quinta-feira, 18 de junho de 2015

O Reino dos Céus

O Reino dos Céus

O Reino dos Céus (por Sewell Hall)
O Reino do Velho Testamento (por Bob Waldron)
Profecias sobre um Novo Reino (por Rex D. Bittle)
Expectativas Judaicas (por Cunningham Geikie)
O Nascimento do Rei (por Don Hooton)
O Reino dos Céus: A Preparação Inicial (por Mike Waters)
As Tentações e o Reino (por Matt Qualls)
O Evangelho do Reino (por Charlie Brackett)
Os Cidadãos do Reino (1) - Mateus 5 (por Marty Broadwell)
Os Cidadãos do Reino (2) - Mateus 6 e 7 (por Marty Broadwell)
Corrigindo Mal-entendidos sobre o Reino (1) (por Glenn Jones)
Corrigindo Mal-entendidos sobre o Reino (2) (por Glenn Jones)
Parábolas de Crescimento - Mateus 13:1-30,36-43 (por Gardner Hall)
Parábolas de Crescimento - Mateus 13:31-35,44-46; Marcos 4:26-29 (por Gardner Hall)
A Grandeza no Reino (1) (por Barry Hudson)
A Grandeza no Reino (2) (por Barry Hudson)
As Últimas Parábolas do Reino (1) (por Bill Hall)
As Últimas Parábolas do Reino (2) (por Bill Hall)
Vem Aí o Teu Rei (1) (por Tom Holley)
Vem Aí o Teu Rei (2) (por Tom Holley)
A Plenitude do Tempo (por Steve Dewhirst)
O Reino Estabelecido (por Steve Dewhirst)
O Reino dos Céus na Terra (por Tommy Poarch)
O Reino dos Céus no Ceú (por Tommy Poarch)
Algumas Reflexões Finais sobre o Reino dos Céus (por Sewell Hall)

Distribuição Gratuita - Venda Proibida
Estes artigos foram publicados originalmente na revista norte-americana Christianity Magazine, na edição de Setembro/Outubro de 1996. A edição brasileira foi traduzida por Arthur Nogueira Campos. Agradecemos aos autores e redatores pela permissão da tradução e publicação em português.

O Reino dos Céus
por Sewell Hall

Se lhe pedissem para explicar o reino dos céus, o que você diria? A maioria de nós acharia mais fácil dizer o que não é o reino do que dizer o que ele é. Alguns simplificariam demais a matéria, dizendo apenas que o reino é a igreja. O assunto merece uma explicação bem mais completa.

A importância deste assunto pode ser percebida pelo fato do Novo Testamento conter mais de 100 referências ao reino. Jesus passou os três anos e meio de seu ministério “pregando o evangelho do reino” (Mateus 4:23). Tudo o que ele disse e fez durante esse período de sua vida estava relacionado com o reino. Enquanto narrativas paralelas mostram Jesus falando sobre “o reino de Deus”, Mateus cita-o 33 vezes, dizendo “o reino dos céus”.

A designação reino dos céus é bem apropriada. Ela reforça lindamente a explicação que Jesus deu a Pilatos a respeito de seu reino, quando disse: “O meu reino não é deste mundo” (João 18:36). Positivamente, “O reino veio do céu; seu governo, suas leis, seu modo de vida, de pensamento e de adoração são aqueles do céu; a grande nação da qual os santos são cidadãos está agora centrada no céu (Filipenses 3:20); [e] olha para o céu como seu lar, sua pátria” (Caffin, Pulpit Commentary).

O reino é a igreja? É certamente verdade que aqueles que estão na igreja estão no reino, e que aqueles que estão no reino estão na igreja. Se é correto chamar a igreja o corpo de Cristo, também tem que ser correto falar dela como o reino. Contudo, a palavra reino tem sentidos que não atendem à palavra igreja. Enquanto igreja chama a atenção para as pessoas que aceitaram o chamado do céu, reino concentra-se mais no rei, seu governo e seu domínio. Seria extremamente embaraçoso, se não incorreto, substituir a palavra reino, nas muitas passagens onde é encontrada, pela palavra igreja.

W. E. Vine diz que a palavra traduzida como reino “é principalmente um substantivo abstrato significando soberania, poder real e domínio...; e daí, transformando-se num substantivo concreto para indicar o território ou o povo sobre quem o rei domina... É usado especialmente para o reino de Deus e de Cristo. O reino de Deus é: a) a esfera do domínio de Deus,... b) a esfera em que a qualquer dado momento, seu domínio é reconhecido” (Expository Dictionary of New Testament Words).

Rabinos pensantes, mesmo antes dos dias de Jesus, entenderam algo referente ao que verdadeiramente seria o reino de Deus. De acordo com o Pulpit Commentary, um certo rabino, Berequias, disse que quando Moisés perguntou a Deus por que somente Israel, dentre todas as nações, estava entregue aos seus cuidados, a resposta foi, “Porque eles tomaram sobre si o jugo de meu reino no Sinai, e disse, ‘Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos’” (Êxodo 24:7). Diversos estudiosos relatam uma opinião comumente mantida que se Israel fizesse perfeitamente apenas por um dia a vontade de Deus, o Messias teria vindo. Contudo, como Bob Waldron observa no artigo seguinte, Israel, como uma nação, jamais atingiu tal ideal. De fato, a vontade do céu só pôde ser perfeitamente conhecida e praticada entre os homens quando “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14).

Comentando sobre Mateus 3:2, M. R. Vincent afirma: “No ensinamento de Cristo e nos escritos apostólicos, o reino do Messias é a própria realização da idéia profética referente ao domínio de Deus, sem nenhuma limitação nacional...Todos os seus sentidos são somente perspectivas diferentes da mesma grande idéia: a sujeição de todas as coisas a Deus, em Cristo” (Word Studies in the New Testament).

Alfred Edersheim, em seu livro Life and Times of Jesus the Messiah, observa: “Uma análise de 119 passagens do Novo Testamento onde a expressão ‘reino’ ocorre, mostra que significa o governo de Deus; o qual foi manifestado em e através de Cristo; é aparente na igreja; desenvolve-se gradativamente no meio de obstáculos; é triunfante na segunda vinda de Cristo (‘o fim’) e, finalmente, aperfeiçoado no mundo por vir” (página 270). É esse conceito que é refletido nos artigos que se seguem.

A maioria do nosso ensinamento referente ao reino nos dias recentes tem sido refutar a noção falsa de que o reino ainda está para ser estabelecido na terra. Tal refutação tem sido tanto oportuna como valiosa. Contudo, a melhor defesa contra um conceito falso é um conceito acurado. Deixando, pois, as definições de estudiosos, voltemos às Escrituras para ver como a idéia do reino de Deus se desenvolveu no Velho Testamento e foi plenamente explicada na vida e ensinamento de Jesus e seus apóstolos. Sugerimos que você leia os artigos em ordem, uma vez que foram arranjados para seguir tão cronologicamente quanto possível a revelação de nosso Senhor sobre “os mistérios do reino.”


O Reino do Velho Testamento
por Bob Waldron

No Velho Testamento lemos sobre o reino de Deus, mas também lemos sobre um reino que ele estabeleceria mais tarde (Daniel 2:44). Se não levarmos em conta ambos os fatos, não podemos ter um entendimento claro do assunto.

O domínio universal de Deus

O Salmista escreveu, “O Senhor preside aos dilúvios; como rei, o Senhor presidirá para sempre” (Salmo 29:10). Ezequias, quando ameaçado pelos assírios, orou, “Ó Senhor, Deus de Israel, que estás entronizado acima dos querubins, tu somente és o Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra” (2 Reis 19:15). O domínio de Deus sobre os céus e a terra é eterno e universal, e é baseado em seu papel de Criador e Mantenedor.

O Reino de Israel, o povo de Deus

No Monte Sinai, Deus disse a Israel: “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Êxodo 19:6). Evidentemente, Deus tencionava que Israel fosse um reino, mas um reino sob seu domínio.

Em Deuteronômio 17:14-20, Deus deu leis especificamente para os reis que Israel teria mais tarde. Por outras passagens, contudo, temos que concluir que Deus estava prevendo a exigência prematura de Israel por um rei, e não sua voluntária concessão de um rei.

Os que eram espiritualmente inclinados entre o Israel físico sabiam que Deus era o verdadeiro rei de Israel. Quando Israel pediu um rei, o Senhor disse a Samuel: “Não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele” (1 Samuel 8:7; 12:12).

Quando Saul fracassou, Deus escolheu outro líder, Davi. Ele não era um homem sem pecado, mas sua atitude para com Deus era tal que Deus considerava Davi um homem que lhe agradava (1 Samuel 13:14). Portanto, ele prometeu a Davi que estabeleceria seu trono, e o trono de seu filho para sempre (1 Crônicas 17:11,14). O destino de Davi tornou-se entrelaçado com a vinda do Messias, de modo que Davi se tornou um tipo, ou seja, uma sombra do Messias.

Davi se viu como rei de Israel, mas ele e outros israelitas espirituais perceberam que ele era realmente apenas um príncipe de Deus; o reino de Israel ainda era de Deus. Abias, filho de Roboão, reprovou a Jeroboão filho de Nebate e seus seguidores, dizendo: “Não vos convém saber que o Senhor, Deus de Israel, deu para sempre a Davi a soberania de Israel, a ele e a seus filhos?” “Agora, pensais que podeis resistir ao reino do Senhor, que está nas mãos dos filhos de Davi?” (2 Crônicas 13:5,8).

O Reino do Messias

Deus não pensou em enviar seu Filho somente depois que Israel pediu um rei. Ele predisse através de Jacó que o “cetro” não se separaria de Judá até que Siló viesse, e a ele seria a obediência dos povos (Gênesis 49:10). Essa passagem estabelece tanto a identidade real daquele chamado Siló e o domínio universal que ele teria. Muito tempo antes de Israel se tornar um reino, já estava no propósito de Deus enviar um Rei, o Cristo.

Assim como Israel fracassou em ser a nação santa que Deus desejou, também os reis do Velho Testamento fracassaram em governar com perfeita justiça e eqüidade. Em contraste, Deus disse, “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra” (Jeremias 23:5).

Ainda que o domínio de Deus existisse antes da vinda de Cristo, havia algum sentido no qual o reino seria estabelecido de uma forma que não tinha existido anteriormente (Daniel 2:44). Seria o reino de Deus entregue nas mãos do Ungido de Deus. Numa visão, Daniel viu ser dado ao Messias, “domínio, e glória, e o reino” (Daniel 7:14). Esse reino o Messias partilharia com os santos (Daniel 7:18).

Deus faria do Messias um rei: “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (Salmo 2:6). Ele seria o governador escolhido por Deus: “de ti me sairá o que há de reinar em Israel” (Miquéias 5:2). Ainda que o Messias fosse rei, ele governaria pelo Pai (Obadias 21).

No reino messiânico, não haveria reino físico, nem identidade ou território físico. Portanto, no reino da nova aliança não poderá haver, nenhuma distinção entre o cristão e o verdadeiro cristão. Participar do reino de santidade exigiria que se fosse verdadeiramente santo (Zacarias 14:16-21).

No reino de Cristo, Deus tem seu rei ideal, e tem sua nação santa, a nação que ele quis desde a fundação do mundo.


Profecias sobre um Novo Reino
por Rex D. Bittle

Deus é um governador. Ele domina porque é Deus. Através dos tempos, Deus tem exercido sua autoridade sobre a humanidade e toda a criação. Começando em Gênesis 1:1, Deus estabeleceu-se como aquele que tem o poder supremo sobre o universo inteiro, criando todas as coisas com o poder de sua Palavra (João 1:1-3).

Nos dias do Velho Testamento, Deus tinha um reino entre os homens. Ele tinha escolhido a nação judaica que veio de Abraão (Gênesis 17:6) para ser sua nação santa e um reino sacerdotal (Êxodo 19:5-6). Mas no final os judeus acabaram rejeitando um rei que não podiam ver, que não os conduzia fisicamente na batalha, que não os representava entre outras nações com pompa e cerimônia; eles exigiam um rei diferente para dominar sobre eles (1 Samuel 8:6-9). Deus concedeu-lhes um rei humano, um sistema que se mostrou tão difícil como Deus tinha profetizado que seria. Deus estava desenvolvendo seu plano para um reino que jamais cairia e jamais o rejeitaria como rei.

Em Gênesis 17:6, a Abraão foi dito que muitas nações e reis descenderiam dele. O reino de maior destaque a sair de Abraão foi a nação israelita; muitos grandes reis governaram essa nação, tais como Davi, Salomão, Ezequias e Josias. Mas o melhor rei que já chegou a reinar sobre Israel foi Cristo, também descendente de Abraão (Mateus 1:1-17). Através do Rei constituído por Deus, o Ungido, o Cristo, todas as nações da terra são abençoadas (Gênesis 12:3). Jacó profetizou que o cetro (autoridade) jamais se apartaria de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que viesse Siló (Gênesis 49:10). Muitos homens que governaram como reis indicados por Deus vieram e foram através da linhagem de Abraão, Isaque e Jacó; mas é Cristo quem por último ocupou o trono de Deus e ainda permanece a dominar nesse trono hoje, porque ele vive para sempre (Salmo 45:6).

O salmo 45 diz respeito a um grande rei sobre o povo de Deus. Mas esta passagem se refere a mais do que um mero homem. O versículo 6 exalta Deus como rei “para todo o sempre; cetro de eqüidade é o cetro do teu reino”. O versículo 7 aponta para Deus que é ungido por Deus acima de todos os outros. Esse salmo profetizou um novo reino que ainda estava por vir.

O profeta Natã previu um novo reino a vir depois do reinado de Davi. A maioria da profecia diz respeito ao sucessor imediato de Davi, Salomão, mas diversos versículos afirmam coisas que não correspondiam a ele. Salomão não viveu para sempre (2 Samuel 7:13). O reinado de Salomão foi dividido e também levado em cativeiro depois dos seus dias (2 Samuel 7:16). Ainda que a linhagem continuasse até o tempo de Cristo, ninguém realmente assumiu o trono sobre o povo de Deus durante mais de 400 anos entre os dois testamentos. Essa passagem aponta para outro reino que ainda estava por vir.

Deus revelou através do profeta Daniel alguma noção do tempo quando Deus começaria seu domínio através de Cristo. Em Daniel 2:31-45, Daniel explicou o sonho de Nabucodonosor, com respeito a uma imagem com quatro partes diferentes em seu corpo. Cada parte predizia um império mundial que estava por vir, começando com o império corrente dos babilônios, a cabeça de ouro. O peito e os braços, de prata, eram o império medo-persa que derrotaria os babilônios em breve. O ventre e os quadris, de bronze, representavam o império grego. Depois, o reino simbolizado pelas pernas de ferro, e os pés, em parte de ferro, em parte de argila, era o império romano. “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que...subsistirá para sempre” (Daniel 2:44). Esse é o reino de Deus que estava por vir.

Os judeus nunca estiveram errados em crer num grande reino vindouro. Deus deixou muito claro que ele tinha um plano para estabelecer o domínio de seu Filho, Jesus o Cristo, sobre um reino eterno que o honraria sempre e o serviria de boa vontade e alegremente. Os cidadãos desse reino se regozijariam porque seu rei governaria com justiça (Isaías 32:1). Até mesmo seu nome seria Paz, Maravilhoso, Poder e Eternidade (Isaías 9:6-7). O Rei provindo de Deus reinaria com julgamento e justiça; os súditos teriam segurança e salvação através dele (Jeremias 23:5-6).

Sob a mão opressora do Império Romano, os judeus ansiavam por esse reino. Eles erradamente interpretaram essas profecias como significando um reino físico que derrubaria a carga romana; mas, em seus reinos terrestres, Deus estava prenunciando um reino espiritual que não era deste mundo; um reino que veio em Cristo (João 18:36-37).


Expectativas Judaicas
por Cunningham Geikie

A característica central e dominante do ensinamento dos rabinos era o advento certo de um grande Libertador nacional S o Messias, ou o Ungido de Deus ou, na tradução grega do título, o Cristo.

Em nenhuma outra nação que não a dos judeus tal noção jamais se enraizou nem mostrou tal vitalidade. Desde os tempos de suas grandes aflições nacionais, sob seus últimos reis, as palavras de Moisés, de Davi e dos profetas tinham sido citadas como promessas divinas de um Príncipe poderoso que viria para “restaurar o reino a Israel.”

Tais eram, com efeito, as idéias gradativamente amadurecidas sobre o Messias S o Imortal e Eterno Rei, investido de poder divino, e ainda um homem S que tinham sido tiradas dos mais antigos, bem como dos últimos escritos sagrados ou religiosos da nação. Poucos, porém, percebiam que um Rei celestial tinha que significar um reino santo; que seu reino verdadeiro precisaria ser nas almas purificadas dos homens. E poucos também compreendiam que a verdadeira preparação para a sua vinda não era orgulho vanglorioso, mas humilhação por causa do pecado.

Havia concordância entre os rabinos sobre seu lugar de nascimento, que deveria ser em Belém e que ele tinha que se levantar da tribo de Judá. Acreditava-se que ele mesmo não saberia que era o Messias até que Elias viesse, acompanhado por outros profetas, e o ungisse. Até aí ele estaria oculto ao povo, vivendo como um desconhecido entre eles. Ele libertaria Israel pela força das armas, e sujeitaria o mundo a ele.

“Que belo”, diz um escrito dos rabinos de Jerusalém, “é o Rei Messias, que se levanta da casa de Judá! Ele cinge seus lombos, desce, ordena a batalha contra seus inimigos, e mata seus reis e seus principais capitães; não há ninguém tão poderoso que possa resisti-lo. Ele deixa os montes vermelhos com o sangue dos seus inimigos destruídos; suas vestes, manchadas pelo sangue deles, são como as películas das uvas roxas.” “As bestas do campo se alimentarão durante doze meses com a carne dos mortos, e as aves do ar também se alimentarão deles durante sete anos.” “O Senhor”, diz este escrito, “nos vingará no dia de Gogue. Naquela hora o poder das nações será quebrado; elas serão como um navio cujo cordame é arrancado, e cujo mastro está rachado, e assim a vela não pode mais ser levantada. Em seguida, Israel dividirá os tesouros das nações entre si: bastantes despojos e riquezas, para que, se houver entre eles coxo ou cego, até estes terão sua parte.” Os pagãos se converterão ao Senhor e andarão em sua luz.

O reino universal assim fundado teria sido um paraíso terrestre para os judeus. Naquele dia, dizem os rabinos, haverá um punhado de trigo no topo dos montes e seus talos serão como palmeiras ou pilares. Nem haverá nenhuma dificuldade para colhê-los, pois Deus enviará um vento de seus aposentos que derrubará a farinha das espigas. Um grão de trigo será tão grande como os dois rins dos maiores bois. Todas as árvores produzirão continuamente. Uma única uva encherá uma carroça ou um navio, e quando for trazida para casa tirarão vinho dela como de um barril.

Um grande rei precisa ter uma grande capital, e aí, Jerusalém, a capital do reino do Messias, será muito gloriosa. Nos dias que virão, dizem os rabinos, Deus juntará o Sinai, o Tabor e o Carmelo e assentará Jerusalém sobre eles. Ela será tão grande que cobrirá tanto terreno quanto um cavalo pode correr desde o amanhecer até que sua sombra fique embaixo dele, ao meio-dia. Ela chegará até as portas de Damasco. Alguns deles até nos dizem que suas casas serão construídas com cinco quilômetros de altura. Suas portas serão de pedras preciosas e pérolas, trinta e três metros tanto de largura como de espessura, ocas. Em volta, o país será cheio de pérolas e pedras preciosas, de modo que os judeus de todas as partes possam vir pegá-las o quanto quiserem.

Nessa esplêndida cidade o Messias deve reinar sobre um povo que será totalmente constituído de profetas. Uma corrente frutífera brotará do templo e regará a terra, suas ribeiras serão sombreadas por árvores carregadas dos mais finos frutos. Nem doença nem defeito serão conhecidos. Não haverá tais coisas como um homem coxo, ou algum cego ou leproso; os mudos falarão e os surdos ouvirão. Haverá um milênio de orgulho nacional, glória e gozo.

Foi a um povo embriagado com a visão de uma tal felicidade exterior e grandeza política sob um Messias conquistador do mundo que Jesus Cristo veio com suas doutrinas totalmente opostas referente à meta do Messias e seu reino. Somente aqui e ali houve uma alma com algum pensamento mais alto e mais puro do que tais sonhos grosseiros, materialistas e limitados.


O Nascimento do Rei
por Don Hooton

O evangelho de Jesus nos diz que sua vida e morte testemunham a natureza inigualável de sua realeza e reino. Mas o que seu nascimento nos diz?

Jesus é o único qualificado para ser Rei. Mateus traça a linhagem de Jesus através de José (1:1-17), um descendente de Davi (1:6), uma vez que somente um filho de Davi poderia reinar como Messias (Salmo 89:3-4). Lucas traça do mesmo modo a linhagem de Maria até Davi (3:23,31), assim qualificando duplamente Jesus para ser o Messias.

Contudo, o Messias precisa também ser o Filho do Céu (Salmo 2:7). Pela virgindade de sua mãe, Jesus nasceria como o único Filho de Deus. O anjo Gabriel assegurou a Maria que o “poder do Altíssimo” (Lucas 1:35) lhe daria a capacidade de conceber sendo virgem (Mateus 1:20). E, “por isso, o ente santo” poderia ser “chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35).

O nascimento de Jesus demonstra sua divindade. Anjos disseram a Maria (Lucas 1:26-38) e a José (Mateus 1:18-23) que seu “Filho do Altíssimo” era mais do que apenas um filho. Antes, ele seria o Filho unigênito de Deus (João 3:16), chamado apropriadamente “Emanuel”, ou seja, Deus conosco (Isaías 7:14; João 1:14).

E Jesus reinaria sobre a casa de Jacó reconstruída (Lucas 1:33; Atos 15:16-18). Desde que ele receberia quem quer que o temesse e fizesse o que é reto (Atos 10:35), essa casa consistiria de judeus e de gentios. Ele concederia a todos os seus cidadãos uma igualdade e comunhão que o mundo jamais tinha conhecido (Gálatas 3:28), pois ele seria boa nova “para todo o povo” (Lucas 2:10).

Todavia Jesus não reinaria como um tirano, mas como Salvador. Ele salvaria “seu povo dos pecados deles” (Mateus 1:21), trazendo a eles a maior paz de todas, paz com Deus (Romanos 5:1). Ele salvaria, não subjugaria. Desde que seu reino também traz salvação (Atos 2:23-24), ele não poderia ser rei se não fosse Salvador (Zacarias 6:12-13; Hebreus 1:3). Portanto, desde que ele salva, ele na verdade tem que reinar (Atos 2:33-36).

O modo de seu nascimento mostra como ele é inigualável. A maioria dos reis nascem no luxo e na riqueza. Porém, não este Rei. Suas faixas não foram de fina púrpura nem seu berço de ouro. Em vez disso, uma manjedoura serviu como sua cama. Esse Rei humilde fez uma entrada quieta e não pretenciosa para aquelas pessoas de humildade incomum que seriam seus cidadãos.

Os anjos não anunciaram seu nascimento aos poderosos e prestigiosos, mas aos pastores. Eles, humildemente, vieram “apressadamente” para encontrar “a criança deitada na manjedoura”. Encontrando-o, eles glorificaram e louvaram a Deus. Para os corações que respondem, como os desses pastores, em fé confiante nas palavras de Deus, Jesus seria Rei.

Entretanto, esse Rei seria “para ruína como para levantamento” (Lucas 2:34). Porque a maioria rejeita sua mensagem (João 1:11), eles caem enquanto outros sobem a “lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Efésios 2:6) pela obediência à sua vontade (Mateus 5:19). Até mesmo seus pais representam o tipo de cidadãos que pertenceriam ao seu reino: justos (Mateus 1:19), amorosos (Mateus 1:19), puros (Mateus 1:23), e pessoas obedientes (Mateus 1:24; Lucas 1:38; 2:22,41).

Seguindo a estrela até Herodes, homens sábios do oriente aprenderam com o profeta Miquéias que o Messias nasceria em Belém. Eles entraram na casa (não estábulo) e viram o menino (não o recém-nascido) (Mateus 2:11). Portanto, esses homens possivelmente viram Jesus antes de seu segundo ano de idade, em vez de vê-lo na manjedoura, porque Herodes informou-se com os homens sábios “quanto ao tempo em que a estrela aparecera” (2:7) e mais tarde matou crianças de dois anos para baixo (2:16).

Até mesmo os visitantes do oriente tipificam os cidadãos do reino. Dispostos a fazer uma viagem longa e árdua só para vê-lo, eles o adoraram (Mateus 2:11). Eles trouxeram dádivas adequadas a um rei: ouro, uma dádiva comum à realeza (1 Reis 10:14-22); incenso, freqüentemente ligado com adoração a Deus (Levítico 2:1-16) e mirra, uma especiaria tipicamente cara usada na adoração (Êxodo 30:23-33), na aromaterapia (Salmo 45:8), e no embalsamamento (João 19:39).

Nós também precisamos chegar alegremente ao nosso Rei e oferecer nossos corpos “por sacrifício vivo, santo,...que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1). Seu nascimento valida seu direito ao trono de Davi, sua divindade, seu domínio internacional e até a natureza de seu reino. Mas o que os pais, os pastores e os homens sábios demonstram é que nada menos do que corações submissos e vidas obedientes são suficientes para esse Rei que eleva corações humildes à glória no reino dos céus.


O Reino dos Céus: A Preparação Inicial
por Mike Waters

No Novo Testamento, dois eventos servem para esclarecer as profundas implicações de ser um cidadão do reino de Deus: a pregação de João Batista e o batismo de Jesus. Esses dois eventos foram preparatórios para o estabelecimento do reino de Deus.

Um registro inspirado de cada um deles pode ser encontrado no terceiro capítulo do evangelho de Mateus. Os parágrafos que se seguem darão um vislumbre breve desse capítulo (todas as referências à Escritura serão baseadas em Mateus 3, a menos que seja dada outra indicação). Além disso, será ressaltada a importância do capítulo no entendimento do conceito bíblico concernente ao Reino de Deus.

Lemos sobre a pregação de João na primeira parte de Mateus 3 (versículos 1-12). Esse destemido profeta de Deus começou seu ministério de ensinamento destacando a necessidade de arrependimento (versículo 2). A palavra arrepender significa mudar. Uma mudança de caráter daqueles que viviam no tempo de João era necessária, em vista do que estava iminente: “porque está próximo o reino dos céus”. Antes que os homens pudessem ganhar entrada no reino de Deus, que estava vindo, eles precisariam primeiro sujeitar-se a uma mudança interna de pensamento com respeito ao pecado. Tal é o caso hoje em dia também, para que Deus governe verdadeiramente no coração.

A pregação de João também ligou o rito do batismo com o arrependimento. Isso é evidente em vista da resposta de muitos quando vinham confessando seus pecados e sendo batizados no Jordão (versículo 6). O batismo de João era de “arrependimento para remissão de pecados” (Marcos 1:4). O batismo simbolizava a remoção do pecado, aquilo que contamina as almas de todos os homens e mulheres responsáveis. Uma purificação do pecado era necessária antes que se pudesse ser aceito no reino de Deus. A obra preparatória de João a esse respeito apontava para o batismo pregado por Cristo e seus apóstolos (Mateus 28:19-20; Marcos 16:15-16; 1 Pedro 3:21; etc.). A recusa a ser batizado em nome de Jesus para a remissão dos pecados proíbe para sempre a pessoa de entrar no reino dos céus!

Muitos daqueles da hierarquia religiosa do tempo de João recusaram dar atenção a sua mensagem. Eles se consideravam aceitáveis por Deus na base de seus laços ancestrais com Abraão (veja versículos 7-9). João salientou que isso era uma base insuficiente para a cidadania no reino de Deus. Lamentavelmente, muitos em nossos tempos acreditam que, serem “criados na igreja” e membros “de carteirinha” num corpo local de crentes já são garantias de vida eterna. Porém, essa vida eterna nunca pode ser alcançada sem uma verdadeira mudança interna de caráter! A mensagem de João era clara: demonstração de um coração mudado era essencial (versículo 8).

A pregação de João apontava não somente para o reino que estava vindo, mas também para o rei que estava chegando: Jesus Cristo! João prontamente confessou a superioridade do Messias vindouro: “aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu”. O papel de Jesus no reino de Deus seria distinguido tanto pela obra do Espírito Santo como pelo julgamento final do homem pecaminoso (versículos 11-12). Um entendimento da grandeza de Jesus e de sua obra é necessário para receber o seu reino adequadamente. Jesus tem que reinar no coração em virtude de sua supremacia!

O segundo evento preparatório neste capítulo é o batismo de Jesus (versículos 13-17). Ao ser batizado por João, duas provas divinas autenticaram o papel de Jesus como o Messias profetizado: Œo Espírito Santo desceu sobre Jesus “como pomba” (versículo 16), e  Deus falou do céu: Este é meu Filho amado, em quem me comprazo” (versículo 17).

Uma conversa importante aconteceu, contudo, antes de Jesus ser batizado. Inicialmente, João questionou sua própria dignidade para batizar Jesus (versículo 14). O profeta confessou sua inferioridade e pecaminosidade ao reconhecer sua necessidade de ser batizado por Jesus. Apesar disso, Jesus insistiu para que João batizasse o rei do céu! A razão de sua insistência é declarada: “... assim, nos convém cumprir toda a justiça” (versículo 15). A obra de João era parte do plano de redenção de Deus; portanto, era necessário que o próprio Jesus satisfizesse a exigência de Deus para que todos os homens recebessem o batismo de João. Jesus não necessitava de perdão de pecados. Ao mesmo tempo, a obediência nisso era necessária para ele servir como rei no reino perfeito de Deus.

Em conclusão, deve ser ressaltado que tanto a pregação de João como o batismo de Jesus ilustram verdades importantes sobre o reino de Deus. Primeiro, somente quando o homem decidir fazer o que é certo e seguir a vontade de Deus com o coração, é que o reino de Deus continuará crescendo. Segundo, uma limpeza referente ao pecado é essencial antes que se possa ser aceito no reino de Deus, essa limpeza é caracterizada pela perfeição e santidade. Só através do poder santificador do sangue de Jesus pode-se ser aperfeiçoado. O batismo é o ato que permite ao sangue de Jesus fazer o seu trabalho. Terceiro, uma linhagem religiosa não tem nenhuma validade no governo de Deus. Se alguém é incapaz de manifestar externamente que uma mudança interior ocorreu, então a cidadania no reino de Deus é impossível. Finalmente, o próprio rei do reino celestial desejava submeter-se aos mandamentos de Deus. Se Jesus estava disposto a submeter-se ao domínio de Deus, não deveriam os homens pecaminosos estarem ainda mais dispostos a fazer isso? Nesse ato de obediência por parte de Jesus é encontrada a essência do reino de Deus: o absoluto e supremo reino de Deus no coração!


As Tentações e o Reino
por Matt Qualls

Transformar pedras em pão. Saltar do templo. Dobrar os joelhos diante de Satanás. Qual ameaça real esses atos fariam ao reino? Certamente o Rei podia perceber que a última tentação era a trama de Satanás. As duas primeiras nem sequer parecem prejudiciais.

Jesus um dia haveria de multiplicar peixes e pães para alimentar uma multidão. Acalmar o Mar da Galiléia ou ressuscitar o morto Lázaro não foram menos sensacionais do que saltar do pináculo do templo. Entretanto, cada uma dessas tentações era uma tentativa calculada pelo príncipe do mundo para desencaminhar o reino de Deus logo no início do ministério do Messias.

Essas não foram as primeiras tentações nem seriam as últimas. Jesus deve ter sido tentado quando crescia na Galiléia; entretanto, resistiu aos dardos inflamados de Satanás para emergir de Nazaré imaculado. Mais tarde, durante seu ministério, Satanás recrutou os próprios apóstolos de Jesus para, conscientemente (João 13:2) e inconscientemente (Mateus 16:23), tentar desviar o Mestre do seu rumo. Jesus até mesmo combateu e superou suas próprias emoções no Getsêmani quando enfrentou a morte.

A ocasião dessas provações é de máxima importância. (Mateus 4:1-11). O Pai tinha acabado de dar aprovação ilimitada ao seu Filho (Mateus 3:17). Se Deus estava bem satisfeito com seu Filho, este precisava demonstrar-se agradável ao Pai. Qualquer coisa a menos seria uma miragem de um reino estabelecido na justiça e mantido pela obediência. A declaração de Jesus de fazer a vontade do Pai durante seu ministério terreno teria um som oco se Satanás pudesse indiciá-lo aqui por desobediência. Essas provas também nos dão discernimento a respeito da resposta que Deus deseja daqueles que estão no seu reino.

Transformar pedras em pão. Depois de impor-se um jejum de quarenta dias, Jesus estava faminto, fisicamente enfraquecido. A sugestão de Satanás parecia bastante inocente: satisfaça sua fome utilizando seu poder miraculoso. Fazendo isso, contudo, questionava a declaração singular de Jesus: “Se és Filho de Deus”. A idéia de Satanás de filiação era exercer os privilégios divinos para satisfação pessoal, com ou sem a aprovação dos céus. Jesus não foi abalado e citou palavras já ditas por Deus referente à sobrevivência do homem. Ele raciocinou a partir da revelação de Deus que o pão físico é necessário para sustentar a vida, mas não revoga a responsabilidade espiritual.

Nossa lealdade ao Rei é provada pelas nossas circunstâncias. Satanás ataca-nos oferecendo o que queremos ou mesmo o que necessitamos, ao custo de torcermos a vontade de Deus para se ajustar a nossa. Necessidades legítimas, como ganhar a vida, obter educação e prover as necessidades de nossas famílias não podem ultrapassar nosso serviço a Deus. Situações nas quais nossos interesses pessoais sofrem (“certamente Deus não espera que eu permaneça num casamento no qual não sou feliz”) não mudam nossa responsabilidade de fazer a vontade do Pai.

Saltar do templo. A seguir Satanás também usou as Escrituras, e insistiu com Jesus para que experimentasse a promessa de seu Pai de socorro providencial. Jesus percebeu a sutileza dele e replicou com outra Escritura para indicar a citação de Satanás como uma tentativa de pôr Deus à prova. Jesus confiava em Deus baseado no testemunho escrito de Deus. Sua fé não exigia prova visível. Ele recusou tentar confirmar o amor de seu Pai colocando-o à prova. Jesus exemplificou perfeitamente o que é andar pela fé em vez de pelo que se vê.

É tentador para nós amenizarmos a força dos mandamentos de Deus presumindo saber seus motivos. É muito melhor aceitar a palavra dele, harmonizando tudo o que ele revelou sobre um assunto. Um esposo que exija da esposa amor antes de amá-la, não a ama realmente. Tais “provas” mostram uma falta de fé em vez de produzi-la.

Curvar-se diante de Satanás. A última tentação de Satanás não tem nenhuma sutileza. Ele ofereceu a Jesus todos os reinos do mundo em troca da fidelidade momentânea. Jesus sabia que esses reinos seriam seus, mas ao custo da cruz e de seu sofrimento. Ele repreendeu a Satanás, citando a palavra do Pai para adorar e servir somente a Jeová.

Satanás quer que abandonemos nossa cruz e façamos nosso serviço do reino de forma interesseira, exaltando nossa vontade acima da de Deus. Ele nos tenta com diversões e passatempos que absorvem nossa vida e fascinam nossas mentes, lentamente riscando Deus de nossa vida. Ele usa a pressão de nossos amigos, insistindo-nos a ajustarmos nossa roupa e hábitos ao mundo. Os meios de comunicação rotulam a moral absoluta de Deus como extrema e intolerante. Todos os avanços de Satanás precisam ser rejeitados, independente do custo para nós. Jesus provou seu compromisso para com a vontade do Pai, conhecendo e aplicando sua Palavra. É um modelo que precisa ser repetido em nossa vida para que Deus nos governe e para que sejamos verdadeiros cidadãos do reino dos céus.


O Evangelho do Reino
por Charlie Brackett

Jesus veio “pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:14-15).

Com a brevidade usual, Marcos expôs o que ele e outros escritores inspirados denominaram o evangelho do reino. Evangelho significa boa nova ou boa mensagem. O reino de Deus estava próximo. Sua vinda estava perto. Os mandamentos de Deus ordenam a todos que se arrependam e creiam nessa jubilosa mensagem.

Nunca houve uma mensagem tão acreditável. O poder miraculoso provava que Jesus falava a verdade; “trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de várias enfermidades e tormentos: endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou” (Mateus 4:24). O poder sobre os demônios provou ser verdadeira a sua mensagem e anunciou poderosamente a chegada do reino. Acusado de expelir demônios pelo poder de Satanás, Jesus replicou que, se isso fosse verdadeiro, o reino de Satanás estava dividido, condenado à aniquilação. “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus”, ele disse, “certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mateus 12:22-30). A vinda do reino de Deus era um golpe mortal em Satanás. A luta foi breve. Ainda que tudo parecesse perdido na cruz, a vitória foi arrebatada da morte quando Cristo ressuscitou. O reino veio! Essa boa nova ressoou em todos os cantos do globo e ainda oferece esperança a todos os pecadores. Ela persiste porque o evangelho do reino é...

A boa nova de Deus (Romanos 1:1). Ele é sua fonte. Paulo escreveu, “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito” (1 Coríntios 2:9-10). As boas novas do reino são dignas de aceitação e crédito.

A boa nova do Filho de Deus, Jesus Cristo (1 Tessalonicenses 3:2). Ele é o mensageiro. “Deus...nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (Hebreus 1:1-2). Jesus não é somente o mensageiro, ele é a mensagem. O evangelho apresenta Jesus: quem ele é (o Filho de Deus), como foi declarado (ressuscitado dentre os mortos), e o que ele fez (fez-nos seus chamados, amados de Deus) (Romanos 1:1-7,9,16). Marcos afirma que o início do evangelho de Jesus Cristo estava escrito nos profetas (Marcos 1:1-2). As boas novas de um reino vindouro seriam incompletas se não houvesse predição, descrição e anúncio da vinda do Rei.

A boa nova da graça de Deus (Atos 20:24). É uma bela história de amor, e a graça de Deus é vista nesse amor. Pela graça ele nos salva e nos eleva para sentarmos em lugares celestiais em Cristo (Efésios 2:4-8). Quando se fica na graça de Deus, tem-se paz com Deus em seu reino (Romanos 5:1-2; Colossenses 1:13-14). A graça de Deus explica a bondade básica do evangelho.

A boa nova da nossa salvação (Efésios 1:13). O evangelho é o poder de Deus para salvar (Romanos 1:16). Por ele os pecadores crêem que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos (Romanos 10:9) e são persuadidos a invocar o nome do Senhor para serem salvos (Romanos 10:13). Nele eles aprendem que para permanecer no amor de Deus e para retribuir-lhe amor, é necessário guardar seus mandamentos (João 15:9-10; 1 João 5:3). Obedecendo quanto ao arrependimento e batismo (Marcos 16:16; Atos 2:38), eles se tornam cidadãos do reino (Atos 2:41,47; Colossenses 1:13).

A boa nova de paz (Efésios 6:15). Muitos buscam a paz. Alguns fingem ter a paz, mas por dentro estão as dúvidas, a ansiedade e a perturbação. Outros tentam fazer a paz. Horas e dinheiro incontáveis são gastos nos auditórios de conferências do mundo buscando a paz. Tanto os líderes políticos como os religiosos negociam sem sucesso duradouro. Mas o evangelho do reino diz, “simplesmente receba a paz”. O evangelho leva o homem a se reconciliar com Deus (Romanos 5:10-11) e unir-se com o seu semelhante (1 João 5:1). Jesus Cristo, que é nossa paz (Efésios 2:14-18), diz, “Vinde a mim...Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim...e achareis descanso para a vossa alma” (Mateus 11:28-30). Esse descanso traz paz com Deus e consigo mesmo, e dá ao lar, à igreja e a tudo mais, uma calma celestial. Oh, paz que ultrapassa o entendimento (Filipenses 4:7)!

A boa nova de esperança (Colossenses 1:23). Muitos dos que lêem isto têm ouvido e recebido aquela mesma esperança do evangelho que os cristãos primitivos abraçaram. Que Deus nos ajude a permanecer “na fé, alicerçados e firmes” para que nossa esperança no reino não venha a diminuir.


Os Cidadãos do Reino (1)
Mateus 5
por Marty Broadwell

Mateus, ao descrever aquele período do ministério de Jesus que inclui o que chamamos o sermão do monte, explica que Jesus percorria “toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino” (Mateus 4:23).

O sermão que se segue começa descrevendo aqueles para os quais o reino dos céus é, (Mateus 5:3), e termina explicando quem entrará no reino dos céus (Mateus 7:21). O capítulo 5 é uma descrição do caráter dos cidadãos do reino e contém instruções sobre como ser aceitável ao rei.

O perfil do cidadão do reino

O sermão de Jesus abre-se com uma lista de bem-aventuranças que começa e termina dizendo que “deles é o reino dos céus”. Essas bem-aventuranças são prometidas àqueles que possuem um certo conjunto de qualidades (5:3,10) representando os muitos aspectos do caráter dos cidadãos do reino de Deus.

Essas qualidades de caráter poderiam ser surpreendentes ou até mesmo decepcionantes para alguns. Antes que pessoas conhecidas pelo orgulho, força e invencibilidade, os cidadãos do reino dos céus são pobres, e reconhecem sua pobreza (v. 3). Eles lamentam o que é errado (pecado e as conseqüências do pecado) no mundo (v. 4); estão famintos por algo que substitui sua própria injustiça (v. 6); são mansos, misericordiosos, puros de coração, e ansiosos por levar a paz de Deus ao mundo (vs. 5,7,8,9). No fim da lista, eles são perseguidos (v. 10), injustamente (v. 11), e sem alívio neste mundo (v. 12).

Somos tocados por duas coisas sobre as descrições desses cidadãos. Primeiro, os cidadãos não trazem consigo ao reino nenhum poder ou valor próprio. Alguém poderia esperar cidadãos que têm dinheiro, força, poder ou popularidade para contribuir, antes que aqueles que são pobres, lamentosos, famintos e sedentos, isto é, que necessitam de alguma coisa de seu rei.

Em segundo lugar, essas são qualidades que existem na natureza espiritual dos cidadãos. Suas necessidades e carências são espirituais, e eles não serão desapontados ao saberem que o reino de Deus não lutará por vitórias terrenas (João 18:36), nem se preocupará com comida e bebida, mas eles esperam, em vez disso, “justiça, e paz, e alegria” (Romanos 14:17).

A Justiça do Cidadão do Reino

A lei e a submissão à lei (justiça) são transações entre reis e cidadãos. Ainda que os cidadãos não forneçam nenhuma coisa essencial para a sobrevivência do reino, deles se espera muita obediência. O próprio Jesus foi o cumprimento da lei e dos profetas (5:17), a revelação de Deus quanto a sua vontade aos possíveis súditos. Jesus ressaltou a obediência e o ensinamento da lei de Deus como uma medida direta da sua posição no reino (5:19).

Novamente, aqui ficamos surpresos. Jesus diz que: “se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”. Como poderia ser ultrapassada a justiça dos escribas e fariseus, que eram famosos pelo seu conhecimento e obediência à lei de Deus?

Primeiro, a obediência dos escribas e fariseus não era motivada pelo desejo de agradar ao rei; mas sim, por outras coisas: o desejo de serem vistos pelos homens (6:2; 23:5), a esperança de receber algo em troca do que se fez (5:46-47), ou o desejo de retribuição por ofensas feitas (5:38,43). Segundo, e mais importante, a obediência deles não partia do espírito. Enquanto governantes terrenos estão preocupados só com os atos externos (não roubar, pagar seus impostos, etc.), o reino dos céus governa o coração.

Em vez de meramente proibir o homicídio (o ato), a ira sem causa é proibida e o desejo e esforço para o perdão é exigido (5:21-24). Além de restringir as atividades sexuais, a cobiça (o pensamento do coração) é condenada (5:27-28). A veracidade, ultrapassando o mero cumprimento dos votos para incluir tudo o que se fala, é exigida (5:33-37). Em vez de prover meios para retaliação legal, como muitos governos humanos fazem, os cidadãos do reino precisam retribuir com bondade ao abuso (5:38-42). O reino dos céus está cheio de cidadãos que amam, abençoam, fazem o bem, e oram por aqueles que os maltratam e perseguem (Mateus 5:43-47).

A pregação do evangelho do reino começa com a promessa de grandes bênçãos para aqueles que têm o caráter adequado. Esse caráter precisa ser desenvolvido em cada um de nós ouvindo o rei. O processo exige um reconhecimento da necessidade (“fome e sede”), uma vontade de começar sozinho (“uma cidade edificada sobre um monte”) e a coragem de fazer sacrifícios doloridos (“se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti”). O resultado é uma perfeição de espírito que reflete a perfeição do Pai (5:48), pelo qual as qualidades desenvolvidas em sujeição ao rei e as bênçãos recebidas S participação no reino S são idênticas.


Os Cidadãos do Reino (2)
Mateus 6 e 7
por Marty Broadwell

Grupos numerosos de pessoas (governos, empresas, exércitos) exigem a hierarquia do comando. Essa organização hierárquica é necessária para compensar as limitações de um único líder que não pode instruir ou comandar pessoalmente a população inteira e não pode perceber e prover todas as necessidades individuais.

As imperfeições dos cidadãos também exigem a partilha da autoridade. Todos os cidadãos precisam ser instruídos e corrigidos, e alguns podem até mesmo necessitar serem policiados. Todas essas responsabilidades estão além da capacidade de apenas um comandante humano desempenhá-las sem uma organização hierárquica de apoio.

O resultado desse arranjo, contudo, é que introduz preocupações estranhas ao propósito geral do grupo. Inevitavelmente, os indivíduos aspiram a posições mais altas e maiores benefícios; há competições e valorizações erradas. Até mesmo num reino podem ser feitos esforços para atingir posição e honra impressionando outros e não o rei.

O reino dos céus não tem outra hierarquia além do Rei e seus súditos, porque o Rei não tem limitações de atenção ou capacidade. “Porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais” (Mateus 6:8); ele pode ser abordado diretamente, como um Pai, por todos os cidadãos (6:9); Ele é capaz de ver até mesmo as coisas secretas (6:4,8); e ele é capaz de prover não somente para os cidadãos humanos, mas até mesmo para os reinos vegetal e animal (6:28-30). “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir” (Isaías 59:1).

Tendo em vista que o Rei do Céu não tem nenhuma das deficiências dos governadores humanos, não há necessidade das hierarquias intermediárias e preocupações externas que caracterizam as organizações do mundo. Desde que o Rei está sempre ciente das ações e motivos de cada um, os cidadãos do reino dos céus não devem ter necessidade de se preocuparem com impressionar uns aos outros. Não são obtidas promoções por grandes feitos vistos pelos homens. De fato, não há hierarquia na qual se é promovido. Além do mais, atos feitos meramente para a glória dos homens perdem o seu valor diante do Rei, que julga os motivos (6:2). As realizações em favor do Rei podem e devem ser secretos, assim demonstrando o motivo adequado e confiando no Rei para que ele veja e galardoe (6:3-4, 16-18). Desde que o Rei tem um relacionamento pessoal com cada cidadão, não é necessário demonstrar nossa ligação íntima com ele a outros cidadãos por meio de orações públicas. O Rei pode ouvir-nos até mesmo em lugares escondidos. Orações longas e repetitivas são sem sentido, desde que Ele sabe o que precisamos antes que o peçamos (6:5-7). Uma vez que o Rei está ciente de todas as necessidades dos cidadãos e é capaz de provê-las, não há necessidade de se preocupar com acumular tesouros (6:19-21) ou estar ansioso pelas necessidades desta vida (6:25-34). “Pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas” essas coisas (6:32).

O exemplo simples de oração (6:9-13) dado por Jesus ilustra cada um destes pontos: a íntima ligação pessoal com o Rei (“Pai nosso”), a dependência e confiança nele para prover nossas necessidades (“O pão nosso...dá-nos hoje”) e responsabilidade direta com o Rei (“perdoa-nos as nossas dívidas”). Essa oração também ilustra o único interesse que os cidadãos podem ter, e devem ter, como resultado da eliminação das distrações que são parte dos reinos terrestres. “Venha o teu reino” (6:10) é mais do que um pedido pela vinda do Reino. É uma expressão de fidelidade ao Rei e seus propósitos. Na realidade é uma definição do reino: a vontade de Deus sendo feita na terra (e em nós) do mesmo modo como é cumprida no céu. Essa visão clara, centralizada, de nosso lugar no reino é ilustrada pela bênção de uma boa visão, que inunda o corpo com informação necessária para agir corretamente (6:22-23), e pela impossibilidade de servir a dois mestres ao mesmo tempo (6:24).

A participação no reino dos Céus exige uma devoção ao Rei que poucos atingirão (7:13-14). Expressões de devoção (“Senhor, Senhor”), ou mesmo grandes realizações em nome do Rei (7:21-22) não são suficientesSsão até mesmo contra as leis do ReiSse não forem a vontade do Pai.

Com Deus, o Filho como nosso Rei, podemos dar toda a força de nossa lealdade, atenção e atividade somente a ele. Buscar louvor, posição ou posses, tudo são distrações características das organizações mundanas, com seus governantes imperfeitos e egoístas. Nosso Rei sabe e pode prover tudo o que verdadeiramente necessitamos. Mas “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” (6:32-33).


Corrigindo Mal-entendidos Sobre o Reino (1)
por Glenn Jones

Equívocos a respeito do reino de Cristo podem ser espiritualmente fatais. Eles fazem com que algumas pessoas rejeitem totalmente o reino e conduzem outros a perverterem sua natureza e propósito.

Há alguns equívocos comuns sobre o reino em nossos dias, que foram evidenciados há muito tempo na enigmática pergunta feita por João Batista, em Mateus 11:1-15.

João Batista perguntou a Jesus, “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” Devemos observar em Mateus 11:2-4 que essa questão se originou no próprio João e que Jesus dirigiu sua resposta diretamente a ele. João tinha visto o Espírito descer sobre Jesus e testificou a respeito dele, “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” e, “Ele é o Filho de Deus” (João 1:29-36). Por que João estava agora questionando o próprio testemunho que ele anteriormente tinha dado? Eu creio que podemos identificar alguns mal-entendidos por trás dessa pergunta.

O problema do bem-estar pessoal. João tinha motivado muitas pessoas a se arrependerem e esperarem o reino. Ele tinha testificado claramente que Jesus era o Messias. Ele tinha arriscado sua própria vida repreendendo o Rei Herodes por todos os seus males, especialmente por possuir Herodias, a esposa de seu irmão Filipe (Marcos 6:17-19; Lucas 3:19-20). Qual foi sua recompensa? Prisão! Imagine o desconforto daquela antiga prisão e a frustração de estar limitado, sem mencionar a ameaça constante de morte feita por Herodias e Herodes.

Circunstâncias tão horríveis têm feito muitos duvidarem. João estava querendo saber por que o Messias não o estava resgatando para a causa da verdade. João teria que aprender o significado total de sua declaração sobre Jesus, “Convém que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). A vontade de Deus para João não era o resgate físico, mas o martírio. Como um galardão espiritual, ele foi reconhecido por Cristo como “mais que profeta” e “entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mateus 11:9-11) e recebeu um lugar no reino celestial entre os outros profetas de Deus (Lucas 13:28-29).

Há uma lição para nós no meio do engano muito difundido que o sucesso do reino de Cristo é medido pela prosperidade física e que o propósito do reino é o lucro mundano (1 Timóteo 6:5). Evangelistas bem conhecidos têm usado habilmente os meios de comunicação para propagar tal erro, desacreditando a mensagem do evangelho. Precisamos aprender a submeter nossas vidas a Deus como servos de Cristo independente das circunstâncias físicas em que estejamos. Paulo viu sua salvação em manifestar Cristo seja pela vida, seja pela morte (Filipenses 1:19-20).

O plano de Deus versus o plano do homem. Quando João propôs sua pergunta a Jesus, ele tinha sido adequadamente informado pelos seus próprios discípulos sobre o ministério de Jesus (Mateus 11:2; Lucas 7:18). Isso implica que, na mente de João, Jesus não estava manifestando-se bastante claramente como o Messias que estava vindo e que o reino estava insuficiente em perfil. Precisaria Jesus melhorar seu ministério?

A resposta do Senhor a João em Mateus 11:5-6 ressaltou que ele estava seguindo o plano de Deus. Sua referência à ressurreição dos mortos, a cura dos cegos, dos coxos, dos leprosos, dos surdos e a pregação do evangelho aos pobres continha uma dupla prova dele ser o Messias. Não somente provou seu poder divino, mas também cumpriu as profecias de Isaías 35:4-6; 61:1-3. Tal evidência estava dando prova adequada para impedir as pessoas de se ofenderem com as declarações messiânicas de Jesus. Entretanto, o ministério de Jesus era intencionalmente simples, cumprindo Isaías 42:1-4. Ele evitava os movimentos políticos de massa, o sensacionalismo, e a emoção momentânea, e destacava a justiça e a confiança em seu nome (Mateus 12:15-21). O reino messiânico ia desenvolver-se de acordo com o plano já estabelecido pela sabedoria de Deus no Velho Testamento (João 5:19-20). Essa sabedoria, afinal, seria justificada por seus frutos (Mateus 11:18-19) e não seria mudada por qualquer insatisfação de homens devotos, mas impacientes.

A necessidade de conversão. A revelação por Jesus, de si mesmo e do reino, foi ditada não somente pelo plano predeterminado de Deus, mas também pela necessidade de mudar as pessoas interiormente. Ao reagir à pergunta de João, Jesus expressou preocupação sobre a violência contra o reino (Mateus 11:12). Quando os homens rejeitaram ou mudaram a mensagem de João ou a de Jesus, eles cometeram violência contra o reino ou tentaram entrar nele pela força, sem o devido arrependimento (Lucas 16:16). A pregação do reino era para conscientizar os homens sobre o pecado deles e persuadi-los a mudar suas vidas de acordo com a vontade de Deus. O escriba em Marcos 12:28-34 não estava “longe do reino” porque tinha-o entendido como amor prático a Deus e ao próximo. Paulo salientou que o reino é “justiça, e paz, e alegria”, e que não é comida nem bebida (Romanos 14:17). Jesus ressaltou que o reino não era algo que vinha com sinais observáveis, mas algo “íntimo” entre os homens (Lucas 17:20-21).

João tinha elevado a emoção do povo, referente ao reino, a um pico; mas depois pareceu ficar impaciente com os métodos de Deus. Os homens hoje em dia se deixam levar pela impaciência e buscam sucesso desviando-se da conversão genuína, e que “calcula a despesa”, por um “evangelho” conveniente, que apela ao homem exterior. O evangelho se dirige ao homem exterior, mas a sua preocupação principal é com a salvação eterna do homem interior. Quando a autoridade das Escrituras e a batalha contra o pecado são minimizados, e a igreja se torna principalmente um centro comunitário e um forum sóciopolítico, a conversão não se efetivou, e o reino sofre violência. O sucesso está em fazer a vontade de Deus pelo modo de Deus.


Corrigindo Mal-entendidos Sobre o Reino (2)
por Glenn Jones

Durante o ministério de Jesus, muitos dos seus discípulos imaginaram seus sonhos se realizando. Sua demonstração de poder divino tinha-os convencido de que ele seria um rei capaz de atingir os objetivos políticos e suprir as necessidades físicas deles.

De acordo com João 6, contudo, Jesus viu esses “sonhos” como equívocos pondo em perigo seu ministério e trouxe-os a uma parada súbita, fazendo com que muitos deles encerrassem sua experiência como discípulos. Os mal-entendidos que conduziram a esse triste evento não são estranhos aos nossos dias.

Jesus e a política. Depois dos 5.000 terem ouvido Jesus pregar sobre seu reino o dia todo e terem sido milagrosamente alimentados por ele (Lucas 9:11-17), eles sabiam que Jesus era um profeta especial (João 6:14). Mas Jesus teve que fugir deles, porque estavam usando a força para perverter sua missão espiritual numa missão política (João 6:15). O Senhor nunca concebeu seu reino como mundano, com forças militares, como ele declarou claramente a Pilatos em João 18:36. O sonho que Jesus entraria no campo político como rei, libertando os judeus da ocupação romana e da depressão econômica, ele nunca pretendeu realizar.

Isso não significa que Jesus estivesse esquecido dos governadores e dos assuntos políticos envolvendo a palavra de Deus, pois ele pregou submissão aos governantes civis (Lucas 20:22-26), mas francamente julgava a crueldade e exploração deles (Lucas 13:31-32; 22:25). Ele e seus apóstolos declararam mensagens claras sobre assuntos sócio-políticos para serem pregadas pelos cristãos de hoje, a respeito do aborto, prostituição, homossexualidade, divórcio e novo casamento, álcool e drogas, educação de filhos, crimes e racismo, só para mencionar umas poucas. Entretanto, o domínio de Cristo nunca foi designado a juntar seus seguidores em instituições políticas na terra, quer sejam governos ou partidos políticos. Precisamos cuidar para que a igreja do Senhor não se torne em instituições como essas, justamente como ele recusou tornar-se um rei terreno.

Jesus e o alimento. A multidão que Jesus alimentou milagrosamente veio procurá-lo mais tarde, no outro lado do mar da Galiléia. Eles imaginavam um Rei Messiânico que não somente os guiaria como também proveria cura instantânea e refeições para todos os adeptos. Mas Jesus repreendeu-os pelo motivo deles, “Vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará” (João 6:26-27).

Jesus não se opunha à alimentação da multidão em si, porque em duas ocasiões ele alimentou-a depois que o tinham ouvido muito tempo (Marcos 6:34-44; 8:1-9). Jesus opôs-se muito a atrair pessoas para sua missão e mantê-las por meios carnais, e se recusava a prover pão nessa base. Semelhantemente, o Novo Testamento coloca o comer com o propósito de satisfazer a fome pessoal e o confraternizar nas casas particulares (1 Coríntios 11:21-22). A meta do reino é a vida eterna. Hoje em dia, as festas, a recreação e os programas para alimentar os pobres patrocinados pela igreja, contradizem o ensinamento de Jesus em João 6.

Jesus e os sinais. Em João 6:30-32 a multidão exigia um sinal de Jesus “para que o vejamos e creiamos em ti”. Parece que a alimentação milagrosa que eles tinham experimentado já tinha perdido seu impacto, e agora era preciso mais um sinal. O Senhor fazia sinais para ensinar verdades espirituais (Lucas 5:23-25) e identificar-se como o Messias prometido que operava com o poder de Deus (Lucas 7:20-23; Atos 2:22). Note como ele esperava que seus apóstolos compreendessem seu poder total pela alimentação das 5.000 pessoas (Marcos 6:51-52; 8:14-21). Quando havia pouco interesse em entender a mensagem dos sinais, ele executava poucos milagres e apontava para sua ressurreição como o sinal especial que seria dado aos judeus que buscavam sinais (Mateus 12:38-40; 13:58; Marcos 6:4-6). Sempre que a descrença impedia que os sinais de Cristo mostrassem seu poder e princípios, eles não podiam servir para nenhum outro propósito além do sensacionalismo o qual necessitaria de constante repetição para manter o povo estimulado a receber o reino. Mas Cristo nunca quis fervor artificialmente provocado; ele queria produzir convicção que resiste a todas as fases da vida e traz naturalmente amor, zelo, felicidade e emoções que louvam seu nome.

Jesus e as palavras de vida. Jesus disse a essa multidão, “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6:63). As palavras que Jesus disse são o meio usado pelo Pai para ensinar e levar homens ao seu Filho, Jesus, o qual o Pai enviou como sua testemunha (João 6:44-46). Aqueles que aprendem essas palavras e vivem por elas “comem o pão da vida”, “absorvendo” sua carne e sangue sacrificados pela vida do mundo (João 6:51-58). Jesus, o Filho, nem perderá nem expulsará tais fiéis, mas os ressuscitará no último dia para a vida eterna (João 6:37,39-40). Aqueles de mente carnal, dessa multidão, estavam cegos para a mensagem espiritual de Cristo e se afastaram com desgosto daquilo que eles viam como absurdo, doutrina canibalista, e Cristo nem tentou acomodá-los (João 6:52,60,66-69). Hoje, os homens de mente secular também ridicularizam a mensagem de Cristo como fora de moda, que não consegue atender as necessidades modernas do homem, os quais surgem do meio cristão para secularizar o reino. Como Cristo, não nos acomodemos com eles, mas permaneçamos fiéis à sua mensagem e reino, que conduzem à salvação de nossas almas.


Parábolas de Crescimento
Mateus 13:1-30,36-43
por Gardner Hall

“Vamos dar uma grande festa e então, quando as pessoas vierem para se divertirem, podemos ensiná-las sobre Jesus.”

“O reino de Deus vai conseguir o domínio do mundo quando Jesus voltar e conduzir seus exércitos contra as forças do mal de Gogue e Magogue (Rússia e China),”

 “Como pode Jesus estar reinando hoje em dia quando há tantas pessoas más no mundo?”

Tais afirmações revelam mal-entendidos sobre o reino de Deus, que existe hoje assim como existia no primeiro século. O ensinamento de Jesus em Mateus 13 é o remédio certo para esses erros do presente como daquele tempo.

A parábola dos solos

Alfred Edersheim afirma que não é difícil imaginar Jesus numa ensolarada manhã de primavera, “sentado na proa de um barco, enquanto aponta aos seus ouvintes a rica planície em frente, onde o trigo novo, ainda no primeiro estágio de seu crescimento, está prometendo colheita.” (Life and Times of Jesus the Messiah, livro 3, página 586).

A partir dessa paisagem verde, Jesus falou da semente caindo em quatro tipos de terra: na beira da estrada, rochosa, espinhosa e boa. Cada solo representa um tipo diferente de pessoa e sua reação à palavra de Deus. W. F. Adeney descreve aqueles da beira da estrada, solo rochoso e com espinhos, como pessoas que respondem ao evangelho com indiferença, fervor sentimental e mundanismo sufocante (Pulpit Commentary, 26). O solo bom representa aqueles que aceitam a palavra e produzem quantidades variadas de frutos.

Aplicações

ŒA natureza espiritual do reino. A extensão do reino não depende de conquistas políticas ou militares no Oriente Médio, ou em qualquer outra parte do mundo, mas da simples aceitação da palavra de Deus em corações bons e honestos de todo lugar. Aqueles que querem notícias sobre o reino de Deus devem consultar suas Bíblias e os relatos dos pregadores do evangelho espalhados pelo mundo e não as informações da mídia sobre o Oriente Médio.

A semente (a palavra, Lucas 8:11) é suficiente para converter aqueles do “solo bom.” Esforços para ganhar “convertidos” com festas patrocinadas pela igreja, aulas de inglês, atividades esportivas, pintura de casas, etc., revelam uma obsessão doentia pelo crescimento numérico. Enquanto mostramos amor a todos, devemos deixar claro que nossos esforços de evangelização se focalizam na verdadeira semente, a palavra de Deus. Táticas de chamariz, isto é, usar algo como isca, e depois substituí-lo por outra coisa, são meios nunca apreciados, seja quando envolvem vendas de automóveis ou a pregação do evangelho!

A Parábola do Joio

A palavra de Deus e a influência dos fiéis não são as únicas sementes lançadas no mundo. Na parábola do joio, Jesus indica que não devemos surpreender-nos com a existência do mal, mas confiar em Deus para eliminar esse mal na colheita final. Essa parábola envolve um inimigo (representando Satanás) que semeia joio (um tipo de grama com sementes venenosas) num campo de trigo. O joio (representando o povo mau e sua má influência) é deixado crescer pelo proprietário do campo junto com o trigo, mas será separado e queimado na colheita.

Alguns têm aplicado mal essa parábola à disciplina da igreja, mas não tem nada a ver com a disciplina coletiva. Jesus disse que o campo representa o mundo (versículo 38), e não a igreja local. Outras passagens (1 Coríntios 5; 2 Tessalonicenses 3) ensinam que a congregação deve separar-se dos membros rebeldes.

A verdadeira aplicação

Œ O reino existe e floresce apesar da presença do mal. Aqueles que se queixam de que o reino não poderia existir agora, por causa da presença do mal em nosso mundo, se esquecem do ensinamento dessa parábola simples. Outros textos, tais como Salmo 110:2, retratam o Messias reinando no meio de seus inimigos. I Coríntios 15:25 afirma que Cristo reinará “até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés”. A aceitação do governo de Cristo ajuda-nos a brilhar como luzes no meio de uma geração desonesta e perversa (Filipenses 2:15).

 Não devemos tentar remover o mal por meio da força. Nossas armas não são carnais (2 Coríntios 10:4). Não há lugar, no Novo Testamento, para guerras “santas” ou até mesmo guerras políticas. Os cristãos podem combater melhor o mal com vidas puras e com a proclamação em amor do evangelho.

 Haverá condenação eterna para os ímpios. Ainda que o caminho dos transgressores seja duro neste mundo, sua destruição final será no fim do tempo e nas justas mãos de Deus.


Parábolas de Crescimento
Mateus 13:31-35,44-46; Marcos 4:26-29
por Gardner Hall

A preocupação com o “crescimento” nas culturas ocidentais geralmente envolve uma fascinação por números e estatísticas. As empresas gostam de mostrar com tabelas e gráficos as vendas e a clientela crescentes. Jesus fala do crescimento em seu reino, não porém o tipo de crescimento que pode ser medido com gráficos, mas antes crescimento interno dos discípulos e uma influência que ultrapassa as estatísticas.

O Reino Crescerá!

O Grão de Mostarda, o Fermento e a Semente que Cresce

O grão de mostarda que Jesus tinha em mente na sua parábola (Mateus 13:31-32) era provavelmente a mostarda preta, uma árvore que cresce até uma altura de aproximadamente 5 metros. “Entre os rabinos, um ‘grão de mostarda’ era uma expressão comum para qualquer coisa muito pequena” (ISBE, vol. 3, pág. 2101). Era uma verdadeira maravilha que uma árvore bastante grande para que as aves repousassem em seus ramos pudesse sair de uma tão pequena semente.

W. F. Adeney (Pulpit Commentary) aponta três aspectos do crescimento do reino que podem ser vistos na parábola do grão de mostarda;

Œ Parece pequeno no começo: poucos, nos dias de Jesus, poderiam ter imaginado como ele e seu grupo não promissor de apóstolos viraria o mundo de cabeça para baixo dentro de poucos anos (Atos 17:6) e finalmente mudaria o curso da história mundial com suas palavras inspiradas.

 Contém o centro da vida: uma pequena pedra não tem vida e não gerará nada. Para a semente de mostarda produzir uma grande árvore precisa conter a maravilhosa fonte de vida. Ainda que a palavra de Deus pareça insignificante para alguns, ela contém a fonte da vida espiritual que determina uma transformação radical na vida dos que crêem.

Ž Tem grande desenvolvimento: ao pensar no desenvolvimento do reino alguns raciocinam em termos sectários e concentram a atenção no crescimento do número de indivíduos associados numa aliança de igrejas. O reino, porém, não tem nada a ver com uma associação de igrejas locais; antes, envolve o domínio de Cristo nos corações dos indivíduos. Portanto, o desenvolvimento do reino pode ser melhor visto não em crescimento estatístico numa “Lista de Igrejas”, mas nas mudanças poderosas nos indivíduos que são libertados de vidas vazias e egoístas, para se tornarem potências para o bem no mundo.

A parábola do fermento mostra o modo penetrante pelo qual o reino influencia tudo o que toca. Quando o fermento do reino está em nossos corações, colegas de trabalho ou da escola perceberão a influência fermentante provindo desse em nossas vidas.

A parábola da semente que cresce, em Marcos 4:26-28, salienta o maravilhoso crescimento do princípio básico do reino. Assim como os maravilhosos segredos da vida estão além de nossa compreensão, assim também está a ação da palavra de Deus no coração de uma pessoa.

O Grande Valor da Cidadania

Parábolas do Tesouro Escondido e da Pérola Preciosa

A parábola do tesouro escondido se refere àqueles que, sem procurá-lo, encontram o reino por acaso, percebem seu grande valor e voluntariamente sacrificam tudo para obtê-lo. A parábola da pérola de alto preço se relaciona com aquele que buscou diligentemente a verdade, encontra-a e sacrifica tudo para obtê-la.

O conceito de sacrificar tudo para obter uma cidadania apreciada é bem conhecido daqueles que têm amigos que são imigrantes recentes num determinado país. Conheço famílias que venderam suas casas e todos os seus bens partindo em viagens perigosas a fim de entrar nesse país e iniciar nova vida. Tenho visto longas filas em certos consulados onde o povo espera por uma entrevista de três minutos com um funcionário consular. Se conseguem ao menos um visto de turista, há muita alegria. Se lhes é negado, há lágrimas e amargura. Viver num país, mesmo ilegalmente, representa uma oportunidade para uma nova vida, esperança e segurança, e milhões sacrificarão quase tudo para conseguir isso.

A cidadania no reino de Cristo nos dá uma nova vida, esperança e segurança além de qualquer coisa que este país jamais possa oferecer! No reino de Cristo sabemos de onde viemos e para onde iremos! Podemos, portanto, enfrentar as batalhas da vida com uma segurança que nos dá a paz que ultrapassa todo entendimento. Essa paz e segurança valem o sacrifício de tudo que possuímos na terra. Que Deus nos ajude a compreendermos a grandeza dos benefícios que ele nos tem dado no reino de seu Filho, e confiarmos neles, para que queiramos “vender tudo o que temos” a fim de mantermos nossa cidadania nesse reino!


A Grandeza no Reino (1)
por Barry Hudson

O evangelho de Mateus estabeleceu claramente que o reino que tinha sido esperado há séculos estava próximo, mas muitos mal-entendidos apareceram com respeito ao domínio de Deus através de Cristo. Talvez não houvesse maior equívoco do que como ser grande no reino.

Jesus, para preparar os apóstolos enquanto ele se aproximava do tempo dos conflitos públicos entre ele e os líderes judeus sobre o reino, ensinou diversas lições para corrigir tais pontos de vista errados sobre a grandeza. Ele tratou de três áreas de grandeza e ambição mundanas; problemas com os quais ainda lidamos hoje em dia.

Œ Posição. Os líderes judeus estavam sempre disputando uns com os outros para serem reconhecidos como os mais importantes. Jesus solucionou o problema em Mateus 11:11 S João era o maior. Ele era o precursor do Senhor, mas mesmo nessa grande posição ele não era tolerante para com os reis, nem alguém dado a vida luxuosa. Ele humildemente servia, apontando Jesus aos perdidos.

“Mas o menor no reino dos céus é maior do que ele.” Jesus não queria dizer que, no reino de Deus, um homem que tivesse um valor moral inferior ficaria mais alto no favor de Deus do que João. Jesus estava ressaltando a grandeza do reino. Se a multidão recebesse os milagres e os ensinamentos de Jesus, poderia gozar maiores privilégios do que João: cidadania no reino! Homens como João abandonaram tudo, dedicando-se a preparar o caminho para Cristo; contudo, não tiveram a oportunidade de experimentar o que gozamos em Cristo. Em vez de lutar por posição, como os líderes judeus, os cidadãos do reino devem sentir-se humildes e agradecidos pelo exaltado privilégio que Deus lhes proveu em Cristo.

 Poder. Os apóstolos tinham estado disputando durante vários dias sobre quem dentre eles seria o maior. O que provocou essa contenda? Pedro fez a boa confissão e foi abençoado (Mateus 16). Seis dias mais tarde, Jesus levou três apóstolos ao monte e transfigurou-se, mas não lhes foi permitido falar aos outros sobre essa experiência (Mateus 17). Quando Jesus desceu do monte, soube que os outros nove foram incapazes de expulsar um demônio. Pedro estava novamente no centro das atenções quando encontrou milagrosamente a moeda no peixe. Todos esses eventos combinados devem ter causado alguns atritos.

Os apóstolos, então, conduziram a disputa ao ponto crucial, perguntando: “Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?” Eles formularam a pergunta de maneira bastante geral para disfarçar seus motivos reais, mas Jesus sabia tudo sobre sua “briga pessoal” recente e os expôs com uma pergunta: “De que é que discorríeis pelo caminho” (Marcos 9:33)? Eles ficaram calados e envergonhados porque, no mesmo tempo em que Jesus tinha predito sua morte, eles estavam discutindo sobre grandeza futura, como herdeiros disputando uma propriedade antes da morte do dono.

Jesus sentou-se. Os apóstolos esperaram, ansiosamente, que Jesus nomeasse o maior entre eles. Pedro estava pronto para dar um passo adiante, e talvez Tiago e João estivessem pensando que eram os primeiros. Deve tê-los realmente sacudido quando Jesus chamou uma criancinha e disse: “Vêem esta criança? Comecem a agir como ela!” Precisamos ser humildes como uma criança (Mateus 18:4). Se eles não se livrassem de seu orgulho, o problema não seria quem era o maior, mas se eles ao menos estariam no reino!

Muitos querem ser celebridades em vez de servos! Somos orgulhosos e queremos poder. Para Deus dominar nossos corações, precisamos não reivindicar, não insistir em nenhum direito, enfim não vir com nenhuma exigência, mas curvar-nos humildemente à vontade do Senhor e estarmos contentes em fazer isso.

Ž  Posses. Mais tarde outras crianças foram trazidas a Jesus e ele disse, “porque dos tais é o reino dos céus” (Mateus 19:14). Os apóstolos podem ter pensado: “Mas o que poderia uma tal atitude humilde fazer pelo reino? O que um reino precisa é de homens com riquezas!” Jesus, então, falou com um jovem que tinha riquezas, bondade e pureza. Certamente, Deus estava governando a vida dele! Contudo, Jesus conhecia seu coração; assim, disse-lhe que fosse, vendesse todas as suas propriedades e desse aos pobres (Mateus 19:21). Basicamente, Jesus estava dizendo: “Confie plenamente em mim e deixe tudo.” O ato externo evidenciaria uma mudança interna para a fé humilde. Jesus exigia um compromisso total, mas o jovem “confiava em riquezas” (Marcos 10:24).

Para sermos grandes no reino, precisamos ser como nosso Rei. Temos que eliminar a ambição por posição, poder e posses, e humilharmo-nos para servir.


A Grandeza no Reino (2)
por Barry Hudson

Ambição é: um desejo ardente de posição social, fama, poder; o anseio por progresso pessoal e uma vontade de lutar para conseguir isso.

Esse lado sombrio da ambição é uma paixão por ser popular, uma luta para entrar nas listas que o público lerá, um esforço para colocar seu próprio retrato em lugares de destaque público. É um desejo de estar acima de todos os outros. Esse motivo errado é condenado em Mateus 20:1-28, onde Jesus mostra três ambições indignas dos homens:

Œ A ambição por recompensa (20:1-16). Jesus conta uma parábola a respeito do proprietário de uma vinha que estava ansioso para fazer sua colheita antes que viessem as chuvas. Ele foi à praça pública às 6 horas da manhã e recrutou trabalhadores. A colheita era grande e os trabalhadores poucos, por isso ele voltou a buscar mais trabalhadores às 9, às 12 e às 15 horas. Ele ainda precisava de mais trabalhadores, assim às 17 horas ele contratou o último grupo e, então, pagou a todos, desde o último grupo até ao primeiro. Quando ao primeiro grupo foi pago a mesma quantia que a do último, o qual tinha trabalhado menos horas, aqueles reclamaram ao proprietário dizendo que era injusto.

A aplicação? Deus não está interessado nas horas; ele está interessado nos corações. O pensamento que é o mais importante na mente de muitos é: “quanto vou ganhar?” Qual é nosso motivo em servir a Deus? Por que somos pregadores, presbíteros, diáconos, professores de aulas bíblicas? O motivo é tanto trabalho por tanto pagamento ou estamos apenas satisfeitos em poder trabalhar para Deus? Não é a quantidade de serviço prestado, mas o amor com que tal é prestado que importa. Deus não olha para a quantidade ou a grandeza de nosso serviço. Desde que é tudo o que temos para dar, todo serviço tem igual importância para Deus. Mesmo que não possamos alcançar reconhecimento e recompensa, que o Senhor nos ajude a servi-lo por causa de uma coisa, e só uma coisa: nosso amor por ele.

 A ambição por posição social (20:17-23). Jesus tinha acabado de falar sobre uma cruz (versículos 17-19), mas Tiago, João e sua mãe estão interessados numa coroa. A mãe deles, interessada em promover seus filhos, pede que, quando Jesus entrar no seu reino, eles possam sentar-se um à sua direita e outro à sua esquerda. Seu pedido é na evidência de sua fé em Jesus. Eles crêem no que ele tinha dito a respeito de estar sentado no trono da glória (19:28).

É claro que a ambição pecaminosa é o motivo principal do pedido deles. Querem grandeza, querem ser conhecidos. Depois de tantos anos de treinamento e privação, querem ser vistos e respeitados. Obviamente eles estavam se posicionando para o poder. Sem dúvida, eles se sentem aliviados por terem feito esse pedido antes de Pedro!

Eles ainda mal entenderam a natureza do reino de Jesus e o princípio que faz com que as pessoas sejam grandes nesse reino. Portanto, Jesus falou-lhes sobre o cálice de sofrimento (versículo 23). Disse-lhes: “Vocês não têm nenhuma idéia da agonia e do horror que virão como resultado de seu pedido. Quando pedem glória, estão pedindo sofrimento. Em meu reino, meu Pai faz a promoção mediante a preparação que consiste no cálice da angústia, do sofrimento e da dor.” Há um impulso dentro do coração de cada um de nós para sermos o número um, para chegarmos ao topo. Jesus, porém, ensina a necessidade de sacrifício em vez de superioridade.

Ž  A ambição por domínio (20:24-28). Quando os apóstolos viram a ousadia de Tiago e João, ficaram indignados porque pensaram que estes e sua mãe estavam tirando vantagem injusta. Eles ficaram ciumentos e irados com esses dois irmãos. Antes de criticarmo-los muito, olhemos para nós mesmos. Não nos sentimos do mesmo modo vendo alguém de nosso círculo avançar para o alto quando nós nos achamos igualmente qualificados?

Os apóstolos estavam rebaixando o reino ao nível dos reis pagãos que usavam de mão forte para manterem suas posições de domínio. No estilo de vida do reino, não há lugar para a ambição egoísta. A grandeza no reino é determinada pelo serviço e não pela posição oficial.

“Eu, me, mim, meu”, são as palavras favoritas dos ambiciosos mundanos, mas precisamos nos lembrar do exemplo de Jesus. Ainda que ele fosse onipotente e pudesse ser senhor sobre tudo, ele veio para resgatar os homens indignos mediante o seu sacrifício de expiação. Todo seguidor precisa ter essa mesma atitude de serviço aos outros, para que Cristo verdadeiramente reine sobre suas vidas. Recompensa, posição e domínio precisam ser sempre substituídos por serviço amoroso e voluntário, em benefício de outros.


As Últimas Parábolas do Reino (1)
por Bill Hall

Poucos dias antes de sua morte, Jesus narrou três parábolas, todas elas na presença dos principais sacerdotes e fariseus, os quais concluíram corretamente que o Mestre estava falando deles (Mateus 21:45)

Um tema é constante nas três parábolas: rejeição do domínio de Deus por aqueles que parecia que iam aceitá-lo e aceitação por aqueles que parecia que iam rejeitá-lo. As três parábolas, registradas em Mateus 21:28 - 22:14, são: a dos dois irmãos, a dos lavradores perversos e a da festa de casamento do filho do rei. Na primeira (Mateus 21:28-32), um pai mandou seus dois filhos trabalharem na sua vinha. O primeiro expressou sua vontade de ir, mas depois não foi; enquanto o segundo recusou, porém mais tarde, mudou de opinião e foi. O próprio Jesus declarou a aplicação da parábola: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus” (versículo 31). Antes de dar a aplicação, Jesus habilidosamente levou estes pretensiosos a condenarem a si mesmos: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”, ele perguntou. Eles responderam corretamente, “o segundo,” admitindo sem querer que eram os publicanos e as meretrizes que estavam verdadeiramente aceitando o domínio de Deus através de Cristo antes que eles mesmos.

Na segunda (Mateus 21:33-46), um proprietário plantou uma vinha. Ele esperava frutificação, pois fez uma cerca em volta dela, construiu uma torre e escavou um lagar. Mas quando mandou buscar o fruto, os lavradores a quem ele tinha arrendado a vinha abusaram de seus servos, batendo num, matando um e apedrejando outro. Quando ele mandou outros servos, eles lhes fizeram o mesmo. Finalmente, enviou seu filho, pensando que eles o respeitariam. Mas, o lançaram fora da vinha e o mataram, pensando que, fazendo assim, poderiam tomar posse da herança. O proprietário da parábola é Deus; a vinha, Israel carnal; os lavradores, os líderes religiosos; os servos, os profetas de Deus que tinham sido maltratados e mortos através da história de Israel; o filho, Jesus Cristo, a quem os líderes religiosos da época logo matariam, porque rejeitaram o domínio de Deus.

De novo, Jesus usou a sabedoria para levar seus ouvintes a se condenarem. “O que o proprietário fará com aqueles lavradores?” perguntou. A resposta deles: “Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos” (versículo 41). Jesus lhes deu a aplicação: “O reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo (Israel espiritual, composto de judeus e gentios que crêem) que lhe produza os respectivos frutos”. Deus tinha sido longânimo com a nação judaica em sua constante rejeição de seu domínio, mas sua paciência agora tinha-se acabado.

Na terceira parábola (Mateus 22:1-14), um rei arranjou um casamento para seu filho, mas quando mandou avisar que o banquete estava preparado, aqueles que tinham sido convidados rejeitaram o chamado, dando desculpas. Alguns até trataram seus servos com desprezo e os mataram. O rei mandou seus exércitos, destruiu aqueles assassinos, e queimou a cidade deles. Foram feitos convites nas estradas. O salão de festa do casamento ficou cheio de convidados, pessoas de todos os níveis sociais, cuja presença numa festa de casamento dum príncipe seria totalmente inesperada. A aplicação da parábola é clara: os líderes religiosos dos dias de Jesus recusariam as alegrias e as bênçãos da festa de casamento de Deus, enquanto pessoas de todas as classes sociais, cuja presença seria completamente imprevista, viriam à festa. Deus aceita todos que se vestem a caráter, ou seja, se revestem da justiça, sem olhar para a vida anterior deles.

Jesus, nestas parábolas, estava confrontando abertamente os principais sacerdotes e os fariseus. Seus antepassados tinham rejeitado o domínio de Deus no passado. Agora eles estavam rejeitando seu domínio através de seu Filho. Estas confrontações o levariam à morte. Ele sabia disso, mas sua hora tinha chegado. Seu ensinamento separaria os impostores dos sinceros, se houvesse algum sincero entre eles. Os hipócritas o levariam à morte. Mas poderia haver uns poucos que seriam arrebatados do fogo. Estas parábolas, junto com os “ais” do capítulo 23, tornariam manifesta a verdadeira condição de seus corações.

Há uma aplicação destas parábolas a nós, nos dias de hoje. Muitos de nós temos sido altamente favorecidos espiritualmente. Nascemos num lugar onde a palavra de Deus tem sido ensinada amplamente, somos nascidos de pais cristãos, e temos conhecido a verdade desde a infância. Deveríamos ser os primeiros a apreciar a grandeza do reino de Deus e nos submetermos ao seu domínio. Mas algumas vezes vemos que aqueles que, espiritualmente, tiveram poucas vantagens, apreciam as bênçãos do reino mais do que alguns de nós. Não devemos seguir os passos dos principais sacerdotes e fariseus, mas devemos juntar-nos a todos que se submetem voluntariamente ao domínio de Deus através de Jesus Cristo.


As Últimas Parábolas do Reino (2)
por Bill Hall

Jesus contou outras duas parábolas antes de sua morte, a parábola das dez virgens (Mateus 25:1-13) e a dos talentos (Mateus 25:14-30). Essas foram, aparentemente, contadas em particular aos seus discípulos (Mateus 24:3). Um tema se destaca nessas duas parábolas: a preparação para a vinda do Senhor.

Na primeira parábola, dez virgens saíram ao encontro do noivo, empolgadas com as alegrias vindouras da festa de casamento. Todas estavam presentes; todas estavam esperando o noivo; todas se sentiam satisfeitas com a sua preparação, pois estavam cochilando e dormindo, e todas tinham lâmpadas. A diferença entre as cinco virgens prudentes e as cinco tolas era que as cinco prudentes trouxeram óleo junto com suas lâmpadas. O tempo da preparação tinha-se passado. Enquanto as virgens tolas estavam comprando óleo, o noivo chegou e elas foram deixadas fora do casamento para sempre. Jesus declarou a aplicação: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” na qual o Filho do homem vem (versículo 13).

Na segunda parábola, um homem que ia viajar para um país distante confiou talentos aos seus servos. A um ele deu cinco, a outro dois e a outro um, distribuindo-os de acordo com a capacidade de cada servo. Os dois servos, um com cinco e o outro com dois talentos, duplicaram o que lhes tinha sido confiado, resultando em louvor e recompensa de seu senhor. O servo com um talento, agindo com temor, foi preguiçoso. Ele escondeu o talento que lhe havia sido dado em vez de usá-lo para obter rendimentos, suscitando a ira de seu senhor e a perda do talento que lhe havia sido entregue.

Há muita semelhança entre as duas parábolas. Em ambas há muita expectativa. As dez virgens estavam esperando o noivo. Os servos sabiam que seu senhor voltaria. O noivo, ou o senhor, que retorna, naturalmente, é Jesus Cristo. Ele há de voltar (Atos 1:9-11). Não há desculpas a quem deixa de aguardar sua volta.

Em ambas as parábolas há preparação. Todas as dez virgens tinham feito alguma preparação. Os dois servos, um com cinco e o outro com dois talentos, tinham-se preparado, obviamente; e até mesmo o servo com um talento tinha feito alguma preparação, mantendo cuidadosamente em segurança seu único talento até a volta de seu senhor.

Em ambas as parábolas há preparação adequada contrastada com negligência. Esse é o grande perigo que enfrenta a maioria dos leitores deste artigo. Não despreparo completo, mas negligência: negligência em abandonar algum mau hábito; negligência em confessar algum erro; negligência em desenvolver os frutos do Espírito; negligência em tirar vantagem completa das oportunidades que Deus coloca diante deles; em resumo, negligência em tornar-se como seu Senhor.

Em ambas as parábolas há demora na chegada. “E, tardando o noivo” (versículo 5). O senhor dos servos voltou “depois de muito tempo” (versículo 19). Sem dúvida, isso contribuiu para a negligência mencionada acima. É muito fácil para as pessoas mal interpretarem a demora da vinda do Senhor. Elas vêem isso como motivo para descuido e descrença, quando deviam vê-la como evidência da longanimidade do Senhor que conduz à salvação (2 Pedro 3:1-15).

Em ambas as parábolas há responsabilidade individual. As virgens prudentes não podiam compartilhar seu óleo com as tolas. O servo de um talento não podia sentir-se confortável com o fato de oito talentos terem-se tornado quinze (“Veja o que nós fizemos”). Cada um tinha que prestar contas pelo que tinha feito pessoalmente. Assim será quando o Senhor retornar. Nenhum pai será capaz de partilhar um pouco da sua fidelidade com os seus filhos; nenhum esposo com a sua esposa ou vice-versa; nenhum amigo com outro amigo. Ninguém poderá se gabar dizendo “veja o que nós fizemos”; ele só pode obter a graça na base de sua própria preparação.

Em ambas as parábolas há separação. As cinco virgens prudentes entraram com o noivo no casamento, enquanto as cinco tolas não puderam entrar. Os servos dos cinco e dos dois talentos entraram na alegria de seu senhor, enquanto o de um talento foi lançado fora, nas trevas. A expressão “Fechou-se a porta”, encontrada na parábola das dez virgens (versículo 10), é uma das expressões mais tristes nas Escrituras. Ela retrata a exclusão final e eterna, do céu, de todos os que estiverem perdidos quando o Senhor retornar. Dentro, há insuperável beleza, mas estes estão de fora. Dentro estão a árvore da vida e o rio cristalino da água da vida fluindo do trono de Deus, mas estes estão de fora. Dentro estão os anjos de Deus e todos os redimidos reunidos em volta do trono, mas estes estão de fora. Dentro estão Deus, Cristo e o Espírito Santo, mas estes estão de fora, banidos para sempre da presença de Deus. Dentro há alegria, amor e paz, mas estes estão de fora. E não estão somente excluídos das alegrias do céu, mas têm que sofrer eternamente os tormentos do inferno.

A lição é clara: cada um de nós precisa submeter-se, totalmente e sem resistência, ao domínio de Deus em Jesus Cristo para que, quando o Senhor retornar, o galardão eterno do reino dos céus seja nosso.


Vem Aí o Teu Rei (1)
por Tom Holley

Zacarias tentou reanimar, com essas palavras, a confiança de um povo deprimido, na certeza da vinda do Messias. Esse anúncio é tão precioso hoje como o foi quando proclamado a primeira vez pelo profeta, cerca de 2.500 anos atrás.

É imperativo para nós vermos este Soberano! Temos que ir aos dias em que esse Homem da Galiléia andava entre os homens e mulheres deste mundo. Qual foi a atitude dele sob a tensão da aproximação do fim de sua peregrinação na terra? Ficará óbvio que Jesus possuía ao máximo todas as qualidades de grandeza que ele espera de cada um dos habitantes de seu domínio santo.

Humildade (Mateus 21:1-11)

O modo como Jesus entrou em Jerusalém é notável. Poderíamos mais facilmente ter imaginado um conquistador austero, cavalgando um magnífico cavalo imponente como o lendário Bucéfalo. Naquele domingo, o Salvador chegou sentado sobre um “jumentinho, cria de animal de carga” (versículo 5). Zacarias tinha predito os pormenores desse evento.

Mas que ligação possível poderia Jesus ter com um jumento? Esse animal era uma besta de carga. Aparentemente o jumento foi escolhido para trazer à luz a mansidão e humildade desse Rei. Logo, esse Filho de Davi levaria “ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pedro 2:24). Por que haveria o Filho de Deus de renunciar sua justa posse sobre todos os seus privilégios para se tornar nossa besta de carga? Ele viu que a necessidade de sermos perdoados dos nossos pecados era maior do que seu puro desejo de estar em constante comunhão com seu Pai. Ele experimentaria pessoalmente a perdição no próprio inferno (Mateus 27:46) para pagar o preço incalculável de nossa salvação. Salvando outros, ele sabia que não poderia salvar a si mesmo. Houve algum rei que rebaixou-se tanto a fim de elevar seus súditos a tal altura?

As multidões estavam entusiasmadas quando faziam dos seus mantos e dos ramos de palmeiras um tapete diante dele. Apesar disso, Jesus não tomaria o caminho político para chegar ao trono. Ele não permitiu que esse crescente apoio popular aumentasse qualquer expectativa de um império mundano. Se ele tivesse cobiçado os reinos terrestres que Satanás tinha-lhe oferecido nas tentações, poderia ter tirado vantagem dessa situação. Entretanto, como poderia “o reino dos céus” ser forçado a ser simplesmente um outro reino deste mundo?

Compromisso (Mateus 21:12-17)

Na segunda-feira de manhã Jesus voltou ao templo. Ali encontrou pessoas negociando, como de costume. Deus pretendia que seu lugar fosse um santuário para oração. O Senhor imediatamente começou a limpar seu templo tirando fora a infestação de ladrões como tinha feito três anos antes. Ele, que se submeteria como um cordeiro (Isaías 53:7) a toda a tortura do Calvário, jamais poderia tolerar, nem por um momento, a profanação da casa de seu Pai. Não poderia ele, amavelmente, ter deixado passar essas ofensas? Os discípulos vieram a aprender que Jesus estava sendo consumido pelo zelo a favor da casa de seu Pai (João 2:17). Jesus não estava preocupado com que sua veemência pudesse ser interpretada como fanatismo.

Agora existe um edifício espiritual onde cada cristão é uma pedra vital na construção de um templo bem especial (Efésios 2:19-22 e 1 Pedro 2:5). Não deveríamos ser mais parecidos com Cristo se fôssemos empenhados em opor-nos vigorosamente aos abusos do seu templo em nossos dias?

Prontidão (Mateus 26:1-13)

Desde o tempo de seu nascimento, parecia haver apenas um passo entre Jesus e a morte. Em outras ocasiões quando os homens tentavam matá-lo, o Senhor saía do lugar em que se encontrava e mais tarde retornava às suas atividades em outra localidade. Não poderia ele, de novo, ter escapado para uma província distante e esperado até que a ameaça de morte tivesse passado?

Agora, ele não iria fugir. O Senhor tinha informado seus seguidores que agora sua hora tinha chegado (João 12:23,27; 13:1 e 17:1). Jesus estava preparado para esse momento (Hebreus 10:5); ele estava pronto para morrer. Maria também se preparou para a morte do Senhor, comprando certa quantidade de ungüento de nardo puro (João 12:7). Tal perfume valia tanto quanto um trabalhador comum poderia ganhar num ano. Sim, era muito caro. Percebendo a possibilidade de não haver outra oportunidade, Maria ungiu Jesus para o seu sepultamento nesse último encontro social com o Mestre. Essa generosa manifestação de seu amor pelo Senhor nunca deve ser esquecida (versículo 13). Há algum outro modo de se chegar à presença de sua Majestade?


Vem Aí o Teu Rei (2)
por Tom Holley

Serviço (João 13:1-17)

O Senhor sabia que esta seria a última Páscoa que ele comeria com seus apóstolos, antes de morrer. Durante uma festa como a Páscoa, aos servos cabia a responsabilidade por lavar os pés de todas as pessoas à medida que chegavam.

Não havia nenhum servo presente nessa celebração? Certamente nenhum dos doze estava disposto a fazer a tarefa de um servo. Eles ainda estavam discutindo entre si quanto a quem seria o maior no reino (Lucas 22:24). Ainda que não ousassem pegar a toalha, o Senhor não poderia ser impedido de fazer isso.

A falta de voluntários não foi a razão pela qual o Filho de Deus executou sua tarefa humilde. Nem ele estava tentando envergonhar esses homens para que agissem. Esse tipo de serviço forçado sempre seria frustrante, calculado e arrogante. O Mestre lavou os pés deles porque “amou-os até ao fim” (João 13:1) e porque sabia que haverá uma bênção a ser obtida por todos os que se esvaziam para servir às necessidades de outros (João 13:17).

Alguns têm questionado se esse antigo costume de hospitalidade (Gênesis 18:3-6) estava agora sendo elevado ao nível de atividade espiritual, como a ceia do Senhor. Um corpo lavado recentemente não teria necessidade de banho novamente após tão curto tempo. Porém, os pés calçados em sandálias precisariam de uma nova lavagem depois de uma curta caminhada numa estrada poeirenta (João 13:8-10). Ainda mais, Jesus comentou: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como (e não o que) eu vos fiz, façais vós também” (João 13:15). Empurramos a outras pessoas nossas oportunidades de servir?

Obediência (Mateus 26:36-42; 27:27-37; etc.)

Quinta-feira à noite, Jesus foi ao Getsêmani para orar. Foi ali que o Senhor revelou sua dor íntima a Pedro, Tiago e João. Sua tristeza estava aumentando. Sua angústia era um peso esmagador sobre sua alma terna. Distanciando-se desses três discípulos, o Filho de Deus prostrou-se na terra e orou. Ele pediu ao seu Pai se fosse possível para ele não morrer. Acima de tudo, ele queria que a vontade de seu Pai prevalecesse. Isso não era um pedido teórico (Hebreus 5:7). Em agonia, ele fez essa petição mais intensamente e seu suor caiu no solo como “gotas de sangue” (Lucas 22:44). Quem poderia agora continuar a pensar que toda a obediência a Deus precisa ser despreocupada e alegre? A verdadeira prova de obediência é entregar-se à sua vontade quando o que queremos está em conflito com a sua determinação.

Mesmo quando seus inimigos tinham-no cercado no jardim, Jesus poderia ter chamado 72.000 anjos a resgatá-lo (26:53). Contudo, sua resolução de ir à cruz era firme. O Leão da tribo de Judá mansamente permitiu que seus captores o maltratassem sem ao menos alguma reação em sua defesa. Pilatos se maravilhou com o silêncio honroso do Salvador (27:14). Ainda que o veredicto o pronunciasse inocente, ele foi sentenciado a ser crucificado. O Senhor foi levado ao Gólgota para ser executado. A acusação que foi posta sobre sua cabeça afirmava uma maravilhosa verdade: “Este é Jesus, o Rei dos judeus” (27:37). Muitos governantes morreram desonrosamente. Quem jamais teria pensado em estabelecer um reino na base de sua própria morte? (Mateus 16:18,21; Atos 2:30-31).

Pouco tempo depois das três da tarde de sexta-feira, Jesus rendeu seu espírito. Ninguém poderia ter tirado a vida do Filho de Deus. Somente ele mesmo poderia dá-la (João 10:17-18). Assim ele o fez. Esta não era apenas uma morte qualquer. Morrendo numa cruz, Jesus demonstrou que sua obediência a Deus era ilimitável (Filipenses 2:9). O Pai jamais poderia exigir demais do seu Filho porque não havia limite para o que o Filho faria para agradá-lo. Desse modo, ele esperava mostrar ao mundo a natureza ilimitada do seu amor pelo Pai (João 14:31). Não deveriam também esses termos significar os meios pelos quais definimos nossa fidelidade a ele (Apocalipse 2:10)? Tal era a obediência que completou o Filho para a obra de salvar todos aqueles que lhe obedecem (Hebreus 5:8-9). Quereremos pagar o mesmo preço para aprender?


A Plenitude do Tempo
por Steve Dewhirst

Quando a aurora tornou o azul profundo da noite em pálida rosa sobre a cidade de Jerusalém, quando a cidade de Davi começou a se mexer naquele primeiro Pentecostes após a ressurreição de Cristo, quando os apóstolos do ascendido Jesus esfregavam os olhos tirando deles o sono e pensavam no seu encontro uns com os outros naquela manhã, quem poderia ter sabido que esse seria o dia quando as portas do céu foram escancaradas para todos os que criam no Cristo de Deus?

Durante séculos, Israel tinha esperado pela vinda de seu Messias, o Menino sobre cujos ombros o governo repousaria (Isaías 9:6). Essa Criança tinha vindo na pessoa de Jesus de Nazaré. E ainda que a maioria do povo não o reconhecesse, os verdadeiros discípulos creram. Entretanto, eles ficaram perplexos quanto ao governo soberano do Cristo. Quando começaria e que forma tomaria?

Desde o cativeiro na antiga Babilônia, Daniel tinha esperado esse grande dia que viria 500 anos depois. Interpretando um sonho para o poderoso Nabucodonosor, ele falou de uma terrível estátua, tendo uma cabeça de ouro fino, peito e braços, de prata, seu ventre e quadris, de bronze, com pernas de ferro, e pés de ferro misturado com argila (Daniel 2:32-33). Mais notável de tudo, era que no sonho do rei uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos a qual chocou-se nos pés da imagem, de forma que todo o ídolo desmoronou, foi todo moído e levado embora pelo vento, sem deixar nenhum sinal. Em seu lugar, a pedra cortada sem auxílio de mãos tornou-se uma grande montanha que encheu toda a terra (Daniel 2:34-35).

Após a narração desse sonho real, veio a explicação. Daniel identificou o próprio Nabucodonosor, como a cabeça de ouro da estátua. E cada parte da imagem representava outro grande reino a se levantar entre os homens, num total de quatro: os babilônios, os medo-persas, os gregos, e os romanos (Daniel 2:36-43). Mas nos dias deste quarto reino, o Império Romano, aquela pedra cortada sem auxílio de mãos, a Rocha Espiritual, o Messias, estabeleceria um reino que nunca seria destruído (Daniel 2:44-45). Seu governo soberano encheria toda a terra, transcendendo as fronteiras arbitrárias dos homens e as limitações do tempo.

No entanto, para Israel o mistério do governo messiânico estava longe de ser desvendado. A extensão do reinado romano impossibilitou determinar com precisão o momento do estabelecimento do reino de Deus. Mas Jeová tinha planejado sua obra redentora de modo a fazer convergir em Cristo, “na dispensação da plenitude do tempo, todas as cousas, tanto as do céu como as da terra” (Efésios 1:10). E quando veio “a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4:4-5). Então, veio a “voz do que clama no deserto”, João Batista, declarando: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 3:1-3). E enquanto Jesus andava entre os homens, ele anunciava: “Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus” (Marcos 9:1). O tempo estava próximo; o cumprimento da promessa de Deus era iminente.

Então aconteceu o inimaginável. A oposição a Jesus pelos líderes judeus - aqueles que deveriam tê-lo proclamado como rei - atingiu proporções assassinas. O Filho de Deus, divindade manifestada em carne, foi preso e executado como um criminoso comum. Como poderia aquele que acalmou tempestades, andou sobre as águas e milagrosamente alimentou milhares ser alcançado pelos inimigos tão facilmente? Quando Jesus morreu na cruz, morreram também as expectativas de muitos discípulos esperançosos. Mas Jesus, fiel a sua própria palavra, foi ressuscitado no terceiro dia! E certamente agora o Rei ascenderia ao seu trono como conquistador da vida e da morte (Atos 1:6)! Mas ele não o fez. Em vez disso, instruiu seus apóstolos a esperarem em Jerusalém, pois “recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo” (Atos 1:8).

A plenitude do tempo tinha chegado: o tempo quando Deus, em sua presciência e providência, já tinha visto o cumprimento de seu propósito eterno em Cristo. Todas as peças do quebra-cabeça estavam no lugar. Jesus tinha sido oferecido pelos pecados do mundo. Tomado pelas nuvens, ele tinha subido para sentar-se à direita do Pai. Apenas uma coisa estava faltando: a revelação do grande plano de Deus aos homens ignorantes. Mas enquanto o dia de Pentecostes amanheceu em inocência completa, tudo isso estava para mudar.


O Reino Estabelecido
por Steve Dewhirst

Pentecostes. Cedo, naquela manhã, os doze estavam “todos reunidos no mesmo lugar” (Atos 2:1). Com que propósito tinham se reunido não está claro... mas seu propósito jamais seria obscuro dali em diante.

“De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (Atos 2:2-4).

A promessa de Jesus de “poder”, provindo do Espírito Santo, capacitando-os a testemunhar minuciosamente a toda a criatura, estava cumprida (Atos 1:8). Como judeus, visitantes de todo o mundo se juntaram por causa do grande som, encontraram homens simples da Galiléia, sem treinamento e sem estudo na arte da linguagem, falando grandes coisas de Deus em línguas dos quatro cantos da Terra (Atos 2:6-11). E impulsionados pelo Espírito de Deus, as doze testemunhas imediatamente declararam o que tinha sido esperado durante séculos: o reino soberano do Messias!

Deus havia dado legitimidade a Jesus de Nazaré por sinais e maravilhas; entretanto, mãos pecaminosas tinham-no crucificado por ciúme mesquinho (João 11:45-53). “Ao qual...Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela” (Atos 2:24). Tudo isso tinha sido previsto pelo rei/profeta Davi: “Porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” (Atos 2:27). Num dos exemplos mais claros de profecia cumprida, Pedro afirma enfaticamente, “prevendo isto, [Davi] referiu-se à ressurreição de Cristo” (Atos 2:31). Mais ainda, na sua ascensão, Jesus foi exaltado “à destra de Deus” (Atos 2:33), e coroado “Senhor e Cristo” (Atos 2:36). Jesus não somente é o Cordeiro sacrificado por nossos pecados; ele reina do seu trono sendo-lhe dada “toda a autoridade...no céu e na terra” (Mateus 28:18). Quando os homens e as mulheres ouviram a mensagem do evangelho e responderam através da fé no dia de Pentecostes, eles tomaram seus lugares no reino messiânico.

É significativo na linguagem bíblica a mudança súbita começando no Pentecostes. Nunca mais os apóstolos apregoaram o reino “que viria”. Daí para sempre o reino de Cristo seria tratado como fato consumado. “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1:13). Assim, agora, os discípulos de Jesus Cristo precisam ser designados Povo do Reino. Pois enquanto é verdade que seu domínio se estende até os rebeldes que o rejeitam (veja João 12:48), aqueles que se submeteram ao seu domínio e se revestiram dele no batismo já não são “estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e...da família de Deus” (Efésios 2:19). Os cristãos gozam de todos os benefícios da cidadania porque “nossa pátria está nos céus” (Filipenses 3:20). Os cristãos compõem uma “nação santa” (1 Pedro 2:9).

Mas santo é o que santo faz. Nós, discípulos, precisamos chegar a ver-nos como servos, comprados e pagos pelo sangue de Cristo. Somos sacerdotes que nos oferecemos como “sacrifícios vivos” a Deus (Romanos 12:1). Em termos práticos, o povo do reino precisa agir como povo do reino.

Não podemos reconhecer nenhum outro Rei senão Jesus. No Pentecostes, aqueles que creram no relato dos apóstolos submeteram-se ao “nome” ou à “autoridade” de Cristo. “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados” (Atos 2:38). Devemos viver e respirar não de acordo com os decretos eclesiásticos de uma igreja ou costumes éticos de uma sociedade educada, mas segundo os decretos de nosso Rei. Servimos a Cristo, e a nenhum outro, porque ele é o nosso soberano Senhor.

E enquanto todo reino é enquadrado por leis, assim precisamos abraçar a vontade de Cristo expressada nas Escrituras. Um “assim diz o Senhor” deve ser o bastante para nos compelir à ação. Não temos direito de alterar ou “modificar” a divina Escritura. Nem ousarmos declarar ignorância em face da verdade revelada para nosso benefício. O Espírito Santo deu a homens inspirados as verdadeiras palavras que Cristo, o Rei, quer que ouçamos (veja I Coríntios 2:13). Conquanto não possamos entender imediatamente cada princípio, precisamos, apesar disso, subordinar nossas vontades à vontade do Rei.

O plano de Deus referente à salvação do homem através do sangue de Cristo tornou-se uma realidade vívida no Pentecostes. O preço pelo pecado havia sido pago. O Rei ascendeu ao seu trono. E agora o convite do céu tinha sido declarado ao mundo.


O Reino dos Céus na Terra
por Tommy Poarch

O reino de Deus na Terra é um reino celestial. O evangelho de Mateus usa a expressão “reino dos céus” mais de trinta vezes. Quase todas as vezes se refere ao reino que está próximo. “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 3:2).

Jesus pregou a maravilhosa mensagem da chegada iminente do reino. “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo” (Mateus 4:23). A palavra de Deus e a palavra do reino podem ser usadas indiferentemente. “A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho” (Mateus 13:19; veja Lucas 8:11). Os discípulos são guiados pela “doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42), porque Deus lhes deu a obra de ordenar a vontade do céu sobre os cidadãos do reino na terra (veja Mateus 18:18). E por essa razão, Jesus disse aos seus discípulos: “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio” (Lucas 22:29).

O domínio do Rei Jesus Cristo chegou às mentes e corações do povo de Deus durante o primeiro século. E lhes disse: “Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus” (Marcos 9:1). Homens e mulheres ouviram a mensagem do reino e se tornaram cidadãos do reino do Senhor. “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1:13).

O reino dos céus na terra não é um reino terrestre. Jesus disse: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18:36). O que significa “não é deste mundo”? “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17:20-21). “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17).

O que é o reino? Reino, basileia, significa monarquia, império, poder real, domínio. Portanto, o governo do céu chegou à terra. Mas o reino celestial não é como os reinos mundanos. O governo de Deus se dirige ao coração (espírito) do homem. Deus governa seu povo em seu Filho pela persuasão moral que é dada através de escritos sagrados, a Bíblia. Os cidadãos do reino são aqueles que renasceram. “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus...Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (João 3:3,5). “Tendo purificado a vossa alma pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração uns aos outros ardentemente, pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pedro 1:22-23).

Os cidadãos do reino de Deus deixam que a palavra dele tenha domínio sobre suas vidas. Eles seguem a Bíblia e formam hoje, coletivamente, o território da nação de Deus. Assim, nesse sentido, eles são o território que Deus governa. Eles não têm autoridade, pois todo o governo e domínio pertencem a Cristo. “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28:18). Assim, quando se olha para a palavra reino, deve-se primeiro estar se lembrando do rei que governa.

A igreja forma o território do governo espiritual de Cristo. O que significa igreja? A assembléia de cristãos que foram libertados das trevas do pecado pelo sangue de Cristo. A igreja e o reino são intimamente ligados, mas não são palavras sinônimas. Reino destaca o governo do Rei. Igreja salienta o povo de Deus que está sob o governo de seu Senhor e Rei, Jesus Cristo.


O Reino dos Céus no Céu
por Tommy Poarch

O reino de Deus veio realmente a esta terra; mas nunca foi, não é, e jamais será um reino terrestre. O reino (governo) de Deus foi estendido do céu às criaturas humanas do Criador, neste planeta temporário. Mas a natureza e a duração do domínio de Deus em Cristo é de eternidade a eternidade.

Dizer que estamos no reino implica que submetemos nossas vidas ao governo de Deus em seu Filho. Mas o domínio de Deus nunca foi destinado a ficar limitado no espaço e no tempo, pois é um reino eterno. Simplesmente nos submetemos ao domínio de Deus agora, para que possamos viver sob o governo e cuidado de Deus para sempre. Entramos no reino agora (ele “nos transportou para o reino do Filho do seu amor”SColossenses 1:13), para que possamos ser “herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam” (Tiago 2:5).

A herança de Deus para nós é, em última análise, um lar com ele no céu. Ele é eterno e sua meta para nós é “a posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34). Já que “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” (1 Coríntios 15:50), os santos podem com justiça ter “o desejo de partir e estar com Cristo” (Filipenses 1:23), e Deus pode ver como preciosa a morte de seus santos (Salmo 116:15).

A herança eterna vem quando Jesus aparece como juiz dos vivos e dos mortos. “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino” (2 Timóteo 4:1). “Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1:11).

Para quem será oferecida a entrada no reino eterno? NÃO PARA ESTES: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus” (1 Coríntios 6:9-10). MAS PARA ESTES, SIM: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?” (Tiago 2:5).

Como será? Será maravilhoso! Um lugar sem lágrimas, sem dor, sem depressão, sem solidão, sem inimigos, sem nenhuma coisa má. Como seremos? Não como agora somos (1 Coríntios 15), mas como agora ele é. “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1 João 3:2).

Se você perder o reino celestial, você terá perdido tudo. Mas é preciso disciplina para viver uma vida de fé. Exige um anseio por Deus e fome e sede de justiça. É uma meta excelente e uma esperança nobre buscar ser como o Senhor, tanto agora como para sempre. “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1 João 3:3). Mas posso ter uma tão elevada esperança, porque estou certo de que “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém” (2 Timóteo 4:18).

O amor para com este mundo faz com que se perca o céu, porque não se pode amar este mundo e fielmente amar a Deus. “Não ameis o mundo nem as cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2:15). “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 16:26). “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1:10-11).


Algumas Reflexões Finais sobre o Reino dos Céus
por Sewell Hall

Pensamentos sobre o Prémilenarismo

Nos tratos de Deus para com o homem, ele tem sempre movido das coisas terrestres, materiais e temporais para aquelas que são espirituais, celestiais e eternais.

Desde o sangue de animal oferecido por Abel, Deus trouxe a humanidade ao sangue de Cristo oferecido diante de Deus como eterna expiação pelo pecado. Desde a circuncisão de Abraão fomos levados a uma circuncisão “não por intermédio de mãos” (Colossenses 2:11). De um tabernáculo material avançamos para o “verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hebreus 8:1-2).

No Velho Testamento Deus possuía um reino terrestre que atingiu o pico de sua glória militar nos dias do Rei Davi. Esse reino ficou inerte, mas Deus prometeu um novo reino que seria eterno (Daniel 2:44-45). Os judeus cometeram o sério engano de esperar que tal fosse simplesmente um reino maior e do mesmo tipo. Jesus passou muito tempo de seu ministério pessoal procurando afastar a atenção deles do que era físico e terreno para o que era espiritual e celeste. Ele explicou a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18:36).

Apesar de tudo isso, há muitos hoje, conhecidos como premilenaristas, que crêem que Jesus veio para estabelecer um reino físico, terrestre e militar, como o de Davi, mas que ele foi impedido de fazer isso pela descrença de Israel. Eles esperam plenamente que Cristo volte à terra e se empenhe em guerra carnal para estabelecer seu trono em Jerusalém, de onde ele reinará na terra durante mil anos. Certamente, aqueles que têm compreendido o que o Novo Testamento ensina a respeito do reino podem ver que isso seria uma inversão da direção de todos os tratos anteriores de Deus para com o homem. “Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (Gálatas 3:3). Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1:13).

Qualquer interpretação das profecias, seja do Velho Testamento como do Novo, que contradiz esse quadro claramente desenvolvido do reino do Messias como um reino pacífico, espiritual, celeste e eterno, é uma interpretação errada de tais profecias.

Pensamentos sobre Autoridade

Um reino verdadeiro é o oposto exato de uma democracia. Uma democracia é o “governo do povo”. Uma monarquia é o governo de uma única pessoa. Ela tem todo o poder e estabelece ou elimina todos os cargos quando quer, e admite ou demite cada ministro conforme escolhe. Qualquer pessoa reivindicando autoridade precisa ter credenciais do rei, e qualquer ato para ser legal precisa ser aprovado pelo rei ou por alguém a quem ele concedeu autoridade.

Nosso rei autorizou seus apóstolos a falarem por ele. Eles eram seus embaixadores, falavam e escreviam por ele. Nenhum outro ser humano pode reivindicar tal autoridade. Isso significa, simplesmente, que como cidadãos do reino dos céus, precisamos ter autorização do Rei para tudo o que fazemos, e essa autorização só pode ser encontrada nas Escrituras.

Pensamentos sobre os Cidadãos do Reino no Mundo

Aqueles dentre nós que têm passado algum tempo em uma nação que não a nossa, percebem como nos sentimos estranhos e diferentes em tal lugar. Somos constantemente lembrados de nossa situação como estrangeiros. Mas não ficamos envergonhados. Temos orgulho de nossa pátria, aceitamos o fato de sermos diferentes, tentamos manter-nos a par dos acontecimentos em nossa terra nativa e esperamos pelo dia quando poderemos ter a alegria e o contentamento de vivermos novamente entre “nosso próprio povo”.


Sendo aqueles cuja “pátria está nos céus” (Filipenses 3:20) somos sempre como Abraão, que “peregrinou...como em terra alheia” (Hebreus 11:9). Estamos no mundo, mas não somos “do mundo”; assim como nosso Rei estava no mundo, e não era do mundo (João 17:16). As pessoas ao nosso redor ficam surpresas porque não nos envolvemos com elas em suas “dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” e nos caluniam (1 Pedro 4:3-4). Mas nos lembramos das palavras de Pedro: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pedro 2:11); e também das palavras de Paulo: “se perseveramos, também com ele reinaremos” (2 Timóteo 2:12).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.