suas necessidades. Conhecia os fariseus e
os peritos na lei. Por meio de suas parábolas Jesus levou aos seus ouvintes a
mensagem de salvação, conclamava a se arrependerem e a crerem. Aos crentes,
desafiava-os a porem a fé em prática, exortando seus seguidores à vigilância.
Quando seus discípulos tinham dificuldade para entender as parábolas, Jesus
interpretava.[6]
As
Parábolas são divididas em 3 classes
·
Parábolas
verídicas – a ilustração é tirada da vida diária, portanto seu ensino pode ser
reconhecido de forma universal.
Ex.:
os meninos que brincam na praça
a
ovelha separada do rebanho (Parábola da Ovelha Perdida);
uma
moeda perdida numa casa (Parábola da Dracma Perdida).
·
Parábolas
em forma de histórias – refere-se a acontecimentos passados que são
centralizados diretamente em uma pessoa.
Ex.:
o mordomo sagaz que endireitou a sua situação depois de ter esbanjado o
patrimônio do seu senhor (Parábola do Mordomo Infiel); o juiz que
acabou finalmente administrando justiça como respostas às repetidas súplicas de
uma viúva (Parábola do Juiz Iníquo).
·
Ilustrações
– são histórias que focalizam exemplos a serem imitados. Ex.: a Parábola do Bom Samaritano.
O Reino de Deus é
um tema recorrente nas parábolas de Jesus. Ele estava implantando um novo Reino
espiritual e todo seu enfoque estava na manifestação desse Reino, por isso
muitos não o compreendiam (Mateus 13:13) por estarem
com seus corações endurecidos, cheios de incredulidade.
Jesus
proferiu várias parábolas referindo-se diretamente ao Reino de Deus e que,
freqüentemente, revelam uma perspectiva escatológica: as sete parábolas do "Discurso das Parábolas" em Mateus 13,
Ditos parabólicos
Há
também vários ditos parabólicos breves e sábios que pode ter sido circulado
como provérbios nos dias de Jesus:
(Lucas 4:23);
(Lucas 6:39).
O Sermão da Montanha
Sermão da Montanha
O Sermão da Montanha é um discurso de Jesus Cristo que
pode ser lido no Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (Fragmentado ao longo
do livro). Nestes discursos, Jesus Cristo profere
lições de conduta e moral, ditando os princípios que
normatizam e orientam a verdadeira vida cristã,
uma vida que conduz a humanidade ao Reino de Deus e
que põe em prática a vontade de Deus, que leva à verdadeira
libertação do homem. Estes discursos podem ser considerados por isso como um
resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus,
do acesso ao Reino e da transformação que esse Reino produz.
John Stott, teólogo e escritor, diz que a essência do Sermão da Montanha
foi o apelo de Cristo aos seus seguidores para serem diferentes de todos os
demais. "Não sejam iguais a eles", disse Jesus (Mt 6.8). O reino que
Cristo proclamou deve ser uma contracultura, exibindo todo um conjunto de
valores e padrões distintos. Desse modo, ele fala de justiça, influência,
piedade, confiança e ambição, e conclui com um desafio radical para que se
escolha o caminho Dele.
Além de importantes princípios ético-morais,
pode-se notar grandes revelações, pois aquilo que muitas vezes é tido por ruim,
por desagradável, diante de Deus é o que realmente vai levar muitos à
verdadeira felicidade. Esta passagem forma um paradoxo,
contrariando a ideia de muitos e mais uma vez mostrando que "…'Deus não vê como o homem vê, o homem vê a
aparência, mas Deus sonda o coração" (I Samuel 16.7). .
No Sermão da Montanha o evangelista Mateus está a apresentar Jesus Cristo
como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido numa montanha (talvez,
apenas uma colina),
pois Moisés tinha recebido os 10
Mandamentos no monte Sinai. Entretanto, Jesus
afirmou que não veio para abolir
a Lei ou
os Profetas,[3] mas
sim cumprir na sua
íntegra (Mt 5.17).
Partes e ensinamentos
importantes do Sermão
Introdução narrativa
Na introdução narrativa, o
evangelista descreve que Jesus, vendo aquelas multidões, subiu
à montanha e sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele,
e é aí que Ele começou
a pregar o seu famoso sermão ao ar livre (Mt 5.1-2).
As Bem-aventuranças
As Bem-aventuranças[4] são
o anúncio da verdadeira felicidade, porque proclamam a verdadeira e plena libertação,
e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino de Deus
através da palavra e acção de Jesus, que tornam a justiça divina
presente no mundo. A verdadeira justiça para aqueles que são inúteis, pobres ou
incômodos para uma estrutura de sociedade baseada
na riqueza que
explora e no poderque
oprime. As Bem-aventuranças revelam também o carácter das pessoas que pertencem
ao Reino de Deus, exortando as pessoas a seguir
este carácter exemplar.
Resumindo e usando as palavras
do Catecismo da Igreja Católica (CIC), as
bem-aventuranças nos ensinam o fim último ao qual Deus nos chama: o Reino de
Deus, a visão de Deus, a participação na natureza divina, a vida eterna, a
filiação divina, o repouso em Deus (CIC, n. 1726). não devemos
reclamar e sim cuidar
“
|
Bem-aventurados os pobres por espirito, porque
deles é o ['Reino de Deus']['Reino dos Céus']! Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque
possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão Deus!
Bem-aventurados os Defensores da Paz, porque serão
chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da
justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos
caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra
vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa
recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que
vieram antes de vós.
|
”
|
Sal da terra, luz do mundo.
Jesus, através das metáforas de Sal e
de Luz, revela a enorme força do testemunho e
a importante função dos discípulos,
especialmente dos pregadores, que é sobretudo preservar e proteger a humanidade contra
as influências malignas da corrupção e
da maldade (a
função do Sal) e ajudar a humanidade a conhecer, através da
sua fé e
seu bom exemplo iluminadores, o caminho da salvação (a
função da Luz).
“
|
Vós sois o sal da terra. Ora,
se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais
serve senão para ser lançado fora e calcado[5] pelos
homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada
sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo
do alqueire,
mas sim para colocá-la sobre o candeeiro,
a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
|
”
|
Reinterpretação da Lei de Deus
Jesus revaloriza e
reinterpreta, por vezes de forma antitética,
a Lei de Deus na
sua íntegra, particularmente dos 10
Mandamentos, tendo por objetivo levá-los à perfeição (Mateus 5:48):
“
|
Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas.
Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.
Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um
jota, um traço da lei[6] Aquele
que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar
assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os
guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos Céus. Digo-vos, pois,
se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus,
não entrareis no Reino dos Céus.
|
”
|
Ofereça a outra face
Pai-Nosso e perdão
Jesus, a seguir à
reinterpretação da Lei de Deus, começa a condenar a ostentação na prática de 3
obras fundamentais do Judaísmo, que são a esmola,
o jejum e
a oração.
Ele não pretende condenar a observância fiel e honesta destas obras
boas e o bom exemplo que estas acções produzem, mas somente o vão
desejo de ostentar em frente de outras pessoas. Ele alerta para o fato de, se a
finalidade das pessoas que praticam estas obras é ostentar, eles já foram
recompensados na Terra por outros homens que as elogiaram.
“
|
Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante
dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa
junto de vosso Pai que está no céu.
|
”
|
“
|
Quando, pois, dás esmola,
não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e
nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já
receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba
o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que
vê o escondido, recompensar-te-á.
|
”
|
“
|
Quando jejuardes,
não tomeis um ar triste como os hipócritas,
que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em
verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma a
tua cabeça e lava o teu rosto. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas
somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar
oculto, recompensar-te-á.
|
”
|
“
|
Quando orardes,
não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas
esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já
receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e
ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto,
recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como
fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à
força de palavras. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é
necessário, antes que vós lho peçais.
|
”
|
Durante o seu discurso sobre a
oração, Jesus deu aos homens uma célebre oração, o Pai-Nosso,[7] que
se trata de um modelo para ensiná-los como orar corretamente.
“
|
Pai Nosso,
que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino;
seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso
de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.
|
”
|
Jesus afirma também que se
perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também
vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará (Mt
6, 14-15).
Também sobre a oração, Ele
exorta por fim aos seus discípulos que deviam sempre ter confiança na oração e
particularmente em Deus, porque vosso Pai celeste dará boas coisas aos
que lhe pedirem durante a oração.
“
|
Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e
vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A
quem bate, abrir-se-á. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este
lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós,
pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais
vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem.
|
”
|
Materialismo e Providência divina
Jesus, condenando
indiretamente o materialismo, exorta os seus discípulos para
não preocupar demasiado com os seus bens e as suas necessidades materiais, mas
sim, preocupar-se mais e em primeiro lugar em guardar tesouros no céu, para
preparar o acesso ao Reino de Deus. Sobre a riqueza,
Jesus alerta os seus discípulos para o fato de ser impossível servir ao mesmo
tempo a Deus e
à riqueza. E, relativamente às necessidades materiais dos homens e às suas
preocupações cotidianas, Jesus apela para a confiança na Providência divina, afirmando que vosso
Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso e que o dia de
amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado (Mt
6, 19-34).
“
|
”
|
“
|
”
|
“
|
Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que
beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que
se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de
tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça e
todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois,
com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A
cada dia basta o seu cuidado.
|
”
|
Julgar os outros
Neste sermão,
Jesus condena também aqueles que julgam os outros, mas não sabem julgar-se a si
próprio, não conseguindo reconhecer os seus próprios erros.
“
|
Não julgueis,
e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também
vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis
medidos. Por que olhas a palhaque está no olho do teu irmão e não vês a trave que
está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu
olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de
teu olho e
assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
|
”
|
“
|
Tudo o que quereis que os homens vos façam,
fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas.
|
”
|
O verdadeiro discípulo e as
suas dificuldades
Jesus alerta para as dificuldades que os seus discípulos, que pretendem
ser os verdadeiros filhos de Deus, irão encontrar no caminho estreito e apertado que
conduz à vida eterna e ao Reino de Deus (o chamado caminho
da vida).
“
|
”
|
Jesus também alerta os homens
para o fato de só reconhecerem que Ele é o Senhor não é suficiente para eles
serem salvos e reconhecidos como os seus verdadeiros discípulos, mas sim,
necessitando também de fazer verdadeiramente a vontade de Deus.
“
|
Nem todo aquele que me diz - Senhor, Senhor -
entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que
está nos céus. Muitos me dirão naquele dia:
Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que
expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?
E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!
|
”
|
Os falsos profetas
Jesus aconselhou os seus
discípulos a acautelarem dos falsos
profetas, que, apesar de parecerem ovelhas, são na
verdade uns lobos arrebatadores e maus que têm por finalidade desorientar
as pessoas e levá-las à perdição.
“
|
Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós
disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. Pelos
seus frutos[11] os
conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figosdos abrolhos?
Toda árvore boa
dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar
maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. Toda árvore que não der bons
frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos[12] os
conhecereis.
|
”
|
Edificar sobre a rocha
Jesus, concluindo o seu sermão,
exorta por fim aos seus discípulos para, depois de escutar as suas palavras e
ensinamentos, pô-los verdadeiramente em prática, para serem semelhantes a
um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha. A rocha é
resistente a todas as tempestades, por isso, ela é uma excelente base ou fundamento
para sustentar a casa, assemelhando-se à Palavra de
Deus, que serve como fundamento e sustenta todas as pessoas que
põe-na em prática, protegendo-as e ajudando-as a ultrapassar todos os
obstáculos e dificuldades que elas poderão encontrar nas suas vidas.
“
|
Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as
põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre
a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes,
sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu,
porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras e
não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua
casa na areia.
Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra
aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.
|
”
|
Fim narrativo
No fim narrativo, o evangelista São Mateus descreve
que a multidão que foi ouvir o sermão "ficou impressionada com a
sua doutrina" porque Jesus "a
ensinava como quem tinha autoridade e não como os escribas"(Mateus 7:28-29).
·
O Sal da terra
·
O Olho São
( Mateus 6:26;
( Mateus 6:24;
·
Da
Profanação daquilo que é santo (Mateus 7:6)
O Ministério na Galileia
Primeiro período
·
O Sinal de
Jonas
Discurso das Parábolas
As
parábolas a seguir são conhecidas como Discurso das Parábolas:
·
A
Razão do falar em parábolas
·
Quem
tem ouvidos para ouvir, ouça
·
O Trigo e o joio
·
Por
que Jesus falou por parábolas
·
A Parábola da Rede
No Caminho de Jerusalém
·
O Bom Samaritano
·
A Luz
·
O
Olho bom
·
Do Rico Insensato
O Ministério na Judeia
O Ministério final em
Jerusalém
·
Os Lavradores maus
·
As Bodas
·
O
Dilúvio, a vigilância e o ladrão de noite
·
A
Exortação à vigilância
·
As Ovelhas e
Bodes
Os discursos no Evangelho de
João
O
ensino de Jesus no quarto Evangelho apresenta-se em discursos e diálogos que,
mesmo assim, empregam a linguagem figurada parabólica.
·
O
Novo nascimento
·
A Água da Vida
·
O
Filho
·
O Pão da Vida
·
O
Espírito vivificante
·
A Luz do Mundo
·
O Bom Pastor
·
O Discurso de despedida (de João 14 até João 17),
que
inclui os ditos acerca da casa do Pai
(João 14:2),
do
caminho
(João 14:6),
(João 15:1-16) e
das
dores de parto
(João 16:2).
As
Parábolas Rabínicas e as Parábolas de Jesus no Evangelho de Lucas
1.
CARACTERÍSTICAS
• As parábolas são radicalmente profanas:
viagens, negócios, família, profissões etc. Pessoas comuns fazendo coisas
comuns.
• O Reino de Deus, que é extraordinário, é
explicado a partir do ordinário. Para que a pessoa, na sua realidade profana e
secular, seja interpelada.
A parábola não é
• Objetivo é mudança na direção do olhar e do
coração (conversão e decisão).
• Paul Ricoeur (Francês 1913-2005): Por que
as parábolas não nos deixam atônitos e postos em movimento?
• “Fala-se por parábolas, para que, vendo,
não vejam; e, ouvindo, não entendam” (Lc 8,10 // Mt 13,11).
• As parábolas não são óbvias. Há um elemento
de extravagância que atrai nossa atenção. O Mestre tem a explicação da
parábola: “Interrogaram-no os discípulos: Que parábola é esta?” (Lc 8,9)
2. ETAPAS
DE COMPOSIÇÃO
a) Ministério de Jesus a serviço do Reino:
contexto em que ele viveu: a vida de Jesus em si mesma é a chave de compreensão
das parábolas.
b) Na pregação apostólica: à luz da páscoa de
Jesus, a certa distância da situação original, pregadores ajuntam explicações
para que sejam inteligíveis.
c) Fixação por escrito: para evitar perdas ou
corrupção da mensagem de Jesus.
d) Inserção no texto evangélico: dentro de um
projeto teológico bem articulado
3.
CATEGORIAS
a) Comparação: usa os termos “assemelhar-se”,
“semelhante”: Lc 13,18
b) Parábola no sentido estrito: não tem
fórmula introdutória. Faz interrupção abrupta. Dá chave de leitura para se
compreender a ação/vida de quem cria a parábola: Lc 16,1
c) Alegorização: releitura moralizante da
parábola a partir de uma realidade concreta. Ponto por ponto: Lc 8,11
d) Narrativa exemplar: Lc 10,25
4.
EIXOS SEMÂNTICOS NOS SINÓTICOS
a) Parábolas do Reino: a maioria delas
b) Parábolas da decisão e do juízo: decisão
por Jesus para evitar o juízo futuro
c) Parábolas da vigilância diante do Evento Escatológico:
preparação ao longo da vida
d) Parábolas da misericórdia de Deus
e) Parábolas que ilustram a relação do ser
humano com Deus
f) Parábolas que ilustram a relação do ser
humano com seu semelhante.
5.
PARÁBOLAS RABÍNICAS
a) O termo hebraico MASHAL vem da raiz que
tem sentido de comparar, tornar-se comparável a, ser semelhante a.
• Designa todo tipo de linguagem figurada:
fábula, alegoria, comparação, provérbio, charada, piada.
• O termo grego “parabole” (Aristóteles:
Retórica, II, 20,2-4) tem o sentido de justaposição, colocar ao lado de.
• Mashal e parábola não se correspondem de
modo exato.
b) Os principais tipos de meshalim são:
• - refrão; comparação (SNm § 93 a Nm11,17) e
pequena narrativa, que chamamos de parábola (O peixe podre: sobre Ex 14,5.
c) A estrutura básica de uma parábola
rabínica é:
• - Citação bíblica; fórmula introdutória
(contou uma parábola, a que se assemelha, se assemelha
a); relato; aplicação e citação bíblica.
• Exemplo: Mek a Ex 14,27: a pomba e o
falcão.
d) A função da parábola rabínica é servir de
recurso hermenêutico para:
- Harmonizar, esclarecer ou conciliar textos
bíblicos, como Jn 1,3 e Sl 139,7-10;
- Responder perguntas: O coxo e o cego;
- Confirmar uma exegese: Dois cachorros e o
lobo
e) Personagens:
Rei, pai de família, figuras opostas
(amo-servo; comprador-vendedor etc), personagens coletivos; animais
(representam o mal, exceto a pomba).
O Mashal rabínico (parábola rabínica):
comparação ou metáfora?
Resumo
O mashal rabínico (parábola rabínica) foi
considerado durante séculos como uma simples comparação destinada a ilustrar os
ensinamentos dos Sábios de Israel. Porém, nas últimas décadas, os estudos sobre
a linguagem revolucionaram a abordagem deste gênero literário e afinaram a
nossa compreensão sobre a sua natureza e função. Longe de ser meramente uma
comparação, ele apresenta-se como uma metáfora desenvolvida – metáfora viva –
com um alto potencial hermenêutico. É por esta razão que os Sábios
multiplicaram o uso das parábolas a fim de
perscrutarem a Torá. Este artigo, tomando por base um exemplo extraído da
Mishná (Mishná Sukká 2,9), pretende mostrar a especificidade do mashal
rabínico.
Palavras-chave:
Parábola; metáfora; comparação; mishná;
literatura rabínica.
O termo hebraico mashal, traduzido comumente por
“parábola” provém da raiz m.sh.l., que significa:
1) comparar;
2) contar um mashal, uma parábola;
3) governar.
Nota-se que as duas primeiras acepções podem
derivar da raiz protossemítica m.t.l., ao passo que a terceira acepção
remeteria a uma raiz protossemítica diferente: m.sh.l. As evoluções fonéticas
que intervieram entre o protossemítico e o hebraico bíblico ocultaram esta
dupla origem, deixando na superfície da língua um só termo: mashal (KOEHLER;
BAUMGARTNER, 1974, vol. 2, verbete “mashal”). O termo grego utilizado na
Septuaginta para traduzir mashal é geralmente parabolē, formado pelo prefixo
para = ao lado de e pelo verbo ballein = jogar. O verbo paraballein significa
literalmente “jogar ao lado de”. A parábola seria então um discurso “jogado ao
lado” de outra coisa, por assim dizer um discurso desviado, afirmando algo, mas
visando a uma outra realidade.
Essa primeira abordagem etimológica da figura
literária mashal parece duma aplicabilidade limitada, quando nos deparamos com
as 39 ocorrências do termo na Bíblia hebraica. De fato, a expressão denota uma
polissemia certa que impede uma redução ao sentido etimológico. Segundo as
narrativas e os contextos, o termo pode (deve?) ser entendido como:
- provérbio (Ez 18, 1-4 e o livro dos
Provérbios, por exemplo)
- fábula (Dt 28,37; 1R 9,7)
- discurso profético (Jr 24)
- exemplo (Sl 44,15)
- parábola (2Sm 11-12)
- poema-oráculo (Nb 23,7)
- sentença moral e/ou enigmática (Sl 78,2)
- sátira (Hab 2,6)
- alegoria (Ez 17,2).
Percebe-se nesta lista um leque de
interpretações possíveis para o termo mashal. Esta polissemia reflete-se
igualmente na literatura hebraica pósbíblica, que são os quatro evangelhos.
Citamos, a título de exemplo:
- o provérbio em Lc 4,23: “Médico, cura-te a
ti mesmo”
- uma “comparação” (?) em Lc 13,18-19: “a que
é comparável o Reino de Deus? [...] Ele é comparável a um grão de mostarda...”.
Porém, a maioria dos relatos evangélicos
chamados “parábolas” pertence ao veio das parábolas rabínicas conhecidas na
literatura de Hazal1 1
Hazal: acrônimo de Hakhamenu Zikhronam Livrakhá = nossos Mestres, de memória
abençoada. (Mishná,
Talmud da Babilônia e de Jerusalém, Midrashim e outras coletâneas).
Na literatura rabínica, as parábolas chegam a
centenas, ao passo que a Bíblia hebraica não traz senão algumas dezenas. Isso
nos indica o quanto os Sábios privilegiaram este meio literário. Uma das razões
reside no fato de eles não considerarem o mashal como uma simples comparação,
mas sim como um poderoso meio de questionamento.
Consideramos a diferença de natureza entre a
comparação e a metáfora. Dizer que “Aquiles é corajoso como um leão” é uma
comparação, cuja função é de esclarecer um dos seus termos (a coragem de
Aquiles), pela relação explícita estabelecida com o outro termo, a coragem do
leão (RICOEUR, 2000, p.42-49). É suposto que tenhamos uma ideia mais nítida da
coragem do leão e, por isso, a comparação convida o ouvinte / leitor a
transferir este conhecimento ao outro termo, Aquiles neste caso. Nota-se que a
comparação não requer uma explicação e que a transferência de um termo para o
outro deve ser facilitada pela própria comparação.
A figura literária “Aquiles é um leão” deixa
de ser uma mera comparação para tornar-se metáfora. Observemos que a analogia
não é mais explícita: não se sabe qual elemento transferir de um termo para
outro. A coragem? A ferocidade do leão? Ambas? E que figura de Aquiles resulta
desta transferência? Ao contrário da comparação, a metáfora acentua um
questionamento e requer uma interpretação.
“Interpretar” é a palavra-chave que percorre
toda a literatura rabínica. O seguinte exemplo, tirado da Mishná, tratado
Sukkáh (2,9), permitirá perceber o quanto os Sábios souberam utilizar os
recursos da parábola a fim de questionar e interpretar.
Durante
os sete dias (da Festa de Sukkót), o homem deve fazer de sua Sukkáh (tenda,
cabana) sua habitação principal e de sua casa uma morada provisória. Se cai a
chuva, a partir de qual momento é permitido deixar (a Sukkáh)? Quando um prato
de mingau estragou (por causa da chuva). Contou-se um mashal (parábola): a que
pode ser comparado? A um escravo que vem encher a taça do seu mestre, ele (o
mestre) virou o jarro na sua cara.
O mandamento da Festa das Tendas baseia-se em
Lv 23,33-34.42-44: os filhos de Israel têm como obrigação construir uma tenda
(morada provisória) ao lado da sua habitação principal. Este mandamento quer
lembrar a travessia do deserto pelo povo e a sua dependência total para com o
seu Deus, simbolizada pelo caráter precário da tenda: ela está coberta de
folhagem, pela qual é possível ver o céu. É obrigação tomar as refeições na
tenda durante sete dias, a não ser que as intempéries o impeçam.
A primeira parte da Mishná – i.e. até
“estragou” (por causa da chuva) – é de cunho halákhico, pois trata do
cumprimento do mandamento. Por esta razão, a Mishná explicita o que é permitido
fazer em caso de chuva: é permitido deixar a Sukkáh conforme o critério
indicado. Não obstante, o mandamento não deixou de ser cumprido, pois a própria
Mishná determina o que é obrigatório e o que é permitido.
Esta primeira parte forma uma unidade
literária em si, independente e autossuficiente (do ponto de vista da Halakhá).
A segunda parte, composta pela parábola,
constitui um adendo à parte halákhica. Qual é sua função?
A passagem para a parábola se faz pela
fórmula consagrada “l ema hádavar dome?”, “a que isto pode ser comparado?”, “a
que isto é semelhante?”. O próprio termo dome leva a entender que a parábola é
uma comparação. Se fosse esse o caso, o mashal operaria uma transferência de
tipo ilustrativo sobre a primeira parte halákhica da Mishná. Ele teria
essencialmente uma função retórica, substituiria uma maneira de falar por
outra. Ora, a parábola faz muito mais do que ilustrar a Mishná: ela (quase...)
a derruba!
A fim de perceber a força desta parábola, é
necessário dar-se conta da natureza profunda da metáfora. Segundo os trabalhos
de Paul Ricoeur e outros teóricos da linguagem, a metáfora, esteja ela no nível
de uma expressão, de uma frase ou de uma passagem inteira, é intrinsecamente
inovação. “Compreender é então fazer ou refazer a operação discursiva portadora
de inovação semântica” (RICOEUR, 19-, p.22). Esta inovação própria da metáfora
é criada pela tensão e pela torção operadas sobre as palavras e os elementos do
discurso, as quais resultam numa predicação estranha e bizarra.
A parábola da nossa Mishná é decerto
estranha! Essa extravagância típica é o convite da parábola-metáfora para
“com-preender” a nova realidade criada, essa “transfiguração do real que
conhecemos na ficção poética” (RICOEUR, 19-, p.91). Por isso, as duas unidades
literárias devem ser colocadas em contato. Em outros termos: o mashal remete ao
nimshal, a parábola à realidade “parabolizada”.
O escravo do mashal não fez senão o seu
dever, porém o seu mestre rejeitou o cumprimento deste dever, virando o jarro
d’água na cara do escravo.
Da mesma forma, aquele que cumpre o mandamento
da Sukkáh não faz senão o seu dever. Porém, o seu mestre (Deus) rejeita o
cumprimento deste mandamento, deste dever, derramando chuva em cima da Sukkáh,
de modo que se é obrigado a deixá-la.
Enquanto a unidade halákhica da Mishná
situa-se no nível do dever / permitir e garante que o mandamento seja cumprido,
mesmo que se tenha que deixar a Sukkáh, a parábola – a parte agádica da mishná
neste caso, em contraposição à parte halákhica – questiona esse posicionamento
de maneira magistral. A chuva, diz a reflexão agádica, não é um fenômeno
atmosférico qualquer. Ela expressa a vontade de Deus, que rejeita o cumprimento
do mandamento. Da mesma forma que o escravo da parábola não pode deixar de
questionar a razão do gesto aparentemente estranho do seu mestre, quem cumpre o
mandamento precisa se questionar sobre o porquê da chuva que permite / obriga a
deixar a Sukkáh.
A parábola – tão estranha e incompreensível à
primeira vista – demonstra este poder hermenêutico fantástico de questionar,
até a raiz, o cumprimento da halakhá, e, de uma certa forma, de ir além da
halakhá. A faculdade de renovamento e desvelamento das parábolas é ligada a sua
natureza de metáfora viva, criadora. É por isso que os Sábios de Hazal
privilegiaram tanto o mashal: este humilde instrumento literário permite um
perscrutar constante da vida e da Torá a fim de que ambas sejam realidade viva
e criadora.
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