quarta-feira, 12 de setembro de 2018

AS PARABOLAS DO SENHOR JESUS


Parábolas de Jesus

As Parábolas de Jesus são narrativas breves, dotadas de um conteúdo alegórico, utilizadas nas pregações e sermões de Jesus com a finalidade de transmitirem ensinamento.
Quanto à sua definição exata, a parábola pode ser uma narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca outra realidade de ordem superior[1] ou uma espécie de alegoria apresentada sob forma de uma narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades..

As parábolas são apresentadas no Antigo Testamento da Bíblia 
nas literaturas rabínicas e no Novo Testamento.

Nos Evangelhos sinópticos, as parábolas e ditos parabólicos proferidos por Jesus somam em torno de 60, ou seja, representam a terça parte de todas as palavras dele que foram registradas nas quatro biografias, de acordo com alguns estudiosos, tornando as parábolas uma importante característica do discurso de Jesus.
Jesus utiliza-se das parábolas para transmitir ensinamentos profundos. A despeito disso, a maioria delas sempre é marcada pela simplicidade e brevidade. Poucas delas são longas, como acontece com a Parábola dos Talentos 
Embora, em alguns casos, Jesus inclua exageros — a Parábola dos dez mil talentos, uma soma astronômica de dinheiro — ou implicações alegóricas – maus vinicultores, que necessita de interpretação — ou ainda símiles e metáforas. As parábolas de Jesus são sempre tiradas da realidade do mundo cultural e social em que ele vivia, contadas com o propósito de transmitir verdades espirituais. É importante observar que as parábolas de Jesus são compreendidas a partir do momento que existe disposição interior para compreender o próprio Mestre.[5]
Jesus ministrava sua mensagens com facilidade em todos os níveis sociais. Ele tinha conhecimento das mais diversas áreas da sociedade e sabia quais eram as suas necessidades. Conhecia os fariseus e os peritos na lei. Por meio de suas parábolas Jesus levou aos seus ouvintes a mensagem de salvação, conclamava a se arrependerem e a crerem. Aos crentes, desafiava-os a porem a  em prática, exortando seus seguidores à vigilância. Quando seus discípulos tinham dificuldade para entender as parábolas, Jesus interpretava.[6]

As Parábolas são divididas em 3 classes
·                     Parábolas verídicas – a ilustração é tirada da vida diária, portanto seu ensino pode ser reconhecido de forma universal.
Ex.: os meninos que brincam na praça

a ovelha separada do rebanho (Parábola da Ovelha Perdida);

uma moeda perdida numa casa (Parábola da Dracma Perdida).

·                     Parábolas em forma de histórias – refere-se a acontecimentos passados que são centralizados diretamente em uma pessoa.
Ex.: o mordomo sagaz que endireitou a sua situação depois de ter esbanjado o patrimônio do seu senhor (Parábola do Mordomo Infiel); o juiz que acabou finalmente administrando justiça como respostas às repetidas súplicas de uma viúva (Parábola do Juiz Iníquo).

·                     Ilustrações – são histórias que focalizam exemplos a serem imitados. Ex.: a Parábola do Bom Samaritano.

Reino de Deus é um tema recorrente nas parábolas de Jesus. Ele estava implantando um novo Reino espiritual e todo seu enfoque estava na manifestação desse Reino, por isso muitos não o compreendiam (Mateus 13:13) por estarem com seus corações endurecidos, cheios de incredulidade.
Jesus proferiu várias parábolas referindo-se diretamente ao Reino de Deus e que, freqüentemente, revelam uma perspectiva escatológica: as sete parábolas do "Discurso das Parábolas" em Mateus 13,

Ditos parabólicos
Há também vários ditos parabólicos breves e sábios que pode ter sido circulado como provérbios nos dias de Jesus: 


O Sermão da Montanha
Sermão da Montanha
Sermão da Montanha é um discurso de Jesus Cristo que pode ser lido no Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (Fragmentado ao longo do livro). Nestes discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os princípios que normatizam e orientam a verdadeira vida cristã, uma vida que conduz a humanidade ao Reino de Deus e que põe em prática a vontade de Deus, que leva à verdadeira libertação do homem. Estes discursos podem ser considerados por isso como um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus, do acesso ao Reino e da transformação que esse Reino produz.
John Stott, teólogo e escritor, diz que a essência do Sermão da Montanha foi o apelo de Cristo aos seus seguidores para serem diferentes de todos os demais. "Não sejam iguais a eles", disse Jesus (Mt 6.8). O reino que Cristo proclamou deve ser uma contracultura, exibindo todo um conjunto de valores e padrões distintos. Desse modo, ele fala de justiça, influência, piedade, confiança e ambição, e conclui com um desafio radical para que se escolha o caminho Dele.
Além de importantes princípios ético-morais, pode-se notar grandes revelações, pois aquilo que muitas vezes é tido por ruim, por desagradável, diante de Deus é o que realmente vai levar muitos à verdadeira felicidade. Esta passagem forma um paradoxo, contrariando a ideia de muitos e mais uma vez mostrando que "…'Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o coração" (I Samuel 16.7). .
No Sermão da Montanha o evangelista Mateus está a apresentar Jesus Cristo como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido numa montanha (talvez, apenas uma colina), pois Moisés tinha recebido os 10 Mandamentos no monte Sinai. Entretanto, Jesus afirmou que não veio para abolir a Lei ou os Profetas,[3] mas sim cumprir na sua íntegra (Mt 5.17).
Partes e ensinamentos importantes do Sermão
Introdução narrativa
Na introdução narrativa, o evangelista descreve que Jesus, vendo aquelas multidõessubiu à montanha e sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele, e é aí que Ele começou a pregar o seu famoso sermão ao ar livre (Mt 5.1-2).
As Bem-aventuranças
As Bem-aventuranças[4] são o anúncio da verdadeira felicidade, porque proclamam a verdadeira e plena libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino de Deus através da palavra e acção de Jesus, que tornam a justiça divina presente no mundo. A verdadeira justiça para aqueles que são inúteis, pobres ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poderque oprime. As Bem-aventuranças revelam também o carácter das pessoas que pertencem ao Reino de Deus, exortando as pessoas a seguir este carácter exemplar.
Resumindo e usando as palavras do Catecismo da Igreja Católica (CIC), as bem-aventuranças nos ensinam o fim último ao qual Deus nos chama: o Reino de Deus, a visão de Deus, a participação na natureza divina, a vida eterna, a filiação divina, o repouso em Deus (CIC, n. 1726). não devemos reclamar e sim cuidar
Bem-aventurados os pobres por espirito, porque deles é o ['Reino de Deus']['Reino dos Céus']! Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os Defensores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
Sal da terra, luz do mundo.
Jesus, através das metáforas de Sal e de Luz, revela a enorme força do testemunho e a importante função dos discípulos, especialmente dos pregadores, que é sobretudo preservar e proteger a humanidade contra as influências malignas da corrupção e da maldade (a função do Sal) e ajudar a humanidade a conhecer, através da sua  e seu bom exemplo iluminadores, o caminho da salvação (a função da Luz).
Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado[5] pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
Reinterpretação da Lei de Deus
Jesus revaloriza e reinterpreta, por vezes de forma antitética, a Lei de Deus na sua íntegra, particularmente dos 10 Mandamentos, tendo por objetivo levá-los à perfeição (Mateus 5:48):
Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei[6] Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos Céus. Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.

Ofereça a outra face
Pai-Nosso e perdão
Jesus, a seguir à reinterpretação da Lei de Deus, começa a condenar a ostentação na prática de 3 obras fundamentais do Judaísmo, que são a esmola, o jejum e a oração. Ele não pretende condenar a observância fiel e honesta destas obras boas e o bom exemplo que estas acções produzem, mas somente o vão desejo de ostentar em frente de outras pessoas. Ele alerta para o fato de, se a finalidade das pessoas que praticam estas obras é ostentar, eles já foram recompensados na Terra por outros homens que as elogiaram.
Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.

Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.

Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.

Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
Durante o seu discurso sobre a oração, Jesus deu aos homens uma célebre oração, o Pai-Nosso,[7] que se trata de um modelo para ensiná-los como orar corretamente.
Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Jesus afirma também que se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará (Mt 6, 14-15).
Também sobre a oração, Ele exorta por fim aos seus discípulos que deviam sempre ter confiança na oração e particularmente em Deus, porque vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem durante a oração.
Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem.
Materialismo e Providência divina
Jesus, condenando indiretamente o materialismo, exorta os seus discípulos para não preocupar demasiado com os seus bens e as suas necessidades materiais, mas sim, preocupar-se mais e em primeiro lugar em guardar tesouros no céu, para preparar o acesso ao Reino de Deus. Sobre a riqueza, Jesus alerta os seus discípulos para o fato de ser impossível servir ao mesmo tempo Deus e à riqueza. E, relativamente às necessidades materiais dos homens e às suas preocupações cotidianas, Jesus apela para a confiança na Providência divina, afirmando que vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso e que o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado (Mt 6, 19-34).
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração.

Ninguém pode servir a dois Senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.

Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.
Julgar os outros
Neste sermão, Jesus condena também aqueles que julgam os outros, mas não sabem julgar-se a si próprio, não conseguindo reconhecer os seus próprios erros.
Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palhaque está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas.
O verdadeiro discípulo e as suas dificuldades
Jesus alerta para as dificuldades que os seus discípulos, que pretendem ser os verdadeiros filhos de Deus, irão encontrar no caminho estreito e apertado que conduz à vida eterna e ao Reino de Deus (o chamado caminho da vida).
Entrai pela porta estreita,[10] porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.
Jesus também alerta os homens para o fato de só reconhecerem que Ele é o Senhor não é suficiente para eles serem salvos e reconhecidos como os seus verdadeiros discípulos, mas sim, necessitando também de fazer verdadeiramente a vontade de Deus.
Nem todo aquele que me diz - Senhor, Senhor - entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!
Os falsos profetas
Jesus aconselhou os seus discípulos a acautelarem dos falsos profetas, que, apesar de parecerem ovelhas, são na verdade uns lobos arrebatadores e maus que têm por finalidade desorientar as pessoas e levá-las à perdição.
Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. Pelos seus frutos[11] os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figosdos abrolhos? Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos[12] os conhecereis.
Edificar sobre a rocha
Jesus, concluindo o seu sermão, exorta por fim aos seus discípulos para, depois de escutar as suas palavras e ensinamentos, pô-los verdadeiramente em prática, para serem semelhantes a um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha. A rocha é resistente a todas as tempestades, por isso, ela é uma excelente base ou fundamento para sustentar a casa, assemelhando-se à Palavra de Deus, que serve como fundamento e sustenta todas as pessoas que põe-na em prática, protegendo-as e ajudando-as a ultrapassar todos os obstáculos e dificuldades que elas poderão encontrar nas suas vidas.
Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.
Fim narrativo
No fim narrativo, o evangelista São Mateus descreve que a multidão que foi ouvir o sermão "ficou impressionada com a sua doutrina" porque Jesus "a ensinava como quem tinha autoridade e não como os escribas"(Mateus 7:28-29).


·                     Sal da terra 

·                     A Luz do mundo 

·                     Dos Tesouros 

·                     Olho São 

·                     As Aves do Céu e os Lírios do Campo 

·                     Não podes servir a dois senhores 

·                     O Argueiro no olho 

·                     Da Profanação daquilo que é santo (Mateus 7:6)

·                     As Duas Estradas 

·                     Os Lobos disfarçados em ovelhas e “Pelos seus frutos...” 

·                     A Casa edificada na rocha 

O Ministério na Galileia
Primeiro período
·                     Vinho Novo em Odres Velhos 

·                     A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos 

·                     Dois devedores 

·                     Sinal de Jonas 

·                     Os verdadeiros parentes de Jesus 

Discurso das Parábolas
As parábolas a seguir são conhecidas como Discurso das Parábolas:
·                     A Parábola do Semeador 

·                     A Razão do falar em parábolas

·                     Quem tem ouvidos para ouvir, ouça

·                     A semente 

·                     Trigo e o joio 

·                     Parábola do grão de mostarda 

·                     Parábola O Fermento 

·                     Por que Jesus falou por parábolas

·                     Parábola da Pérola

·                     O tesouro Escondido 

·                     Parábola da Rede 

·                     Tesouros velhos e novos

No Caminho de Jerusalém
·                     Bom Samaritano

·                     Amigo Importuno 

·                     A Luz 

·                     O Olho bom

·                     Do Rico Insensato 

·                     Parábola da Figueira Estéril 

·                     Contando o Custo 

·                     A Ovelha perdida 

·                     O Credor Incompassivo 

·                     A Dracma perdida 

·                     O Filho Pródigo 

·                     O Mordomo Infiel 

·                     Parábola do Rico e Lázaro 

·                     Servo Inútil 

·                     O Juiz iníquo 

·                     O Fariseu e o publicano 

O Ministério na Judeia
·                     Das Riquezas 

·                     Os Trabalhadores da vinha 

·                     Os Talentos 

O Ministério final em Jerusalém
·                     Os Dois filhos 

·                     Os Lavradores maus 

·                     As Bodas 

·                     Parábola da viúva pobre 

·                     A Figueira 

·                     O Dilúvio, a vigilância e o ladrão de noite

·                     O Bom servo e o mau servo 

·                     As Dez virgens 

·                     A Exortação à vigilância

·                     As Ovelhas e Bodes 

Os discursos no Evangelho de João
O ensino de Jesus no quarto Evangelho apresenta-se em discursos e diálogos que, mesmo assim, empregam a linguagem figurada parabólica.
·                     O Novo nascimento

·                     Água da Vida 

·                     O Filho

·                     Pão da Vida 

·                     O Espírito vivificante

·                     Luz do Mundo 

·                     Bom Pastor 

·                     Discurso de despedida (de João 14 até João 17),
que inclui os ditos acerca da casa do Pai

do caminho


das dores de parto



As Parábolas Rabínicas e as Parábolas de Jesus no Evangelho de Lucas

1. CARACTERÍSTICAS
• As parábolas são radicalmente profanas: viagens, negócios, família, profissões etc. Pessoas comuns fazendo coisas comuns.
• O Reino de Deus, que é extraordinário, é explicado a partir do ordinário. Para que a pessoa, na sua realidade profana e secular, seja interpelada.

A parábola não é
• Objetivo é mudança na direção do olhar e do coração (conversão e decisão).
• Paul Ricoeur (Francês 1913-2005): Por que as parábolas não nos deixam atônitos e postos em movimento?
• “Fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam” (Lc 8,10 // Mt 13,11).
• As parábolas não são óbvias. Há um elemento de extravagância que atrai nossa atenção. O Mestre tem a explicação da parábola: “Interrogaram-no os discípulos: Que parábola é esta?” (Lc 8,9)

2. ETAPAS DE COMPOSIÇÃO
a) Ministério de Jesus a serviço do Reino: contexto em que ele viveu: a vida de Jesus em si mesma é a chave de compreensão das parábolas.
b) Na pregação apostólica: à luz da páscoa de Jesus, a certa distância da situação original, pregadores ajuntam explicações para que sejam inteligíveis.
c) Fixação por escrito: para evitar perdas ou corrupção da mensagem de Jesus.
d) Inserção no texto evangélico: dentro de um projeto teológico bem articulado

3. CATEGORIAS
a) Comparação: usa os termos “assemelhar-se”, “semelhante”: Lc 13,18
b) Parábola no sentido estrito: não tem fórmula introdutória. Faz interrupção abrupta. Dá chave de leitura para se compreender a ação/vida de quem cria a parábola: Lc 16,1
c) Alegorização: releitura moralizante da parábola a partir de uma realidade concreta. Ponto por ponto: Lc 8,11
d) Narrativa exemplar: Lc 10,25

4. EIXOS SEMÂNTICOS NOS SINÓTICOS
a) Parábolas do Reino: a maioria delas
b) Parábolas da decisão e do juízo: decisão por Jesus para evitar o juízo futuro
c) Parábolas da vigilância diante do Evento Escatológico: preparação ao longo da vida
d) Parábolas da misericórdia de Deus
e) Parábolas que ilustram a relação do ser humano com Deus
f) Parábolas que ilustram a relação do ser humano com seu semelhante.

5. PARÁBOLAS RABÍNICAS
a) O termo hebraico MASHAL vem da raiz que tem sentido de comparar, tornar-se comparável a, ser semelhante a.
• Designa todo tipo de linguagem figurada: fábula, alegoria, comparação, provérbio, charada, piada.
• O termo grego “parabole” (Aristóteles: Retórica, II, 20,2-4) tem o sentido de justaposição, colocar ao lado de.
• Mashal e parábola não se correspondem de modo exato.

b) Os principais tipos de meshalim são:
• - refrão; comparação (SNm § 93 a Nm11,17) e pequena narrativa, que chamamos de parábola (O peixe podre: sobre Ex 14,5.
c) A estrutura básica de uma parábola rabínica é:
• - Citação bíblica; fórmula introdutória (contou uma parábola, a que se assemelha, se assemelha
a); relato; aplicação e citação bíblica.
• Exemplo: Mek a Ex 14,27: a pomba e o falcão.

d) A função da parábola rabínica é servir de recurso hermenêutico para:
- Harmonizar, esclarecer ou conciliar textos bíblicos, como Jn 1,3 e Sl 139,7-10;
- Responder perguntas: O coxo e o cego;
- Confirmar uma exegese: Dois cachorros e o lobo
e) Personagens:
Rei, pai de família, figuras opostas (amo-servo; comprador-vendedor etc), personagens coletivos; animais (representam o mal, exceto a pomba).



O Mashal rabínico (parábola rabínica): comparação ou metáfora?
Resumo
O mashal rabínico (parábola rabínica) foi considerado durante séculos como uma simples comparação destinada a ilustrar os ensinamentos dos Sábios de Israel. Porém, nas últimas décadas, os estudos sobre a linguagem revolucionaram a abordagem deste gênero literário e afinaram a nossa compreensão sobre a sua natureza e função. Longe de ser meramente uma comparação, ele apresenta-se como uma metáfora desenvolvida – metáfora viva – com um alto potencial hermenêutico. É por esta razão que os Sábios
multiplicaram o uso das parábolas a fim de perscrutarem a Torá. Este artigo, tomando por base um exemplo extraído da Mishná (Mishná Sukká 2,9), pretende mostrar a especificidade do mashal rabínico.

Palavras-chave:
Parábola; metáfora; comparação; mishná; literatura rabínica.

O termo hebraico mashal, traduzido comumente por “parábola” provém da raiz m.sh.l., que significa:
1) comparar;
2) contar um mashal, uma parábola;
3) governar.
Nota-se que as duas primeiras acepções podem derivar da raiz protossemítica m.t.l., ao passo que a terceira acepção remeteria a uma raiz protossemítica diferente: m.sh.l. As evoluções fonéticas que intervieram entre o protossemítico e o hebraico bíblico ocultaram esta dupla origem, deixando na superfície da língua um só termo: mashal (KOEHLER; BAUMGARTNER, 1974, vol. 2, verbete “mashal”). O termo grego utilizado na Septuaginta para traduzir mashal é geralmente parabolē, formado pelo prefixo para = ao lado de e pelo verbo ballein = jogar. O verbo paraballein significa literalmente “jogar ao lado de”. A parábola seria então um discurso “jogado ao lado” de outra coisa, por assim dizer um discurso desviado, afirmando algo, mas visando a uma outra realidade.

Essa primeira abordagem etimológica da figura literária mashal parece duma aplicabilidade limitada, quando nos deparamos com as 39 ocorrências do termo na Bíblia hebraica. De fato, a expressão denota uma polissemia certa que impede uma redução ao sentido etimológico. Segundo as narrativas e os contextos, o termo pode (deve?) ser entendido como:
- provérbio (Ez 18, 1-4 e o livro dos Provérbios, por exemplo)
- fábula (Dt 28,37; 1R 9,7)
- discurso profético (Jr 24)
- exemplo (Sl 44,15)
- parábola (2Sm 11-12)
- poema-oráculo (Nb 23,7)
- sentença moral e/ou enigmática (Sl 78,2)
- sátira (Hab 2,6)
- alegoria (Ez 17,2).

Percebe-se nesta lista um leque de interpretações possíveis para o termo mashal. Esta polissemia reflete-se igualmente na literatura hebraica pósbíblica, que são os quatro evangelhos. Citamos, a título de exemplo:
- o provérbio em Lc 4,23: “Médico, cura-te a ti mesmo”
- uma “comparação” (?) em Lc 13,18-19: “a que é comparável o Reino de Deus? [...] Ele é comparável a um grão de mostarda...”.

Porém, a maioria dos relatos evangélicos chamados “parábolas” pertence ao veio das parábolas rabínicas conhecidas na literatura de Hazal1 1 Hazal: acrônimo de Hakhamenu Zikhronam Livrakhá = nossos Mestres, de memória abençoada.  (Mishná, Talmud da Babilônia e de Jerusalém, Midrashim e outras coletâneas).

Na literatura rabínica, as parábolas chegam a centenas, ao passo que a Bíblia hebraica não traz senão algumas dezenas. Isso nos indica o quanto os Sábios privilegiaram este meio literário. Uma das razões reside no fato de eles não considerarem o mashal como uma simples comparação, mas sim como um poderoso meio de questionamento.

Consideramos a diferença de natureza entre a comparação e a metáfora. Dizer que “Aquiles é corajoso como um leão” é uma comparação, cuja função é de esclarecer um dos seus termos (a coragem de Aquiles), pela relação explícita estabelecida com o outro termo, a coragem do leão (RICOEUR, 2000, p.42-49). É suposto que tenhamos uma ideia mais nítida da coragem do leão e, por isso, a comparação convida o ouvinte / leitor a transferir este conhecimento ao outro termo, Aquiles neste caso. Nota-se que a comparação não requer uma explicação e que a transferência de um termo para o outro deve ser facilitada pela própria comparação.
A figura literária “Aquiles é um leão” deixa de ser uma mera comparação para tornar-se metáfora. Observemos que a analogia não é mais explícita: não se sabe qual elemento transferir de um termo para outro. A coragem? A ferocidade do leão? Ambas? E que figura de Aquiles resulta desta transferência? Ao contrário da comparação, a metáfora acentua um questionamento e requer uma interpretação.
“Interpretar” é a palavra-chave que percorre toda a literatura rabínica. O seguinte exemplo, tirado da Mishná, tratado Sukkáh (2,9), permitirá perceber o quanto os Sábios souberam utilizar os recursos da parábola a fim de questionar e interpretar.

Durante os sete dias (da Festa de Sukkót), o homem deve fazer de sua Sukkáh (tenda, cabana) sua habitação principal e de sua casa uma morada provisória. Se cai a chuva, a partir de qual momento é permitido deixar (a Sukkáh)? Quando um prato de mingau estragou (por causa da chuva). Contou-se um mashal (parábola): a que pode ser comparado? A um escravo que vem encher a taça do seu mestre, ele (o mestre) virou o jarro na sua cara.

O mandamento da Festa das Tendas baseia-se em Lv 23,33-34.42-44: os filhos de Israel têm como obrigação construir uma tenda (morada provisória) ao lado da sua habitação principal. Este mandamento quer lembrar a travessia do deserto pelo povo e a sua dependência total para com o seu Deus, simbolizada pelo caráter precário da tenda: ela está coberta de folhagem, pela qual é possível ver o céu. É obrigação tomar as refeições na tenda durante sete dias, a não ser que as intempéries o impeçam.

A primeira parte da Mishná – i.e. até “estragou” (por causa da chuva) – é de cunho halákhico, pois trata do cumprimento do mandamento. Por esta razão, a Mishná explicita o que é permitido fazer em caso de chuva: é permitido deixar a Sukkáh conforme o critério indicado. Não obstante, o mandamento não deixou de ser cumprido, pois a própria Mishná determina o que é obrigatório e o que é permitido.
Esta primeira parte forma uma unidade literária em si, independente e autossuficiente (do ponto de vista da Halakhá).
A segunda parte, composta pela parábola, constitui um adendo à parte halákhica. Qual é sua função?
A passagem para a parábola se faz pela fórmula consagrada “l ema hádavar dome?”, “a que isto pode ser comparado?”, “a que isto é semelhante?”. O próprio termo dome leva a entender que a parábola é uma comparação. Se fosse esse o caso, o mashal operaria uma transferência de tipo ilustrativo sobre a primeira parte halákhica da Mishná. Ele teria essencialmente uma função retórica, substituiria uma maneira de falar por outra. Ora, a parábola faz muito mais do que ilustrar a Mishná: ela (quase...) a derruba!
A fim de perceber a força desta parábola, é necessário dar-se conta da natureza profunda da metáfora. Segundo os trabalhos de Paul Ricoeur e outros teóricos da linguagem, a metáfora, esteja ela no nível de uma expressão, de uma frase ou de uma passagem inteira, é intrinsecamente inovação. “Compreender é então fazer ou refazer a operação discursiva portadora de inovação semântica” (RICOEUR, 19-, p.22). Esta inovação própria da metáfora é criada pela tensão e pela torção operadas sobre as palavras e os elementos do discurso, as quais resultam numa predicação estranha e bizarra.
A parábola da nossa Mishná é decerto estranha! Essa extravagância típica é o convite da parábola-metáfora para “com-preender” a nova realidade criada, essa “transfiguração do real que conhecemos na ficção poética” (RICOEUR, 19-, p.91). Por isso, as duas unidades literárias devem ser colocadas em contato. Em outros termos: o mashal remete ao nimshal, a parábola à realidade “parabolizada”.
O escravo do mashal não fez senão o seu dever, porém o seu mestre rejeitou o cumprimento deste dever, virando o jarro d’água na cara do escravo.
Da mesma forma, aquele que cumpre o mandamento da Sukkáh não faz senão o seu dever. Porém, o seu mestre (Deus) rejeita o cumprimento deste mandamento, deste dever, derramando chuva em cima da Sukkáh, de modo que se é obrigado a deixá-la.

Enquanto a unidade halákhica da Mishná situa-se no nível do dever / permitir e garante que o mandamento seja cumprido, mesmo que se tenha que deixar a Sukkáh, a parábola – a parte agádica da mishná neste caso, em contraposição à parte halákhica – questiona esse posicionamento de maneira magistral. A chuva, diz a reflexão agádica, não é um fenômeno atmosférico qualquer. Ela expressa a vontade de Deus, que rejeita o cumprimento do mandamento. Da mesma forma que o escravo da parábola não pode deixar de questionar a razão do gesto aparentemente estranho do seu mestre, quem cumpre o mandamento precisa se questionar sobre o porquê da chuva que permite / obriga a deixar a Sukkáh.
A parábola – tão estranha e incompreensível à primeira vista – demonstra este poder hermenêutico fantástico de questionar, até a raiz, o cumprimento da halakhá, e, de uma certa forma, de ir além da halakhá. A faculdade de renovamento e desvelamento das parábolas é ligada a sua natureza de metáfora viva, criadora. É por isso que os Sábios de Hazal privilegiaram tanto o mashal: este humilde instrumento literário permite um perscrutar constante da vida e da Torá a fim de que ambas sejam realidade viva e criadora.

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