NÃO
RETRIBUA PELOS PADRÕES HUMANOS -
(Mt 5.38-48: 38 Ouvistes que foi dito: Olho por
olho, e dente por dente.
39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se
qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; 40 E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te
a túnica, larga-lhe também a capa; 41 E, se
qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
42 Dá a quem te pedir, e não te
desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
43 Ouvistes que foi dito: Amarás o
teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
44 Eu, porém, vos digo: Amai a
vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso
Pai que está nos céus; 45 Porque faz
que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e
injustos.
46 Pois, se amardes os que vos
amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
47 E, se saudardes unicamente os
vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
48 Sede vós pois perfeitos, como é
perfeito o vosso Pai que está nos céus.)
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos as definições
das palavras “retribuir” e “retaliar”; pontuaremos o que a Bíblia diz sobre o
sentimento de
vingança; abordaremos a
postura do autêntico cristão em relação aos seus ofensores; estudaremos sobre
como vencer o mal recebido
através do perdão; e por
fim, trataremos como superar o mal recebido através do amor.
I - O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE O
SENTIMENTO DE VINGANÇA
Segundo o dicionário Houaiss (2001, p. 2448)
retribuir é:
“pagar o feito; responder de
maneira similar; corresponder; darem troca; ato ou efeito de devolver,
contraprestação; dar como retorno”.
Já a definição do termo retaliar
é:
“aplicação da pena de Talião;
infligir castigo análogo ao recebido; desagravo; desforra; revide com dano
igual ao sofrido; represália; vingança; retalhar”
(Idem, 2001, p. 2444).
1.1 A Bíblia proíbe
terminantemente a vingança pessoal
(Lv 19.18: 18 Não
te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.
Pv 20.22: 22 Não
digas: Vingar-me-ei do mal; espera pelo Senhor, e ele te livrará.
Pv 24.29: 29 Não
digas: Como ele me fez a mim, assim o farei eu a ele; pagarei a cada um segundo
a sua obra.).
Todos nós possuímos um senso
particular de justiça, e tal juízo costuma requerer, de imediato, a reparação
de uma ofensa feita contra nós e “pagar na
mesma moeda”, pois esta é a
reação natural do ser
humano.
Costumamos revidar com o mal
quando somos injuriados, caluniados ou de alguma forma prejudicados por alguém
o famoso ditado
“pagar o mal com o mal”.
Não há na Bíblia qualquer
incentivo à vingança pessoal.
1.2 A Bíblia nos diz que a
vingança pertence a Deus
(Rm 12.19: 19 Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai
lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o
Senhor.).
De maneira natural quando o homem
é ofendido, a sua primeira
reação é desejar a
vingança
(Pv 24.29: 24 O
que disser ao ímpio: Justo és, os povos o amaldiçoarão, as nações o detestarão.).
A declaração “amai os vossos inimigos” significa que os seguidores de Cristo devem demonstrar amor
mesmo para com aqueles de quem não recebem nenhum afeto; ou melhor, aqueles que
são declaradamente seus opositores
(Mt 5.38-48;
Mt 7.1,2,12;
Lc 6.27;38;
Rm 12.20).
Jesus ensina a que o cristão não
revida o mal de acordo com a lei de Talião
“olho por olho, dente por
dente”,
pois ele não se deixa dominar pela vingança
(Mt 5.38).
Assim compreendemos que a
vingança pertence ao Senhor, não a nós (Dt 32.35,36;
Rm 12.19;
Hb 10.30).
II - A POSTURA DO AUTÊNTICO
CRISTÃO EM RELAÇÃO AOS SEUS OFENSORES
Algumas passagens do AT já
traziam ensinamento sobre “amar aos
inimigos”
(Êx 23.4-5;
Lv 19.17-18;
Pv 25.21-22;
Jr 15.15).
Também no NT esta orientação
permanece
(Mt 5.44;
Lc 6.27,35).
Vejamos:
2.1 Aborrecer o mal e apegar-se
ao bem: “Aborrecei o mal e apegai-vos ao
bem”
(Rm 12.9).
Aborrecer o mal é negar tudo que possa
prejudicar a outrem mesmo esse “outro” sendo nosso inimigo e querendo nos
prejudicar:
“amai os vossos inimigos”
(Mt 5.44).
Precisamos servir ao Senhor Jesus
tendo uma atitude de perdão aos inimigos pela retribuição do mal com o bem:
“A ninguém torneis mal por
mal...”
(Rm 12.17),
e por viver em paz com todos
(Hb 12.14).
2.2 Abençoar os que vos
perseguem:
“Abençoai os que vos perseguem”
(Rm 12.14).
Paulo no presente versículo
orienta os servos do Senhor a abençoar aqueles que lhe fizeram agravo.
Todavia, a orientação é abençoar
até mesmo aqueles que nos querem o mal:
“Bendizei o que vos maldizem”
(Mt 5.44b).
Jesus nos ensinou a:
“Orai pelos que vos maltratam”
(Mt 5.44d)
2.3 Retribuir o bem pelo mal:
“A ninguém torneis o mal com o
mal”
(Rm 12.17).
A Bíblia ensina que devemos
sofrer o dano sem retribuir o agravo
(1 Ts 5.15;
1 Co 6.7;
1 Pd 3.9)
e também “dar a outra face”
(Mt 5.39;
Lc 6.29),
ou seja, não retribuirmos as
afrontas ou os males que sofremos
(Jr 18.20;
Mt 5.39).
Pagar o mal com o mal, devolver a
agressão na mesma moeda, não expressam a graça de Deus
(Mt 5.46,47).
“Pagar o bem com o mal é demoníaco. Pagar o
mal com o mal é retribuição humana. Pagar o mal com o bem é graça divina”
(Pv 20.22;
Pv 17.13;
Is 50.6;
Lm 3.30).
2.4 Ter paz se possível com
todos:
“Se for possível, quando estiver
em vós, tendes paz com todos os homens”
(Rm 12.18).
Neste presente versículo vemos
que a paz é imperativa, ou seja, a Escritura ordena que no que depender de nós
devemos ter paz com todos.
Fomos conclamados a seguir
a paz e, na medida do possível, ter paz com todos os homens
(Sl 34.14;
Mt 5.9;
Rm 12.18;
1 Co 7.15;
Hb 12.14;
1 Pe 3.11).
Jesus nos ensinou que devemos
fazer o bem àqueles que nos ofendem.
2.5 Deixar a vingança com Deus:
“Não vos vingueis a vós mesmos
amados, mas dai lugar à ira”
(Rm 12.19).
A vingança pertence a Deus, por
isso, devemos deixar com Deus a vingança para com aqueles que nos maltratam:
“Não procurem vingança, nem
guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a
si mesmo. Eu sou o Senhor”
(Lv 19.18).
Somos frágeis e incapazes de
fazer vingança com justiça.
A expressão “daí lugar à ira” não
deve ser entendida como o dar razão à manifestação da ira, mas sim com o
sentido de dar tempo à ira para que ela se extinga, isto é, deixá-la passar.
Também tem o sentido de “dar
lugar à ira de Deus”, à vingança divina, uma vez que a ‘vingança pertence a
Deus.
2.6 Fazer o bem aos que nos
odeiam:
“Se o teu inimigo tiver fome,
dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber”
(Rm 12.20).
Devemos amar os nossos inimigos e
orar pelos nossos perseguidores (Pv 25.21),
ele não estava nos pedindo algo
impossível de ser feito:
“Fazei bem aos que vos odeiam”
(Mt 5.44c).
O próprio Senhor Jesus é o nosso
maior exemplo de amor aos inimigos.
Ele nos amou primeiro, antes que
nós pudéssemos amá-lo de volta
(1 Jo 4.19).
Ele morreu por nós quando ainda
éramos pecadores, quando
ainda éramos inimigos de
Deus
(Rm 5.8-10;
Ef 2.1-8).
Sigamos o exemplo de Jesus, que é
o príncipe da paz
(Is 9.6).
Mesmo na noite em que foi preso
injustamente, Jesus mostrou amor por seus inimigos
(1 Pd 2.21,23).
2.7 Vencer o mal com o bem:
“Não te deixes vencer do mal, mas
vence o mal com o bem”
(Rm 12.21).
Paulo se referi ao mal quatorze
vezes.
Em Atos 16.28
Paulo fala desse mal como um dano
irreparável que uma pessoa pode causar a si mesma.
Aqui esse mal aparece como uma
força oposta ao bem, que procura impedir o viver cristão vitorioso.
A recomendação bíblica é vencer o
mal com o bem
(Mt 5.45,46).
III - VENCENDO O MAL RECEBIDO
ATRAVÉS DO PERDÃO
O verbo “perdoar” significa:
“renunciar a punir; desculpar;
poupar; ver com bons olhos”
(HOUAISS, 2001 p. 2185).
3.1 Vencendo a mágoa através do
perdão sem limites
(Mt 18.21,22).
A resposta de Jesus a pergunta de
Pedro quantas vezes se devia perdoar o irmão ofensor com a sugestão de “até sete”
(Mt 18.21-c),
teve como resposta do Mestre “até setenta vezes sete”
(Mt 18.22),
o que significa dizer: de forma
ilimitada. Assim como Deus amou o mundo de maneira ilimitada
(Jo 3.16),
devemos reproduzir este amor nos
nossos relacionamentos
(1 Jo 3.16).
3.2 Vencendo a mágoa através do
perdão concedido
(Mt 6.12).
Jesus ensinou que não podemos
negar o perdão aquele que
arrependido nos rogar,
tendo como base o caráter generoso do próprio Deus, que sempre nos perdoa
quando sinceramente lhe pedimos.
A Bíblia diz que Deus “está pronto a perdoar”
(Sl 86.5);
e, que é “grandioso em perdoar”
(Is 55.7).
Portanto, quando perdoamos nos assemelhamos
a Deus
(Lc 6.36;
Ef 4.32
Cl 2.13;
1Jo 1.9;
1 Jo 2.12).
3.3 Vencendo a mágoa
através do perdão verdadeiro
(Mt 18.35).
Perdoar é mais que palavras
(1 Jo 3.18).
Jesus ensinou que é preciso que o
perdão brote do coração do íntimo do nosso ser
(Mt 18.35-b).
Não podemos guardar ira no
coração
(Ef 4.26;
Tg 3.14),
nem permitir que brote raiz de
amargura
(Ef 4.31;
Hb 12.15).
O perdão é:
(a) uma condição da comunhão Deus
(Mt 6.12,14-15);
(b) ele revela se somos autênticos cristãos
(Mt 3.8; 7.20); e,
(c) ele é condição para Deus receber a nossa oferta
(Mt 5.23,24).
IV - VENCENDOO MAL RECEBIDO
ATRAVÉS DO AMOR
Quando estamos em Cristo, a paz
supera qualquer ressentimento e rancor, e não se enfraquece quando não é
correspondida e
busca sempre suprir as
deficiências humanas nos relacionamentos (Mc 9.50;
Rm 12.9-21;
1Ts 5.12,13).
4.1 Vencendo a mágoa
através do amor sincero: “o amor não seja fingido”
(Rm 12.9).
O amor como fruto do Espírito tem
como marca a sinceridade “sem
fingimento ou hipocrisia”
(2Co 6.6);
não deve possuir máscara, o amor
não deve ser teatral, antes deve ser
autêntico, genuíno:
“Meus filhinhos, não amemos de
palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”
(1 Jo 3.18).
O crente deve ser sincero, e não
um ator na vida. Seu amor precisa ser autêntico, genuíno, sem fraude.
4.2 Vencendo a mágoa através do
amor fraternal: “Amai-vos cordialmente...
com amor fraternal”
(Rm 12.10).
Paulo usa neste versículo duas
palavras gregas para amor respectivamente:
“philadelphia” e “philostorgos”
a primeira descreve o amor
fraternal, ou seja, o amor de irmãos; a segunda descreve a afeição natural
pelos nossos familiares.
4.3 Vencendo a mágoa através do
amor benigno: “O amor é... benigno”
(1 Co 13.4).
A palavra “benigno” dá a ideia de
reagir com bondade aos que nos maltratam e ser doce para com todos. Ser benigno
do grego “chrestotes” é ter um tipo de bondade e de cortesia
que vem do coração e que
representa a contrapartida ativa da paciência.
(BEACON, 2006, p. 345).
4.4 Vencendo a mágoa através do
amor paciente:
“O amor... tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporte” (1 Co
13.7).
A palavra grega “makrothumia” é
paciência esticada ao máximo. O amor tem a capacidade de andar a segunda milha;
quando alguém o fere, ele dá a outra face; ele não paga ultraje com ultraje
(Mt 5.40-43;
Ef 4.2;
1 Pd 2.23).
CONCLUSÃO
Quando se recebe uma ofensa, a
reação natural é devolvê-la com outra.
Entretanto, o Senhor Jesus nos
convida a agir de uma
maneira mais elevada,
pondo em prática a instrução divina de acordo com o Sermão do Monte.
Nesse sentido, retribuir o mal
com o bem é uma ação que vem do Céu.
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