Quem são
aqueles que Deus deu a Cristo?
Aquele que crê em Cristo conforme diz
as Escrituras de maneira nenhuma será lançado fora por Cristo, porque quem crê
passa a pertencer a Cristo, ou seja, é dado pelo Pai ao Filho.
Quem
são aqueles que Deus deu a Cristo?
“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o
que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37)
Cuidados ao ler esta passagem
Há uma grande celeuma no meio
teológico quanto ao sentido do verso que diz:
“Todo o que o Pai me dá virá a mim” (João 6:37).
Para desfazer os equívocos, primeiro
é necessário ao leitor entender que, ao falar à multidão Jesus sempre utilizou
parábolas:
“E com muitas parábolas tais lhes
dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender. E sem
parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em
particular aos seus discípulos” (Marcos
4:33 -34).
Anunciar à multidão o reino dos céus
através de adágios, símiles e parábolas tinha por objetivo alcançar a
compreensão dos ouvintes e dar cumprimento as profecias:
“Tudo isto disse Jesus, por parábolas à
multidão, e nada lhes falava sem parábolas; Para que se cumprisse o que fora
dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a minha boca; Publicarei
coisas ocultas desde a fundação do mundo” (Mateus
13:34 -35).
É imprescindível compreender que às
diferenças entre a doutrina de Cristo e a compreensão que o povo de
Israel tinha das Escrituras era gritante.
Se Jesus falasse abertamente ao povo
de Israel acerca do reino dos céus (João 3:12), por possuírem um entendimento
carnal (1 Coríntios 2:14), jamais compreenderiam a exposição, daí a necessidade
de se falar por parábolas (João 3:12).
Quando Jesus disse: – ‘Ninguém pode vir a mim, se o Pai que
me enviou o não trouxer’,
ensinava uma multidão que, após comer pão a fartar, queriam faze-Lo rei. A
multidão viu na pessoa de Cristo somente mais um profeta, mas, na verdade, o
Filho de Deus estava revelando o Pai ao mundo:
“Vendo, pois, aqueles homens o milagre
que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir
ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem
rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte” (João 6:14 -15; João 1:18).
Enquanto Jesus estava no mundo na
condição de servo, os homens deveriam reconhece-lo como o enviado de Deus que
tira o pecado do mundo, cuja missão era edificar o templo de Deus prometido a
Davi (2 Samuel 7:13),
que seria chamada de casa de oração
para todos os povos
(Isaías 56:7),
um santuário que traria escândalo as
duas casas de Israel
(Isaías 8:14).
Também não era através da vontade do
povo de Israel que Cristo deveria ser entronizado rei em Israel, antes o reino
só seria entregue a Cristo após Ele edificar o templo, que é o seu corpo, a
igreja. Deus já havia ungido o Cristo como seu rei no monte Sião (Salmos 2:6),
mas somente após o templo ser edificado é que o trono seria confirmado para sempre
(2 Samuel 7:13 e 16).
Nunca fomos escravos de ninguém
Considerando que: “E sem parábolas nunca lhes
falava” (Marcos 6:34), quando se lê a
asserção: – ‘Ninguém
pode vir a mim…’, se
faz imprescindível à compreensão questionar: Jesus falou abertamente aos seus
ouvintes, ou falou por parábola?
Somos instruídos a considerar
que: “E sem parábolas nunca lhes
falava…” (Marcos 6:34 ), ou seja, ao
dizer ‘ninguém pode vir a mim’, Jesus anunciou-lhes um enigma dos antigos,
conforme consta das profecias nos Salmos.
“Abrirei a minha boca numa parábola;
falarei enigmas da antiguidade.”
(Salmos 78:2;
Mateus 13:35).
Partindo do pressuposto de que Jesus
ensinava a multidão por parábolas, pois nunca lhes falava se parábolas,
conclui-se que a passagem bíblica em análise é uma parábola com símiles e
adágios, e que carece ser interpretada à luz das Escrituras.
Com base no exposto pelos
evangelistas Mateus e Marcos, não podemos aceitar uma leitura superficial da
mensagem ‘ninguém pode vir a mim’, como se a fala de Jesus à multidão fosse um
ensinamento que não demande interpretação.
O simples fato de o evangelista João
enfatizar que do outro lado do rio formou-se uma multidão composta, na sua
grande maioria, de judeus, que, após comer pão a fartar, passou a considerar
que Jesus era o profeta que deveria vir ao mundo (João 6:14), e queriam fazê-lo
rei (João 6:15), evidencia que a fala de Jesus não tinha por alvo a Igreja, mas
os judeus.
Por causa do público alvo do
ensinamento de Cristo, não resta alternativa a não ser concluir que estamos
diante de uma parábola. E, se estamos diante de uma parábola, primeiro é
necessário desvendarmos os enigmas contidos na parábola. Em segundo lugar, é
imprescindível considerarmos que o público alvo da mensagem era formado por um
grande número de judeus, ou seja, a parábola não tem por alvo pecadores dentre
os gentios, e sim os pecadores judeus.
A real condição dos judeus diante de
Deus
Por serem descendentes da carne de
Abraão, praticarem a circuncisão e seguirem doutrinas e preceitos de homens, os
judeus consideram que eram melhores que os gentios (Deuteronômio 9:4 -6).
Muitos religiosos judeus entendiam serem justos, porém, eram justos aos seus
próprios olhos, e rejeitaram a justiça de Deus por causa de uma justiça
própria.
“E seja achado nele, não tendo a minha
justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que
vem de Deus pela fé” (Filipenses
3:9);
“Mas Israel, que buscava a lei da
justiça, não chegou à lei da justiça” (Romanos
9:31).
O diagnóstico de Cristo ao observar
os escribas e fariseus é preciso: “Assim
também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais
cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mateus
23:28), e caso algum judeu quisesse se salvar, teria que ter obra superior à dos
seus líderes religiosos “Porque
vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo
nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus
5:20 ; João 3:3).
Devemos lembrar que Jesus citou
Isaías para enfatizar a condição do povo de Israel “Este povo se aproxima de mim com a sua
boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim; Mas,
em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.” (Mateus 15:8 -9), e mesmo
aqueles que diziam crer, Jesus olhava com reserva: “Mas o mesmo Jesus não confiava
neles, porque a todos conhecia” (João
2:24; João 8:31).
Todo o que o Pai me dá virá a mim
A passagem bíblica: – “Todo o que o Pai me dá virá a mim …” (João 6:37), deve ser analisada
através do seguinte prisma:
“Veio para o que era seu, e os seus não
o receberam” (João 1:11).
Por que o próprio povo de Jesus não O
recebeu? Porque não creram nas Escrituras, ou seja, no testemunho que Deus deu
acerca do Cristo, consequentemente, não creram nas palavras de Cristo.
“Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo
tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no
testemunho que Deus de seu Filho deu” (1
João 5:10);
“Como podeis vós crer, recebendo honra
uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus?” (João 5:44).
As palavras que Cristo falava ao povo
foram determinadas por Deus, portanto, crer em Cristo era crer em Deus e
vice-versa. Crer em Cristo é crer no testemunho que Deus deu acerca do seu
Filho nas Escrituras (João 12:49 -50). Mas, apesar dos seus próprios irmãos
segundo a carne não terem recebido Jesus, todos quantos O receberem, ou seja,
aqueles que crerem em seu nome, Deus dá o poder de serem feitos filhos de Deus
(João 1:12).
A linguagem de Cristo visava alcançar
o entendimento de judeus, portanto, as parábolas, os símiles e os adágios
utilizados por Ele derivam das Escrituras, o que demanda ao leitor um trabalho
maior: considerar as Escrituras para compreender a mensagem de Cristo.
As Escrituras
Para compreender a linguagem
empregada por Cristo em João 6, verso 37, se faz necessário ter em mente
algumas passagens bíblicas do Antigo Testamento.
No Livro de Deuteronômio, Deus
protestou contra os filhos de Israel dizendo de que eles não eram seus filhos,
mas uma mancha, como se lê:
“Corromperam-se contra ele; não
são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é”(Deuteronômio 32:5).
Os filhos de Israel não ‘pertenciam’
a Deus, antes eram uma geração perversa e distorcida. O que entender por
geração perversa e distorcida?
Na concepção do homem de hoje, uma
geração é caracterizada por elementos como linguagem, filosófica, cultura,
educação, valores, etc., mas, quando Jesus diz: “Uma geração má e adúltera pede um
sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. E, deixando-os,
retirou-se” (Mateus 16:4), o
significado de geração não segue o método Mak’Gregor, que atribui nomes as
gerações como: geração ‘Alfa’, ‘X’, ‘Y’, etc., para diferenciar posturas do
homem de hoje com o de vinte anos atrás.
Jesus não estava pensando na definição
de Heráclito, de que uma geração é de trinta anos, ou no espaço de tempo no
qual o pai vê seu filho capaz de procriar.
Não ser filho de Deus é o que
caracteriza o homem como geração perversa, no sentido de má, vil, ralé. A
geração perversa é a planta que o Pai não plantou (Mateus 15:13), ou seja,
homens nascidos da vontade da carne, do varão e do sangue (João 1:13). Todos os
descendentes de Adão são contados como geração perversa, também denominados
filhos da ira e da desobediência.
Na frase “não são seus filhos” é empregado o verbo ‘ser’ e
o pronome possessivo ‘seus’, de modo que, ser filho de Deus é pertencer a Deus.
Observe o pronome possessivo ‘seus’: não são SEUS filhos. Se não são Seus
filhos, não pertencem a Deus. Por que não eram filhos? Porque não deram ouvidos
à voz de Deus.
“E disse-me o SENHOR: Apregoa todas
estas palavras nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém, dizendo: Ouvi as
palavras desta aliança, e cumpri-as. Porque deveras adverti a vossos pais, no
dia em que os tirei da terra do Egito, até ao dia de hoje, madrugando, e
protestando, e dizendo: Dai ouvidos à minha voz. Mas não ouviram, nem
inclinaram os seus ouvidos, antes andaram cada um conforme o propósito do seu
coração malvado; por isso trouxe sobre eles todas as palavras desta aliança que
lhes mandei que cumprissem, porém não cumpriram” (Jeremias 11:6 -8).
Muito tempo depois, o profeta Isaías
anunciou ao povo de Israel que os filhos de Deus seriam ensinados por Ele:
“E todos os teus filhos
serão ensinados do SENHOR; e a paz de teus filhos será abundante” (Isaías 54:13).
Novamente é empregado o pronome
possessivo para apontar para os filhos da mulher estéril: TEUS filhos (Isaías
54:1).
Deus declarou que seria Deus de um
povo, e que este povo passaria a ser propriedade d’Ele quando Deus fizesse
morada nele. Que ao receber este povo por Seu, tal povo seria para Deus seus
filhos e suas filhas.
“Neles habitarei, e entre eles andarei;
e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e
apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei; E eu
serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor
Todo-Poderoso” (2 Coríntios 6:16
-18; Jeremias 31:1 e 9);
“Agora, pois, se diligentemente
ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha
propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha” (Êxodo 19:5).
As Escrituras também predisseram que
Deus daria, por sinal e maravilha em Israel, filhos ao Senhor que ‘escondeu o
seu rosto da casa de Israel’.
“Assim se acenderá a minha ira naquele
dia contra ele, e desampará-lo-ei, e esconderei o meu rosto dele,
para que seja devorado; e tantos males e angústias o alcançarão, que dirá
naquele dia: Não me alcançaram estes males, porque o meu Deus não está no meio
de mim?” (Deuteronômio 31:17);
“Eis-me aqui, com os filhos que
me deu o SENHOR, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do
SENHOR dos Exércitos, que habita no monte de Sião” (Isaías 8:18).
Como Cristo é o Senhor ‘que escondeu o seu rosto da casa de Israel’, que
revelou-se ao mundo quando veio em carne, e ao ser morto e crucificado,
ressurgiu e assentou-se a destra da majestade nas alturas após ser dito: “DISSE o SENHOR ao meu
Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos
por escabelo dos teus pés” (Salmos
110:1), segue-se que Deus concedeu a Cristo filhos por ‘sinal e maravilha’, de
modo que, ao retornar à gloria conduz muitos filhos a Deus (Hebreus 2:10).
O Senhor que escondeu o seu rosto da
casa de Israel convida solenemente aqueles que estão prontos a aprender d’Ele,
dizendo: “Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos
ensinarei o temor do SENHOR” (Salmos
34:11), e os que ouviram e aprenderam de Cristo, que é manso e humilde de
coração, são declarados filhos de Deus, irmãos de Cristo, diferentemente da
mancha que Deus protestou lá em Deuteronômio.
“Então declararei o teu nome aos
meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação” (Salmos 22:22).
A abordagem de Cristo
“Jesus respondeu-lhes, e disse: Na
verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas
porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece,
mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos
dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (João
6:26 -27).
Após ler a passagem da multiplicação
dos pães onde consta a atitude do povo judeu em querer constituir Cristo como
rei (João 6:14 -15), o leitor precisa considerar que o povo só queria faz
Cristo rei pelos sinais da multiplicação dos pães, mas ninguém estava
preocupado em como agradar a Deus. Jesus contraria o posicionamento da multidão
ausentando-se, pois procuravam-no somente porque comeram pão e se saciaram, não
pelos sinais que viram (João 6:2), ou seja, não estavam preocupados em saber
quem era aquele homem que efetuou sinais.
A multidão viu os sinais que Jesus
operou para com os enfermos e, pelo fato de ter comido pão a fartar,
consideraram que Jesus era profeta, porém, não O reconheceram como o Cristo
prometido segundo as Escrituras, ou seja, não creram n’Ele como o salvador do
mundo.
Como não consideraram os sinais
miraculosos que Jesus operou diante deles para receberem-No como O enviado de
Deus, Jesus alertou os seus seguidores que ‘trabalhassem’, não pela comida que
perece (alimento cotidiano), antes que trabalhassem pela comida que permanece
para a vida eterna.
“Mas, se as faço, e não credes em mim,
crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu
nele” (João 10:38; João 10:25).
Seguir a Cristo pela comida que
perece é ‘trabalhar’ de modo equivocado, antes deveriam segui-Lo pelas palavras
que anunciava, pois, as palavras de Cristo são alimento para a vida
eterna “Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro:
Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6:68).
Jesus deixa claro que deveriam
trabalhar pelo alimento que Ele dá: a vida eterna. Como Jesus concede a vida
eterna? Anunciando a palavra de Deus conforme o estabelecido nas Escrituras,
pois o homem vive das palavras que sai da boca de Deus (Deuteronômio 8:3; João
12:49 -50).
O selo (garantia) de Deus que
estabelece o Filho como aquele que dá a comida para a vida eterna é a própria
Escritura. O testemunho que Deus deu do seu Filho nas Escrituras é o selo do
Pai.
“E o Pai, que me enviou, ele mesmo
testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer. E a
sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós.
Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas
que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:37 -40);
“… a qual o Filho do homem vos dará; porque
a este o Pai, Deus, o selou” (João
6:27).
O povo de Israel deveria buscar o
Filho do homem que dá o alimento para a vida eterna. Como? Procurando aprender
d’Ele, no entanto, o povo não creu em sua mensagem, antes saiu a procura de
Cristo por causa do alimento cotidiano.
A multidão não entendia a linguagem
de Cristo, pois perguntaram: – “Que
faremos para executarmos as obras de Deus?” (João
6:28).
Cristo estava falando do alimento
para a vida eterna, que deveriam busca-Lo para aprenderem, pois, essa era a
obra de Deus, e a multidão desconversou, querendo saber como desempenhar as
obras de Deus. Ora, se executassem as obras de Deus, alcançariam o alimento que
o Filho do homem dá para a vida eterna. Bastava crer em Cristo como o enviado
de Deus que a multidão faria as obras de Deus e receberia o alimento para a
vida eterna.
“Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra
de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (João 6:29).
Diante das palavras de Jesus,
redarguiram: “Disseram-lhe,
pois: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que
operas tu? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a
comer o pão do céu” (João
6:30 -31).
A multidão exigiu um sinal como
condição para crer em Cristo. Se visse mais sinais, a multidão equivocadamente
continuaria crendo em Cristo como profeta, porém, era necessário crer em Cristo
como o Filho de Deus. Para crer em Cristo como o Filho de Deus era necessário
crerem no testemunho contido nas Escrituras, pois, somente através dos sinais,
jamais concluiriam como o apóstolo Pedro que Jesus era o Filho de Deus que
havia de vir ao mundo (João 6:69).
O povo fez menção de uma passagem das
Escrituras: “Deu-lhes
a comer o pão do céu” (Êxodo
16:4; Neemias 9:15; Salmos 105:40), e Jesus em seguida explica que o verdadeiro
pão que Deus dá é o que desce do céu e dá vida ao mundo (João 6:32).
Arrependimento
“Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade,
na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o
verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida
ao mundo” (João 6:32 -33)
A multidão que comeu o pão da
multiplicação tinha o entendimento de que foi Moisés quem deu aos seus pais pão
do céu quando no deserto. O posicionamento do povo parecia ser conforme as
Escrituras e, inclusive, citaram para Jesus uma passagem do livro do Êxodo como
embasamento para exigirem um sinal miraculoso por parte de Jesus (Êxodo 16:4).
Uma leitura superficial da passagem
bíblica dá a entender que no deserto foi concedido ao povo de Israel comer um
alimento que concedesse vida. A má leitura do texto dá a falsa concepção de que
Moisés deu ao povo o ‘pão dos anjos’, porém, não foi assim. O maná não foi uma
dádiva, antes foi uma prova:
“Então disse o SENHOR a Moisés: Eis
que vos farei chover pão dos céus, e o povo sairá, e colherá diariamente a
porção para cada dia, para que eu o prove se anda em minha lei ou não” (Êxodo
16:4).
Em segundo lugar, Deus não deu pão,
antes deu a matéria prima para que fizessem o pão. Deus deu a eles o material
necessário para que assassem no fogo ou cozinhassem na água. Eram sementes
semelhantes na aparência ao coentro branco, e sabor semelhante ao de mel (Êxodo
16:31), porém, o povo tinha que sair para colher a matéria prima para o pão no
deserto (Êxodo 16:14).
Ora, comer o maná envolvia trabalho.
Era necessário colher e preparar o alimento com a matéria prima providenciada
por Deus, do que se conclui que, aquele não era o verdadeiro pão do céu. O povo
teve que trabalhar ao sair no deserto para colher o maná e trabalhou para
preparar o alimento, mas não se empenhou para obedecer a voz de Deus, o que
realmente dá vida (Êxodo 16:28).
Em terceiro lugar, não foi Moisés
quem deu a matéria prima para os pães, antes foi providencia divina, de modo
que não foi Moisés quem deu o verdadeiro pão do céu, e nem o alimento cotidiano
que os pais comeram no deserto.
O povo de Israel não compreendia que
Deus jamais invalidaria a sua palavra estabelecida no Éden dando pão a comer
sem suor:
“No suor do teu rosto comerás o teu
pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em
pó te tornarás” (Gênesis 3:19).
Ora, no deserto foi concedido o maná
aos pais para prova-los e, não para suprir o alimento cotidiano. Além do mais,
tiveram que trabalhar para se alimentar, pois tinham que colher e preparar o
alimento.
Jesus fez a multiplicação dos pães e,
igualmente colocou a multidão à prova, pois O seguiam somente porque comeram
pão a fartar, e não porque queriam ouvir a sua mensagem (João 6:26). No deserto
foi dado as sementes para o pão para ver se obedeciam a voz de Deus ou não, e
no Novo Testamento por comerem pão quiseram aclama-Lo rei, mas rejeitaram-No
dizendo que o seu discurso era duro.
A concepção do povo era distorcida
com relação ao pão do céu, de modo que a abordagem de Cristo deveria produzir a
‘metanoia’ (arrependimento), uma mudança de pensamento que consistia numa
transformação radical no entendimento deles.
Cristo expôs à multidão que é Deus
quem dá o verdadeiro pão do céu, e que o pão de Deus é aquele que desce do céu
e dá vida ao mundo. Para abraçarem a mensagem anunciada por Cristo, deveriam
abrir mão da concepção que possuíam, de que foi Moisés deu aos pais pão do céu,
e aceitarem que Jesus é o verdadeiro pão dos céus.
Na transação, substituir a concepção
de que Moisés deu pão dos céus, pela verdade de que Cristo é o pão que Deus dá
aos homens, está o verdadeiro arrependimento, e não no arrependimento de obras
mortas, que é o arrepender-se de questões comportamentais.
Quem dá o pão do céu?
“Trabalhai, não pela comida que perece,
mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do
homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (João 6:27);
“Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade,
na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos
dá o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu
e dá vida ao mundo” (João
6:32 -33).
Quem dá o pão do céu, o Pai ou o
Filho?
No verso 27, Jesus diz que Ele mesmo
haveria de dar a comida que permanece para a vida eterna, mas no verso 32,
disse que o Pai é que dá o pão do céu: Cristo que desce do céu e dá vida ao
mundo.
Quem não observa o que disseram os
evangelistas Mateus e Marcos, de que Cristo falava a multidão somente por
parábolas (Marcos 6:34), verá contradição nas palavras de Cristo.
Como o testemunho que um judeu dava
de si mesmo não era aceito como verdadeiro, Jesus fala da sua própria pessoa à
multidão como de uma terceira pessoa. Ele utilizava o nome ‘Filho do homem’ ao
se apresentar ao povo, e fazia referencia ao seu ministério como se ainda
estivesse por vir: “… a
qual o Filho do homem vos dará” (João
6:27).
Ora, a multidão não cria em Cristo
como o enviado de Deus, antes entendia que Ele era um dos profetas (João 6:14;
Mateus 16:14), e, caso alguém admitisse ser Jesus o Cristo, seria acusado de
blasfêmia ou expulso da sinagoga (João 9:22).
A multidão deveria reconhecê-Lo como
o Cristo através do testemunho das Escrituras e das obras que Cristo realizava,
por isso Jesus não falava abertamente ao povo ser o Cristo e proibia aqueles
que eram curados que falassem abertamente aos outros (Marcos 7:36).
Crer em Cristo como profeta é
diferente de crer que Jesus é o Cristo, pois muitos creram à sua própria
maneira e questionavam se o Cristo quando viesse faria sinais maiores que
aqueles que Jesus operava “E
muitos da multidão creram nele, e diziam: Quando o Cristo vier, fará ainda mais
sinais do que os que este tem feito?” (João
7:31).
Os irmãos de Jesus ficavam intrigados
porque Jesus não se manifestava abertamente ao povo (João 7:3-5). Por que Jesus
não se manifestava abertamente? Porque o povo de Israel tinha a obrigação de
reconhece-lo através do testemunho que Deus deu do seu Filho, testemunho este
que constava nas Escrituras (João 5:39), que Jesus era o Cristo, o Filho de
Davi,
O povo de Israel ouvia os seus
líderes lerem que os seus pais havia comido o pão dos anjos, como se lê: “O homem comeu o pão dos anjos; ele
lhes mandou comida a fartar” (Salmos
78:25), porém, não ensinavam que tal citação foi feita em uma passagem de
repreensão pela falta de confiança em Deus:
“Portanto o SENHOR os ouviu, e
se indignou; e acendeu um fogo contra Jacó, e furor também subiu
contra Israel; Porquanto não creram em Deus, nem confiaram na sua salvação
( …) Quando a ira de Deus desceu sobre eles, e matou os mais robustos deles, e
feriu os escolhidos de Israel. Com tudo isto ainda pecaram, e não deram crédito
às suas maravilhas. Por isso consumiu os seus dias na vaidade e os seus anos na
angústia” (Salmos 78:21 -22 e
31 -33).
Observe que o povo comeu o maná no
deserto, porém, todos pereceram, entrando somente dois os que saíram do Egito
na terra prometida: Josué e Calebe.
A lei dava aviso solene acerca do
maná: “E te humilhou, e te deixou ter fome, e
te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram;
para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai
da boca do SENHOR viverá o homem” (Deuteronômio
8:3), daí Jesus passou a ensiná-los, conforme expôs Moisés, que o verdadeiro
pão do céu é dado por Deus, e não por Moisés.
O que dá vida é o que sai da boca de
Deus, ou seja, a sua palavra. Como Cristo é o Verbo de Deus que desceu do céu,
Cristo é o verdadeiro pão do céu que dá vida ao mundo. Os versos 32 à 33 tratam
da perspectiva divina em conceder aos homens o verdadeiro pão do céu, pois
Cristo desce do céu e dá vida ao mundo pela misericórdia de Deus.
Já o verso 27, trata da perspectiva
dos homens em como obter a comida que permanece para a vida eterna. Deus
concede o pão do céu – Cristo – e, na condição de mediador entre Deus e os
homens, é Ele que transmite aos homens as palavras de vida eterna que ouviu
junto ao Pai (João 14:24; João 17:8; João 3:32 -34).
Cristo dá o alimento para a vida
eterna porque Ele foi incumbido de anunciar aos homens a palavra de Deus, e o
Pai dá o pão para a vida eterna porque Cristo foi enviado ao mundo para
anunciar a palavra de Deus.
Todo o que o Pai me dá virá a mim
Após anunciar que o pão de Deus é
aquele que desce do céu e dá vida ao mundo, a multidão respondeu: – “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Diante da
solicitação da multidão, Jesus apresentou-se como o pão da vida, ou seja,
aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo.
“E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da
vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” (João 6:35).
Novamente Jesus faz abordagem do tema
através de duas perspectivas: a divina e a humana. Aos homens que ‘vem’ a
Cristo, ou seja, aqueles que ‘trabalharem’ pela comida que permanece (João
6:27), Cristo dá a sua palavra de que jamais terão fome. Em outras palavras,
crer em Cristo é o mesmo que achegar-se a Ele, de modo que o núcleo da ideia
‘vem a mim’ e ‘crê em mim’ no verso 35, de João 6, é o mesmo, e concede o mesmo
benefício: o homem jamais terá fome e sede (João 7:38).
Mas, apesar do pedido: – “Senhor, dá-nos sempre deste pão”, Jesus lembra a
multidão que, apesar de terem visto as maravilhas que operou sobre os enfermos
(João 6:2), não creram n’Ele “Mas
já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes” (João 6:36).
O único meio de serem participantes
do pão concedido por Deus era crer que Jesus é o Cristo. Percebe-se através do
pedido da multidão: – “Senhor, dá-nos sempre deste pão”, que não
compreenderam a linguagem de Cristo “Por
que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra” (João 8:43).
Em seguida Jesus diz: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o
que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”(João 6:37). Aquele que ‘vem’ a Cristo é porque tem sede, e se o que tem
sede crê em Cristo conforme diz as Escrituras, beberá água viva, de modo que
rios de água viva fluirão do seu ventre “E
no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se
alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura,
rios de água viva correrão do seu ventre” (João
7:37 -38).
O que é beber da água que Jesus dá?
Como comer o pão que desceu do céu? A resposta está neste verso: “Em verdade, em verdade vos digo que,
se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte” (João 8:51). Ao obedecer a
palavra anunciada por Cristo o homem come do pão e bebe da água que dá vida,
por isso nunca verá a morte.
Quem crê no nome de Jesus Cristo, ou
seja, aquele que O recebe, Deus dá poder para ser feito filho de Deus, pois é
gerado de novo da vontade do Pai (João 1:12 -13). Os que creem são gerados da
vontade de Deus, portanto, como os que creem são filhos de Deus, segue-se que,
especificamente os ‘filhos de Deus’ são aqueles que Deus ‘concede’ a Cristo,
como se lê:
“Eis-me aqui, com os filhos
que me deu o SENHOR, por sinais e por maravilhas em Israel, da
parte do SENHOR dos Exércitos, que habita no monte de Sião” (Isaías 8:18).
Quem é o Senhor que escondeu o seu
rosto da casa de Israel? Quem é que se apresenta com os filhos concedidos por
Deus?
Ora, o Senhor que escondeu o seu
rosto da casa de Israel é Cristo, o mesmo Senhor que se assentou à destra da
Majestade nas alturas (Salmos 110:1), e que deve ser santificado nos corações
dos homens.
“Ao SENHOR dos Exércitos, a ele
santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro. Então ele vos
será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às
duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém. E muitos
entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos” (Isaías 8:13 -15).
Aquele que crê em Cristo conforme diz
as Escrituras de maneira nenhuma será lançado fora por Cristo, porque quem crê
passa a pertencer a Cristo, ou seja, é dado pelo Pai ao Filho.
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e
eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de
perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu,
é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (João 10:27 -29).
Mas, porque Jesus falou a multidão
desta forma? A resposta está no verso 45:
“Está escrito nos profetas: E serão
todos ensinados por Deus” (João
6:45).
A passagem de Isaías, que diz: “E todos os teus filhos serão ensinados
do SENHOR; e a paz de teus filhos será abundante” (Isaías 54:13), é a base do ensinamento de Jesus, quando
diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que
me enviou o não trouxer”.
Compare:
“E todos os teus filhos serão
ensinados do SENHOR; e a paz de teus filhos será abundante” (Isaías 54:13);
“Eis-me aqui, com os filhos que
me deu o SENHOR, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do
SENHOR dos Exércitos, que habita no monte de Sião” (Isaías 8:18);
“Então declararei o teu nome aos
meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação” (Salmos 22:22).
De que maneira o Pai dá alguém (todo
aquele que o Pai me dá) a Cristo? Através dos ensinamentos contidos nas
Escrituras. As Escrituras são o testemunho vivo do Pai acerca de Cristo (João
5:39), e todos que creem nas Escrituras vão (virá a mim) a Cristo.
“Porque, se vós crêsseis em Moisés,
creríeis em mim; porque de mim escreveu ele” (João
5:46).
Deus prometeu que todos os filhos da
mulher desprezada seriam ensinados por Deus. E quem prometeu foi o Senhor que
escondeu o seu rosto da casa de Israel (Isaías 54:8). Observe:
“E todos os teus filhos serão ensinados
do SENHOR; e a paz de teus filhos será abundante” (Isaías 54:13).
Jesus lembra os seus ouvintes:
“Está escrito nos profetas: E serão
todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e
aprendeu vem a mim“ (João
6:45);
“Todo aquele que o Pai me
dá virá a mim, e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei
fora” (João 6:37).
Qualquer que ‘ouve’ e ‘aprende’ de
Deus são dados a Cristo, de modo que, por ouvirem e aprenderem de Deus vão a
Cristo.
O profeta Moisés bem disse:
“O SENHOR teu Deus te levantará um
profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis (…) Eis lhes
suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas
palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Deuteronômio 18:15 e 18).
O Pai ordenou aos filhos de Israel
que ouvissem as palavras de seu Filho, pois as palavras de Deus seriam postas
na boca do Cristo e Ele falaria tudo o que Deus lhe ordenasse. Cristo falava
somente o que Deus ordenou, de modo que, se o povo de Israel verdadeiramente
desse ‘ouvido’ à palavra de Deus, creriam em Cristo.
Por que Jesus diz que “Todo o que o Pai me dá virá a mim” (João 6:37)? Porque ele está
interpretando o Salmo 22, que diz:
“Então declararei o teu nome aos meus
irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação” (Salmos
22:22).
Como o verso contém o pronome
possessivo ‘meus’ ao falar dos filhos de Deus (meus irmãos), isto significa que
eles foram ‘dados’ a Cristo.
Cristo declarou a mensagem de Deus no
ajuntamento solene e, ao declarar o nome de Deus aos homens, os que creem são
feitos irmãos de Cristo (filhos de Deus). Os filhos de Deus, por sua vez, são
aqueles que foram ensinados por Cristo, de modo que as Escrituras previram que
quando Cristo viesse, estaria acompanhado dos filhos que Deus lhe concedeu
(Isaías 54:13; Isaías 8:18; Salmos 22:22).
Jesus anunciou ser o Cristo por
parábolas
Os judeus queriam que Cristo dissesse
abertamente que Ele era o Cristo, porém, Jesus não dava testemunho de Si mesmo
(João 5:31), antes as Escrituras e as obras que Jesus realizava é que davam
testemunho de que Ele era o Cristo.
“Rodearam-no, pois, os judeus, e
disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo,
dize-no-lo abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o
credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim” (João 10:24 -25).
Ora, se o homem ouve o conteúdo da
Escritura e aprende (compreende) o que é ensinado, verá que a palavra de Deus
aponta para Cristo, de modo que, se o homem aprende o que o Pai ensina nas
Escrituras, virá a Cristo, crendo que Ele é o enviado de Deus, e será feito um
dos filhos de Deus com os quais Cristo se apresenta: eis-me aqui!
Após anunciar que ‘o pão de Deus é aquele que desce dos céus’ (João
6:33), Jesus declara que desceu dos céus, identificando-se como o verdadeiro
pão dos céus, e que fazia, não a sua, mas a vontade de Deus (João 6:38). E qual
a vontade de Deus?
“E essa é a vontade daquele que me
enviou, que eu não perca nenhum de todos os que Ele me deu,
mas o ressuscite no último dia.” (João
6:39).
“Porquanto a vontade daquele que me
enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna;
e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:40).
A vontade de Deus é que todos que
vejam a Cristo, creiam que Ele é o Filho de Deus, para alcançar vida eterna.
Quem crê será ressuscitado por Cristo no último dia, ao que se concluí que ‘os
que são dados a Cristo’ pelo Pai são os que creem em Jesus conforme diz as
Escrituras.
Os que ‘pertencem’ a Cristo, ou
melhor, os que foram concedidos por Deus a Cristo, jamais serão rejeitados.
Quando Jesus enfatiza que aquele que o Pai me dá virá a mim, tem por base
o que está escrito nos profetas: ‘E serão ensinados por Deus’.
“Está escrito nos profetas: E serão
todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e
aprendeu vem a mim“ (João
6:45);
“Todo aquele que o Pai me
dá virá a mim, e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei
fora” (João 6:37).
Se Deus havia de ensiná-los,
conclui-se que, o que de Deus aprendeu (ouviu), irá a Cristo. E quem Deus dá a
Cristo? Aqueles que Ele ensinou através das Escrituras.
Só porque comeram pão a fartar, os
filhos de Israel reputaram que Jesus era profeta e quiseram fazê-lo rei. O
crivo que os ouvintes de Jesus utilizavam para aceitarem alguém como profeta
era somente receber alimento cotidiano, e não o que desde o princípio Deus
havia anunciado. Não se importavam com o que era anunciado, mas com o que era
posto à mesa para comer (João 5:43).
Diante da declaração: ‘Eu sou o pão que desceu do céu’, murmuraram de Jesus,
pelo fato de saberem que Jesus era filho de José e Maria (João 6:41-42).
Ao que Jesus respondeu: ‘Não murmureis
entre vós.’ (João 6:43). Por que não deviam pensar daquela forma? Porque carne
e sangue não tem os elementos necessários para alguém reconhecer se o outro é
proveniente de Deus ou não.
“Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu,
Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que
está nos céus.” (Mateus
16:17).
Por que os ouvintes de Jesus
consultavam uns aos outros acerca de José e Maria quando ficavam na dúvida se
Ele era o Cristo, se as Escrituras alertavam para não confiarem no amigo:
“Não creiais no amigo, nem confieis no
companheiro; guarda as portas da tua boca daquela que repousa no teu seio. Pois
o filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora contra a sogra;
os inimigos do homem são os da própria casa.” (Miqueias 7:5-6).
O alerta do profeta Miquéias está
relacionado aos dias de confusão, dias esses em que as duas casas de Israel
haveriam de tropeçar (Isaías 8:14). Em vez de perguntarem uns aos outros, os
filhos de Israel deveriam consultar as Escrituras para identificarem o Cristo.
Se estava previsto que os inimigos do Cristo seria os de sua própria nação, não
deveriam analisar de quem Jesus era filho segundo a carne, e sim, o que as
Escrituras diziam acerca dele.
Quando Jesus diz que ‘ninguém pode
vir a mim’, fala por parábolas, pois não podia dizer abertamente ‘eu sou o
Cristo’. Quando é dito é necessário o Pai que O enviou trazer esse alguém a
Cristo, por parábola Jesus ensina que somente através do testemunho de Deus que
consta das Escrituras é possível alguém aceita-Lo como salvador do mundo.
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que
me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:44);
“E essa é a vontade daquele que me
enviou, que eu não perca nenhum de todos os que Ele me deu, mas o
ressuscite no último dia.” (João
6:39);
“Porquanto a vontade daquele que me
enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna;
e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:40).
Nos três versos há um núcleo de
identidade: é Cristo quem ressuscitará o crente no último dia. Reconhecendo que
Deus deseja que todos os homens se salvem, e para isso que é necessário que
conheçam a Cristo (1 Timóteo 2:4), certo é que a vontade de Deus que vejam a
Cristo e creiam para alcançar a vida eterna. Ao crer em Cristo o homem passa da
morte para a vida, portanto, jamais se perde. Quem ouve a Cristo crê em Deus, e
vice-versa, pois Cristo tornou Deus manifesto aos homens através do evangelho.
“Na verdade, na verdade vos digo que
quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e
não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” (João 5:24)
Os homens a quem foi manifesto o nome
de Deus já eram salvos? Evidente que não! Na verdade, ‘todos nós andávamos desgarrados
como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho’ (saías 53:6), por isso é
dito ‘que do mundo me deste’.
“Manifestei o teu nome aos homens que
do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.” (João 17:6).
Quando é dito ‘eram teus’, temos que
lembrar que do Senhor é a terra e a sua plenitude, portanto, todos que habitam
a terra pertencem a Deus (João 17:2). Entretanto, a salvação é concedida aos
homens do mundo que obedecem a palavra de Deus anunciada por Cristo.
Quando o sentido de ‘eram teus, e tu
mos deste’? Temos que lembrar que Cristo é a destra e o braço do Senhor,
salvação notória e justiça manifesta aos olhos dos gentios (Salmos 98:1 -2), a
quem foi dado julgar a terra (Salmo 98:9).
“E deu-lhe o poder de exercer o juízo,
porque é o Filho do homem.” (João
5:27).
Se no enviado de Deus não havia
beleza alguma para que os homens o desejassem, não havia como os homens, que se
guiam pela aparecia, irem a Cristo (Isaías 53:2). Mas, Cristo, na condição de
servo do Senhor, não veio fazer manifesto o seu próprio nome, e sim, o nome
daquele que O enviou.
Enquanto manifestava o nome de Deus
ao mundo, muitos creram que Cristo é o enviado de Deus, e obedeceram a palavra
de Deus: creram em Cristo, de modo que é dito que Deus trás os homens a Cristo.
Cristo foi enviado as ovelhas
perdidas da casa de Israel para anunciar as palavras de Deus (Deuteronômio
18:18), e não para se fazer conhecido (João 7:4). Ao guardarem as palavras de
Cristo, os homens guardavam o mandamento do Pai, e a esses Cristo era
manifesto.
“Aquele que tem os meus mandamentos e
os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu
o amarei, e me manifestarei a ele.” (João
14:21).
Calvinismo e arminianismo
Enquanto as Escrituras apontam para
Jesus de Nazaré como o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mateus 16:16), revelação
que não se alcança por intermédio da carne e do sangue (Mateus 16:17), alguns
sistemas doutrinários engendrado por homens deturpam o sentido das palavras de
Cristo para dar suporte as suas ilações.
Enquanto Jesus instruiu os seus
ouvintes de que é necessário ouvir e aprender de Deus para se achegar a Cristo,
em quem há salvação (João 6:44 -46), o calvinismo e o arminianismo
desenvolveram o conceito controverso de que Deus escolheu unilateralmente
aqueles que serão salvos, e os que não serão.
Como a Bíblia apresenta os crentes em
Cristo como “eleitos de Deus”, em função de pertencerem a uma geração escolhida
(1 Pedro 2:9), equivocadamente, concluíram que a salvação se dá por
predestinação.
Cristo é o eleito de Deus, o ungido,
o escolhido, o Messias, e os cristãos, por sua vez, por serem gerados segundo a
palavra da verdade, alcança a posição de eleitos n’Ele. Cristo é o ungido
porque foi escolhido por Deus para ser primogênito entre muitos irmãos e o mais
sublime dos reis da terra, já os cristãos não participaram de qualquer processo
de escolha, antes tomaram posse (eleitos-adjetivo) por causa de Cristo.
Ao longo da história da cristandade,
tem se propagado dois pontos de vista sobre como se dá a salvação:
1.
o
arminianismo, que nomearemos visão presciente ou de presciência, que ensina que
Deus, através de sua onisciência, por saber quem vai no curso do tempo escolher
de própria vontade confiar em Jesus Cristo para a sua salvação, de antemão,
escolheu esses indivíduos para serem salvos;
2.
o
calvinismo, que segue viés agostiniano, que ensina que Deus, por ser soberano,
unilateralmente concede aos indivíduos que escolheu fé para que possam crer em
Jesus Cristo.
Em outras palavras, esses dois
sistemas doutrinários alegam que a salvação se dá por eleição (ou
predestinação), e dão vazão as controversas: de um lado o arminianismo, de a
eleição de Deus para a salvação é baseada em um conhecimento prévio da fé de um
indivíduo, e do outro o calvinismo, de que a eleição para salvação é baseado na
graça livre e soberana do Deus Todo-Poderoso.
Ambos sistemas em essência negam que
a graça de Deus, que é Cristo, se manifestou segundo as Escrituras trazendo
salvação a todos os homens (Tito 2:11), e que é da vontade de Deus salvar os
crentes pela loucura da pregação (1 Coríntios 1:21), de modo que a salvação se
dá por intermédio do evangelho (Romanos 1:16; Efésios 1:13), e não por um
processo seletivo.
Por que ambos os sistemas negam que
Cristo trouxe salvação a todos os homens? Porque ambos afirmam que Deus
escolheu alguns em detrimento de outros, ou que Deus tem preferência entre suas
criaturas.
Enquanto Deus afirma que tem
misericórdia dos que guardam os seus mandamentos (Deuteronômio 5:10; Daniel
9:4), transtornam a palavra de Deus anunciada a Moisés, que diz: ‘Terei
misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me
aprouver ter compaixão’ (Romanos 9:15). Enquanto aprouve a Deus ter misericórdia
dos que guardam os seus mandamentos, pois jamais Ele horará aquele que não O
honra, sob o argumento de que Deus é soberano, alegam que Deus pode passar ao
largo de sua própria palavra: honrar aquele que O despreza.
“Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel:
Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante
de mim perpetuamente; porém agora diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa,
porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão
desprezados.” (1
Samuel 2:30).
Um trocadilho utilizado por Deus para
enfatizar um ensinamento que já havia sido dado é utilizado para negar a
própria palavra de Deus (Êxodo 20:6 e Êxodo 33:19). Assim como aprouve a Deus
salvar os crentes pela loucura da pregação, aprouve a Deus ter misericórdia dos
que O obedecem.
Moisés queria que Deus tivesse
misericórdia dos filhos de Israel e tenta barganhar, ao que Deus responde que
ao que pecar será riscado do livro da vida, pois a misericórdia é para os que
obedecem.
“Agora, pois, perdoa o seu pecado, se
não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito.” (Êxodo 33:32).
Outro trecho das Escrituras que
deturpam é Romanos 9, no qual o apóstolo Paulo evidencia que a eleição não é
para salvação, mas para Deus estabelecer o seu propósito.
Ao evidenciar que nem todas as
pessoas etnicamente de Israel (isto é, aqueles descendentes de Abraão, Isaque e
Jacó), pertencem ao verdadeiro Israel (os eleitos de Deus), o apóstolo Paulo
utiliza a história de Israel para demonstrar que, mesmo Deus escolhendo Isaque
e rejeitando Ismael, escolhendo Jacó e desprezando Esaú, Deus não se agradou da
maioria deles (1 Coríntios 10:5).
Se eram eleitos, por que nem todos os
descendentes de Abraão eram filhos de Abraão? (Romanos 9:7) Quando o apóstolo
destaca que a palavra de Deus não falhou, fica evidente que a eleição dos pais
não confere aos filhos filiação divina.
Por que Deus elegeu Isaque e Jacó?
Para trazer o descendente prometido ao mundo, e não para dar salvação aos
filhos da carne de Abraão. Todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e
por Ele o amém (2 Coríntios 1:20), de modo que, ao ser anunciadas as seguintes
promessa: a) Em Isaque será chamada a sua descendência; b) Por esse tempo
virei, e Sara terá um filho, e; c) O maior servirá o menor, Deus elegeu os pais
em vista do seu propósito estabelecido no Descendente, e por isso a sua palavra
não falhou mesmo a descendência de Abraão não sendo seus filhos.
“Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita,
porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele
injustiça; justo e reto é. Corromperam-se contra ele; não são seus
filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é.” (Deuteronômio 32:4 -5).
Há injustiça da parte de Deus?
Conforme os versos acima, jamais! Mesmo os filhos de Israel sendo eleitos por
causa dos pais, não eram salvos.
“E outra vez neste lugar: Não entrarão
no meu repouso. Visto, pois, que resta que alguns entrem nele, e que aqueles
a quem primeiro foram pregadas as boas novas não entraram por causa da
desobediência, determina outra vez um certo dia, Hoje, dizendo por Davi,
muito tempo depois, como está dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais
os vossos corações. Porque, se Josué lhes houvesse dado repouso, não falaria
depois disso de outro dia.” (Hebreus
4:5 -8).
A escolha soberana de Deus de trazer
do alto o Cristo da linhagem de Abraão, Isaque e Jacó (Romanos 10:6), não pode
ser confundida com a palavra da fé que é anunciada, que é rica para com todos
os que invocam a Cristo como Senhor (Romanos 10:8).
“Porquanto não há diferença entre judeu
e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o
invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo.” (Romanos 10:12 -13).
A doutrina de eleição para a salvação
é uma grande falácia, quer seja a vertente calvinista, quer seja a vertente
arminianista, pois a misericórdia de Deus só é demonstrada aos que obedecem ao
evangelho.
“Mas nem todos têm obedecido ao
evangelho; pois Isaías diz: SENHOR, quem creu na nossa pregação?”(Romanos 10:16).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.