Deixe que os salmos
imprecatórios moldem sua ira
Os salmos
imprecatórios (salmos 7, 12, 35, 58, 59, 69, 70, 83, 109, 137, 140)
1 SENHOR,
Deus meu, em ti me refugio; salva-me de todos os que me perseguem e livra-me; 2
para que ninguém, como leão, me arrebate, despedaçando-me, não havendo quem me
livre.
3 SENHOR,
meu Deus, se eu fiz o de que me culpam, se nas minhas mãos há iniqüidade, 4 se
paguei com o mal a quem estava em paz comigo, eu, que poupei aquele que sem
razão me oprimia, 5 persiga o inimigo a minha alma e alcance-a, espezinhe no
chão a minha vida e arraste no pó a minha glória.
6
Levanta-te, SENHOR, na tua indignação, mostra a tua grandeza contra a fúria dos
meus adversários e desperta-te em meu favor, segundo o juízo que designaste.
7
Reúnam-se ao redor de ti os povos, e por sobre eles remonta-te às alturas.
8 O
SENHOR julga os povos; julga-me, SENHOR, segundo a minha retidão e segundo a
integridade que há em mim.
9 Cesse a
malícia dos ímpios, mas estabelece tu o justo; pois sondas a mente e o coração,
ó justo Deus.
10 Deus é
o meu escudo; ele salva os retos de coração.
11 Deus é
justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias.
12 Se o
homem não se converter, afiará Deus a sua espada; já armou o arco, tem-no
pronto; 13 para ele preparou já instrumentos de morte, preparou suas setas
inflamadas.
14 Eis
que o ímpio está com dores de iniqüidade; concebeu a malícia e dá à luz a
mentira.
15 Abre,
e aprofunda uma cova, e cai nesse mesmo poço que faz.
16 A sua
malícia lhe recai sobre a cabeça, e sobre a própria mioleira desce a sua
violência.
17 Eu,
porém, renderei graças ao SENHOR, segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao
nome do SENHOR Altíssimo.
1
Socorro, SENHOR! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre
os filhos dos homens.
2 Falam
com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido.
3 Corte o
SENHOR todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente, 4 pois
dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre
nós?
5 Por
causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei
agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira.
6 As
palavras do SENHOR são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro,
depurada sete vezes.
7 Sim,
SENHOR, tu nos guardarás; desta geração nos livrarás para sempre.
8 Por
todos os lugares andam os perversos, quando entre os filhos dos homens a vileza
é exaltada.
possuem uma
linguagem forte: “Ó Deus, quebra-lhes os dentes na boca” (Sl 58.6); “Consome-os
com indignação, consome-os, de sorte que jamais existam” (Sl 59.13); “Filha da
Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que
nos fizeste. Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra. ”
(Sl 137.8-9); “Caiam sobre eles brasas vivas, sejam atirados ao fogo” (Sl
140.10). Tais palavras geram um questionamento: será que esses salmos não vão
de encontro à ética do Novo Testamento de amar os nossos inimigos (Mt 5.22,
44)?
A natureza
dos salmos imprecatórios
Primeiro,
precisamos entender o que são os salmos imprecatórios. Neste vídeo, trecho do Curso
Fiel de Liderança: Teologia Bíblica do Antigo Testamento, Franklin
Ferreira faz três observações preliminares sobre os salmos imprecatórios:
O contexto
dos salmos imprecatórios
Segundo,
precisamos entender o contexto dos salmos imprecatórios. Neste outro
vídeo, trecho de uma aula da Escola Charles Spurgeon, Ferreira fala sobre a
importância do Salmos imprecatórios diante das calamidades.
O uso dos
salmos imprecatórios
Heber Campos
Jr. escreve, em seu livro Triunfo da Fé, sobre a relação
Alguns acham
que elas são expressões pecaminosas dos salmistas, outros acham que elas
pertencem a uma ética sub-cristã do Antigo Testamento e, assim, não tem
aplicação para o Novo Testamento. Porém, o próprio Jesus expressa linguagem
imprecatória em relação aos seus inimigos (Mt 23.14, 29-36). Alguns poderiam
contrapor dizendo que Jesus teria a prerrogativa divina de proclamar maldição
pois Deus está acima da sua lei. Jesus, porém, colocou-se debaixo da lei e
mesmo proferindo imprecações ele não pecou. Além disto, os salmos imprecatórios
são citados no Novo Testamento realçando, assim, status de palavra verdadeira e
relevante para todas as épocas. Portanto, não podemos classificar as expressões
imprecatórias do Livro de Salmos como sendo pecaminosas ou irrelevantes para
hoje.
Para
respondermos ao dilema ético e encontrarmos o valor das imprecações é preciso
ponderar alguns elementos desses salmos. A linguagem extremamente explícita –
que para alguns estudiosos é hiperbólica – expressa o grau de perturbação
emocional sentida pelo salmista. Expressá-las ao Senhor não é uma atitude
necessariamente pecaminosa. É verdade que elas poderiam resultar de motivações
pecaminosas (veja a preocupação de Davi no salmo 139.19-24). Porém, elas estão
inseridas em orações, petições. Elas não são relatos de ações iradas e
vingativas.
O pedido
desses salmistas não é o de fazerem justiça com as próprias mãos, até mesmo
porque a vingança pessoal era condenada desde o Pentateuco (Lv 19.18), mas de
deixar a vingança com o Senhor (Dt 32.35; Pv 25.21-22; Rm 12.9, 20-21). A
indignação deles é lícita pois resulta de opressões injustas. Mais do que isso,
ela provém não só de um interesse próprio, mas de um zelo pela honra de Deus.
Afinal, é o povo de Deus que estava sendo oprimido, e o Senhor tem grande ciúme
do seu povo (Zc 2.8-9). Por isso as imprecações não são contrárias ao
ensinamento de Jesus. Gordon Fee e Douglas Stuart fazem uma distinção entre a
prática do amor e sentir amor. É o que você faz por alguém, não o que você
sente por alguém que determina o seu amor. Cristo nos exortou a praticar o
amor, não sentir amor. É lícito expressarmos nossa ira diante de Deus e ainda
continuar a praticar amor para com os nossos inimigos.
Uma das
melhores evidências de que os salmos imprecatórios não são expressão de um
coração amargurado e pecaminoso é que até os santos no céu, onde não pode
deixar de haver santidade (Hb 12.15), clamam “até quando? ”. Em Apocalipse
6.9-11 está escrito:
Quando ele
abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido
mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam.
Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e
verdadeiro, não julgas,
nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles
foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco
tempo, até que também se completassem o número dos seus conservos e seus irmãos
que iam ser mortos como igualmente eles foram.
Observe que
quem ora “Até quando?” são as almas que já estão santificadas e se encontram na
presença do Senhor. Não há nada pecaminoso em sua prece.
Assim sendo,
pecaminosidade não resolvida na igreja e no mundo deve estimular o mesmo clamor
em nós. Devemos nos entristecer pelas divisões presentes no meio do povo de
Deus assim como Habacuque lamentou as contendas e o litígio em Judá (veja 1 Co
1.10-17; 3.1-23; 11.17-22). Devemos lamentar a violência e as injustiças
recorrentes em nosso país. E tal lamento deve ser acompanhado de um anseio por
correção, por castigo. Na verdade, a ausência do anseio próprio de imprecações
é sinal de indiferença para com o pecado e para com a justiça divina. “Até quando?
” Não deve ser entendida como desespero, mas como uma oração esperançosa que
provém daqueles que confiam que Deus resolverá a situação, como Habacuque
esperava. Portanto, a reclamação de Habacuque é justa. Se o zelo pela justiça
divina cresce à medida que nos santificamos, então devemos manifestar o anseio
de que o Senhor Jesus volte não só para nos levar consigo, mas também para
manifestar a sua justiça.
Um exemplo
de salmo imprecatório
John Piper,
em sua pregação Derrame sua indignação sobre eles, mostra como os
salmos devem moldar nosso pensar e sentir, inclusive com relação à ira. Piper
ilustra seu ponto com o salmo 69.
A chave: o
uso do Novo testamento
A chave será
como os autores do Novo Testamento usam este salmo – como eles o entendem. E
nós temos muita ajuda nisso porque 7 dos versos desse salmo são citados
explicitamente no Novo Testamento, incluindo as partes que são imprecatórias.
Os escritores do Novo Testamento não se constrangeram com os salmos
imprecatórios. Parece, na verdade, que os consideraram especialmente úteis para
explicar a obra de Jesus e o que ela significa para nós.
Então, vamos
examinar rapidamente o salmo e, então, ver como o Novo Testamento o usa.
Uma visão
geral do Salmo 69
A situação é
que Davi se sente oprimido pelos seus inimigos. Eles não parecem ser inimigos
militares, mas inimigos pessoais. E eles são impiedosos e perversos.
Davi não se
afirma perfeito. De fato, ele admite no verso 5 que cometeu erros e que Deus
sabe disso. Mas as hostilidades contra ele não são devidas a esses erros. Eles
o odeiam sem causa. E eles o atacam com mentiras. Verso 4: “Aqueles que me
odeiam sem causa são mais do que os cabelos da minha cabeça; aqueles que
procuram destruir-me, sendo injustamente meus inimigos, são poderosos; então
restituí o que não furtei. ”
Zelo pela
glória de Deus
A questão é
que Davi era zeloso pela glória de Deus, e seus adversários o reprovam por
isso. Verso 7: “Porque por amor de ti tenho suportado afrontas; a confusão
cobriu o meu rosto. ” Verso 9: “Pois o zelo da tua casa me devorou, e as
afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim. ” Em outras palavras, o
sofrimento dele não é apenas imerecido, mas ele o recebe precisamente como um
representante de Deus. “As afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim. ”
Quando Deus recebe afronta, o salmista está recebendo afronta. “São as pessoas
que te odeiam, Deus, que estão tornando minha vida difícil, pois eu te represento.
”
Pedindo por
resgate
Ele pede a
Deus para resgatá-lo da sua situação miserável. Verso 14: “Tira-me do lamaçal,
e não me deixes atolar; seja eu livre dos que me odeiam, e das profundezas das águas.
” Verso 18: “Aproxima-te da minha alma, e resgata-a; livra-me por causa dos
meus inimigos. ”
Então vêm os
versos 22-28, que são inteiramente imprecações ou maldições aos seus inimigos.
Ele ora a Deus que esses inimigos – os inimigos dele e de Deus – experimentem a
força completa do julgamento de Deus e que não sejam absolvidos. Ele não está
orando pela salvação deles; ele está orando pela condenação deles. Versos
22-24: “Torne-se-lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em
armadilha. Escureçam-se-lhes os seus olhos, para que não vejam, e faze com que
os seus lombos tremam constantemente. Derrama sobre eles a tua indignação, e
prenda-os o ardor da tua ira. ”
Clamando por
ajuda
Então, ele
fecha o salmo com outro clamor por ajuda e uma promessa de louvor. Verso 29-30:
“Eu, porém, sou pobre e estou triste; ponha-me a tua salvação, ó Deus, num alto
retiro. Louvarei o nome de Deus com um cântico, e engrandecê-lo-ei com ação de graças.
”
Resumindo,
aqui temos o rei Davi, um homem imperfeito (v. 5), mas reto (v. 28), um homem
que ama a glória de Deus, um homem que confia na misericórdia de Deus para
expiação e redenção (v. 18), que se levanta pela causa dos humildes (vv. 32-33)
e que está sofrendo a imerecida perseguição dos seus inimigos e dos inimigos de
Deus. E no meio desse lamento e clamor por ajuda, ele devota 7 versos para
clamar a Deus que puna tais inimigos.
Salmo 69 no
Novo testamento
Então como o
Novo Testamento lida com este salmo?
Primeiro,
devemos dizer que o Novo Testamento ao citar o salmo nunca está envergonhado do
salmo, nem é crítico. Nunca trata o salmo como algo que devemos rejeitar ou
deixar pra trás. Nunca trata o salmo como uma vingança pessoal pecaminosa.
Então, podemos aprender do Novo Testamento (como já poderíamos esperar uma vez
que Jesus honrou os Salmos como inspirados por Deus – Marcos 12:36; João 10:35;
13:18) que esse salmo é reverenciado e honrado como verdade sagrada.
O Novo
Testamento cita o Salmo 69 de, pelo menos, duas formas importantes: Ele cita o
salmo como palavras de Davi e cita o salmo como as palavras de Jesus. Vejamos cada
um por vez e então fechemos questionando como devemos ler o salmo hoje e como
devemos pensar e sentir sobre a oração de Davi pela punição de homens violentos
e maus.
1) Como as
palavras de Davi
Primeiro,
Romanos 11:9-11 cita Salmo 69:22-23. Aqui está o que o salmo diz:
“Torne-se-lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha.
Escureçam-se-lhes os seus olhos, para que não vejam, e faze com que os seus
lombos tremam constantemente. ”
Esse é o
começo da oração de Davi para que Deus derramasse sua indignação sobre seus
adversários (v.24). Ele ora para que, assim como lhe deram veneno por comida
(v. 21), a mesa deles se torne em desgraça para eles. A mesma abundância que
eles acham que têm se mostraria ser sua sentença. E ele ora para que eles se
tornassem cegos e inaptos para encontrar seus caminhos e que o tremor se
apoderasse deles para sempre.
Em outras
palavras, essa oração é uma oração pela sua condenação, destruição e maldição
deles. Versos 27-28: “Acrescenta iniquidade à iniquidade deles, e não entrem na
tua justiça. Sejam riscados do livro dos vivos, e não sejam inscritos com os justos.
” Davi a encomenda para a perdição, para o inferno.
Não é uma
vingança pessoal pecaminosa
Agora, você
poderia pensar que se este salmo fosse uma vingança pessoal pecaminosa, o
apóstolo Paulo teria pelo menos o evitado e talvez consertado. Mas ele faz
justamente o oposto. Ele vai direto a este texto para apoiar seu ensino em
Romanos 11. Ele nem ao menos se perturbou com este salmo. Em Romanos 11, Paulo
ensina que a maioria de Israel havia rejeitado Jesus como seu Messias e havia
se colocado debaixo do juízo de Deus. O juízo é que um endurecimento havia
vindo sobre a maior parte de Israel a fim de que não cressem.
Romanos
11:7: “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o
alcançaram, e os outros foram endurecidos. ” Verso 25: “Porque não quero,
irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o
endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.
” Então um dos principais ensinamentos de Paulo em Romanos 11 é que Deus está
sentenciando Israel com este endurecimento até que a plenitude dos gentios de
Deus seja salva.
Falando por
Deus
Neste
contexto, Paulo remonta ao então chamado imprecatório Salmo 69 (de todos os
textos do Velho Testamento que ele poderia ter citado) para apoiar seu ponto e
cita os versos 22-23 em Romanos 11:9-11: “E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa
em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; Escureçam-se-lhes
os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas. ”
Em outras
palavras, a forma que Paulo interpreta as palavras de Davi não é como uma
vingança pessoal pecaminosa mas como uma fidedigna expressão do que acontece
com os adversários do ungido de Deus. Davi é o rei ungido de Deus, e ele está
sendo rejeitado e reprovado e injuriado. Davi manifesta muita paciência na sua
vida (Salmo 109:4). Mas chega um ponto que Davi fala como um ungido, inspirado
por Deus, e pela sua oração entrega seus adversários às trevas e endurecimento.
Eles experimentarão esta sentença por que Davi está falando por Deus.
Sóbrias,
Proféticas Palavras de Julgamento
Paulo não
ouve palavras meramente emocionais de retaliação na voz de Davi. Ele ouve
palavras proféticas e sóbrias de julgamento que o ungindo de Deus quer trazer
aos seus adversários. Por isso que ele cita estas palavras em Romanos 11 onde
ele defende este mesmo ponto: Os adversários de Cristo, o Messias de Deus, vão
ser imersos em escuridão e endurecidos como parte do julgamento de Deus.
Esta é a
primeira forma pela qual o Novo Testamento cita o Salmo 69, especificamente,
como as palavras proféticas de julgamento pelo porta-voz inspirados por Deus
sobre os adversários do ungido de Deus.
2) Como as
Palavras de Jesus
A segunda
maneira pela qual o Novo Testamento cita Salmo 69 é como as palavras do próprio
Jesus. A razão para isso é que Jesus é o Filho de Davi (Romanos 1:3; Mateus
21:15; 22:42) e o que aconteceu com Davi como ungido real de Deus é prenúncio
do ungido final, o Messias, Jesus. Então Jesus leu esse salmo e viu a sua
própria missão sendo vivida em antecedência.
Quatro
exemplos rápidos:
a) Jesus limpando o Templo
Em João
2:13-17 nós lemos sobre como Jesus expulsou os vendedores do templo. Verso 16
diz, “E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa
de meu Pai casa de venda. ” Os discípulos impregnados de bíblia veem essa
paixão pela casa de Deus, e eles ouvem Jesus chamar o templo de “a casa de meu Pai,
” e eles lembram as palavras do Salmo 69:9. Verso 17: “E os seus discípulos
lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorará. ” Em outras
palavras, eles veem nas palavras e ações de Davi um prenúncio das palavras e
ações de Cristo.
b) Jesus odiado pelos seus
Em João
15:24-25 Jesus é odiado pelos líderes judeus assim como Davi foi odiado pelo
seu próprio povo (verso 8). Dessa vez o próprio Jesus é quem cita
explicitamente Salmo 69 como parte da “Lei” de Deus ou instrução de Deus. Ele
diz, “Se eu não tivesse feito entre eles as obras que ninguém mais fez, eles
não seriam culpados de pecado, mas agora eles tem visto e odiado a mim e ao
Pai. Mas a palavra que está escrita na Lei deles deve ser cumprida: Eles me
odiaram sem causa. ” Esta é uma citação do Salmo 69:4: “Aqueles que me odeiam
sem causa são mais do que os cabelos da minha cabeça. ”
Então o
próprio Jesus está consciente das experiências de Davi e vê elas como prenúncio
das suas próprias experiências e diz, quando Davi é odiado pelos seus
adversários, isso aponta para minha experiência e deve ser cumprido em mim.
c) Jesus na Cruz
Na cruz, no
momento mais importante da história, Jesus traz sua vida a um fim,
intencionalmente cumprindo o Salmo 69 mais uma vez em sua própria experiência.
No verso 21 Davi tinha dito, “Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me
deram a beber vinagre. ”
Evidentemente
Jesus tinha vivido nesse salmo e absorveu esse salmo e fez desse salmo parte do
seu próprio ser. De outra maneira, eu não sei como nós poderíamos explicar João
19:28-30. Aqui ele está pendurado na cruz em horrível agonia e nós lemos:
Depois,
sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura
se cumprisse, disse (Para cumprir as Escrituras): “Tenho sede. ” Estava, pois,
ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num
hissopo, lha chegaram à boca. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: “Está consumado.
” E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
De acordo
com o apóstolo João, Jesus morreu cumprindo o Salmo 69. Que tributo mais
glorioso poderia ser dado a um salmo? O salmo que nós tendemos a pensar ser um
problema por causa de suas imprecações, foi aquele que Jesus viveu e aquele que
o carregou para a cruz e através da cruz.
d) Jesus suportando a afronta
2.4. Mais
uma ilustração do Salmo 69 como as palavras de Jesus: No verso 9 Davi diz a
Deus, “e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim. ” Em Romanos 15
Paulo está chamando os cristãos para serem pacientes com os fracos e para negarem
a si mesmos e receber os outros humildemente.
Maravilhosamente
neste ponto, ele entra novamente no Salmo 69:9 e diz, “Portanto, cada um de nós
agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não
agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos
que te injuriavam. ” Em outras palavras, ele pega as palavras de Davi e vê elas
cumpridas em Cristo. E a coisa específica que ele foca é que Cristo de boa
vontade suportou as afrontas dos homens.
Então parece
que Salmo 69 tem duas pontas no Novo Testamento. Uma ponta é a do julgamento:
As imprecações não são retaliações pessoais pecaminosas mas aprovação profética
da justa retribuição de Deus pelo pecado.
A outra
ponta é o sofrimento do ungido de Deus. Este sofrimento é suportado por
amor a Deus. E o sofrimento é tanto o meio pelo qual os adversários são
trazidos ao arrependimento e são salvos, ou o meio pelo qual eles são
confirmados em seu endurecimento e condenados.
Como o Salmo
69 deveria nos afetar?
Então nós
voltamos e concluímos com a pergunta: Como nós deveríamos pensar e sentir
quando nós lemos o Salmo 69 hoje? Três respostas:
1) Aprovação
do Julgamento de Deus
Nós
deveríamos ouvir a voz divinamente inspirada de Davi, o ungido do Senhor, sofrendo
para a glória de Deus, e expressando seu desejo e aprovação pelo julgamento de
Deus sobre os adversários do Senhor que não se arrependem. Ele está deixando
claro que o julgamento de Deus vem, e isto é certo, e até mesmo desejável, e
que isto deve vir quando os adversários estão além do arrependimento. Existe um
julgamento divino a caminho, e naquele dia os cristãos irão aprovar o que Deus
fizer. Isto é o que as imprecações de Davi deixam claro. Isto é o que nós
deveríamos pensar e sentir.
2) Prenunciando
o Ministério de Jesus
Nós
deveríamos ouvir Davi como o prenúncio do ministério de Jesus. O que Davi
experimenta como o ungido do Senhor, Jesus irá completar de maneiras mais
grandiosas em seu próprio sofrimento e morte. Seu sofrimento será um sofrimento
de salvação e condenação. Para aqueles que aceitarem isso como sua glória, ele
salvará. Para aqueles que são endurecidos por isso, ele condenará.
Ou desprezas
tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a
benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu
coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do
juízo de Deus. (Romanos 2:4-5)
3) Incentivo
a perdoar
E quanto a
nós? Quando nós lemos estas palavras, o que deveríamos pensar e sentir e fazer?
A coisa
principal para dizer é que nós não devemos tomar as imprecações como
encorajamento ou incentivo para amaldiçoar nossos inimigos. De fato, na mente
de Paulo o salmo nos leva exatamente à direção oposta. Paulo cita o salmo em
Romanos 15:3 para nos encorajar a negarmos a nós mesmos ao invés de satisfazer
o desejo de vingança. “Cristo não agradou a si mesmo, mas como está escrito:
‘As afrontas dos que me afrontaram caíram sobre mim. ’ ” Em outras palavras,
suporte, perdoe.
Mas não é
porque não há ira, nem punição e nem julgamento no Salmo 69. É precisamente
porque há julgamento. E não cabe a nós executá-lo. O fato de que Deus irá
fazê-lo, e para Ele é certo fazê-lo, é a razão pela qual somos capazes de
seguir a Jesus no sofrimento por aqueles que nos têm ofendido:
Não vos
vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira, porque está escrito: Minha
é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver
fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto,
amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. (Romanos 12:19-21)
As brasas
irão purificar se houver arrependimento, e punir se não houver. Deus irá
decidir. Nós iremos aprovar. Mas até aquele dia de julgamento, nós seguimos as
palavras do Rei Ungido: “Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos
aborrecem, bendizei os que vos maldizem e orai pelos que vos caluniam. . .. e
sereis filhos do Altíssimo” (Lucas 6:27-29, 35)
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