Por R. C. Sproul
É vitalmente importante que os cristãos considerem a questão da
consciência. Na visão clássica, a consciência foi considerada algo que Deus
implantou dentro de nossa mente. Algumas pessoas chegaram a descrever a
consciência como a voz de Deus dentro de nós. A ideia era que Deus nos criou de
tal maneira, que havia um elo entre as sensibilidades da mente e a consciência,
com sua responsabilidade intrínseca para com as leis eternas de Deus. Por
exemplo, considere a lei da natureza que o apóstolo Paulo afirma estar escrita
em nosso coração. Havia uma sensibilidade de consciência, muito antes de Moisés
descer do monte Sinai com as tábuas de pedra.
O famoso filósofo Immanuel Kant era cético, no que diz respeito à capacidade humana de racionar, a partir deste mundo, sobre o mundo transcendente de Deus. Apesar disso, ele ofereceu o que chamou de argumento moral para a existência de Deus, um argumento que se baseou no que ele chamou de senso universal de dever implantado no coração de todo ser humano. Kant acreditava que toda pessoa carregava em si um senso genuíno do que deveria fazer em determinada situação. Ele chamou isso de imperativo categórico. Kant acreditava que há duas coisas que enchem a alma com admiração e reverência sempre novas e crescentes: os céus fascinantes, no espaço, e a lei moral, no íntimo do ser humano. É importante notar isto, porque até no âmbito da filosofia secular tem havido, historicamente, um reconhecimento da consciência.
Histórica e classicamente, a consciência foi vista como nossa ligação com a ética transcendente que reside em Deus. Todavia, com a revolução moral de nossa cultura, surgiu uma abordagem diferente da consciência, e esta abordagem se chama visão relativista. Estamos realmente na era do relativismo, na qual valores e princípios são considerados meras expressões de desejos e interesses de um grupo específico de pessoas, em determinado momento da história. Ouvimos, repetidas vezes, que não há absolutos no mundo de hoje.
No entanto, se não há nenhum absoluto, princípios transcendentes, como explicamos este mecanismo que chamamos de consciência? Dentro de uma estrutura relativista, vemos a consciência ser definida em termos evolucionários: as personalidades interiores subjetivas das pessoas estão reagindo a tabus evolucionários vantajosos, que lhes foram impostos por sua sociedade ou por seu ambiente. Havendo chegado a um tempo, em nosso desenvolvimento, em que esses tabus não servem mais para promover nossa evolução, podem ser descartados sem qualquer consideração às consequências.
Anos atrás, quando eu trabalhava como
professor, aconselhei uma universitária que fora tomada por um profundo senso
de culpa, porque se entregara a atividades sexuais com seu noivo. Eu lhe disse
que o meio de vencer sua culpa era reconhecer a fonte da culpa. Ela argumentou
que não fizera nada de errado; seus sentimentos de culpa foram resultado de
haver sido vítima de viver numa sociedade regida por uma ética puritana.
Explicou que fora condicionada por certos tabus sexuais que a fizeram sentir-se
culpada, quando não devia, e que seu envolvimento sexual fora uma expressão
madura e responsável de sua própria chegada à maioridade.
Apesar disso, ela me procurou
chorando e exclamando que ainda se sentia culpada. Disse-lhe que é possível uma
pessoa sentir-se culpada, porque tem uma consciência intranquila e perturbada
quanto a algo que não é realmente uma transgressão da lei de Deus; mas que,
naquele caso, ela quebrara a lei de Deus e devia se alegrar por se sentir
culpada, visto que a dor, embora nos seja desagradável, é importante para a
nossa saúde. No âmbito físico, o sentimento de dor indica que há algo errado no
corpo. No aspecto espiritual, a dor de culpa pode indicar-nos que algo está
errado em nossa alma. Há um remédio para isso, aquele que a igreja tem
oferecido sempre, ou seja, o perdão. Culpa real exige perdão real.
O problema desta mulher ilustra o
conflito entre o entendimento tradicional de pecado e consciência e o novo
conceito de consciência. Este novo conceito vê a consciência meramente como um
processo evolucionário condicionador da sociedade, que é um resultado de tabus
impostos. Como o cristão lida com tudo isto? Há uma visão bíblica quanto à
consciência?
O termo hebraico traduzido por
“consciência” ocorre no Antigo Testamento, mas esparsamente. Entretanto, no
Novo Testamento, parece haver um reconhecimento mais pleno da importância da
função da consciência na vida cristã. A palavra grega que expressa consciência aparece
31 vezes, e parece ter uma dimensão dupla, como argumentavam os eruditos
medievais. Envolvia a ideia de acusar e a ideia de justificar. Quando pecamos,
a consciência fica perturbada. Ela nos acusa. A consciência é o instrumento que
o Espírito Santo usa para nos convencer, trazer-nos ao arrependimento e
recebermos a cura do perdão que flui do evangelho.
No entanto, há também um sentido em
que esta voz moral, em nossa mente e coração, igualmente nos diz o que é certo.
Lembre-se de que o cristão é sempre um alvo de críticas que podem ou não ser
válidas. Até dentro da comunidade cristã, há grandes diferenças de opinião a
respeito de comportamentos que são agradáveis a Deus, e que não o são. Um homem
aprova dançar; outro o desaprova. Como sabemos quem está certo?
Vemos, no Novo Testamento, que a
consciência não é a autoridade ética final para a conduta humana, porque a
consciência é capaz de mudar. Enquanto os princípios de Deus não mudam, nossa
consciência hesita e se transforma. Estas mudanças podem ser positivas ou
negativas. Por exemplo, os profetas do Antigo Testamento anunciaram o juízo de
Deus sobre o povo de Israel, que se acostumara com o pecado. Uma das grandes
acusações que veio sobre Israel, nos dias do rei Acabe, foi que haviam se
tornado tão insensíveis e acostumados com o mal, que o povo tolerava a
impiedade do rei Acabe. A consciência dos israelitas estava calejada e
cauterizada. Pense sobre esta realidade em sua vida, sobre as ideias que você
tinha quando criança. Considere as pontadas de consciência que devem ter
penetrado em sua vida, quando você experimentou, pela primeira vez, certas
coisas que sabia serem erradas. Você ficou perturbado e abalado. Talvez, até
ficou doente. Mas, o poder do pecado pode corroer a consciência até ao ponto de
ela se tornar uma voz débil nos profundos recessos de sua alma. Por meio disto,
nossa consciência se torna endurecida e cauterizada, condenando o que é certo e
justificando o que é errado.
É interessante que podemos sempre
achar alguém que oferecerá uma defesa convincente e bem formulada da
legitimidade ética de algumas das atividades que Deus julga ofensivas a ele.
Como humanos, nossa capacidade de defender a nós mesmos de culpabilidade moral
é bem desenvolvida e acentuada. Somos uma cultura em problemas, quando
começamos a chamar o mal de bem, e o bem de mal. Para fazer isso, temos de
distorcer a consciência e, em essência, tornar o homem a autoridade final da
vida. Tudo que alguém precisa fazer é ajustar sua consciência para se encaixar
na ética do homem. Assim, podemos viver com paz na mente, pensando que estamos
vivendo num estado de retidão.
A consciência pode ser sensibilizada
de maneira distorcida. Lembre-se: a visão evolucionária e relativista, quanto à
consciência, está fundamentada sobre o princípio de que ela é uma reação
subjetiva a tabus impostos pela sociedade. Embora eu não creia que essa opinião
seja convincente, tenho de reconhecer que há um elemento de verdade nessa
opinião. Reconhecemos que pessoas podem ter consciência altamente
sensibilizada, não porque estão sendo instruídas pela Palavra de Deus, mas
porque têm sido informadas por regras e normas feitas por homens. Em algumas
comunidades cristãs, o teste da fé de alguém é se ele dança ou não dança. Se
uma pessoa cresce neste ambiente e decide dançar, o que acontece? Geralmente, a
pessoa é dominada por culpa, por haver dançado. Como você responderia a isso?
Diria à pessoa que dançar não é pecado, que sua consciência foi mal instruída? Essa
pode ser uma abordagem normal, mas tal resposta pode ser problemática por esta
razão: a consciência pode justificar, quando deveria estar acusando, e pode
acusar, quando deveria estar justificando.
Devemos lembrar que agir contra a
consciência é pecado. Martinho Lutero, na Dieta de Worms, esteve em
agonia moral, porque se levantou sozinho contra os líderes da igreja e de
estados, os quais exigiam que ele se retratasse de seus escritos. Mas Lutero
estava convicto de que seus escritos se conformavam à Palavra de Deus; por
isso, naquele momento de crise, ele disse: “Não posso retratar-me. Minha
consciência está cativa à Palavra de Deus, e agir contra a consciência não é
correto, nem seguro”. Esse não foi um princípio que Lutero inventou para a
ocasião na Dieta de Worms. É um princípio do Novo Testamento: “Tudo
o que não provém de fé é pecado” (Rm 14.23).
Se alguém é criado em um ambiente que
o persuadiu de que ler filosofia é pecado, mas, apesar disso, lê filosofia, ele
está pecando. Por quê? É porque ler filosofia é pecado? Não, é porque ele está
fazendo algo que acredita ser pecado. Se fazemos algo que pensamos ser pecado,
ainda que sejamos mal instruídos, somos culpados de pecado. Agimos contra a
nossa consciência. Esse é um princípio muito importante. Lutero estava certo em
dizer: “Agir contra a consciência não é correto, nem seguro”.
Por outro lado, temos de lembrar que
agir de acordo com a consciência pode, às vezes, ser pecado. Se a consciência é
mal instruída, procuramos razões para esta má instrução. É mal instruída,
porque a pessoa tem sido negligente em estudar a Escritura? Deus se agradou em
nos revelar seus princípios, para que a consciência seja bem instruída. Posso
achar que não há problema algum em realizar uma atividade específica que Deus
proíbe totalmente, e não poderei dizer-lhe no último dia: “Eu não sabia que lhe
desagradaria com esta forma de comportamento. Minha consciência não me acusava,
e agi de acordo com minha consciência”. Nesse caso, você agiu de acordo com uma
consciência que ignorava a Palavra de Deus que lhe estava disponível, a qual
você foi chamado a estudar e a ser diligente em entender.
Devemos retornar ao primeiro princípio. Para o cristão, a consciência
não é a autoridade final em sua vida. Somos chamados a ter a mente de Cristo,
conhecer o bem e possuir mente e coração treinados na verdade de Deus, para
que, nos momentos de pressão, sejamos capazes de permanecer firmes com
integridade.
Capítulo 2
Como ter uma boa consciência?
“Tende
uma boa consciência.” — 1 PEDRO 3:16.
UM MARINHEIRO conduz seu navio cruzando as ondas de
um vasto oceano; um peregrino faz uma viagem longa e difícil por um deserto; um
piloto guia sua aeronave acima das nuvens, que se estendem até o horizonte.
Você sabe o que essas pessoas têm em comum? Cada uma delas, de um jeito ou de
outro, pode enfrentar grandes dificuldades se não tiver uma bússola
— especialmente se não tiver acesso à tecnologia moderna.
2 A bússola é um instrumento simples; em geral é só um mostrador com
uma agulha magnética apontando para o norte. Quando funciona de forma adequada
e principalmente quando é usada com um bom mapa, pode salvar vidas. De certa
maneira, a bússola pode ser comparada a um presente valioso que Jeová nos
deu — a consciência. (Tiago 1:17) Sem a consciência,
estaríamos completamente perdidos. Usada da maneira correta, ela pode
ajudar-nos a encontrar o caminho certo na vida e a continuar nele. Por isso,
vejamos o que é consciência e como funciona. Depois podemos analisar os
seguintes pontos: (1) como treinar a consciência, (2) por que devemos
levar em consideração a consciência de outros e (3) como somos
beneficiados por uma boa consciência.
O QUE É CONSCIÊNCIA E COMO FUNCIONA
3 Na
Bíblia, a palavra grega para “consciência” significa literalmente “conhecimento
consigo mesmo”. Deus nos deu a capacidade de conhecer a nós mesmos, o que nos
torna diferentes de todas as outras criaturas terrestres. Podemos, por assim
dizer, parar e olhar para dentro de nós e fazer uma avaliação moral de nós
mesmos. Agindo como juiz interno, nossa consciência pode examinar nossas ações,
pensamentos e escolhas. Ela pode nos ajudar a tomar uma boa decisão ou nos
alertar contra tomar uma decisão errada. Depois ela pode nos fazer sentir
tranquilos por termos escolhido o modo certo de agir ou nos punir com
sentimentos de culpa por termos tomado a decisão errada.
4 Essa
capacidade de conhecer a si mesmo foi dada ao homem e à mulher quando foram
criados. O modo como Adão e Eva agiram mostrou que eles tinham uma consciência.
Prova disso foi que sentiram vergonha depois que pecaram. (Gênesis 3:7, 8) Infelizmente, uma
consciência pesada não podia ajudá-los naquele momento. De modo intencional
eles haviam desprezado a lei de Deus. Assim, de forma consciente eles escolheram tornar-se rebeldes,
opositores de Jeová Deus. Como humanos perfeitos, eles sabiam o que estavam
fazendo e não tinham como voltar atrás.
5 Diferentemente
de Adão e Eva, muitos humanos imperfeitos escutam sua consciência. Por exemplo,
o fiel Jó pôde dizer “agarrei a minha justeza e não a largarei; meu coração não
escarnecerá de mim por qualquer dos meus dias”.* (Jó 27:6) Jó fazia questão de ouvir sua
consciência, permitindo que ela guiasse suas ações e decisões. Assim, ele podia
dizer com orgulho que sua consciência não escarnecia dele, ou não o atormentava
com sentimentos de vergonha e culpa. Note agora o contraste entre Jó e Davi.
Depois que Davi mostrou desrespeito por Saul, o rei ungido de Jeová, seu
coração “lhe batia fortemente”, ou sua consciência doía. (1 Samuel 24:5, A Bíblia de Jerusalém) Essa dor de
consciência certamente o beneficiou, ensinando-o a não mostrar mais esse tipo
de desrespeito.
6 Será
que só os servos de Jeová têm esse dom da consciência? Considere as palavras
inspiradas do apóstolo Paulo: “Sempre que pessoas das nações, que não têm lei,
fazem por natureza as coisas da lei, tais pessoas, embora não tenham lei, são
uma lei para si mesmas. Elas é que são quem demonstra que a matéria da lei está
escrita nos seus corações, ao passo que a sua consciência lhes dá testemunho e
nos seus próprios pensamentos são acusadas ou até mesmo desculpadas.” (Romanos 2:14, 15) Mesmo os que não têm nenhum conhecimento das leis de
Jeová podem às vezes ser motivados pela consciência a agir de acordo com os
princípios divinos.
7 Mas
às vezes a consciência pode se enganar. Por quê? Bem, se uma bússola for
colocada perto de um objeto de metal, ela poderá deixar de apontar para o
norte. E se for usada sem um bom mapa, a bússola poderá ser praticamente
inútil. Da mesma forma, se desejos egoístas do nosso coração influenciarem
nossa consciência, ela poderá nos guiar para a direção errada. E se for usada
sem a orientação confiável da Palavra de Deus, talvez não consigamos distinguir
o certo do errado em muitos assuntos importantes. Por isso, para que nossa
consciência funcione corretamente, precisamos da orientação do espírito santo
de Jeová. O apóstolo Paulo escreveu: “Minha consciência dá testemunho comigo,
em espírito santo.” (Romanos 9:1) Mas o que precisamos fazer para
que nossa consciência aja de acordo com o espírito santo de Jeová? É necessário
treinamento.
COMO TREINAR A CONSCIÊNCIA
8 Como
se toma uma decisão orientando-se pela consciência? Parece que algumas pessoas
simplesmente olham para dentro de si mesmas, examinam seus sentimentos e
decidem o que fazer. Depois talvez digam: ‘Bem, isso não perturba minha
consciência.’ Os desejos do coração podem ser muito fortes e até mesmo
influenciar a consciência. A Bíblia diz: “O coração é mais traiçoeiro do que
qualquer outra coisa e está desesperado. Quem o pode conhecer?” (Jeremias 17:9) Sendo assim, o que nosso
coração deseja não deve ser a coisa mais
importante a ser levada em consideração. Em vez disso, devemos nos preocupar
principalmente com o que vai agradar a Jeová Deus.*
9 Se
uma decisão for mesmo baseada em nossa consciência treinada, ela será um
reflexo de nosso temor a Deus, não de nossos desejos. Considere um exemplo que
ilustra bem esse ponto. O fiel governador Neemias tinha o direito de exigir
certos pagamentos e impostos do povo de Jerusalém. Mesmo assim ele não fez
isso. Por quê? Ele não queria correr o risco de desagradar a Jeová por oprimir
o povo de Deus. Ele disse: “Não fiz assim por causa do temor de Deus.” (Neemias 5:15) É essencial o genuíno temor
piedoso, o temor sincero de desagradar nosso Pai celestial. Esse temor
reverente nos motivará a procurar a orientação da Palavra de Deus quando
tivermos que tomar decisões.
10 Por
exemplo, considere a questão das bebidas alcoólicas. Em reuniões sociais,
muitos de nós temos de tomar uma decisão: devo beber ou não? Primeiro, precisamos
saber que princípios bíblicos se aplicam nesse caso. Na verdade, a Bíblia não
condena o uso moderado do álcool. Ela cita o vinho como uma dádiva de Deus e o
louva por isso. (Salmo 104:14, 15) Mas a Bíblia condena beber
sem moderação e participar de
festanças. (Lucas 21:34; Romanos 13:13) Além disso, ela inclui a
embriaguez entre outros pecados graves, como a fornicação e o adultério.* — 1 Coríntios 6:9, 10.
11 A
consciência de um cristão é treinada por esses princípios bíblicos e torna-se
sensível a eles. Assim, quando nos confrontamos com a decisão de ir ou não a
uma reunião social onde haverá bebidas alcoólicas, devemos nos fazer algumas
perguntas, como: ‘Que tipo de reunião está sendo organizada? Será do tipo que
sai do controle, tornando-se uma festança? Tenho a tendência de beber demais?
Fico ansioso para beber, sou dependente do álcool, uso a bebida para controlar
meu humor e meu comportamento? Tenho o autodomínio necessário para não passar
do limite?’ Ao meditarmos nos princípios bíblicos e nas perguntas que surgem,
devemos buscar a orientação de Jeová por meio da oração. (Salmo 139:23, 24) Desse modo, estaremos
pedindo que Jeová nos guie com seu espírito santo. Estaremos também treinando
nossa consciência para que ela aja de acordo com os princípios divinos. Mas
existe outro fator que deve influenciar nossas decisões.
POR QUE LEVAR EM CONSIDERAÇÃO A CONSCIÊNCIA DEOUTROS?
12 Vez
por outra, você talvez fique surpreso de ver como as opiniões dos cristãos
variam em assuntos de consciência. Uma pessoa acha inaceitável certa prática ou
certo costume; outra gosta disso e não acha que seja errado. Por exemplo, na
questão de beber socialmente, uma pessoa talvez ache agradável beber alguma
coisa com uns amigos enquanto se descontraem no fim do dia; outra já se sente
incomodada com isso. Por que existem essas diferenças, e como elas devem afetar
nossas decisões?
13 As
pessoas diferem umas das outras por muitos motivos. As circunstâncias em que
cada um foi criado variam bastante. Alguns, por exemplo, estão bem cientes de
que têm certa fraqueza com a qual tiveram de lutar no passado — e talvez
nem sempre tenham se saído bem. (1 Reis 8:38, 39) Quando se trata de
bebidas alcoólicas, pode ser que a consciência dessas pessoas seja mais
sensível. Se alguém nessa situação for visitá-lo em sua casa e você lhe
oferecer uma bebida alcoólica, talvez a consciência dele, com bons motivos, não
permita que ele aceite. Você ficará ofendido? Vai insistir? Não. Conhecendo ou
não os motivos da pessoa — que ela talvez prefira não comentar —,
você será motivado pelo amor cristão a respeitar a decisão dela.
14 O
apóstolo Paulo observou que entre os cristãos do primeiro século havia
muitas opiniões diferentes em assuntos que envolviam a consciência. Por
exemplo, naquela época alguns cristãos ficavam incomodados com o fato de certos
alimentos terem sido sacrificados a ídolos. (1 Coríntios 10:25) A consciência de Paulo
lhe permitia comer esses alimentos, que eram vendidos no mercado depois de
terem sido oferecidos em sacrifício. Para ele, os ídolos não eram nada; jamais
um alimento poderia pertencer a um ídolo, pois os alimentos foram criados por
Jeová e de qualquer forma pertencem a ele. Mesmo assim, Paulo sabia que nem
todos tinham o mesmo ponto de vista sobre o assunto. Alguns talvez tivessem
estado profundamente envolvidos em idolatria antes de se tornarem cristãos.
Para eles, mesmo algo que não tivesse mais nenhuma ligação com a idolatria era
repugnante. Como resolver essa questão?
15 Paulo
disse: “Nós, porém, os que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos que
não são fortes, e não estar agradando a nós mesmos. Pois até mesmo o Cristo não
agradou a si mesmo.” (Romanos 15:1, 3) Paulo mostrou que devemos colocar os
interesses dos irmãos à frente dos nossos, assim como Cristo fez. Em outra
consideração desse assunto, ele disse que seria
melhor não comer carne do que fazer tropeçar uma ovelha preciosa por quem
Cristo tinha dado a vida. — 1 Coríntios 8:13; 10:23, 24, 31-33.
16 Por
outro lado, os que têm uma consciência mais sensível não devem criticar outros,
insistindo que todos encarem os assuntos de consciência da mesma maneira que
eles. (Romanos 14:10) Na verdade, devemos usar a
consciência para julgar a nós mesmos, não para julgar outros. Lembre-se das
palavras de Jesus: “Parai de julgar, para que não sejais julgados.” (Mateus 7:1) Todos na congregação devem evitar
criar questão sobre assuntos de consciência. Em vez disso, devemos procurar
meios para promover a paz e a união, edificando-nos mutuamente, não
desanimando-nos uns aos outros. — Romanos 14:19.
OS BENEFÍCIOS DE UMA BOA CONSCIÊNCIA
17 O
apóstolo Pedro escreveu: “Tende uma boa consciência.” (1 Pedro 3:16) Uma consciência limpa do
ponto de vista de Jeová é uma grande bênção. Muitos hoje não têm uma
consciência assim. Paulo falou dos que são “marcados na sua consciência como
que por um ferro de marcar”. (1 Timóteo 4:2) Um ferro de marcar
cauteriza a carne, deixando-a cicatrizada e insensível. Muitos têm uma
consciência que está, na realidade, morta — tão cicatrizada e insensível
que não dá mais sinais de aviso, não objeta a nada nem causa sentimentos de
culpa ou vergonha diante de um erro. Muitos acham isso bom.
18 Na
verdade, sentimentos de culpa podem ser uma maneira de a consciência nos dizer
que fizemos algo errado. Quando esses sentimentos levam o pecador ao
arrependimento, até mesmo o pior pecado pode ser perdoado. Por exemplo, o
Rei Davi cometeu pecados graves, mas foi perdoado em grande parte por
causa do seu arrependimento sincero. O ódio pelo proceder errado e a
determinação de obedecer às leis de Jeová a partir de então o fizeram ver de
primeira mão que Jeová é ‘bom e está pronto a perdoar’. (Salmo 51:1-19; 86:5) Mas o que dizer se continuarmos a
ter fortes sentimentos de culpa e vergonha depois de ter nos arrependido e ter
sido perdoados?
19 Às
vezes a consciência pode punir mais do que devia, atormentando o pecador com
sentimentos de culpa por muito tempo depois de tê-lo ajudado. Nesses casos,
talvez precisemos assegurar ao nosso coração, que nos condena, que Jeová é
maior do que todos os sentimentos humanos. Precisamos acreditar no seu amor e
perdão e aceitá-los, assim como incentivamos outros a fazer. (1 João 3:19, 20) Por outro lado, uma
consciência limpa resulta em paz interior, tranquilidade e uma profunda alegria
que é difícil de encontrar no mundo de hoje. Muitos que antes se envolveram em
pecado sério sentiram esse maravilhoso alívio e agora servem a Jeová com uma
boa consciência. — 1 Coríntios 6:11.
20 Este
livro foi preparado para ajudá-lo a encontrar essa alegria por ter uma boa
consciência enquanto vivemos nestes últimos dias atribulados do sistema de
Satanás. É claro que é impossível abranger nestas páginas todas as leis e
princípios bíblicos que você precisa analisar e aplicar nas situações que
surgem no dia a dia. Além disso, não espere regras simples e específicas no que se refere a
assuntos de consciência. O objetivo deste livro é ajudá-lo a treinar sua consciência
e torná-la mais sensível aos princípios bíblicos por aprender a aplicar a
Palavra de Deus na sua vida diária. Ao contrário da Lei mosaica, “a lei do
Cristo” incentiva aos que a seguem a se guiar mais pela consciência e por
princípios do que por regras. (Gálatas 6:2) Assim, Jeová dá aos cristãos uma
notável liberdade. Mas sua Palavra nos lembra que nunca devemos usar essa
liberdade “como disfarce para a maldade”. (1 Pedro 2:16) Em vez disso, essa
liberdade nos dá uma maravilhosa oportunidade de expressar nosso amor a Jeová.
21 Por
considerar com oração como aplicar os princípios bíblicos na sua vida da melhor
maneira, e então tomar suas decisões, você dará continuidade a um processo
importante que começou quando você passou a conhecer a Jeová. Suas “faculdades
perceptivas” estarão sendo treinadas “pelo uso”. (Hebreus 5:14) Sua consciência treinada pela
Bíblia será uma bênção para você todos os dias da sua vida. Como a bússola que
orienta o viajante, sua consciência vai ajudá-lo a tomar decisões que agradam a
seu Pai celestial. Essa é uma maneira segura de permanecer no amor de Deus.
[Nota(s) de rodapé]
Nas
Escrituras Hebraicas, não há uma palavra específica para “consciência”. No
entanto, em exemplos como o de Jó fica evidente que era a consciência que
estava atuando. A expressão “coração” em geral se refere àquilo que somos no
íntimo. Em casos como o de Jó, essa expressão pelo visto se refere a uma parte
específica do íntimo da pessoa — a consciência. Nas Escrituras Gregas
Cristãs, a palavra grega traduzida “consciência” aparece cerca de
30 vezes.
A Bíblia mostra que nem sempre basta acharmos que temos uma consciência limpa. Por exemplo, Paulo disse: “Não estou
cônscio de nada contra mim mesmo. Contudo, não é por isso que eu seja mostrado
justo, mas quem me examina é Jeová.” (1 Coríntios 4:4) Mesmo aqueles que
perseguem os cristãos, como Paulo fazia antes, talvez façam isso com a
consciência limpa, porque acham que Deus aprova o que fazem. É importante que
nossa consciência esteja limpa tanto do nosso ponto de vista como do ponto de
vista de Deus. — Atos 23:1; 2 Timóteo 1:3.
É
digno de nota que muitos médicos dizem que, na realidade, beber moderadamente é
impossível para os alcoólatras; no caso deles, “moderação” significa não beber.
QUAL É A SUA RESPOSTA?
▪ Saber que Jeová nos observa todo o tempo
deve ter que efeito sobre nossa consciência? — Hebreus 4:13.
▪ Por que devemos levar em consideração a consciência de pessoas que não adoram a Jeová? — 2 Coríntios 4:1, 2.
[Perguntas de Estudo]
1,
2. Por que a bússola é um instrumento importante, e como ela pode ser comparada
à consciência?
3.
Qual é o significado literal da palavra grega para “consciência”, e ela se
refere a que capacidade exclusiva dos humanos?
4,
5. (a) Como sabemos que Adão e Eva tinham uma consciência, e qual foi o
resultado de eles terem desprezado a lei de Deus? (b) Como a consciência
funcionou no caso de alguns homens fiéis dos tempos pré-cristãos?
6.
O que mostra que a consciência é um dom que todas as pessoas têm?
7.
Por que às vezes a consciência pode se enganar?
8.
(a) Como o coração pode influenciar a consciência, e qual deve ser nossa maior
preocupação ao tomar decisões? (b) Por que nem sempre basta o cristão
achar que tem uma consciência limpa? (Veja a nota.)
9.
O que é temor piedoso, e como ele pode influenciar nossa consciência?
10,
11. Que princípios bíblicos estão relacionados ao consumo de bebidas
alcoólicas, e como podemos ter a orientação de Deus para aplicá-los?
12,
13. Quais são alguns motivos pelos quais as opiniões dos cristãos variam em
assuntos de consciência, e como devemos lidar com isso?
14,
15. Na congregação do primeiro século, havia opiniões diferentes sobre que
assunto de consciência, e que conselho Paulo deu?
16.
Por que os que têm uma consciência mais sensível devem evitar julgar os que têm
uma opinião diferente?
17.
O que aconteceu com a consciência de muitos hoje?
18, 19. (a) Como sentimentos
de culpa e vergonha podem nos beneficiar? (b) O que podemos fazer se nossa
consciência continuar a nos atormentar por causa de pecados passados dos quais
já nos arrependemos?
20,
21. (a) Qual é o objetivo deste livro? (b) Que liberdade temos como
cristãos, mas como devemos usá-la?
Uma consciência treinada pela
Bíblia pode ajudá-lo a decidir se vai tomar ou não bebidas alcoólicas
Uma boa consciência pode
guiar-nos pelo caminho da vida, resultando em alegria e paz interior
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