Usos e Costumes
Defendidos Pelas Assembléias de Deus no Brasil
Definindo os Termos
Princípio
“Ato de principiar”. Causa primeira. Origem. Razão
fundamental. Elemento que predomina na constituição de um corpo organizado.
Ex.: Princípio da vida. Convicção. (Grande Dicionário Ilustrado – Novo Brasil.
Ed. 1979).
“Começo. Causa, Origem. Razão fundamental. Base.
Preceito. Regra”. (Dicionário Álvaro Magalhães – E. Globo).
Princípios são bases estabelecidas por Deus para
orientação da sociedade humana, que estabelecem parâmetros, dentro dos quais o
homem é aceito e se relaciona com o Criador.
“Regras fundamentais e gerais de qualquer ciência
ou arte. Ex.: Princípios fundamentais das Ciências, da Física, da Química, da
Matemática, da Filosofia, …da Religião”.
Tradição
É a transmissão de ensinos, práticas, crenças de
uma cultura de uma geração a outra. A palavra grega para tradição é paradosis,
usada no sentido negativo (Mt 15.2; Gl 1.14); e também no sentido positivo (2
Ts 2.15). Quando se coloca a tradição acima da Bíblia ou em pé de igualdade com
ela a tradição assume uma conotação negativa. Muitas vezes é usada simplesmente
para camuflar nossos pecados. O problema dos fariseus e da atual Igreja
Católica é justamente por receber a tradição como Palavra de Deus. Disse
alguém: “Tradição é a fé viva dos que agora estão mortos, e tradicionalismo é a
fé morta dos que agora estão vivos”.
Quando afirmamos que temos as nossas tradições, não
estamos com isso dizendo que os nossos usos e costumes tenham a mesma
autoridade da Palavra de Deus, mas que são bons costumes que devem ser
respeitados por questão de identidade de nossa igreja. Temos quase 90 anos,
somos um povo que tem história, identidade definida, e acima de tudo, nossos
costumes sãos saudáveis. Deus nos trouxe até aqui da maneira que nós somos e
assim, cremos, que sem dúvida alguma ele nos levará até ao fim.
A Resolução
“E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou
santo, e separei-vos dos povos, para serdes meus”, Lv 20.26.
” – A 22ª Convenção Geral das Assembléias de Deus
no Brasil, reunida na cidade de Santo André, Estado de São Paulo, reafirma o
seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios estabelecidos como doutrina
na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes desde o
início desta Obra no Brasil. Imbuída sempre dos mais altos propósitos, ela, a
Convenção Geral, deliberou pela votação unânime e dos delegados das igrejas da
mesma fé e ordem, em nosso país, que as mesmas igrejas se abstenham do
seguinte:
1.
Uso de cabelos
crescidos, pelos membros do sexo masculino;
2.
Uso de traje
masculino, por parte dos membros ou congregados, do sexo feminino;
3.
Uso de pinturas nos
olhos, unhas e outros órgãos da face;
4.
Corte de cabelos,
por parte das irmãs (membros ou congregados);
5.
Sobrancelhas
alteradas;
6.
Uso de mini-saias e
outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã;
7.
Uso de aparelho de
televisão – convindo abster-se, tendo em vista a má qualidade da maioria dos
seus programas; abstenção essa que justifica, inclusive, por conduzir a
eventuais problemas de saúde; e
8.
Uso de bebidas
alcoólicas.
Esta Convenção resolve manter relações fraternais
com outros movimentos pentecostais, desde que não sejam oriundos de trabalhos
iniciados ou dirigidos por pessoas excluídas das ‘Assembléias de Deus’, bem como
manter comunhão espiritual com movimentos de renovação espiritual, que
mantenham os mesmos princípios estabelecidos nesta resolução. Relações essas
que devem ser mantidas com prudência e sabedoria, a fim de que não ocorram
possíveis desvios das normas doutrinárias esposadas e defendidas pelas
Assembléias de Deus no Brasil”.
O Texto
Atendendo parecer do Conselho Consultivo da CGADB
encaminhado ao 5º ELAD, em 25 de agosto de 1999, a Comissão analisou à luz da
Bíblia, de nosso contexto e de nossa realidade, expressando esses princípios
numa linguagem atualizada.
O primeiro ponto que precisa ser expresso numa
linguagem atualizada é a declaração: “sadios princípios estabelecidos como
doutrina na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes
desde o início desta Obra no Brasil”. O texto não faz distinção entre doutrina
e costume. O O Manual do CAPED, edição de 1999, CPAD, Rio, p. 92, diz:
” Há pelo menos três diferenças básicas entre
doutrina bíblica e costume puramente humano. Há costumes bons e maus. A
doutrina bíblica conduz a bons costumes.”
Quanto à origem
– A doutrina é divina
– O costume é humano
Quanto ao alcance
– A doutrina é geral
– O costume é local
Quanto ao tempo
– A doutrina é imutável
– O costume é temporário
A doutrina bíblica gera bons costumes, mas bons
costumes não geram doutrina bíblica. Igrejas há que têm um somatório imenso de
bons costumes, mas quase nada de doutrina. Isso é muito perigoso! Seus membros
naufragam com facilidade por não terem o lastro espiritual da Palavra”.
A palavra grega usada para “doutrina” no NT é
didache, que segundo o Diccionario Conciso Griego – Español del Nuevo
Testamento, siginfica: “o que se ensina, ensino, ação de ensinar, instrução”.
(Jo 7.16, 17; At 5.28; 17.19; e didaskalia,
que segundo o já citado dicionário é: “o que se ensina, ensino, ação de
ensinar, instrução”. O Léxico do N.T. Grego/Português, de F. Wilbur Gingrich e
Frederick W. Danker, Vida Nova, São Paulo, 1991, p. 56,diz que didasskalia é:
“Ato de ensino, instrução Rm 12.7; 15.4; 2 Tm
3.16.
Num sentido passivo = aquilo que é ensinado,
instrução, doutrina Mc 7.7; Cl 2.22; 1 Tm 1.10; 4.6; 2 Tm 3.10; Tt 1.9)”;
e didache: “ensino como atividade, instrução Mc
4.2; 1 Co 14.6; 2 Tm 4.2.
Em um sentido passivo = o que é ensinado, ensino,
instrução Mt 16.12; Mc 1.27; Jo 7.16s; Rm 16.17; Ap 2.14s, 24.
Os aspectos ativo e passivo podem ser denotados em
Mt 7.28; Mc 11.18; Lc4.32”.
Segundo a Pequena Enciclopédia Bíblica, Orlando
Boyer, doutrina é “tudo o que é objeto de ensino; dïsciplina” (Vida, S. Paulo,
1999, p. 211).
À luz da Bíblia, doutrina é o ensino bíblico
normativo terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé
e prática de vida, para a Igreja, para seus membros, vista na Bíblia como
expressão prática na vida do crente, e isso inclui as práticas, usos e
costumes.
Elas são santas, divinas, universais e imutáveis.
Nos próprios dicionários seculares encontramos esse
mesmo conceito sobre doutrina: “É o complexo de ensinamentos de uma escola
filosófica, científica ou religiosa. Disciplina ou matéria do ensino. Opinião
em matéria científica” (Dicionário Álvaro de Magalhães). “Conjunto de
princípios de um sistema religioso, políticos ou filosóficos. Rudimentos da fé
cristã. Método, disciplina, instrução, ensino” (Dicionário Ilustrado Novo
Brasil, ed. 1979).
Costume
A Pequena Enciclopédia Bíblica, Orlando Boyer,
define costume como “Uso, prática geralmente observada”. (p. 169). As palavras
gregas usadas para “costume são ethos (Lc 2.42; Hb 10.25) e synetheia (Jo
18.19; 1 Co 8.7; 11.16).A primeira, de onde vem a palavra “ética”, significa
costume com sentido de “lei, uso” (Lc 1.9). Não é biblicamente correto usar
doutrina e costume como se fosse a mesma coisa. O costume é “Prática habitual.
Modo de proceder.
Jurisprudência baseada em uso; modo vulgar;
particularidade; moda; trajo característico, procedimento; modo de viver”. Os
costumes visto pela ótica cristã, são linhas recomendáveis de comportamento.
Estão ligados ao bom testemunho do crente perante o mundo. Estão colocados no
contexto temporal, não estão comprometidos diretamente com a salvação.
Os costumes em si são sociais, humanos, regionais e
temporais, porque ocorrem na esfera humana, sendo inúmeros deles gerados e
influenciados pelas etnias, etariedade, tradições, crendices, individualismo,
humanismo, estrangeirismo e ignorância.
Convém atualizar essa redação omitindo a expressão
“como doutrina”, ficando assim: “sadios princípios estabelecidos na Palavra de
Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes desde o início desta Obra
no Brasil”.
Quanto aos 8 princípios da Resolução, uma maneira
de colocar numa linguagem atualizada é:
1.
Ter os homens
cabelos crescidos (1 Co 11.14), bem como fazer cortes extravagantes;
2.
As mulheres usarem
roupas que são peculiares aos homens e vestimentas indecentes e indecorosas, ou
sem modéstias (1 Tm 2.9, 10);
3.
Uso exagerado de
pintura e maquiagem – unhas, tatuagens e cabelos- (Lv 19.28; 2 Rs 9.30);
4.
Uso de cabelos
curtos em detrimento da recomendação bíblica (1 Co 11.6, 15);
5.
Mal uso dos meios de
comunicação: televisão, Internet, rádio, telefone (1 Co 6.12; Fp 4.8); e
6.
Uso de bebidas
alcoólicas e embriagantes (Pv 20.1; 26.31; 1 Co 6.10; Ef. 5.18).
Os itens 2 e 6 foram colocados num mesmo item, pois
se trata de um mesmo assunto. Colocamos referências bíblicas porque os nossos
costumes são norteados pela Palavra de Deus. Precisamos ter consciência de que
os nossos costumes não impedem o crescimento da Igreja.
Hoje em dia há igrejas para todos os gostos, mas
nós temos compromisso com Deus, com sua Palavra e com o povo. O objetivo de
conquistar as elites da sociedade em detrimento de nossos costumes e tradições
não é bom negócio.
Isso tem causado muitos escândalos e divisões e não
levam a resultados positivos. Somos o que somos, devemos aperfeiçoar as nossas
estratégias de evangelismo e não mudar arbitrariamente os nossos costumes, pois
isso choca a maioria dos crentes. Criar novos métodos para alcançar os pecadores,
isso sim, para que o nosso crescimento possa continuar.
Falta de crescimento
Outro ponto que convém ressaltar que a falta de
crescimento de algumas igrejas não é pelo fator usos e costumes, como muitas
vezes tem sido enfatizado nas AGOs da CGADB, como foi ressaltado no 5º ELAD,
pois mais de 85% dos líderes das Assembléias de Deus reconhecem a necessidade
de preservação de nossas tradições, usos e costumes e de nossa identidade, mas
sim, por falta de visão e de objetivos de seus líderes.
Essa deficiência pode ser vista e comprovada dos
dois lados, tantos dos favoráveis às mudanças como com os que querem manter o
mesmo sistema histórico das Assembléias de Deus. O crescimento da igreja, à luz
da Bíblia, é conseqüência de evangelismo, discipulado e oração; e o avivamento,
fruto de jejum, oração e de arrependimento, e não resultado de usos, costumes e
tradição.
em tudo que é extra bíblico é anti-bíblico. Nem
tudo que nos interessa é condenado e pecado. Não podemos julgar ou condenar
outros grupos porque adotaram liturgias estranhas e costumes diferentes dos
nossos, e nem alcunhar nossos companheiros de ministério de liberais, pois
“liberal” é uma palavra ofensiva.
Os liberais sãos os que não acreditam na inspiração
e autoridade das Escrituras, os que negam o nascimento virginal de Jesus, não
reconhecem a existências de verdades absolutas. Discordar deles é uma coisa,
mas agredir é outra muito diferente, e fere o espírito cristão do amor
fraternal.
Devemos, sim, preservar os nossos costumes.
A salvação é um ato da graça de Deus pela fé em
Jesus. A Bíblia ensina que somos salvos pela fé em Jesus (Rm 3.28; Gl 2.16; Ef
2.8-10; Tt 3.5). Todos os crentes são salvos porque um dia ouviram alguém falar
de Jesus e creram nessa mensagem. Ninguém fez nada, absolutamente, para ser
salva, a não ser a fé em Jesus. Como conseqüência da salvação temos o fruto do
Espírito (Gl 5.22).
A vida de santificação é resultado da nova vida em
Cristo, e não um meio para a salvação. Cristianismo é religião de liberdade no
Espírito e não um conjunto de regras e de ritos. Acrescentar algo mais que a fé
em Jesus como condição para salvação é heresia e desvio da fé cristã (Gl
5.1-4). Mas, ir além da liberdade cristã, extrapolando os limites é
libertinagem (Gl 5.13). A fé cristã requer compromissos e por isso vivemos uma
vida diferente do mundo, do contrário essa fé seria superficial e não profunda,
como encontramos no apóstolo Paulo (Gl 2.20). Não existe instituição sem
normas, nós temos as nossas.
Quando os gentios de Antioquia se converteram à fé
cristã a igreja de Jerusalém enviou Barnabé para discipular aqueles novos
crentes (At 11.20-22). Ele Entendia que os costumes só devem ser mantidos
quando necessários, pois ensinar costumes, culturas e tradições como condição
para salvação, é heresia e caracteriza seita. Barnabé sabia que a tradição
judaica era mais uma forma de manter a identidade nacional e que isso em nada
implicaria na salvação desses novos crentes, portanto, não seria necessário
observar o ritual da lei de Moisés (At 15.19, 20).
Os judeus não eram mais crentes do que os gentios
por causa dos seus costumes e nem consideravam os gentios menos crentes do que
eles. Pedro pregava aos judeus o “evangelho de circuncisão”, enquanto Paulo o
da “incircuncisão”, ou seja, Pedro pregava aos judeus e Paulo aos gentios (Gl
2.7-9). Não se trata de dois evangelhos, mas de um só evangelho, apresentado de
forma diferente. Isso é muito importante porque as convicções religiosas são
pessoais e o apóstolo Paulo respeitava essas coisas. Havia os irmãos que
achavam que devia guardar dias e se abster de certos alimentos, outros
consideravam iguais todos os dias e comiam de tudo (Rm 14.1-8). Ele não
procurou persuadir a ninguém dessa ou da outra maneira.
Diante disso, aprendemos que nenhum pastor deve
persuadir o crente para deixar de observar os costumes da igreja. Isso é algo
de foro íntimo. Da mesma forma, um não deve criticar o outro, porque o que
ambos fazem é para Deus, além disso, o apóstolo via que se tratava de uma
questão cultural (Rm 14.6-10). Proibições sem a devida fundamentação,
principalmente bíblica, é fanatismo. Quem faz de sua religião o seu Deus não
terá Deus para sua religião.
Isso nos mostra que o nossos costumes não são
condição para a salvação, eles devem ser mantidos para a preservação de nossa
identidade como denominação. Não devemos criticar os outros e nem forçar
ninguém a crer contra suas próprias convicções religiosas. Há pastores que
agridem o rebanho e desrespeitam seus companheiros porque querem demolir nosso
patrimônio histórico-espiritual a todo custo. Deus quer a Assembléia de Deus
como ela é, na sua maioria.
As outras denominações foram chamadas como
elas são, é assim que Deus quis, Ele é soberano. O mesmo Jesus que chamou
Mateus disse para outros que não o seguisse. A vontade de Deus para a minha
vida não a mesma para a vida de outras pessoas. Embora todos nós estejamos na
direção e vontade de Deus, porém com chamadas diferentes.
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