segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A visão bíblica da consciência humana


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Por R. C. Sproul

É vitalmente importante que os cristãos considerem a questão da consciência. Na visão clássica, a consciência foi considerada algo que Deus implantou dentro de nossa mente. Algumas pessoas chegaram a descrever a consciência como a voz de Deus dentro de nós. A ideia era que Deus nos criou de tal maneira, que havia um elo entre as sensibilidades da mente e a consciência, com sua responsabilidade intrínseca para com as leis eternas de Deus. Por exemplo, considere a lei da natureza que o apóstolo Paulo afirma estar escrita em nosso coração. Havia uma sensibilidade de consciência, muito antes de Moisés descer do monte Sinai com as tábuas de pedra.

O famoso filósofo Immanuel Kant era cético, no que diz respeito à capacidade humana de racionar, a partir deste mundo, sobre o mundo transcendente de Deus. Apesar disso, ele ofereceu o que chamou de argumento moral para a existência de Deus, um argumento que se baseou no que ele chamou de senso universal de dever implantado no coração de todo ser humano. Kant acreditava que toda pessoa carregava em si um senso genuíno do que deveria fazer em determinada situação. Ele chamou isso de imperativo categórico. Kant acreditava que há duas coisas que enchem a alma com admiração e reverência sempre novas e crescentes: os céus fascinantes, no espaço, e a lei moral, no íntimo do ser humano. É importante notar isto, porque até no âmbito da filosofia secular tem havido, historicamente, um reconhecimento da consciência.

Histórica e classicamente, a consciência foi vista como nossa ligação com a ética transcendente que reside em Deus. Todavia, com a revolução moral de nossa cultura, surgiu uma abordagem diferente da consciência, e esta abordagem se chama visão relativista. Estamos realmente na era do relativismo, na qual valores e princípios são considerados meras expressões de desejos e interesses de um grupo específico de pessoas, em determinado momento da história. Ouvimos, repetidas vezes, que não há absolutos no mundo de hoje.

No entanto, se não há nenhum absoluto, princípios transcendentes, como explicamos este mecanismo que chamamos de consciência? Dentro de uma estrutura relativista, vemos a consciência ser definida em termos evolucionários: as personalidades interiores subjetivas das pessoas estão reagindo a tabus evolucionários vantajosos, que lhes foram impostos por sua sociedade ou por seu ambiente. Havendo chegado a um tempo, em nosso desenvolvimento, em que esses tabus não servem mais para promover nossa evolução, podem ser descartados sem qualquer consideração às consequências.

Anos atrás, quando eu trabalhava como professor, aconselhei uma universitária que fora tomada por um profundo senso de culpa, porque se entregara a atividades sexuais com seu noivo. Eu lhe disse que o meio de vencer sua culpa era reconhecer a fonte da culpa. Ela argumentou que não fizera nada de errado; seus sentimentos de culpa foram resultado de haver sido vítima de viver numa sociedade regida por uma ética puritana. Explicou que fora condicionada por certos tabus sexuais que a fizeram sentir-se culpada, quando não devia, e que seu envolvimento sexual fora uma expressão madura e responsável de sua própria chegada à maioridade.
Apesar disso, ela me procurou chorando e exclamando que ainda se sentia culpada. Disse-lhe que é possível uma pessoa sentir-se culpada, porque tem uma consciência intranquila e perturbada quanto a algo que não é realmente uma transgressão da lei de Deus; mas que, naquele caso, ela quebrara a lei de Deus e devia se alegrar por se sentir culpada, visto que a dor, embora nos seja desagradável, é importante para a nossa saúde. No âmbito físico, o sentimento de dor indica que há algo errado no corpo. No aspecto espiritual, a dor de culpa pode indicar-nos que algo está errado em nossa alma. Há um remédio para isso, aquele que a igreja tem oferecido sempre, ou seja, o perdão. Culpa real exige perdão real.
O problema desta mulher ilustra o conflito entre o entendimento tradicional de pecado e consciência e o novo conceito de consciência. Este novo conceito vê a consciência meramente como um processo evolucionário condicionador da sociedade, que é um resultado de tabus impostos. Como o cristão lida com tudo isto? Há uma visão bíblica quanto à consciência?
O termo hebraico traduzido por “consciência” ocorre no Antigo Testamento, mas esparsamente. Entretanto, no Novo Testamento, parece haver um reconhecimento mais pleno da importância da função da consciência na vida cristã. A palavra grega que expressa consciência aparece 31 vezes, e parece ter uma dimensão dupla, como argumentavam os eruditos medievais. Envolvia a ideia de acusar e a ideia de justificar. Quando pecamos, a consciência fica perturbada. Ela nos acusa. A consciência é o instrumento que o Espírito Santo usa para nos convencer, trazer-nos ao arrependimento e recebermos a cura do perdão que flui do evangelho.
No entanto, há também um sentido em que esta voz moral, em nossa mente e coração, igualmente nos diz o que é certo. Lembre-se de que o cristão é sempre um alvo de críticas que podem ou não ser válidas. Até dentro da comunidade cristã, há grandes diferenças de opinião a respeito de comportamentos que são agradáveis a Deus, e que não o são. Um homem aprova dançar; outro o desaprova. Como sabemos quem está certo?
Vemos, no Novo Testamento, que a consciência não é a autoridade ética final para a conduta humana, porque a consciência é capaz de mudar. Enquanto os princípios de Deus não mudam, nossa consciência hesita e se transforma. Estas mudanças podem ser positivas ou negativas. Por exemplo, os profetas do Antigo Testamento anunciaram o juízo de Deus sobre o povo de Israel, que se acostumara com o pecado. Uma das grandes acusações que veio sobre Israel, nos dias do rei Acabe, foi que haviam se tornado tão insensíveis e acostumados com o mal, que o povo tolerava a impiedade do rei Acabe. A consciência dos israelitas estava calejada e cauterizada. Pense sobre esta realidade em sua vida, sobre as ideias que você tinha quando criança. Considere as pontadas de consciência que devem ter penetrado em sua vida, quando você experimentou, pela primeira vez, certas coisas que sabia serem erradas. Você ficou perturbado e abalado. Talvez, até ficou doente. Mas, o poder do pecado pode corroer a consciência até ao ponto de ela se tornar uma voz débil nos profundos recessos de sua alma. Por meio disto, nossa consciência se torna endurecida e cauterizada, condenando o que é certo e justificando o que é errado.
É interessante que podemos sempre achar alguém que oferecerá uma defesa convincente e bem formulada da legitimidade ética de algumas das atividades que Deus julga ofensivas a ele. Como humanos, nossa capacidade de defender a nós mesmos de culpabilidade moral é bem desenvolvida e acentuada. Somos uma cultura em problemas, quando começamos a chamar o mal de bem, e o bem de mal. Para fazer isso, temos de distorcer a consciência e, em essência, tornar o homem a autoridade final da vida. Tudo que alguém precisa fazer é ajustar sua consciência para se encaixar na ética do homem. Assim, podemos viver com paz na mente, pensando que estamos vivendo num estado de retidão.
A consciência pode ser sensibilizada de maneira distorcida. Lembre-se: a visão evolucionária e relativista, quanto à consciência, está fundamentada sobre o princípio de que ela é uma reação subjetiva a tabus impostos pela sociedade. Embora eu não creia que essa opinião seja convincente, tenho de reconhecer que há um elemento de verdade nessa opinião. Reconhecemos que pessoas podem ter consciência altamente sensibilizada, não porque estão sendo instruídas pela Palavra de Deus, mas porque têm sido informadas por regras e normas feitas por homens. Em algumas comunidades cristãs, o teste da fé de alguém é se ele dança ou não dança. Se uma pessoa cresce neste ambiente e decide dançar, o que acontece? Geralmente, a pessoa é dominada por culpa, por haver dançado. Como você responderia a isso? Diria à pessoa que dançar não é pecado, que sua consciência foi mal instruída? Essa pode ser uma abordagem normal, mas tal resposta pode ser problemática por esta razão: a consciência pode justificar, quando deveria estar acusando, e pode acusar, quando deveria estar justificando.
Devemos lembrar que agir contra a consciência é pecado. Martinho Lutero, na Dieta de Worms, esteve em agonia moral, porque se levantou sozinho contra os líderes da igreja e de estados, os quais exigiam que ele se retratasse de seus escritos. Mas Lutero estava convicto de que seus escritos se conformavam à Palavra de Deus; por isso, naquele momento de crise, ele disse: “Não posso retratar-me. Minha consciência está cativa à Palavra de Deus, e agir contra a consciência não é correto, nem seguro”. Esse não foi um princípio que Lutero inventou para a ocasião na Dieta de Worms. É um princípio do Novo Testamento: “Tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm 14.23).
Se alguém é criado em um ambiente que o persuadiu de que ler filosofia é pecado, mas, apesar disso, lê filosofia, ele está pecando. Por quê? É porque ler filosofia é pecado? Não, é porque ele está fazendo algo que acredita ser pecado. Se fazemos algo que pensamos ser pecado, ainda que sejamos mal instruídos, somos culpados de pecado. Agimos contra a nossa consciência. Esse é um princípio muito importante. Lutero estava certo em dizer: “Agir contra a consciência não é correto, nem seguro”.
Por outro lado, temos de lembrar que agir de acordo com a consciência pode, às vezes, ser pecado. Se a consciência é mal instruída, procuramos razões para esta má instrução. É mal instruída, porque a pessoa tem sido negligente em estudar a Escritura? Deus se agradou em nos revelar seus princípios, para que a consciência seja bem instruída. Posso achar que não há problema algum em realizar uma atividade específica que Deus proíbe totalmente, e não poderei dizer-lhe no último dia: “Eu não sabia que lhe desagradaria com esta forma de comportamento. Minha consciência não me acusava, e agi de acordo com minha consciência”. Nesse caso, você agiu de acordo com uma consciência que ignorava a Palavra de Deus que lhe estava disponível, a qual você foi chamado a estudar e a ser diligente em entender.
Devemos retornar ao primeiro princípio. Para o cristão, a consciência não é a autoridade final em sua vida. Somos chamados a ter a mente de Cristo, conhecer o bem e possuir mente e coração treinados na verdade de Deus, para que, nos momentos de pressão, sejamos capazes de permanecer firmes com integridade.






Capítulo 2
Como ter uma boa consciência?
“Tende uma boa consciência.” — 1 PEDRO 3:16.

UM MARINHEIRO conduz seu navio cruzando as ondas de um vasto oceano; um peregrino faz uma viagem longa e difícil por um deserto; um piloto guia sua aeronave acima das nuvens, que se estendem até o horizonte. Você sabe o que essas pessoas têm em comum? Cada uma delas, de um jeito ou de outro, pode enfrentar grandes dificuldades se não tiver uma bússola — especialmente se não tiver acesso à tecnologia moderna.
2 A bússola é um instrumento simples; em geral é só um mostrador com uma agulha magnética apontando para o norte. Quando funciona de forma adequada e principalmente quando é usada com um bom mapa, pode salvar vidas. De certa maneira, a bússola pode ser comparada a um presente valioso que Jeová nos deu — a consciência. (Tiago 1:17) Sem a consciência, estaríamos completamente perdidos. Usada da maneira correta, ela pode ajudar-nos a encontrar o caminho certo na vida e a continuar nele. Por isso, vejamos o que é consciência e como funciona. Depois podemos analisar os seguintes pontos: (1) como treinar a consciência, (2) por que devemos levar em consideração a consciência de outros e (3) como somos beneficiados por uma boa consciência.

O QUE É CONSCIÊNCIA E COMO FUNCIONA

3 Na Bíblia, a palavra grega para “consciência” significa literalmente “conhecimento consigo mesmo”. Deus nos deu a capacidade de conhecer a nós mesmos, o que nos torna diferentes de todas as outras criaturas terrestres. Podemos, por assim dizer, parar e olhar para dentro de nós e fazer uma avaliação moral de nós mesmos. Agindo como juiz interno, nossa consciência pode examinar nossas ações, pensamentos e escolhas. Ela pode nos ajudar a tomar uma boa decisão ou nos alertar contra tomar uma decisão errada. Depois ela pode nos fazer sentir tranquilos por termos escolhido o modo certo de agir ou nos punir com sentimentos de culpa por termos tomado a decisão errada.
4 Essa capacidade de conhecer a si mesmo foi dada ao homem e à mulher quando foram criados. O modo como Adão e Eva agiram mostrou que eles tinham uma consciência. Prova disso foi que sentiram vergonha depois que pecaram. (Gênesis 3:7, 8) Infelizmente, uma consciência pesada não podia ajudá-los naquele momento. De modo intencional eles haviam desprezado a lei de Deus. Assim, de forma consciente eles escolheram tornar-se rebeldes, opositores de Jeová Deus. Como humanos perfeitos, eles sabiam o que estavam fazendo e não tinham como voltar atrás.
5 Diferentemente de Adão e Eva, muitos humanos imperfeitos escutam sua consciência. Por exemplo, o fiel Jó pôde dizer “agarrei a minha justeza e não a largarei; meu coração não escarnecerá de mim por qualquer dos meus dias”.* (Jó 27:6) Jó fazia questão de ouvir sua consciência, permitindo que ela guiasse suas ações e decisões. Assim, ele podia dizer com orgulho que sua consciência não escarnecia dele, ou não o atormentava com sentimentos de vergonha e culpa. Note agora o contraste entre Jó e Davi. Depois que Davi mostrou desrespeito por Saul, o rei ungido de Jeová, seu coração “lhe batia fortemente”, ou sua consciência doía. (1 Samuel 24:5, A Bíblia de Jerusalém) Essa dor de consciência certamente o beneficiou, ensinando-o a não mostrar mais esse tipo de desrespeito.
6 Será que só os servos de Jeová têm esse dom da consciência? Considere as palavras inspiradas do apóstolo Paulo: “Sempre que pessoas das nações, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, tais pessoas, embora não tenham lei, são uma lei para si mesmas. Elas é que são quem demonstra que a matéria da lei está escrita nos seus corações, ao passo que a sua consciência lhes dá testemunho e nos seus próprios pensamentos são acusadas ou até mesmo desculpadas.” (Romanos 2:14, 15) Mesmo os que não têm nenhum conhecimento das leis de Jeová podem às vezes ser motivados pela consciência a agir de acordo com os princípios divinos.
7 Mas às vezes a consciência pode se enganar. Por quê? Bem, se uma bússola for colocada perto de um objeto de metal, ela poderá deixar de apontar para o norte. E se for usada sem um bom mapa, a bússola poderá ser praticamente inútil. Da mesma forma, se desejos egoístas do nosso coração influenciarem nossa consciência, ela poderá nos guiar para a direção errada. E se for usada sem a orientação confiável da Palavra de Deus, talvez não consigamos distinguir o certo do errado em muitos assuntos importantes. Por isso, para que nossa consciência funcione corretamente, precisamos da orientação do espírito santo de Jeová. O apóstolo Paulo escreveu: “Minha consciência dá testemunho comigo, em espírito santo.” (Romanos 9:1) Mas o que precisamos fazer para que nossa consciência aja de acordo com o espírito santo de Jeová? É necessário treinamento.
COMO TREINAR A CONSCIÊNCIA
8 Como se toma uma decisão orientando-se pela consciência? Parece que algumas pessoas simplesmente olham para dentro de si mesmas, examinam seus sentimentos e decidem o que fazer. Depois talvez digam: ‘Bem, isso não perturba minha consciência.’ Os desejos do coração podem ser muito fortes e até mesmo influenciar a consciência. A Bíblia diz: “O coração é mais traiçoeiro do que qualquer outra coisa e está desesperado. Quem o pode conhecer?” (Jeremias 17:9) Sendo assim, o que nosso coração deseja não deve ser a coisa mais importante a ser levada em consideração. Em vez disso, devemos nos preocupar principalmente com o que vai agradar a Jeová Deus.*
9 Se uma decisão for mesmo baseada em nossa consciência treinada, ela será um reflexo de nosso temor a Deus, não de nossos desejos. Considere um exemplo que ilustra bem esse ponto. O fiel governador Neemias tinha o direito de exigir certos pagamentos e impostos do povo de Jerusalém. Mesmo assim ele não fez isso. Por quê? Ele não queria correr o risco de desagradar a Jeová por oprimir o povo de Deus. Ele disse: “Não fiz assim por causa do temor de Deus.” (Neemias 5:15) É essencial o genuíno temor piedoso, o temor sincero de desagradar nosso Pai celestial. Esse temor reverente nos motivará a procurar a orientação da Palavra de Deus quando tivermos que tomar decisões.
10 Por exemplo, considere a questão das bebidas alcoólicas. Em reuniões sociais, muitos de nós temos de tomar uma decisão: devo beber ou não? Primeiro, precisamos saber que princípios bíblicos se aplicam nesse caso. Na verdade, a Bíblia não condena o uso moderado do álcool. Ela cita o vinho como uma dádiva de Deus e o louva por isso. (Salmo 104:14, 15) Mas a Bíblia condena beber sem moderação e participar de festanças. (Lucas 21:34; Romanos 13:13) Além disso, ela inclui a embriaguez entre outros pecados graves, como a fornicação e o adultério.* — 1 Coríntios 6:9, 10.
11 A consciência de um cristão é treinada por esses princípios bíblicos e torna-se sensível a eles. Assim, quando nos confrontamos com a decisão de ir ou não a uma reunião social onde haverá bebidas alcoólicas, devemos nos fazer algumas perguntas, como: ‘Que tipo de reunião está sendo organizada? Será do tipo que sai do controle, tornando-se uma festança? Tenho a tendência de beber demais? Fico ansioso para beber, sou dependente do álcool, uso a bebida para controlar meu humor e meu comportamento? Tenho o autodomínio necessário para não passar do limite?’ Ao meditarmos nos princípios bíblicos e nas perguntas que surgem, devemos buscar a orientação de Jeová por meio da oração. (Salmo 139:23, 24) Desse modo, estaremos pedindo que Jeová nos guie com seu espírito santo. Estaremos também treinando nossa consciência para que ela aja de acordo com os princípios divinos. Mas existe outro fator que deve influenciar nossas decisões.

POR QUE LEVAR EM CONSIDERAÇÃO A CONSCIÊNCIA DEOUTROS?
12 Vez por outra, você talvez fique surpreso de ver como as opiniões dos cristãos variam em assuntos de consciência. Uma pessoa acha inaceitável certa prática ou certo costume; outra gosta disso e não acha que seja errado. Por exemplo, na questão de beber socialmente, uma pessoa talvez ache agradável beber alguma coisa com uns amigos enquanto se descontraem no fim do dia; outra já se sente incomodada com isso. Por que existem essas diferenças, e como elas devem afetar nossas decisões?
13 As pessoas diferem umas das outras por muitos motivos. As circunstâncias em que cada um foi criado variam bastante. Alguns, por exemplo, estão bem cientes de que têm certa fraqueza com a qual tiveram de lutar no passado — e talvez nem sempre tenham se saído bem. (1 Reis 8:38, 39) Quando se trata de bebidas alcoólicas, pode ser que a consciência dessas pessoas seja mais sensível. Se alguém nessa situação for visitá-lo em sua casa e você lhe oferecer uma bebida alcoólica, talvez a consciência dele, com bons motivos, não permita que ele aceite. Você ficará ofendido? Vai insistir? Não. Conhecendo ou não os motivos da pessoa — que ela talvez prefira não comentar —, você será motivado pelo amor cristão a respeitar a decisão dela.
14 O apóstolo Paulo observou que entre os cristãos do primeiro século havia muitas opiniões diferentes em assuntos que envolviam a consciência. Por exemplo, naquela época alguns cristãos ficavam incomodados com o fato de certos alimentos terem sido sacrificados a ídolos. (1 Coríntios 10:25) A consciência de Paulo lhe permitia comer esses alimentos, que eram vendidos no mercado depois de terem sido oferecidos em sacrifício. Para ele, os ídolos não eram nada; jamais um alimento poderia pertencer a um ídolo, pois os alimentos foram criados por Jeová e de qualquer forma pertencem a ele. Mesmo assim, Paulo sabia que nem todos tinham o mesmo ponto de vista sobre o assunto. Alguns talvez tivessem estado profundamente envolvidos em idolatria antes de se tornarem cristãos. Para eles, mesmo algo que não tivesse mais nenhuma ligação com a idolatria era repugnante. Como resolver essa questão?
15 Paulo disse: “Nós, porém, os que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos que não são fortes, e não estar agradando a nós mesmos. Pois até mesmo o Cristo não agradou a si mesmo.” (Romanos 15:1, 3) Paulo mostrou que devemos colocar os interesses dos irmãos à frente dos nossos, assim como Cristo fez. Em outra consideração desse assunto, ele disse que seria melhor não comer carne do que fazer tropeçar uma ovelha preciosa por quem Cristo tinha dado a vida. — 1 Coríntios 8:13; 10:23, 24, 31-33.
16 Por outro lado, os que têm uma consciência mais sensível não devem criticar outros, insistindo que todos encarem os assuntos de consciência da mesma maneira que eles. (Romanos 14:10) Na verdade, devemos usar a consciência para julgar a nós mesmos, não para julgar outros. Lembre-se das palavras de Jesus: “Parai de julgar, para que não sejais julgados.” (Mateus 7:1) Todos na congregação devem evitar criar questão sobre assuntos de consciência. Em vez disso, devemos procurar meios para promover a paz e a união, edificando-nos mutuamente, não desanimando-nos uns aos outros. — Romanos 14:19.
OS BENEFÍCIOS DE UMA BOA CONSCIÊNCIA
17 O apóstolo Pedro escreveu: “Tende uma boa consciência.” (1 Pedro 3:16) Uma consciência limpa do ponto de vista de Jeová é uma grande bênção. Muitos hoje não têm uma consciência assim. Paulo falou dos que são “marcados na sua consciência como que por um ferro de marcar”. (1 Timóteo 4:2) Um ferro de marcar cauteriza a carne, deixando-a cicatrizada e insensível. Muitos têm uma consciência que está, na realidade, morta — tão cicatrizada e insensível que não dá mais sinais de aviso, não objeta a nada nem causa sentimentos de culpa ou vergonha diante de um erro. Muitos acham isso bom.
18 Na verdade, sentimentos de culpa podem ser uma maneira de a consciência nos dizer que fizemos algo errado. Quando esses sentimentos levam o pecador ao arrependimento, até mesmo o pior pecado pode ser perdoado. Por exemplo, o Rei Davi cometeu pecados graves, mas foi perdoado em grande parte por causa do seu arrependimento sincero. O ódio pelo proceder errado e a determinação de obedecer às leis de Jeová a partir de então o fizeram ver de primeira mão que Jeová é ‘bom e está pronto a perdoar’. (Salmo 51:1-19; 86:5) Mas o que dizer se continuarmos a ter fortes sentimentos de culpa e vergonha depois de ter nos arrependido e ter sido perdoados?
19 Às vezes a consciência pode punir mais do que devia, atormentando o pecador com sentimentos de culpa por muito tempo depois de tê-lo ajudado. Nesses casos, talvez precisemos assegurar ao nosso coração, que nos condena, que Jeová é maior do que todos os sentimentos humanos. Precisamos acreditar no seu amor e perdão e aceitá-los, assim como incentivamos outros a fazer. (1 João 3:19, 20) Por outro lado, uma consciência limpa resulta em paz interior, tranquilidade e uma profunda alegria que é difícil de encontrar no mundo de hoje. Muitos que antes se envolveram em pecado sério sentiram esse maravilhoso alívio e agora servem a Jeová com uma boa consciência. — 1 Coríntios 6:11.
20 Este livro foi preparado para ajudá-lo a encontrar essa alegria por ter uma boa consciência enquanto vivemos nestes últimos dias atribulados do sistema de Satanás. É claro que é impossível abranger nestas páginas todas as leis e princípios bíblicos que você precisa analisar e aplicar nas situações que surgem no dia a dia. Além disso, não espere regras simples e específicas no que se refere a assuntos de consciência. O objetivo deste livro é ajudá-lo a treinar sua consciência e torná-la mais sensível aos princípios bíblicos por aprender a aplicar a Palavra de Deus na sua vida diária. Ao contrário da Lei mosaica, “a lei do Cristo” incentiva aos que a seguem a se guiar mais pela consciência e por princípios do que por regras. (Gálatas 6:2) Assim, Jeová dá aos cristãos uma notável liberdade. Mas sua Palavra nos lembra que nunca devemos usar essa liberdade “como disfarce para a maldade”. (1 Pedro 2:16) Em vez disso, essa liberdade nos dá uma maravilhosa oportunidade de expressar nosso amor a Jeová.
21 Por considerar com oração como aplicar os princípios bíblicos na sua vida da melhor maneira, e então tomar suas decisões, você dará continuidade a um processo importante que começou quando você passou a conhecer a Jeová. Suas “faculdades perceptivas” estarão sendo treinadas “pelo uso”. (Hebreus 5:14) Sua consciência treinada pela Bíblia será uma bênção para você todos os dias da sua vida. Como a bússola que orienta o viajante, sua consciência vai ajudá-lo a tomar decisões que agradam a seu Pai celestial. Essa é uma maneira segura de permanecer no amor de Deus.
[Nota(s) de rodapé]
Nas Escrituras Hebraicas, não há uma palavra específica para “consciência”. No entanto, em exemplos como o de Jó fica evidente que era a consciência que estava atuando. A expressão “coração” em geral se refere àquilo que somos no íntimo. Em casos como o de Jó, essa expressão pelo visto se refere a uma parte específica do íntimo da pessoa — a consciência. Nas Escrituras Gregas Cristãs, a palavra grega traduzida “consciência” aparece cerca de 30 vezes.
A Bíblia mostra que nem sempre basta acharmos que temos uma consciência limpa. Por exemplo, Paulo disse: “Não estou cônscio de nada contra mim mesmo. Contudo, não é por isso que eu seja mostrado justo, mas quem me examina é Jeová.” (1 Coríntios 4:4) Mesmo aqueles que perseguem os cristãos, como Paulo fazia antes, talvez façam isso com a consciência limpa, porque acham que Deus aprova o que fazem. É importante que nossa consciência esteja limpa tanto do nosso ponto de vista como do ponto de vista de Deus. — Atos 23:1; 2 Timóteo 1:3.
É digno de nota que muitos médicos dizem que, na realidade, beber moderadamente é impossível para os alcoólatras; no caso deles, “moderação” significa não beber.
QUAL É A SUA RESPOSTA?
Saber que Jeová nos observa todo o tempo deve ter que efeito sobre nossa consciência?  Hebreus 4:13.
Como a consciência de José o ajudou a resistir à tentação? —  Gênesis 39:1, 2, 7-12.
Por que é essencial ter uma consciência limpa para nos achegar a Jeová?  Hebreus 10:22.
Por que devemos levar em consideração a consciência de pessoas que não adoram a Jeová?  2 Coríntios 4:1, 2.

[Perguntas de Estudo]
1, 2. Por que a bússola é um instrumento importante, e como ela pode ser comparada à consciência?
 3. Qual é o significado literal da palavra grega para “consciência”, e ela se refere a que capacidade exclusiva dos humanos?
4, 5. (a) Como sabemos que Adão e Eva tinham uma consciência, e qual foi o resultado de eles terem desprezado a lei de Deus? (b) Como a consciência funcionou no caso de alguns homens fiéis dos tempos pré-cristãos?
 6. O que mostra que a consciência é um dom que todas as pessoas têm?
 7. Por que às vezes a consciência pode se enganar?
 8. (a) Como o coração pode influenciar a consciência, e qual deve ser nossa maior preocupação ao tomar decisões? (b) Por que nem sempre basta o cristão achar que tem uma consciência limpa? (Veja a nota.)
 9. O que é temor piedoso, e como ele pode influenciar nossa consciência?
10, 11. Que princípios bíblicos estão relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas, e como podemos ter a orientação de Deus para aplicá-los?
12, 13. Quais são alguns motivos pelos quais as opiniões dos cristãos variam em assuntos de consciência, e como devemos lidar com isso?
14, 15. Na congregação do primeiro século, havia opiniões diferentes sobre que assunto de consciência, e que conselho Paulo deu?
16. Por que os que têm uma consciência mais sensível devem evitar julgar os que têm uma opinião diferente?
17. O que aconteceu com a consciência de muitos hoje?
18, 19. (a) Como sentimentos de culpa e vergonha podem nos beneficiar? (b) O que podemos fazer se nossa consciência continuar a nos atormentar por causa de pecados passados dos quais já nos arrependemos?
20, 21. (a) Qual é o objetivo deste livro? (b) Que liberdade temos como cristãos, mas como devemos usá-la?

Uma consciência treinada pela Bíblia pode ajudá-lo a decidir se vai tomar ou não bebidas alcoólicas

Uma boa consciência pode guiar-nos pelo caminho da vida, resultando em alegria e paz interior


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