O Sermão da Montanha e o espírito
inatingível da lei
A
expressão ‘os tristes’ bem-aventurados não possui relação com o sentimento de
desilusão frente aos infortúnios da vida e nem decorre das emoções em
ebulição a que todos homens estão sujeitos. Os ‘tristes’ é figura que compõe um
quadro profético, e possui conexão com o advento do Messias, que, segundo o
profeta Isaías, foi ungido para apregoar boas novas nos seguintes termos: a
tristeza substituída por glória, gozo e louvor, com o objetivo de Deus ser
glorificado.
As Bem-aventuranças – Parte I
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não
exceder a dos escribas e dos fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos
céus”
(Mateus 5:20)
Como compreender o Sermão da Montanha? Nele, Jesus apresenta princípios
éticos e morais[1] do
seu reino? O núcleo da mensagem do Sermão da Montanha é de cunho sociocultural?
Além dos mandamentos cunhados na lei mosaica, Jesus apresentou novos
mandamentos?
Antes
de explicarmos algumas nuances pertinentes ao ensino de Cristo à multidão,
primeiro faremos análise de alguns textos, que são essenciais à leitura do
Sermão da Montanha.
Essa análise é imprescindível à leitura do Sermão da Montanha, vez que
trará o conhecimento essencial de algumas peculiaridades pertinentes às
Escrituras, que possibilitam a compreensão do discurso de Jesus à
multidão.
Parábolas
Uma característica intrínseca à mensagem anunciada pelos profetas da
Antiga Aliança era as visões, as parábolas e os enigmas: “Falei aos profetas e multipliquei a visão; e pelo
ministério dos profetas propus símiles” (Os
12:10).
Os profetas anunciavam visões, propunham parábolas ou apresentavam
enigmas, pelo fato de Deus não falar abertamente ao povo. Moisés era exceção à
regra, visto que, nem mesmo os profetas, tinham o privilégio de falar cara a
cara, boca a boca com Deus, a não ser por sonhos: “Boca a boca falo com ele, claramente e não
por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não
tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?”(Nm 12:8).
Nas Escrituras, encontramos alguns profetas que foram taxados pelo povo
de contadores de parábolas, entretanto, os profetas se resignavam em falar
estritamente o que Deus ordenou: “Então
disse eu: Ah! Senhor DEUS! Eles dizem de mim: Não é este um proferidor de
parábolas?” (Ez 20:4); “Filho do homem, propõe um enigma e profere uma
parábola para com a casa de Israel” (Ez
17:2).
Deus falou, muitas vezes, ao povo de Israel, utilizando-se dos seus
mensageiros, e, na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho Unigênito para
anunciar aos homens as boas novas (Hb 1:1-2), porém, algo não mudou: assim como
os profetas da Antiga Aliança, Jesus falou ao povo utilizando parábolas: “E falou-lhe de muitas coisas por parábolas,
dizendo: Eis que o semeador saiu a semear” (Mt
13:3).
Por
que Jesus falava por parábolas? Uma das pistas é o anunciado pelos profetas:
“Por
isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não
ouvem nem compreendem”(Mt 13:13).
Falar à multidão por parábolas é uma das características mais
importantes a se observar nos discursos de Jesus. O evangelista Marcos é
contundente: Jesus só falava ao povo por parábolas! Esta observação do
evangelista nos obriga a analisar com cuidado todos os discursos de Jesus,
principalmente, quando identificamos o público alvo da mensagem: “E sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo
declarava em particular aos seus discípulos” (Mc
4:34).
Se o
discurso de Jesus tem como público a multidão, os escribas ou os fariseus,
provavelmente, haverá uma parábola ou um enigma a ser interpretado.
Se o discurso tem os discípulos como público alvo, faz-se necessário
analisar se Jesus falou abertamente ou expôs uma parábola: “E ele disse-lhes: a vós vos é dado saber os
mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora, todas estas coisas se
dizem por parábolas” (Mc 4:11).
Para
fixar o que foi exposto, faça a seguinte análise: leia o capítulo 13 de Mateus,
analise a mensagem de Jesus e qual era o público alvo. O discurso é uma
parábola? Jesus estava falando com os discípulos, os escribas, os fariseus, os
pecadores, a multidão? Seria possível compreender a mensagem de Jesus, sem a
explicação que foi dada em particular aos discípulos?
O evangelista Mateus, assim como Marcos, deixou registrado que Jesus
nada dizia à multidão, sem fazer uso de parábolas e, em seguida, apresenta o
motivo: “Tudo isto disse Jesus, por parábolas à
multidão e nada lhes falava sem parábolas. Para que se cumprisse o que fora
dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a minha boca; Publicarei
coisas ocultas, desde a fundação do mundo” (Mt
13:34-35); “Abrirei a minha boca numa
parábola; falarei enigmas da antiguidade” (Sl
78:2); “Inclinarei os meus ouvidos a uma
parábola; declararei o meu enigma na harpa”(Sl
49:4).
Através da explicação do evangelista Mateus, conclui-se que o Salmo 78
não se refere ao salmista, antes que o Salmo é uma predição que aponta para o
Messias. O salmista predisse que o Messias abriria a boca propondo parábolas e
enigmas: “Abrirei a minha boca numa parábola;
falarei enigmas da antiguidade” (Sl 78:2 compare
com Mt 13:35).
Atentar para o público alvo da mensagem é de tamanha importância para a
compreensão da mensagem, que até os discípulos questionaram se a mensagem era
para todos, ou só para eles: “E
disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?” (Lc 12:41).
Diante
do que foi exposto, o leitor deve considerar se o que foi dito no Sermão da
Montanha é um discurso ‘aberto’, ou se o discurso é uma grande parábola
composta de enigmas e símiles, tendo em vista o público alvo tratar-se de uma
multidão.
Certa vez, Deus mandou Moisés reunir os filhos de Israel ao pé do Monte
Sinai para quando Deus falasse com Moisés, eles também pudessem ouvir. Quando o
povo viu o monte fumegando, trovões e relâmpagos, se retiram do local onde
deviam ficar reunidos e disseram a Moisés: “Fala
tu conosco e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos” (Ex 20:18-21).
O povo ficou com medo de morrer quando vislumbraram a glória do
Altíssimo, evidenciando o quanto eram rebeldes, incrédulos e descrentes.
Tremenda injustiça não confiar naquele que é imutável e que não mente, ao que
Moisés disse: “Não temais, Deus veio para vos provar,
e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” (Ex 20:20).
Deus
se relaciona com o homem através da sua fidelidade, e o homem pela confiança,
portanto, não pode ter medo de Deus. Deus somente estava colocando eles à
prova, para apresentar a sua palavra (temor) para que não pecassem contra o
Senhor.
O
contexto da lei era para instruir o povo judeu em justiça, mas, dali em diante,
Deus continuou enviando os seus santos profetas que utilizavam parábolas e
enigmas. Jesus veio com o mesmo propósito: revelar Deus aos homens, por isso
utilizou as mesmas figuras e parábolas anunciadas pelos profetas.
As parábolas e os enigmas serviam para facilitar a compreensão, mas os
filhos de Israel rejeitavam a doutrina de Jesus “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a
palavra, segundo o que podiam compreender” (Mc
4:33).
Portanto,
para uma boa interpretação do Sermão da Montanha é imprescindível essa análise
inicial!
Divisões
e títulos
As Bíblias oferecem o recurso de divisões em capítulos e versículos para
facilitar a localização e citação de determinadas passagens, desde o Século
XIII[2].
Embora úteis à localização e indicação de uma citação, não faz parte do
original, portanto, o leitor não pode se pautar nessas divisões e subdivisões
para determinar quando inicia ou encerra um assunto ou argumento.
Hoje,
além das divisões em capítulo e versículo, introduziram títulos e subtítulos
que, invariavelmente, influencia a leitura, ou acaba sugerindo ao leitor uma
mudança de assunto ou desmembramento do discurso.
A
palavra de Jesus no Sermão da Montanha é una e coesa, com começo meio e fim.
Com a introdução de divisões, subdivisões, títulos e subtítulos, a ideia
inicial que se tem é de que se trata de um discurso fragmentado, que aborda
diversos temas, portanto, sem coesão.
A
concepção de que Jesus aborda diversas questões ao longo do Sermão da Montanha
é totalmente perniciosa para uma boa interpretação do discurso.
As
bem-aventuranças
“1 E JESUS, vendo a multidão, subiu a
um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
2 E, abrindo a sua boca, os ensinava,
dizendo:
3 Bem-aventurados os pobres de
espírito, porque deles é o reino dos céus;
4 Bem-aventurados os que choram, porque
eles serão consolados;
5 Bem-aventurados os mansos, porque
eles herdarão a terra;
6 Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque eles serão fartos;
7 Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia;
8 Bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus;
9 Bem-aventurados os pacificadores,
porque eles serão chamados filhos de Deus;
10 Bem-aventurados os que sofrem
perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
11 Bem-aventurados sois vós, quando vos
injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha
causa.
12 Exultai e alegrai-vos, porque é
grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas, que
foram antes de vós” (Mateus 5:1-12).
Após
subir em um monte, por causa da multidão, Jesus assentou-se – ação que
indicou a todos que iria ensinar – quando se aproximaram dele os seus
discípulos (Lc 4:20).
Jesus
iniciou o seu discurso apresentando nove características essenciais aos
bem-aventurados: pobres de espírito, tristes, mansos, famintos e sedentos de
justiça, misericordiosos, puros de coração, pacificadores, perseguidos por
causa da justiça e injuriados (Mt 5:3-11).
Todas
estas características decorrem de parábolas e figuras utilizadas pelos profetas
do Antigo Testamento, portanto, registradas nas Escrituras, ou seja, Jesus não
inventou nenhuma delas.
‘Pobre
de espírito’ é uma figura que remete a uma peculiaridade do bem-aventurado,
assim como triste, manso, faminto e sedento de justiça, etc. É impossível ser
manso e não ser pacificador. As peculiaridades do bem-aventurado são
indissociáveis, pois os pobres de espírito também são identificados como
aqueles que choram, ou que tem sede e fome de justiça, ou por serem puros de
coração, ou por serem mansos, etc.
Considerando
alguns aspectos do ministério de Jesus e o que foi anunciado pelos profetas,
conclui-se que as bem-aventuranças anunciadas não visavam questões de cunho
social. É um equívoco considerar que a bem-aventurança anunciada por Jesus,
visava alcançar os pobres e marginalizados do seu tempo.
Quando
Jesus anunciou as Bem-aventuranças, na verdade estava fazendo referência às
profecias incrustadas nas Escrituras, ou seja, utilizou alguns elementos
principais das profecias, como sujeito da promessa, para fazer o povo lembrar
das promessas que apontavam um tempo de refrigério pela presença do Messias (At
3:19-20).
Como
Deus anunciou a Abraão, que, em sua descendência, seriam benditas todas as
famílias da terra (At 3:25), e essa promessa foi reiterada diversas vezes pelos
profetas, e foram utilizados diversos recursos como figuras, parábolas,
enigmas, símiles, etc., portanto, uma simples referência fez com que o povo se
lembrasse das beatitudes decorrentes da presença do Cristo.
A
abordagem de Cristo no Sermão da Montanha não possui viés socioeconômico ou de
reestruturação política, pois a bem-aventurança anunciada no discurso decorre
da promessa feita a Abraão, que Deus cumpriu quando ressuscitou o Senhor Jesus
Cristo dentre os mortos.
Quem
são os pobres de espírito?
“Porque a minha mão fez todas estas coisas e assim
todas elas foram feitas, diz o SENHOR; mas para esse olharei, para o pobre
e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Is 66:2; Is 57:15).
Segundo o profeta Isaias, o ‘pobre’, o ‘abatido’ ou o ‘humilde’ de
espírito é aquele que obedece (treme) a palavra de Deus. Ao dizer: “Bem-aventurados os pobres de espírito”, Jesus
está anunciado que Deus é favorável (olharei) àqueles que Lhe obedecem (Mt
7:24).
Aquele que obedece (inclina o ouvido) o mando de Deus alcança vida, pois
lhe é concedido por Deus as firmes beneficências prometidas a Davi: o Cristo, o
reino dos céus: “Inclinai os vossos ouvidos e vinde a
mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua,
dando-vos as firmes beneficências de Davi” (Is
55:3; Mt 10:7).
O
que Deus prometeu a Davi? Um descendente! A aliança eterna de Deus com os que
inclinam os ouvidos (atende, obedece) é conceder o Cristo, o Filho de Davi,
poderosa salvação na casa (descendência) de Davi (Lc 1:69).
Através da definição dada pelo profeta Isaias, é possível compreender
quem são os pobres de espírito, quesito essencial para compreender o
símile: “Bem-aventurado os pobres de espírito…”, visto que
Jesus nunca falava abertamente ao povo, somente por parábolas (Mt 13:34).
Através
do profeta Isaias verifica-se que Jesus não está tratando de questões sociais,
políticas ou econômicas. Na verdade, Ele está tratando, tanto com pessoas
ricas, quanto com pessoas pobres, do ponto de vista econômico, tanto com
servos, quanto com reis, do ponto de vista social, tanto sábios, quanto com
ignorantes, do ponto de vista cultural (Sl 49:2), para que reconheçam, através
da mensagem de Cristo, que são miseráveis, necessitados, pobres.
A miserabilidade
socioeconômica não dá ao homem a condição de pobre, abatido ou humilde diante
de Deus. Deus reconhece o homem como pobre, abatido ou humilde, quando o homem
se submete a Ele na condição de servo, ou seja, obediente. É humilde, ou antes,
se humilha aquele que deixa de se guiar pela vaidade dos seus pensamentos e que
se apresenta diante de Deus, na condição de servo, para obedecê-lo.
Neste
ponto, o evangelho não se propõe a sujeitar o homem a Deus, através de ritos,
leis e formas impostos pela religião. O evangelho não se propõe a controlar a
existência do homem em sociedade, quanto ao que comer, beber, vestir, casar,
procriar, comprar, vender, trabalhar, etc., antes, em que o homem creia que
Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, que havia de vir ao mundo.
O
humilde de espírito, no advento da Nova Aliança, é aquele que se sujeita à
seguinte ordenança de Deus:
“E o seu mandamento é este: que
creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo
o seu mandamento” (1Jo 3:23).
Príncipes,
cavalos, cavaleiros, força, violência, braço, etc., são figuras utilizadas
pelos profetas para apontar os soberbos, altivos, ricos, abastados, etc. (Sl
49:13), mas, qualquer que confia no Senhor, é descrito como oprimido, faminto,
pobre, abatido, etc., figuras utilizadas pelos profetas para propor símiles e
compor parábolas (Sl 146).
Não
há ninguém (rico ou pobre, judeu ou gentil) que possa dar o resgate por sua
própria alma ou de outrem (Sl 49:6-8). Todos os homens necessitam da salvação
providenciada por Deus, portanto, todos precisam de reconhecer que são
necessitados. Os judeus, por sua vez, não reconheciam que eram necessitados,
pobres, etc., antes se comportavam como ricos, abastados, etc., pois se
vangloriavam da descendência (somos filhos de Abraão), se vangloriavam da carne
(circuncisão) e se vangloriavam da lei (Moisés).
Quem
obedece a Deus, se posiciona diante d’Ele, na condição de humilde, necessitado
e pobre, portanto, é agradável ao Senhor, como fez o publicano:
“O
publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos
ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18:13); “O SENHOR se agrada dos que o temem e
dos que esperam na sua misericórdia” (Sl
147:11; Mt 9:13).
‘Esperar’ na misericórdia, significa ‘confiar’. Para o homem alcançar a
misericórdia de Deus, basta obedecê-Lo. Quando o homem obedece a Deus,
demonstra, efetivamente, que espera em Deus, ou seja, que confia na sua
palavra, que diz: “E faço misericórdia a milhares dos que
me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êx 20:6).
Quem
são os que choram?
“A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da
vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes. A ordenar acerca dos
tristes de Sião, que se lhes dê glória, em vez de cinza, óleo de gozo, em vez
de tristeza, vestes de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se
chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado” (Is 61:2-3).
Quando
é dito que os tristes são bem-aventurados, os ouvintes de Jesus deveriam
lembrar-se da promessa de alegria registrada pelo profeta Isaias aos tristes!
A
expressão ‘os tristes’ bem-aventurados não possui relação com o sentimento de
desilusão frente aos infortúnios da vida e nem decorre das emoções em
ebulição a que todos homens estão sujeitos.
Os
‘tristes’ é figura que compõe um quadro profético, e possui conexão com o
advento do Messias, que, segundo o profeta Isaías, foi ungido para apregoar
boas novas nos seguintes termos: a tristeza substituída por glória, gozo e
louvor, com o objetivo de Deus ser glorificado.o (Ef 1:12).
O anúncio da bem-aventurança dos que choram indica a chegada do tempo de
refrigério (salvação). A mensagem de boas novas anunciada por Cristo aos pobres
era para possibilitar aos seus ouvintes elementos para que identificassem,
pelas Escrituras, o reino de Deus, em meio aos homens: Cristo. “Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide e
anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos veem, os coxos andam,
os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos
pobres anuncia-se o evangelho” (Lc
7:22).
Ao dizer ‘Bem-aventurados os tristes…’, Jesus estava dando a entender
que a profecia de Isaias naquele dia se cumpriu nos ouvidos dos que ali estavam
e produziria refrigério naqueles que dessem crédito: “Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta
Escritura em vossos ouvidos” (Lc
4:21); “O ESPÍRITO do Senhor DEUS está sobre
mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos pobres; enviou-me a
restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a
abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da
vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes” (Is 61:1-2); “Porque assim diz o Alto e o Sublime,
que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito;
como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57:15).
Os tristes bem-aventurados são os quebrantados, o mesmo que contritos de
espírito “Perto está o SENHOR dos que têm
o coração quebrantado e salva os contritos de espírito” (Sl 34:18; Sl 51:17). O ‘quebrantado’ é aquele que deixa de ser
‘altivo’ e se faz ‘servo’, ou seja, obedece ao mandamento de Deus, que, na nova
aliança, é crer em Cristo: “A
minha alma está quebrantada de desejar os teus juízos em todo o tempo” (Sl 119:20).
Quem são os mansos?
“Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará
o seu caminho” (Sl 25:9; Mt 11:29).
Os mansos são aqueles que se deixam instruir como as crianças e aprendem
de Cristo: o humilde e manso de coração. Os mansos são os humildes de espírito
e vice-versa: “Melhor é ser humilde de espírito com
os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos” (Pv 16:19).
O Senhor convida os ‘meninos’ à instrução (Sl 34:11), não os ‘tolos’,
porque diferente do tolo, a criança se deixa instruir. O mesmo Senhor, em outra
passagem, diz: “Eis-me aqui, com os filhos que me deu
o SENHOR, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do SENHOR dos
Exércitos, que habita no monte de Sião” (Is
8:18); “Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos
ensinarei o temor do SENHOR” (Sl 34:11); “Ainda que repreendas o tolo como quem bate o trigo
com a mão de gral entre grãos pilados, não se apartará dele a sua estultícia” (Pv 27:22); “A estultícia está ligada ao coração da
criança, mas a vara da correção a afugentará dela” (Pv 22:15).
Daí o imperativo: “Em verdade vos digo que,
qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele” (Lc 18:17).
Os mansos são os que obedecem a Deus, ou seja, que põem por obra o seu
mandamento: “Buscai ao SENHOR, vós todos os mansos
da terra, que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a justiça, buscai a
mansidão; pode ser que sejais escondidos no dia da ira do SENHOR” (Sf 2:3).
Quem são os que tem fome e sede de
justiça?
“E será para nós justiça, quando tivermos cuidado
de cumprir todos estes mandamentos perante o SENHOR nosso Deus, como nos tem
ordenado” (Dt 6:25).
Aquele
que se acorrenta a uma árvore defendendo uma causa ecológica? Quem abraça uma
causa social? Que levanta uma bandeira à não beligerância? Não!
Na
verdade, tem fome e sede de justiça aquele que anseia por obedecer ao
mandamento de Deus, pois está escrito: Se cuidar em cumprir o mandamento como
foi ordenado é justiça, ou seja, quem anseia por justiça é aquele que obedece,
tem ‘fome’ e ‘sede’ de cuidar em cumprir como foi ordenado!
Quem tem fome e sede e justiça crê no enviado de Deus, pois este é o seu
mandamento: “Jesus respondeu, e disse-lhes: A
obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6:29); “E o seu mandamento é este: que
creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros,
segundo o seu mandamento” (1Jo 3:23).
É no
evangelho que se descobre a justiça de Deus, e somente nele é possível ao homem
que tem sede e fome de justiça ser saciado!
A fome e a sede são figuras que remetem ao pobre, ao necessitado de
espírito. O órfão, a viúva e o estrangeiro também são figuras que remetem aos
necessitados, aos pobres de espírito, aqueles a quem Deus toma por filhos“Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus, no seu
lugar santo” (Sl 68:5).
Deus
fartará os necessitados, segundo a promessa que foi feita a Davi: o Cristo,
como bem reitera o profeta no Salmo 132:
“O
SENHOR jurou com verdade a Davi e não se apartará dela: Do fruto do teu ventre
porei sobre o teu trono. Se os teus filhos guardarem a minha aliança e os meus
testemunhos, que eu lhes hei de ensinar, também os seus filhos se assentarão
perpetuamente no teu trono. Porque o SENHOR escolheu a Sião; desejou-a para a
sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois
o desejei. Abençoarei abundantemente o seu mantimento; fartarei de pão os seus
necessitados” (Sl 132:11-15).
Quem são os misericordiosos?
“Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus,
o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia, até mil gerações aos que o
amam e guardam os seus mandamentos” (Dt
7:9)
As
pessoas que nutrem um sentimento de dor e de solidariedade em relação a alguém
que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça? Dó? Compaixão? Piedade?
Quando
Saul desobedeceu a Deus e deixou de eliminar Agague, rei dos amalequitas, bem
como, o melhor do interdito, o que foi que Deus disse? Obedecer é melhor do que
sacrificar, ou seja, melhor era exterminar todos os amalequitas que apresentar
a Deus bois e ovelhas! (1Sm 15:22).
Essa passagem bíblica de Saul evidencia que a misericórdia de Deus
decorre da obediência à Sua palavra, e não a um sentimento de solidariedade,
compaixão ou piedade “Todas as veredas do SENHOR são
misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus
testemunhos” (Sl 25:10).
Quando poupou a vida de Agague, Saul não exerceu misericórdia. Ele
estava sendo misericordioso, enquanto estava exterminando os amalequitas,
estava cumprindo o mandamento de Deus, que diz: Misericórdia quero! “Porque eu quero a misericórdia, e não o
sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Os 6:6).
Deus deixa claro a quem a sua misericórdia e amor é direcionado: “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e
aos que guardam os meus mandamentos” (Êx
20:6), ou seja: “Eu amo aos que me amam, e os que cedo
me buscarem, me acharão” (Pv 8:17).
A
misericórdia de Deus é só para os que O obedecem, portanto, os
‘misericordiosos’ bem-aventurados, que alcançam misericórdia, são os que ‘amam’
a Deus, ou seja, que O obedecem.
Deus
já havia instruído Israel, quando disse a Moisés que teria misericórdia de quem
Ele tivesse misericórdia, um trocadilho para evidenciar que Deus tem
misericórdia dos que O obedecem.
Os
que obedecem a Deus são recebidos como filhos, portanto, são nomeados
misericordiosos, assim como o Pai Celeste é misericordioso.
A misericórdia de Deus foi evidenciada a todos os homens, inclusive aos
gentios, na pessoa do seu Filho – Jesus Cristo – entretanto, os desobedientes,
iníquos e pérfidos não estão sob o abrigo da misericórdia de Deus: “Tu, pois, ó SENHOR, Deus dos Exércitos, Deus de
Israel, desperta para visitares todos os gentios; não tenhas misericórdia de
nenhum dos pérfidos que praticam a iniquidade. (Selá.)” (Sl 59:5).
Quem são os limpos de coração?
“Tal é a geração daqueles que o buscam, daqueles
que buscam a tua face, ó Deus de Jacó” (Sl
24:6).
O
Salmo 24 tem resposta para essa pergunta!
Os limpos de coração são aqueles que buscam a face do Senhor, ou seja,
os gerados de novo da semente incorruptível (1Pd 1:23). É através do novo
nascimento que o homem se torna geração do Senhor, portanto, limpo de coração,
tal qual Ele é neste mundo “Nisto
é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança;
porque, qual ele é, somos nós também neste mundo” (1Jo 4:17).
São limpos de coração, porque foram circuncidados pelo Pai celeste!
Através da circuncisão de Cristo o coração de pedra é extraído e Deus concede
um novo coração de carne limpo: “E dar-vos-ei um coração novo e
porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de
pedra e vos darei um coração de carne” (Ez
36:26).
É através da aspersão da água pura, pelo Espírito Eterno, que o homem
alcança um coração novo e limpo, ou seja, o homem nasce de novo da água e do
Espírito, pois Deus diz: “Então aspergirei água pura sobre vós e
ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos
vos purificarei” (Ez 36:25).
Os que creem veem a salvação de Deus, pois Deus se manifestou ao mundo
na pessoa do seu Filho (Jo 1:18), pois Cristo veio revelar o Pai aos
homens: “E pôs um novo cântico na minha boca,
um hino ao nosso Deus; muitos o verão e temerão e confiarão no SENHOR” (Sl 40:3); “Aquele que tem os meus mandamentos e
os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu
o amarei e me manifestarei a ele” (Jo
14:21); “E a glória do SENHOR se manifestará e
toda a carne juntamente a verá, pois a boca do SENHOR o disse” (Is 40:5); “O SENHOR desnudou o seu santo braço,
perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a
salvação do nosso Deus” (Is 52:10).
É através do resplendor do rosto de Cristo – o Senhor que escondeu a sua
face da casa de Israel – que o homem é salvo: “Faze-nos
voltar, ó Deus, e faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos” (Sl 80:3); “Esconderei, pois, totalmente, o meu
rosto naquele dia, por todo o mal que tiver feito, por se haverem tornado a
outros deuses” (Dt 31:18); “E esperarei ao SENHOR, que esconde o seu rosto da
casa de Jacó e a ele aguardarei” (Is
8:17).
Quem são os pacificadores?
“Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos,
então seria a tua paz como o rio e a tua justiça como as ondas do mar!” (Is 48:18).
Qualquer
que dá ouvidos (crédito, obedece) ao mandamento de Deus é pacificador!
Aquele que se deixa instruir pelo Senhor Jesus, que é manso e humilde de
coração, cumpre o mandamento de dar ouvidos ao anunciado por Deus, portanto,
são filhos ensinados do Senhor, e a paz deles é abundante: “E todos os teus filhos serão ensinados do SENHOR;
e a paz de teus filhos será abundante” (Is
54:13); “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as
vossas almas” (Mt 11:29).
O termo grego ειρηνοποιος, traduzido por ‘pacificador’, significa ‘que
ama a paz’, ou seja, que honra, que obedece a paz, e Cristo é a nossa paz (Ef
2:14). Cristo concede filiação divina a todos os que O recebem: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo 1:12);“Aparta-te do mal e faze o bem; procura
a paz e segue-a” (Sl 34:14).
Cristo é o tema da mensagem de paz anunciada pelos ‘pacificadores’: paz
para os que estão longe (gentios) e paz para os que estão perto (judeus): “Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz, para o que
está longe; e para o que está perto, diz o SENHOR, e eu o sararei” (Is 57:19); “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que
antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a
nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação
que estava no meio” (Ef 2:13-14); “Escutarei o que Deus, o SENHOR, falar;
porque falará de paz ao seu povo, e aos santos, para que não voltem à
loucura” (Sl 85:8); “Muita paz tem os que amam a tua lei, e para eles
não há tropeço” (Sl 119:165).
Aqueles que têm fome e sede de justiça são pacificadores, pois Deus
diz: “Até que se derrame sobre nós o
espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil e o campo
fértil será reputado por um bosque. E o juízo habitará no deserto, e a justiça
morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz, e a operação da
justiça, repouso e segurança para sempre” (Is
32:15-17); “SENHOR, tu nos darás a paz,
porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” (Is 26:12).
A quem pertence o reino dos céus?
“E também todos os que piamente querem viver em
Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm
3:12)
O reino dos céus pertence a todos quantos sofrem perseguição, por causa
da justiça, ou seja, do evangelho de Cristo. Todos quantos são injuriados e
perseguidos, ou que, mentindo, disserem em desfavor deles toda sorte de mal,
são bem-aventurados por causa de Cristo: “Mas
também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados” (1Pd 3:14-16).
As bem-aventuras decorrem de Cristo, pois Ele é a justiça de Deus e o
rei estabelecido para reinar em Sião: “Eu,
porém, ungi o meu Rei, sobre o meu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto:
o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2:6-7); “Porque o trono se firmará em
benignidade, e sobre ele, no tabernáculo de Davi, se assentará, em verdade, um
que julgue e busque o juízo e se apresse a fazer justiça” (Is 16:5); “EIS que reinará um rei com justiça e
dominarão os príncipes segundo o juízo” (Is
32:1); “Justiça e juízo são a base do teu
trono; misericórdia e verdade irão adiante do teu rosto” (Sl 89:14; Sl 97:2; Sl 98:2).
Cristo é o louvor e a mão direita (destra) de Deus cheia (plena) de
justiça, o santo braço desnudado perante todos os povos: “Segundo é o teu nome, ó Deus, assim é o teu
louvor, até aos fins da terra; a tua mão direita está cheia de justiça” (Sl 48:10); “Do aumento deste principado e da paz
não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o
fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do SENHOR
dos Exércitos fará isto” (Is 9:7); “Perto está a minha justiça, vem saindo a minha
salvação e os meus braços julgarão os povos; as ilhas me aguardarão e no meu
braço esperarão” (Is 51:5); “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida,
mas justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm
14:17).
Quando
anunciou as beatitudes, Jesus fez uso de algumas figuras utilizadas pelos
profetas da Antiga Aliança, que fazem referência àqueles que obedecem a Deus.
Pobres,
tristes, mansos, famintos e sequiosos de justiça, misericordiosos, limpos de
coração, pacificadores, perseguidos, são figuras que remetem aos obedientes.
As
beatitudes são um anúncio de que as profecias das Escrituras estavam se
cumprindo.
Observe
o que foi profetizado por Isaias:
“E
naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro e dentre a escuridão, dentre
as trevas, os olhos dos cegos as verão. E os mansos terão gozo sobre gozo no
SENHOR; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel.
Porque o tirano é reduzido a nada e se consome o escarnecedor e todos os que se
dão à iniquidade são desarraigados; Os que fazem culpado ao homem por uma
palavra e armam laços ao que repreende na porta e os que sem motivo põem de
parte o justo. Portanto, assim diz o SENHOR, que remiu a Abraão, acerca da casa
de Jacó: Jacó não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua face.
Mas, quando ele vir seus filhos, obra das minhas mãos no meio dele,
santificarão o meu nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó e temerão ao Deus
de Israel. E os errados de espírito virão a ter entendimento e os murmuradores
aprenderão doutrina” (Is 29:18-24).
Jesus Cristo é o Senhor que foi convidado a se assentar à destra da
Majestade nas alturas (Sl 110:1), a quem os filhos de Israel deveriam
santificar o nome, conforme profetizou Isaias e o apóstolo Pedro evidenciou ao
falar da perseguição que sofre os que seguem a Cristo: “Mas também, se padecerdes por amor da justiça,
sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis; Antes,
santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para
responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança
que há em vós” (1Pe 3:14-15); “Não chameis conjuração a tudo quanto este povo
chama conjuração; e não temais o que ele teme, nem tampouco vos assombreis. Ao
SENHOR dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor e seja Ele o
vosso assombro” (Is 8:12-13).
É
impossível alguém ser manso e não ser misericordioso ou ter o coração limpo e
não ser pacificador, pois as beatitudes são características que remetem à
pessoa que ouve a doutrina de Cristo e a pratica (Mt 7:24). Todas essas figuras
se complementam e remetem àqueles que se sujeitam a Deus, como servo, crendo em
Cristo como o enviado de Deus.
Os profetas utilizaram essas figuras para anunciarem a vinda do Cristo,
pois Cristo é a base da nova aliança, perpétua, estabelecida por Deus com os
povos, segundo o que foi prometido a Davi: um Renovo justo, o rebento da raiz
de Jessé, o Descendente, etc., sendo que todos os profetas da Antiga Aliança
foram perseguidos por falarem a seus compatriotas dessa Nova Aliança: “Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi e a
vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as
firmes beneficências de Davi” (Is 55:3; Jr
31:31-34; Hb 8:13).
Os
profetas, ao darem testemunho de Cristo, utilizaram as mesmas figuras que
Cristo empregou, quando anunciou as beatitudes. Os profetas da Antiga Aliança
somente sabiam (porque foi revelado a eles), que o que ministravam não pertencia
a Israel e por isso se questionavam sobre o tempo, ou ocasião de tempo, que se
dariam as maravilhas anunciadas (1Pe 1:10 -12).
Esta
é a essência do Sermão da Montanha:
“E
dizendo: O tempo está cumprido e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e
crede no evangelho” (Mc 1:15).
No Sermão da Montanha, Jesus revela ao povo, através das figuras
utilizadas pelos profetas, que o tempo de refrigério que constava nas
Escrituras foi inaugurado pela presença do reino de Deus em meio aos homens –
Cristo – que anunciava o reino dos céus, um reino que não era desse
mundo: “Ao qual disse: Este é o descanso, dai
descanso ao cansado; e este é o refrigério; porém não quiseram ouvir” (Is 28:12); “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos,
para que sejam apagados os vossos pecados e venham, assim, os tempos do
refrigério pela presença do SENHOR” (At
3:19).
O que aquela multidão esperava? O que foi ensinado pelos escribas e
fariseus: que o reino de Israel seria restaurado com a vinda do Messias! Para
os judeus, profecias como a de Joel: “PORQUE,
eis que naqueles dias e naquele tempo, em que removerei o cativeiro de Judá e
de Jerusalém” (Jo 3:1), se cumpriria com o advento
do Cristo.
Mas, não foi o que ocorreu, pois a restauração prevista nas Escrituras
não era primeiramente nacional, mas sim, para os gentios, para que se cumprisse
a bem-aventurança prometida a Abraão, que diz: “… e em ti serão benditas todas as famílias da
terra” (Gn 12:3); “E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade, Elias
virá primeiro, e todas as coisas restaurará; e, como está escrito do Filho do
homem, que ele deva padecer muito e ser aviltado” (Mc 9:12).
Quando
anunciou que faria casa (descendência) a Davi, Deus anunciou que o Descendente
de Davi edificaria uma casa a Deus e, em seguida, prometeu que estabeleceria o
trono do descendente dado a Davi para sempre.
Como
Deus não habita em casa feita por mãos de homens, o Descendente prometido a
Davi – Cristo – está a edificar a Sua Igreja como templo santo ao Senhor, do
qual todos os que creem se constituem ‘pedras vivas’ edificadas sobre a pedra
angular, para morada de Deus em Espírito.
Somente
após o advento da igreja, quando se dará o encerramento do tempo dos gentios,
que será restaurado o reino prometido a Israel (1Sm 7:13). O povo de Israel
estava tão fixo na promessa de restauração do reino de Israel, que se esqueceu
de que havia uma promessa a Abraão, acerca de todas as famílias da terra.
Quando
Jesus veio, João Batista o precedeu – o Elias – e a restauração implementada
não era de um reino visível, mas, sim, de um reino que não era deste mundo, do
qual todos os que creem em Cristo, não importando a nação, podem ser
participantes.
Mas, como mudar a concepção de um povo que estava fito na
promessa: “À tua semente darei esta terra” (Gn 12:7), e não dava ouvidos à voz de Deus, para que o juramento
feito aos pais fosse confirmado? (Jr 11:4-5). Como mudar a concepção de um povo
que, por circuncidar o prepúcio da carne, mas não deixava Deus circuncidar o
coração, achava que era melhor que as nações vizinhas? (Jr 9:26) Como mudar o
entendimento de um povo que tinha a lei de Moisés chegada à boca, mas longe do
coração? (Jr 12:2; Is 29:13).
A mensagem do Sermão do Monte visa produzir uma mudança de concepção
(metanóia) no povo, por isso, Jesus não deu testemunho abertamente de Si mesmo,
dizendo: “Eu sou o Cristo”, antes, teve que anunciar por
parábolas e símiles o testemunho que Deus deu acerca do Filho do homem. Os
filhos de Israel deveriam comparar a doutrina de Cristo com as Escrituras e
reconhecer que Jesus era o enviado de Deus, por conseguinte, reconhecendo
Cristo como o Filho de Davi, estariam crendo no testemunho de Deus “Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina
não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele,
pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim
mesmo” (Jo 7:16-17).
Enquanto o povo aguardava o reino messiânico, Jesus – o Renovo Justo
prometido a Davi – se apresenta como a justiça, pela qual os seus seguidores
seriam perseguidos e injuriados: “Eis
que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo
rei, reinará e agirá sabiamente e praticará o juízo e a justiça na terra. Nos
seus dias Judá será salvo e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com
o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA” (Jr
23:5-6).
Nas entrelinhas, Jesus se revela como a justiça, que dá direito ao reino
dos céus, e qualquer perseguido por causa d’Ele seria recompensado: “Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem
grande e avultado galardão” (Hb
10:35), mas, a multidão pensava, equivocadamente, que o reino estava na
iminência de se manifestar, quando Jesus chegou próximo de Jerusalém. Por causa
da cegueira espiritual, não perceberam que o reino de Deus já estava
manifesto: “E, ouvindo eles estas coisas, ele
prosseguiu e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e
cuidavam que logo se havia de manifestar o reino de Deus” (Lc 19:11).
A causa de Cristo é a causa da justiça e todos que seguirem a Cristo
serão perseguidos e injuriados, do mesmo modo que os profetas foram
perseguidos: “E neste teu esplendor cavalga
prosperamente, por causa da verdade, da mansidão e da justiça; e a tua destra
te ensinará coisas terríveis” [assombrosas] (Sl
45:4).
As similitudes
“13
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para
nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.
14
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um
monte;
15
Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador e dá
luz a todos os que estão na casa.
16
Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:13-16).
A
leitura que se faz das similitudes deve ser extensão das beatitudes, portanto, o entendimento de que as ‘figuras’ (sal, luz) aplicadas aos
discípulos não decorrem das bem-aventuranças, como se o discurso de Jesus fosse
estruturado em divisões e subdivisões, como se não fosse coeso e uno, não é uma
boa leitura.
Na
verdade, as características enumeradas nos versos 3 ao 9: pobre, triste, manso,
faminto e sedento por justiça, misericordioso, puro, pacífico, definem os
seguidores da doutrina de Cristo, ou seja, aqueles que serão perseguidos e
injuriados por causa de Cristo, mas que serão recompensados entrando no reino
dos céus.
Vale destacar que Abel foi perseguido por Caim; Isaque foi perseguido
por Ismael; Jacó foi perseguido por Esaú, etc., eventos que servem de alegoria,
pois com os seguidores de Cristo não é diferente, serão perseguidos por serem
filhos da promessa: “Dei-lhes a tua palavra e o mundo os
odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo” (Jo 17:14; Gl 4:29).
As
características pertinentes aos bem-aventurados descrevem os obedientes, os
humildes, os servos, portanto, a obediência a Cristo é o que torna os seus
seguidores ‘sal da terra’ e ‘luz do mundo’.
Na lei, estava estabelecido que todas as vezes que fossem ofertados
alimentos a Deus, que a oferta deveria ser temperada com sal: “E todas as tuas ofertas dos
teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua
oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas
oferecerás sal” (Lv 2:13).
As ofertas de alimentos eram voluntárias, pois Deus nunca requereu
holocaustos e sacrifícios dos filhos de Israel, porém, quando, voluntariamente,
fossem oferecer algo a Deus, o sal era obrigatório. A oferta
era voluntária, mas o sal era obrigatório! Por que? Porque
é a obediência que torna o ofertante agradável e aceito por Deus,
consequentemente, a oferta será aceita (Gn 4:4-5).
Acrescer sal à oferta demandava obediência por parte do ofertante, uma
ordenança para que os filhos de Israel entendessem que Deus quer a obediência,
mais que o sacrifício, assim como o fato de os filhos de Israel permaneceram 40
anos no deserto, sendo guiados por Deus, para que entendessem que o homem vive
pela palavra de Deus “Assim diz o SENHOR dos
Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos
sacrifícios e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os
tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou
sacrifícios” (Jr 7:21 -22); “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o
SENHOR teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e te
provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus
mandamentos, ou não. E te humilhou, te deixou ter fome e te sustentou com
o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a
entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do
SENHOR viverá o homem” (Dt 8:2-3; Sl 50:9; Mq 6:6-7).
Vale destacar que Deus se agrada da obediência, pois obedecer é melhor
que o sacrifício “Porém, Samuel disse: Tem porventura o
SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à
palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender
melhor é do que a gordura de carneiros” (1Sm
15:22).
A
ordenança acerca do sal demonstra que a obediência é superior ao sacrifício,
pois a aliança é selada pela obediência e o homem aceito por Deus, porém,
através do sacrifício ninguém é aceito por Deus.
O
profeta Miquéias ilustra essa questão:
“Com
o que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei diante do Deus altíssimo?
Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano?
Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de
azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre
pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que
o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a benignidade e andes
humildemente com o teu Deus?” (Mq 6:6-8).
A determinação para acrescer sal ao alimento ofertado remetia o
ofertante a não se esquecer de, diligentemente, guardar a aliança. Toda ação
voluntariosa em apresentar a Deus oferta, holocausto, sacrifício, etc., no
momento de adicionar sal, o ofertante estava sendo instruído sobre o que Deus
realmente requer do homem: obediência: “Agora,
pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança,
então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a
terra é minha” (Êx 19:5); “Disse, mais, o SENHOR a Moisés: Escreve estas
palavras; porque conforme ao teor destas palavras tenho feito aliança contigo e
com Israel” (Êx 34:27).
Assim
como o sal era imprescindível à oferta de alimentos, a obediência é
imprescindível ao homem, para estar sob a proteção da aliança. O que preserva o
homem é a aliança estabelecida por Deus e não uma oferta, mesmo que temperada
com sal.
O
‘sal’ que o ofertante não deveria deixar faltar ao sacrifício era a obediência
à aliança estabelecida por Deus, o que refletiria no ato ímpar de não se
esquecer de acrescentar sal à oferta.
Exemplo vivo de obediência encontramos nos patriarcas, pois foi a
aliança de Deus que preservou Noé durante o dilúvio (Gn 6:18), que, sendo
justo, sujeitou-se à ordem de Deus para construir uma arca e se abrigar nela.
Quando entrou na arca que construíra sob ordem de Deus, Noé honrou a aliança, o
que demonstra a sua plena confiança em Deus: “Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel: Na verdade,
tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim,
perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos
que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados” (1Sm 2:30).
De
nada serviria o trabalho árduo de construir a arca e aguentar a oposição dos
pecadores, se no momento em que Deus ordenasse a Noé entrar na arca, ele
deixasse de entrar sob o argumento de que Deus era poderoso para preservá-lo,
mesmo fora da arca.
Deus
ordenou a Abraão que saísse de sua parentela, sob a promessa de que seria
grandemente recompensado. Abraão obedeceu ao Senhor (Gn 12:4) e Deus firmou uma
aliança com juramento (Gn 26:4-5). Abraão foi escolhido para ordenar os seus
filhos e a sua casa para obedecerem a Deus, pois só quando o homem honra a Deus
como Senhor e Pai é que se alcança a bênção de Deus, contida na promessa (Gn
18:19).
Já os filhos de Israel desprezaram a aliança e foram
levados cativos, ou seja, não foram ‘preservados’, porque não
permaneceram sob a aliança (Ex 6:4: Jz 2:20-22; Sl 78:10; Jr 11:8; Jr 31:32).
O sacrifício do qual Deus se agrada, é um espírito quebrantado, ou seja,
um coração contrito, obediente à palavra de Deus, portanto, o ofertante não
poderia esquecer o sal da aliança, ou seja, de obedecer: “E todas as tuas ofertas dos teus alimentos
temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da
aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal” (Lv 2:13).
Quando foi dito: “Vós sois o sal da terra…”, Jesus
estava apontando para os seus discípulos e dizendo: “Vocês são os que obedecem
a Deus na terra”! “Vocês ouviram as minhas palavras e as praticam”! (Mt 7:24)
Quando foi dito: “e se o sal for insípido, com que se há
de salgar?”, temos uma breve alusão aos desobedientes – à nação de
Israel. Como não obedeceu à aliança, a nação de Israel foi rejeitada e lançada
fora, uma alusão à dispersão de Israel, quando perdeu a proteção de Deus e
passou a ser governada pelos gentios: “E
persegui-los-ei com a espada, com a fome e com a peste; e dá-los-ei para
deslocarem-se por todos os reinos da terra, para serem uma maldição, um
espanto, um assobio e um opróbrio entre todas as nações para onde os tiver
lançado” (Jr 29:18; Hb 4:6 e 11;1Pd 2:8).
Com relação aos sacerdotes, por estatuto Deus deu todas as ofertas dos
filhos de Israel a eles, visto que não possuíam possessão de terra e nem
herdade, a não ser o próprio Deus (Nm 17:20). Essa aliança estabelecida com os
sacerdotes foi chamada de ‘aliança perpétua de sal’, ou seja, que Deus havia
dado as coisas santas ofertadas pelos filhos de Israel para preservá-los: “Todas as ofertas alçadas das coisas santas, que os
filhos de Israel oferecerem ao SENHOR, tenho dado a ti e a teus filhos e a tuas
filhas contigo, por estatuto perpétuo; aliança perpétua de sal perante o SENHOR
é, para ti e para a tua descendência contigo” (Nm 18:19).
Pelas
Escrituras, verifica-se que as alianças que Deus fez com os homen, tinham o
fito de preservá-los, dando mandamentos para que observassem cuidadosamente.
Mas, o cuidado de Deus somente é efetivo sobre a vida dos homens que são
obedientes, de modo que, através da obediência, o homem fica sob a aliança.
Deus disse: “Eu amo aos que me amam, e os que cedo
me buscarem, me acharão” (Pv 8:17), e também: “…porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal
coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão
desprezados” (1Sm 2:30), pois aquele que cumpre o
mandamento de Deus – que na Nova Aliança é crer que Jesus é o Filho de Deus –
em si mesmo tem sal, como foi dito: “Bom
é o sal; mas, se o sal se tornar insípido, com que o temperareis? Tende sal em
vós mesmos e paz uns com os outros” (Mc
9:50).
Na palavra de Deus está expresso o cuidado de Deus pelo homem e em
obedecê-la, o homem se coloca debaixo da proteção de Deus. O sal representa tanto o cuidado de Deus quanto o dever de
obediência, pois onde há mandamento tem que haver obediência.
O cuidado de Deus pela humanidade foi manifesto em Cristo e todo o que
crê será salvo. Os apóstolos testemunharam a vinda do Filho de Deus ao mundo e
eles testificaram acerca dessa verdade, de sorte que qualquer que também
confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus: “Vimos e testificamos que o Pai enviou seu Filho
para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus,
Deus está nele e ele em Deus” (1Jo
4:14 -15).
Quem crê em Cristo, deve militar pelo evangelho, pois no evangelho se
descobre a justiça de Deus – Cristo – ou seja, aquele que crê e anuncia ao
mundo o evangelho de Cristo é sal da terra. Se o crente não desempenha a sua função de levar
Cristo ao mundo, torna-se insípido e será lançado fora, assim como o sal,
quando perde a sua propriedade: “Toda
a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para
que dê mais fruto” (Jo 15:2; Lc 14:34-35).
A perseguição por causa do evangelho de Cristo, revela aqueles que são o
sal do mundo e a luz do mundo. A perseguição por causa do evangelho vem somente
sobre aqueles que levam a preciosa semente incorruptível: “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que
anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir
a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52:7).
Os pacificadores são filhos de Deus e, como filhos da Luz, são luz no
Senhor, portanto, luz do mundo: “Enquanto
tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse
Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles” (Jo
12:36); “Porque, noutro tempo, éreis trevas,
mas agora sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz” (Ef 5:8).
Assim
como o sal tem a sua serventia, a luz também. Assim como é impossível esconder
uma cidade quando edificada sobre um monte, também é impossível deixar um
crente em Cristo camuflado aos olhos do mundo.
Da mesma forma que uma lamparina (candeia) não é colocada debaixo do
alqueire (pote, vaso, vasilhame) ou debaixo da cama, mas no velador, assim é
com os seguidores de Cristo: são luz que alumiam no mundo que está em densas
trevas: “LEVANTA-TE, resplandece, porque
vem a tua luz e a glória do SENHOR vai nascendo sobre ti; Porque eis que as
trevas cobriram a terra e a escuridão os povos; mas sobre ti, o SENHOR virá
surgindo e a sua glória se verá sobre ti. E os gentios caminharão à tua luz e
os reis ao resplendor que te nasceu” (Is
60:1-3); “O povo que andava em trevas, viu
uma grande luz e sobre os que habitavam na região da sombra da morte
resplandeceu a luz” (Is 9:2).
Todos os que creem em Cristo são feitos filhos da luz e, por
conseguinte, despenseiros de Deus (1Co 4:1-2; 1Pe 4:10), portanto, quando abrem
a boca para anunciar o evangelho, faz com que a sua luz brilhe diante dos
homens: “E se abrires a tua alma ao faminto e
fartares a alma aflita; então, a tua luz nascerá nas trevas e a tua escuridão
será como o meio-dia” (Is 58:10); “Atendei-me, povo meu e nação minha, inclinai os
ouvidos para mim; porque de mim sairá a lei e o meu juízo farei repousar para a
luz dos povos” (Is 51:4).
A boa obra que Jesus ordena ao cristão, para que deixe os homens verem, não se refere ao comportamento do cristão – embora
um despenseiro da glória de Deus deva ter um bom comportamento diante dos
homens – mas, sim, manifestar ao mundo a boa nova que o Senhor realizou ao
manifestar Cristo ao mundo: “O
SENHOR trouxe a nossa justiça à luz; vinde e contemos em Sião a obra do SENHOR,
nosso Deus” (Jr 51:10); “SENHOR, tu nos darás a paz, porque tu és o que
fizeste em nós todas as nossas obras” (Is
26:12).
O bom porte do crente não se refere ao bom perfume de Cristo, que é o mesmo
que a boa obra, que se refere ao que Deus realizou: “Jesus respondeu e disse-lhes: A obra de Deus é
esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo
6:29); “E graças a Deus, que sempre nos faz
triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do
seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se
salvam e nos que se perdem” (2Co
2:14-15).
É Deus que deu Cristo – a paz – portanto, Ele realizou no crente todas
as obras, de modo que, a obra que o mundo vê no crente refere-se ao testemunho
que Deus deu acerca do seu Filho Jesus Cristo. Só é luz do mundo aquele que
fala segundo a palavra de Deus, ou seja, aquele que anuncia as virtudes daquele
que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo
esta palavra, é porque não há luz neles”(Is
8:20).
A leitura do verso: “Assim,
resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras
e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt
5:16), demanda uma compreensão da linguagem judaica, pois ‘obra’ refere-se ao resultado do cumprimento de um mandamento, de
modo que crer em Cristo é uma obra.
Jesus mesmo disse: “A obra de Deus é esta: Que creiais
naquele que ele enviou” (Jo 6:29). Qualquer que atenta
para o evangelho, a lei perfeita da liberdade, e persevera, ou seja, crê que
Jesus é o Filho de Deus, é bem-aventurado, pois executou a obra: “Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita
da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da
obra, este tal será bem-aventurado no seu feito” (Tg
1:25).
A obra está ligada às palavras que os homens proferem: “Por isso, se eu for, trarei à memória as
obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas” (3 Jo 1:10). Portanto, a boa obra que os homens devem ver naqueles que
são luz é o anúncio desta verdade:
“Porque
Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que
o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já
está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a
condenação é esta: Que a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do
que a luz, porque as suas obras eram más. Porque, todo aquele que faz o mal
odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam
manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo
3:17:21).
[1] “Todos
iam a Ele para ouvir sobre o Reino; Jesus, em vez disso, falava sobre o estilo
de vida daqueles que queriam viver no Reino. 0 Sermão do Monte contém a
essência do ensinamento moral e ético de Jesus” O novo comentário bíblico NT, com recursos adicionais — A Palavra
de Deus ao alcance de todos. Editores: Earl Radmacher, Ronald B. Allen e
H.Wayne House, Editora Central Gospel, Rio de Janeiro: 2010, Pág. 27.
[2] Os judeus utilizavam as letras PE e SAMECH para apontar os
parágrafos há muito tempo. Já na era cristã, primeiro foi introduzida uma
divisão por capítulos pelo Arcebispo Estêvão Langton e outra pelo Cardeal Hugo
de Sancto Caro, ambas realizadas no século XIII, porém, a divisão do Arcebisbo
Langton, realizada em 1205 acabou prevalecendo. Somente 300 anos mais trade foi
introduzida a divisão em versículos pelo italiano Santi Pagnini (1470-1541), e
em 1551, Roberto Estienne propôs uma divisão diferente que acabou prevalecendo,
sendo aplicada na sua edição grega do Novo Testamento e depois na versão em
francês de 1553, e é utilizada até hoje.
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