A Revelação
Sl 119.1-14; Ef 3.1-13; 2 Tm 3.14-17; Hb 1.1-4
Tudo o
que sabemos sobre o Cristianismo nos foi revelado por Deus. Revelar significa
"tirar o véu." Tem a ver com remover a cobertura e descobrir algo que
está encoberto.
Quando
meu filho era pequeno, nossa família desenvolveu uma tradição anual para
comemorar seu aniversário. Em vez da prática geral de entregar os presentes,
fazíamos isso por meio da nossa versão caseira do programa de televisão
"Vamos Fazer um Trato." Eu escondia os presentes destinados a ele,
por exemplo, dentro de uma gaveta, debaixo do sofá ou atrás de uma cadeira.
Então lhe dava algumas opções: "Você pode ganhar o que está na gaveta da
minha escrivaninha ou o que está no meu bolso". O ponto principal do jogo
era o "grande trato do dia". Eu colocava três cadeiras, uma ao lado
da outra, cada uma delas coberta com um lençol. Cada lençol encobria um
presente. Na primeira cadeira colocávamos um presente simples, na Segunda o
presente principal que ele iria ganhar e sobre a terceira uma muleta que ele
havia usado quando quebrou a perna aos sete anos de idade.
Meu filho
escolheu a cadeira com a muleta por três anos consecutivos! (No final, sempre
permitíamos que trocasse a muleta pelo presente.) No quarto ano, estava
determinado a não escolher mais a muleta. Desta vez, eu escondi o presente
principal junto com a muleta, na mesma cadeira, e deixei a ponta da muleta
aparecendo por baixo do lençol. Ao ver a ponta da muleta, meu filho evitou
cuidadosamente aquela cadeira. Ganhei de novo!
A parte
mais divertida da brincadeira era tentar adivinhar onde o presente estava
escondido. Tratava-se contudo de um trabalho de mera suposição, pura
especulação. A descoberta do verdadeiro tesouro só podia ser feita depois que o
lençol era removido e o presente ficava exposto.
O mesmo
acontece com o nosso conhecimento de Deus. A especulação fútil sobre Deus é
mera tolice. Se queremos conhecê-lo de verdade, temos de depender daquilo que
ele revela sobre si mesmo.
A Bíblia
declara que Deus se revela de várias maneiras. Manifesta sua glória na natureza
e por meio dela. Revelou-se nos tempos antigos por meio de sonhos e visões. As
marcas da sua providência se manifestam nas páginas da História. Revela-se nas
Escrituras inspiradas. O ponto mais alto da sua revelação é visualizado em
Jesus Cristo, tornando-se ser humano – o que os teólogos chamam de
"encarnação".
O autor
da carta aos Hebreus escreveu: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e
de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou
pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez
o universo. Hebreus 1.1,2.
Embora a
Bíblia fale das "diversas maneiras" em que Deus se revela,
distinguimos entre dois tipos principais de revelação – a geral e a especial.
A revelação geral é chamada assim por duas razões: (1) ela é geral no conteúdo e (2) é revelada para uma audiência geral.
A revelação geral é chamada assim por duas razões: (1) ela é geral no conteúdo e (2) é revelada para uma audiência geral.
Conteúdo
Geral
A
revelação geral nos proporciona o conhecimento de que Deus existe. "Os
céus proclamam a glória de Deus", diz o salmista. A glória de Deus é
manifesta nas obras das suas mãos. Essa manifestação é tão clara e visível que
nenhuma criatura pode deixar de percebê-la. Ela revela o poder eterno de Deus e
sua divindade (Rm.1.18-23). A revelação na natureza, porém, não proporciona uma
revelação plena de Deus. Não nos dá informações sobre o Deus Redentor que
encontramos na Bíblia. O Deus que se revela na natureza, entretanto, é o mesmo
Deus que se revela na Bíblia.
Público
Geral
Nem todas
as pessoas no mundo já leram a Bíblia ou ouviram a proclamação do Evangelho. A
luz da natureza, porém, brilha sobre todos, em todos os lugarem em todo o
tempo. A revelação geral de Deus acontece diariamente. Deus nunca fica sem um
testemunho de si mesmo. O mundo visível é como um espelho que reflete a glória
do seu Criador.
O mundo é um palco para Deus. Ele é o ator principal, que aparece em primeiro plano e no centro. Nenhuma cortina pode fechar-se para obscurecer sua presença. Basta um olhar de relance na criação para se perceber que a natureza não é sua própria mãe. Não existe a tal "Mãe Natureza". A natureza em si mesma não tem poderes para produzir qualquer tipo de vida. A natureza, em si é estéril. O poder de produzir a vida reside no Autor da natureza – Deus. Colocar a natureza como a fonte de vida é confundir a criatura com o Criador. Todas as formas de adoração da natureza, portanto, são atos de idolatria e são abomináveis para Deus.
``A luz da força da revelação geral, todo ser humano sabe que Deus existe. O ateísmo envolve a negação total de algo que é reconhecido como verdadeiro. Por isso a Bíblia diz: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus." (Sl. 14.1). Quando as Escrituras tratam tão severamente o ateu, chamando-o de "insensato", elas estão fazendo um julgamento moral dele. Ser insensato, em termos bíblicos, não significa Ter pouco entendimento ou falta de inteligência; é ser imoral. Como o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, assim a negação de Deus é o máximo da loucura.
O mundo é um palco para Deus. Ele é o ator principal, que aparece em primeiro plano e no centro. Nenhuma cortina pode fechar-se para obscurecer sua presença. Basta um olhar de relance na criação para se perceber que a natureza não é sua própria mãe. Não existe a tal "Mãe Natureza". A natureza em si mesma não tem poderes para produzir qualquer tipo de vida. A natureza, em si é estéril. O poder de produzir a vida reside no Autor da natureza – Deus. Colocar a natureza como a fonte de vida é confundir a criatura com o Criador. Todas as formas de adoração da natureza, portanto, são atos de idolatria e são abomináveis para Deus.
``A luz da força da revelação geral, todo ser humano sabe que Deus existe. O ateísmo envolve a negação total de algo que é reconhecido como verdadeiro. Por isso a Bíblia diz: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus." (Sl. 14.1). Quando as Escrituras tratam tão severamente o ateu, chamando-o de "insensato", elas estão fazendo um julgamento moral dele. Ser insensato, em termos bíblicos, não significa Ter pouco entendimento ou falta de inteligência; é ser imoral. Como o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, assim a negação de Deus é o máximo da loucura.
Semelhantemente
o agnóstico nega a validade da revelação geral. O agnóstico, porém, é menos
berrante que o ateu. Ele não nega terminantemente a existência de Deus. Pelo
contrário, ele declara que as evidências são insuficientes para se decidir de
uma maneira ou de outra quanto à existência de Deus. Prefere suspender seu
julgamento, deixando o tema da existência de Deus uma questão em aberto. À luz
da clareza da revelação geral, entretanto, a posição do agnosticismo não é
menos abominável para Deus do que a do ateísta militante.
Para
qualquer pessoa, porém, cuja mente e coração estão abertos, a glória de Deus é
maravilhosa de se ver – desde os bilhões de universos no firmamento, até as
partículas subatômicas que formam a menor das moléculas. Que Deus incrível nós
servimos!
Sumário
1. O
cristianismo é uma religião revelada.
2. A
revelação de Deus é uma auto-manifestação. Ele remove o véu que nos impede de
conhecê-lo.
3. Não
podemos conhecer a Deus por meio de especulação.
4. Deus
se revelou de várias maneiras ao longo da História
5. A
revelação geral é comunicada a todos os seres humanos.
6. O
ateísmo e o agnosticismo são baseados na negação daquilo que as pessoas sabem
ser a verdade.
7. A
insensatez tem por fundamento a negação de Deus.
8. A
sabedoria tem por fundamento o temor de Deus.
Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br .
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Revelação geral
"Os céus proclamam a glória de Deus, e o
firmamento anuncia as obras das suas mãos." Salmo 19.1
O mundo
de Deus não é um véu que esconde o poder e a majestade do Criador, pois
"os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das
suas mãos"Salmo 19.1 A ordem natural prova que existe um Criador poderoso
e cheio de majestade. Paulo diz a mesma coisa em Romanos 1.19-21 e em Atos
17.28 cita Arato, um poeta grego, como testemunha de que todo ser vivo foi
criado pelo mesmo Deus. Paulo afirma também que a generosidade do Criador é
evidente nas suas bondosas providências( Atos 14.17; cf Romanos 2.4) e que pelo
menos algumas das exigências de sua lei estão patentes em cada consciência
humana(Romanos 2.14-15), acompanhadas da desconfortável certeza do julgamento
final(Romanos 1.32). Essas certezas evidentes são o conteúdo da revelação
geral.
A
revelação geral é assim chamada porque chega a cada um de nós simplesmente por
vivermos no mundo de Deus. Deus tem se revelado desse modo desde o começo da
história humana. Ele ativamente revela esses aspectos de si mesmo a todos, de
modo que deixar de agradecer e servir ao Criador é sempre pecado contra o
conhecimento. No final, nenhuma negação de termos recebido esse conhecimento
será admitida.
Paulo usa
a revelação universal do poder e da bondade de Deus como base para a sua
acusação contra toda a raça humana como pecadora e culpada diante de Deus, por
causa do nosso fracasso em servi-lo como devemos.(Romanas 1.18-3.19).
A
revelação geral Deus acrescentou posteriormente a revelação de si mesmo como o
Salvador de pecadores através de Jesus Cristo. Essa revelação, realizada na
história e registrada nas Escrituras, é chamada de "revelação
especial". Ela inclui afirmações verbais explícitas de tudo o que a
revelação geral nos comunica a respeito de Deus.
Fonte : Bíblia de Estudo de Genebra,
Nota teológica. Compre este maravilhosa Bíblia em http://www.cep.org.br
Revelação Geral Imediata e Mediata
Sl 19.1-4; At 14.8-18; At 17.16-34; Rm 1.18-23; Rm 2.14,15
Sl 19.1-4; At 14.8-18; At 17.16-34; Rm 1.18-23; Rm 2.14,15
Quando eu
era menino e minha mãe queria que fizesse algo para ela sem demora, acentuava a
ordem usando o adverbio imediatamente. Ela dizia: "Filho, vá para o seu
quarto imediatamente."
Minha mãe
usava a palavra imediatamente para referir-se a um evento no tempo que devia
ocorrer sem qualquer bloco de tempo intermediário. Na teologia, o termo
imediato significa algo mais. Significa que algo acontece sem passar por nenhum
agente, objeto ou meio intermediários. É uma ação que ocorre sem a participação
de intermediários.
Na teologia
bíblica podemos distinguir dois tipos de revelação geral – aquela que é
comunicada diretamente. Quando falamos de revelação geral imediata, nos
referimos à revelação transmitida por meio de alguma coisa. Quando os céus
revelam a Deus, tornam-se os mediadores, ou o meio pelo qual Deus manifesta sua
glória. Neste sentido, todo o universo é um meio de revelação divina. A criação
dá testemunho do seu Criador.
A Bíblia
diz que toda a terra está repleta da glória de Deus. Lamentavelmente, com
frequencia nós ignoramos essa glória que nos cerca. Temos a tendência de viver
de maneira superficial. Estamos desatentos diante da maravilha que Deus nos
proporciona em sua gloriosa criação. Estamos desligados e fora de contato. As
idéias religiosas são inúteis se não expressam algo real.
A
presença sublime de Deus está em toda a nossa volta. Ainda assim, muitas vezes
estamos cegos e surdos para ela. Não compreendemos sua linguagem. Exige mais do
que simplesmente parar para cheirar as flores. A flor contém mais do que um
aroma suave ou um perfume agradável. Ela transpira a glória do seu Criador.
Todos nós estamos em contato com a revelação divina, quando reconhecemos a
glória de Deus na natureza e é revelada nela e por meio dela.
Além de revelar sua glória indiretamente por meio da criação, Deus também se revela diretamente à mente humana. Essa é chamada revelação geral imediata.
Além de revelar sua glória indiretamente por meio da criação, Deus também se revela diretamente à mente humana. Essa é chamada revelação geral imediata.
O
apóstolo Paulo fala da Lei de Deus escrita em nosso coração (Rm.2.12-16). João
Calvino falou sobre um senso do divino, o qual Deus implanta na mente de cada
pessoa. Ele disse: Nós, inquestionavelemente, afirmamos que os homens têm em si
mesmos certo senso da divindade; e isto, por um instinto natural. ... Deus
mesmo dotou todos os homens com certo conhecimento de sua divindade, cuja
memória ele constantemente renova e ocasionalmente amplia. (Institutas, II,
1,43).
Todas as
culturas atestam a presença de alguma atividade religiosa, confirmando a
incurável natureza religiosa da humanidade. Os seres humanos são religiosos no
seu âmago. O caráter de tal religiosidade pode ser grosseiramente idólatra; mas
até mesmo a idolatria, ou melhor, principalmente a idolatria, dá uma evidência
desse conhecimento inato que pode ser distorcido, mas jamais destruído.
Lá bem no
fundo da nossa alma nós sabemos que Deus existe e que nos deu suas Leis.
Procuramos sufocar esse conhecimento a fim de escapar dos seus mandamentos. Por
mais que nos esforcemos, porém, não podemos calar essa voz interior. Ela pode
ser abafada, mas jamais ser destruída.
Sumário
1. A
Glória de Deus é evidente em toda a nossa volta. Ela é mediata pela criação de
Deus.
2. Os
seres humanos são religiosos por natureza.
3. Deus
implanta em todos os seres humanos um conhecimento inato de si mesmo. Isso se
chama revelação geral imediata.
Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Culpa
O Efeito da Revelação Geral
O Efeito da Revelação Geral
“O que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre eles, porque Deus lhe manifestou”. Romanos 1.19
A Escritura admite, e a
experiência confirma, que os seres humanos inclinam-se naturalmente por uma
forma de religião, embora falhem em adorar seu Criador, cuja revelação geral de
si mesmo torna-o conhecido universalmente. O ateísmo teórico e o monoteísmo
moral são opostos naturais: o ateísmo é sempre uma reação contra a crença
pré-existente em Deus ou deuses, e o monoteísmo moral somente surgiu no
despertar da revelação especial.
A
Escritura explana este estado de coisas dizendo-nos que o pecado do egoísmo e
da aversão às prescrições de nosso Criador conduz a humanidade à idolatria, o
que significa transferir a adoração e reverência a outro poder ou objeto que
não o Deus Criador (Is 44.9-20; Rm 1.21-23; Cl 3.5). Desta maneira, os humanos
apóstatas “suprimiram a verdade” e “mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e
répteis” (Rm 1.23). Eles sufocam e extinguem, tanto quanto podem, a consciência
que a revelação geral lhes dá do Criador-Juiz transcendente, e com seu
inextirpável senso de deidade se apegam a objetos indignos. Isto, ao revés,
leva a um drástico declínio moral, com a conseqüente miséria, como primeira
manifestação da ira de Deus contra a apostasia humana (Rm 1.18,24-32).
No
momento atual, no Ocidente, as pessoas idolatram e, na realidade, adoram
objetos seculares, tais como a empresa, a família, o futebol e sensações
agradáveis de várias espécies. Mas, o declínio moral persiste como resultado,
tal como ocorreu quando os pagãos adoraram ídolos literais nos tempos bíblicos.
Os seres
humanos não podem suprimir completamente sua percepção de Deus, bem como de seu
julgamento presente e futuro; o próprio Deus não permitirá que o façam. Algum
sentido do que é certo e errado, como também de ser submetido a um Juiz divino,
sempre permanece. Em nosso mundo decaído, todas as mentes que não estão de
algum modo anestesiadas têm uma consciência que, em certos pontos, as dirige e,
de tempos em tempos, as condena, dizendo-lhes que devem sofrer pelos erros
cometidos (Rm 2.14ss.); e quando a consciência fala nestes termos é, na
verdade, Deus quem está falando.
A
humanidade arruinada é, em certo sentido, ignorante de Deus, uma vez que o que
as pessoas gostam de crer, e de fato crêem, com vistas ao objeto de seu culto
falseia e distorce a revelação de Deus, da qual não podem escapar. Em outro
sentido, contudo, todos os seres humanos permanecem cônscios de Deus, de modo
culpável, com desconfortáveis pressentimentos do julgamento vindouro, que
esperam não se cumpra. Somente o evangelho de Cristo pode falar de paz a esse
aflito aspecto da condição humana.
Autor: J.
I. Packer
Fonte: Teologia Concisa, pg. 11,12, Ed. Cultura Crista. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Fonte: Teologia Concisa, pg. 11,12, Ed. Cultura Crista. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Os Profetas de Deus
Dt 18.15-22; Is 6; Jl 2.28-32; Mt 7.15-20; Ef4.11-16
Dt 18.15-22; Is 6; Jl 2.28-32; Mt 7.15-20; Ef4.11-16
Os
profetas do Antigo Testamento foram pessoas que receberam um chamado único de
Deus e que receberam suas mensagens de maneira sobrenatural, as quais deveriam
transmitir a nós. Deus transmitiu sua palavra através dos lábios e dos
escritos dos profetas.
A
profecia envolvia predição do futuro (preanunciar) e proclamação e exortação
atuais da palavra de Deus (anunciar em seguida). Os profetas eram revestidos de
tal maneira pelo Espírito Santo que suas palavras eram palavras de Deus. Por
isso as mensagens geralmente eram prefaciadas com a frase: "Assim diz o
Senhor".
Os
profetas foram os reformadores da religião de Israel. Chamavam o povo de volta
à adoração pura a Deus. Embora os profetas fossem críticos quanto à maneira
como a adoração dos israelitas freqüentemente se degenerava num mero ritual,
eles não condenavam nem atacavam as formas originais de adoração que Deus havia
dado a seu povo. Os profetas não eram revolucionários nem anarquistas
religiosos. Sua tarefa era purificas, não destruir; reformar, não substituir o
culto de Israel.
Os
profetas também se preocupavam profundamente com a justiça social e a integridade.
Eram a consciência de Israel, chamando o povo ao arrependimento. Também
funcionavam como promotores legais da aliança de Deus. Eles
"intimavam" a nação por ter violado os termos da aliança com Deus.
Os
profetas falavam com autoridade divina porque Deus os chamava especificamente
para serem seus porta-vozes. Não herdavam sua função, nem eram eleitos para
exercê-la. O chamado imediato de Deus, justamente com o poder do Espírito
Santo, constituíam as credenciais dos profetas.
Os falsos
profetas foram um problema constante em Israel. Ao invés de proferir os
oráculos de Deus, transmitiam seus próprios sonhos e opiniões - dizendo ao povo
somente o que este queria ouvir. Os verdadeiros profetas freqüentemente eram
perseguidos e rejeitados por seus contemporâneos por se recusarem a comprometer
a proclamação de todo o conselho de Deus.
Geralmente,
os livros dos profetas são divididos em "profetas maiores" e
"profetas menores". Essa distinção não se refere à maior ou menor
importância dos profetas, mas ao volume dos seus escritos canônicos. Isaías,
Jeremias, Ezequiel e Daniel são chamados de profetas maiores, porque escreveram
mais, enquanto que Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias são referidos como os profetas
menores, porque seus escritos são bem menores.
Os
apóstolos do Novo Testamento possuíam muitas das características dos profetas
do Antigo Testamento. Os apóstolos e os profetas juntos são considerados como o
fundamento da igreja.
Sumário
1. Os profetas
do Antigo Testamento foram agentes da revelação divina.
2. A
profecia envolvia pré-anúncio e anúncio.
3.
Os profetas foram os reformadores do culto e da vida dos israelitas.
4.
Somente aqueles chamados diretamente por Deus tinham autoridade para serem
profetas.
5. Os
falsos profetas expressavam suas próprias opiniões e falavam o que o povo
queria ouvir.
6.
Profetas maiores e menores são designados assim de acordo com o volume e
não pela importância dos seus escritos.
Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br .
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A Revelação Especial e a Bíblia
Sl 119; Jo 17.17; 1 Ts 2.13; 2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.20,21
Sl 119; Jo 17.17; 1 Ts 2.13; 2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.20,21
Quando
foi tentado por Satanás no deserto, Jesus o repreendeu com as palavras: "Está
escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca
de Deus" (Mt.4.4). Historicamente, a igreja tem feito ecoar o ensino
de Jesus, afirmando que a Bíblia é a vox Dei, a "voz de Deus"
ou o verbum Dei, a "Palavra de Deus’. Chamar a Bíblia de "a Palavra
de Deus" não significa sugerir que ela foi escrita pela própria mão de
Deus, ou que caiu do céu num pára-quedas. A própria Bíblia claramente chama a
atenção para seus muitos autores humanos. Se a estudarmos cuidadosamente,
percebemos que cada autor humano tem seu próprio estilo literário peculiar, seu
próprio vocabulário, ênfase especial, perspectiva e outros aspectos. Já que a
produção da Bíblia envolveu esforço humano, como pode ser ela considerada
Palavra de Deus?
A Bíblia
é chamada de Palavra de Deus por causa da sua reivindicação, crida pela igreja,
de que os escritores humanos não escreveram simplesmente suas próprias
opiniões, mas que suas palavras foram inspiradas por Deus. O apóstolo Paulo
escreve: "Toda Escritura é inspirada por Deus" (2 Tm. 3.16). A
palavra inspiração é uma tradução da palavra grega que significa "sopro de
Deus". Quer dizer, Deus soprou a Bíblia. Assim como temos de expelir ar de
nossa boca quando falamos, assim, em última análise, a Bíblia é Deus falando.
Embora a
Bíblia tenha chegado a nós por intermédio das mãos de autores humanos, a fonte
suprema das Escrituras é Deus. Por isso os profetas podiam prefaciar suas
palavras, dizendo: "Assim diz o Senhor". Por isso Jesus também podia
dizer: "A tua palavra é a verdade" (Jo. 17.17) e "a Escritura
não pode falhar" (Jo. 10.35).
A palavra
inspiração também chama a atenção par ao processo pelo qual o Espírito Santo
superintendeu a produção da Bíblia. O Espírito guiou os autores humanos para
que as palavras deles não fossem nada menos que a Palavra de Deus. Não sabemos
como Deus superintendeu a redação original da Bíblia. Inspiração, entretanto,
não significa que Deus ditou sua mensagem para aqueles que redigiram a Bíblia.
Ao invés disso, o Espírito Santo comunicou as exatas palavras de Deus por
intermédio dos escritores humanos.
Os
cristãos afirmam a infalibilidade e a inerrância da Bíblia porque, em última
análise, Deus é o seu autor. E porque Deus é incapaz de inspirar algo falso,
sua palavra é totalmente verdadeira e digna de toda confiança. Qualquer
literatura humana, elaborada pelos meios normais, está sujeita a erros. A
Bíblia, porém, não é um projeto humano normal. Se a Bíblia foi inspirada por
Deus e sua redação foi supervisionada por ele, então não pode ter erros.
Isso
significa que as traduções da Bíblia que temos hoje não estejam isentas de
erro, mas que os manuscritos originais eram absolutamente corretos. Isso também
não significa que cada declaração da Bíblia seja a expressão da verdade. O
escritor do livro de Eclesiastes, por exemplo, declara que "no além para
onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria
alguma" (Ec.9.10). O escritor estava falando do ponto de vista do
desespero humano e sabemos que esta declaração não expressa a verdade, de
acordo com outros textos bíblicos. A Bíblia expressa a verdade até mesmo ao
revelar a falsa argumentação de um homem desesperado.
Sumário
1. A
inspiração é o processo por meio do qual Deus soprou sua palavra.
2.
Deus é a fonte suprema da Bíblia.
3. Deus é
o superintendente da Bíblia.
4.
Somente os manuscritos originais da Bíblia eram isentos de erros.
Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Cpmpre este Livro em http://www.cep.org.br .
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Cpmpre este Livro em http://www.cep.org.br .
Figura central da Revelação Bíblica
Jesus é a
figura central da Revelação bíblica. O âmago ou cerne da mensagem de Deus
contida nas paginas da Bíblia para o coração humano é Jesus, de sorte que, sem
ter em vista a sua personalidade, não se pode ler com proveito a Bíblia.
Meditando na relação inseparável que existe entre a pessoa de Cristo e a bíblia, fizemos as seguintes observações:
Meditando na relação inseparável que existe entre a pessoa de Cristo e a bíblia, fizemos as seguintes observações:
1 – Ele é
o grande objetivo do Velho e do Novo Testamento.
É ele o
alvo para o qual tudo converge no Velho Testamento e o centro em torno do qual
tudo gira em o Novo Testamento.
Alem das profecias messiânicas citada nas lições anteriores, poderíamos lembrar que o Velho Testamento esta´ repleto de símbolos, alegorias e tipos de Jesus Cristo.
Há pessoas, ofícios, ritos, cerimônias e acontecimento Históricos que falam de Jesus, Hb 8 a 10, Lc 24.44.
Alem das profecias messiânicas citada nas lições anteriores, poderíamos lembrar que o Velho Testamento esta´ repleto de símbolos, alegorias e tipos de Jesus Cristo.
Há pessoas, ofícios, ritos, cerimônias e acontecimento Históricos que falam de Jesus, Hb 8 a 10, Lc 24.44.
2 – Jesus
Cristo, a maior maravilha de todos os tempos, é o segredo do valor incomparável
da Bíblia.
A
principal razão de ser a Bíblia, o Livro dos livros, é a pessoa de Jesus cristo
revelado em suas paginas.
Esta afirmação ao diminui o valor intrínseco das Escrituras, que são o engaste de ouro digno da Grande Perola – Jesus. Ao contrario até, pois da Bíblia depende o nosso conhecimento de Jesus Cristo.
Os únicos documentos autênticos pelos quais se pode conhecer o Cristo real e histórico são os Evangelhos. Estes não fazem parte, apenas, da Bíblia mas estão, com o Velho Testamento, inseparavelmente entrelaçados, como já vimos.
Esta afirmação ao diminui o valor intrínseco das Escrituras, que são o engaste de ouro digno da Grande Perola – Jesus. Ao contrario até, pois da Bíblia depende o nosso conhecimento de Jesus Cristo.
Os únicos documentos autênticos pelos quais se pode conhecer o Cristo real e histórico são os Evangelhos. Estes não fazem parte, apenas, da Bíblia mas estão, com o Velho Testamento, inseparavelmente entrelaçados, como já vimos.
3 – Jesus
Cristo é a chave para a boa inteligência da Bíblia.
A Sua
Pessoa permeia e explica a Bíblia, em toda a parte, Jo 5.39 e At 8.30-35. Aos
discípulos no caminho de Emaús, Jesus apareceu e ensinou que o Velho Testamento
falava de Sua Pessoa, de sua morte e de Sua Ressurreição, Lc 24.25-27 e 44.
Pois a expressão: “Moises, profetas e salmos” significa tríplice divisão do
Velho Testamento, ou seja, da Bíblia hebraica.
Autor:
Guilherme Kerr
Fonte: ABC Doutrinário do Candidato a publica profissão de Fé; pg 19-20; Casa editora Presbiteriana. Compre este livro em www.cep.org.br . Custam apenas R$ 2,00.
Fonte: ABC Doutrinário do Candidato a publica profissão de Fé; pg 19-20; Casa editora Presbiteriana. Compre este livro em www.cep.org.br . Custam apenas R$ 2,00.
A BÍBLIA
Origem da Bíblia
A Bíblia
não é um livro qualquer. A origem dela está em Deus, que falou através de
homens separados para registrar sua Palavra. Sabemos que a questão do caráter
humano das Escrituras é algo acidental ou periférico: os homens escolhidos por
Deus para registrar as Escrituras eram pessoas de carne e osso, que viveram em
determinado período histórico enfrentando problemas específicos. Não há lugar
para nenhum docetismo: os autores secundários tiveram um papel ativo e passivo.
No entanto, devemos também acentuar, e este é o nosso ponto neste texto [1],
que o Espírito chamou seus servos, revelou a si mesmo e sua mensagem, dirigiu,
inspirou e preservou os registros feitos por esses homens. Como afirmou Gerard
Van Groningen:
O Espírito Santo habitou em
certos homens, inspirou-os, e assim dirigiu-os que eles, em plena consciência,
expressaram-se na sua singular maneira pessoal. O Espírito capacitou homens a
conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os de incluir qualquer
coisa que fosse contrária a essa verdade de Deus. Ele também impediu-os de
escrever coisa que não eram necessárias. Assim, homens escreveram como homens,
mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, não a do homem [2].
Essa
compreensão, que advém das próprias Escrituras, caracteriza distintamente o
cristianismo: os profetas não falaram aleatoriamente o que pensavam; antes,
“testificaram a verdade de que era a boca do Senhor que falava através deles”
[3]. Sobre essa questão Calvino declarou:
Eis aqui o principio que
distingue nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus nos
falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si
próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo
para o qual foram do céu comissionados a declarar. Todos quantos desejam
beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um principio
estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante
ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como uma fonte,
senão que foram ditados pelo Espírito Santo [4].
Nas
Escrituras temos todos os livros que Deus quis que fossem preservados para
nossa edificação:
Aquelas [epístolas] que o Senhor
quis que fossem indispensáveis à sua Igreja, Ele as consagrou por sua
providência para que fossem perenemente lembradas. Saibamos, pois, que o que
foi deixado nos é suficiente, e que sua insignificância não acidental; senão
que o cânon das Escrituras, o qual se encontra em nosso poder, foi mantido sob
controle através do grandioso conselho de Deus [5].
Nota:
[1] Veja,
para uma perspectiva mais ampla, Hermisten M. P. Costa, Inspiração e inerrância
das Escrituras: uma perspectiva reformada, Casa Editora Presbiteriana (www.cep.org.br)
[2]
Revelação messiânica no Velho Testamento, p. 64-65.
[3] João
Calvino, As pastorais, p. 262.
[4] As
Pastorais, p. 262. E outro lugar Calvino
diz que os apóstolos foram “certos e autênticos amanuenses do Espírito Santo”
(As institutas, IV.8.9). No entanto, devemos entender que Calvino usa essa
expressão não para sustentar o “ditado” divino, mas para demonstrar que os
apóstolos não criaram da própria imaginação sua mensagem, antes a receberam
diretamente do Espírito. Ou seja, ele se refere ao resultado do registro, não
ao processo em si. Entedia que Moisés escreveu os cinco livros da Lei “não
somente sob a orientação do Espírito do Deus, mas porque Deus mesmo os tinha
sugerido, falando-lhes com palavras de sua própria boca” (Calvin’s
Commentaries, vol. III, p. 328).
[5]João
Calvino, Efésios, p. 86, Editora Parakletos
Autor:
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
Fonte:
Fundamentos da teologia reformada, pg. 42-44, Editora Mundo Cristão. Compre
este Maravilhoso livro em www.mundocristao.com.br.
Paradoxo, Mistério e Contradição
Mt 13.11; Mt 16.25; Rm 16.25-27; 1 Co 2.7; 1 Co 14.33
Mt 13.11; Mt 16.25; Rm 16.25-27; 1 Co 2.7; 1 Co 14.33
A
influência de vários movimentos em nossa cultura, tais como a Nova Era, as
religiões orientais e a filosofia irracional tem provocado uma crise no
entendimento. Uma nova forma de misticismo tem surgido, a qual exalta o absurdo
como a marca registrada da verdade religiosa. Lembremo-nos da máxima do Zen
Budismo, de que "Deus é uma mão batendo palmas" como uma ilustração
desse padrão.
Dizer que
Deus é uma mão batendo palmas tem uma ressonância profunda. Tal afirmação
confunde a mente consciente, pois é um golpe nos padrões normais de pensamento.
Soa "profundo" e intrigante, até analisarmos cuidadosamente e
descobrirmos que na raiz é simplesmente destituída de sentido.
A irracionalidade é um tipo de caos mental. Fundamenta-se na confusão que se opões ao Autor de toda a verdade, o qual não é de forma alguma autor de confusão.
A irracionalidade é um tipo de caos mental. Fundamenta-se na confusão que se opões ao Autor de toda a verdade, o qual não é de forma alguma autor de confusão.
O
Cristianismo bíblico é vulnerável a tais correntes de irracionalidade exaltada,
porque irracionalidade admite candidamente que existem muitos paradoxos e
mistérios na própria Bíblia. Existem linhas que separam o paradoxo, o mistério
e a contradição; embora sejam tênues, essas linhas divisórias são cruciais e é
importante que aprendamos a distingui-las.
Quando
tentamos perscrutar as profundezas de Deus, somos facilmente confundidos.
Nenhum mortal pode compreender a Deus exaustivamente. A Bíblia revela coisas
sobre Deus que sabemos serem verdadeiras, a despeito da nossa incapacidade de
entendê-las totalmente. Não temos um ponto de referência humano para entender,
por exemplo, um ser que é três em termos de pessoa, mas um só em essência (a
Trindade), ou um ser que é uma pessoa com duas naturezas distintas, humana e
divina (a pessoa de Cristo). Essas verdades, tão certas, como são, são
"elevadas" demais para podermos compreendê-las.
Encontramos
problemas similares no mundo natural. Sabemos que a força da gravidade existe,
mas não a entendemos e nem tentamos defini-la como irracional ou contraditória.
A maioria das pessoas concorda que o movimento é uma parte integrante da
realidade, embora a essência do movimento em si tenha deixado filósofos e
cientistas perplexos por milênios. Isso, porém, não justifica um salto no
absurdo. A irracionalidade é fatal tanto para a religião como para a ciência.
De fato, ela é mortal para qualquer verdade.
O
filósofo cristão Gordon H. Clark certa vez definiu um paradoxo como "uma
cãibra entre as orelhas’. Seu comentário espirituoso destina-se a destacar que
aquilo que às vezes é chamado de paradoxo frequentemente nada mais é do que
preguiça mental. Clark, entretanto, reconhecia claramente o papel legítimo e a
função do paradoxo. A palavra paradoxo vem de uma raiz grega que significa
"parecer ou aparentar". Paradoxos são difíceis de entender porque à
primeira vista "parecem" contradições, mas quando são sujeitos a um
exame minucioso, frequentemente pode-se encontrar as soluções. Por exemplo,
Jesus disse: "Quem perde a vida por minha causa achá-la-á" (Mt.10.39).
Aparentemente, isso soa semelhante à declaração de que "Deus é uma mão
batendo palmas". Soa como vida em um sentido, irá encontrá-la em outro
sentido. Já que a perda e a salvação têm sentidos diferentes, não há
contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não há
contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não no mesmo
relacionamento com a mesma pessoa.
O termo
paradoxo é frequentemente mal-interpretado como sendo sinônimo de contradição;
agora, inclusive, aparece em alguns dicionários como um significado secundário
desse termo. Uma contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não
contradição. A Lei da não-contradição declara que A não pode ser A e não-A ao
mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não pode ser o que é e não
ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais fundamental de
todas as leis da lógica.
Ninguém
pode entender uma contradição, porque uma contradição é inerentemente
incompreensível. Nem mesmo Deus pode entender contradições; entretanto,
certamente ele pode reconhecê-las pelo que são – falsidades. A palavra
contradição vem do latim "falar contra". Às vezes é chamada uma
antinomia, que significa "contra a lei". Para Deus, falar em
contradições seria ser intelectualmente anormal, falar com uma língua
bipartida. Até mesmo insinuar que o Autor da verdade poderia cair em
contradição seria um grande insulto e uma blasfêmia irresponsável. A
contradição é a arma do mentiroso – o pai da mentira, que despreza a verdade.
Existe uma
relação entre mistério e contradição, que facilmente nos leva a confundir
ambos. Não entendemos mistérios. Não podemos entender contradições. O ponto de
contato entre ambos os conceitos é seu caráter ininteligível. Os mistérios
podem não ser claros para nós agora simplesmente porque nos falta a informação
o u a perspectiva para entendê-los. A Bíblia promete que no céu teremos mais
luz sobre os mistérios que agora não podemos entender. Mais luz pode resolver
os atuais mistérios. Não existe, entretanto, luz suficiente nem no céu nem na
Terra para resolver uma óbvia contradição.
Sumário
1.
Paradoxo é uma contradição aparente que, quando examinada com mais cuidado,
pode apresentar uma solução.
2.
Mistério é algo desconhecido para nós no presente, mas que pode ser
solucionado.
3.
Contradição é uma violação da Lei da não-contradição. É impossível ser
resolvida, tanto pelos mortais como pelo próprio Deus, tanto neste mundo como
no mundo vindouro.
Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Entendendo a
palavra de Deus
"Dá-me entendimento, guardarei a tua lei;
de todo o coração a cumprirei". Salmo 119.34
Todos os
cristãos tem o direito e o dever não só de aprender a respeito da herança da fé
ensinada pela Igreja, mas também de interpretar as Escrituras por si mesmos. A
igreja de Roma, durante certa época, proibiu essa prática, alegando que os
indivíduos facilmente interpretariam mal as escrituras.
A
Confissão de Westminster concorda que, nas Escrituras, "não são todas as
coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos", mas
afirma também claramente a autoridade dos crentes individualmente de lerem a
Bíblia por si mesmos..."não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido
uso dos meios ordinários , podem alcançar uma suficiente compreensão
delas". Os "meios ordinários"incluem princípios de interpretação
tais como os que seguem.
A Bíblia
é inspirada por Deus, e suas palavras continuam sendo palavras de Deus, mas a
Bíblia é também produto de escritores humanos. Compreender isso é essencial.
Nenhuma alegoria ou outro método fantasioso que ignora o sentido original
expresso do escritor será apropiada.
Cada
livro foi escrito, não em código, mas de um modo que pudesse ser entendido
pelos leitores a quem foi dirigido. Isso é verdade mesmo a respeito de livros
tais como Daniel, Zacarias e Apocalipse, que se valem principalmente de
simbolismo; mas a verdade principal é sempre clara, mesmo que os detalhes sejam
nebulosos.
Por isso,
quando entendemos as palavras usadas, o fundo histórico, as convenções
culturais do escritor e de seus leitores, estamos na direção certa para
entender os pensamentos comunicados. Porém uma compreensão espiritual , isto é,
o discernimento da realidade de Deus, seu modo de tratar com o seu povo, sua
vontade presente e o próprio relacionamento do homem com Ele não chegará a nós,
a partir do texto, a menos que o véu seja removido do nosso coração e sejamos
capazes de participar da própria paixão que o escritor tem por Deus( 2
Coríntios 3.16; 1 Coríntios 2.14). Devemos orar para que o Espírito de Deus
gere em nós essa paixão e nos mostre Deus no texto.
(Ver
Salmo 119 versículos 18, 19, 26,27,33,34,73,125,144 e 169 - Efésios 1.17-19 e
3.16-19).
Cada
livro tomou a sua forma em um tempo específico no processo da revelação da
graça de Deus. Esse tempo e lugar dever ser levados em conta quando se
interpreta o texto. Os Salmos, por exemplo, apresentam o coração piedoso de qualquer
época, mas expressam suas orações e louvores em termos das realidades da vida
da graça antes da vinda de Cristo - Tal como a lei cerimonial, o sistema
sacrificial e o papel de Israel como um reino teocrático.
Cada
livro procedeu da mesma mente divina; por isso o ensino dos sessenta e seis
livros(66) da Bíblia é complementar e coerente. Se ainda não podemos perceber
isso, a falta está em nós e não nas Escrituras. As Escrituras em parte alguma
se contradizem; mais do que isso, uma passagem explica outra. Esse sadio
princípio de interpretar as Escrituras pelas Escrituras é, às vezes, chamado de
analogia das Escrituras ou analogia da fé.
Cada
livro mostra a imutável verdade a respeito de Deus, sobre o mundo e sobre a
vontade de Deus para as pessoas, aplicada e ilustrada por situações
particulares. O estágio final da interpretação bíblica é a reaplicação de suas
verdades às situações de nossa vida hoje. Este é o modo de discernir aquilo que
Deus, nas Escrituras, nos está dizendo neste momento. Exemplos de tais
reaplicações são a compreensão por Josias da ira de Deus ante o fracasso de
Judá em observar a sua lei(2 Reis 22 - 8-13), a argumentação de Jesus sobre
Gênesis 2.24(Mateus 19.4-6) e o emprego que Paulo fez de Gênesis 15.6 e Salmo
32.1-2, para mostrar a realidade da presente justificação pela fé(Romanos
4.1-8).
Nenhum
significado deve ser atribuído às Escrituras que não possa, com certeza, ser
encontrado nela, isto é, que não possa ser mostrado como inequivocamente por um
ou mais dos escritores humanos.
A
observação cuidadosa e piedosa dessas regras é uma marca de todo cristão que
"maneja bem a palavra da verdade"( 2 Timóteo 2.15)
Fonte : Bíblia de Estudo de Genebra,
página 703, Ed. Cep. Compre esta maravilhosa bíblia em http://www.cep.org.br .
A autoridade da Bíblia
Nota: AT = Antigo
Testamento ; NT= Novo Testamento
EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
A
autoridade da Escritura significa que todas as palavras da Escritura são
palavras de Deus de tal modo que descrer ou desobedecer a qualquer palavra da
Escritura é descrer ou desobedecer a Deus.
Essa definição pode agora ser examinada em suas várias partes.
Todas as palavras na Escritura são palavras de Deus.
Essa definição pode agora ser examinada em suas várias partes.
Todas as palavras na Escritura são palavras de Deus.
1. Isso é
o que a Bíblia declara sobre si própria.
Há
freqüentes declarações na Bíblia de que todas as palavras da Escritura são
palavras de Deus (assim como palavras que foram escritas por homens). No AT,
isso é muitas vezes visto na frase introdutória “Assim diz O SENHOR”, que
aparece centenas de vezes. No mundo do AT, essa frase teria sido reconhecida
como idêntica na forma à frase “Assim diz o rei...”, que era usada para
prefaciar o edito de um rei aos seus súditos, um edito que não poderia ser
desafiado ou questionado, mas que simplesmente deveria ser obedecido. Portanto,
quando os profetas dizem “Assim diz o SENHOR”, afirmam ser mensageiros do
soberano Rei de Israel, a saber, o próprio Deus, e estão declarando que suas
palavras são palavras totalmente plenas da autoridade de Deus. Quando o profeta
falava no nome de Deus desse modo, cada palavra que ele falava tinha de
proceder de Deus, ou ele seria um falso profeta (cf. Nm 22.38;Dt 18.18-20; Jr
1.9; 14.14; 23.16-22; 29.31,32; Ez 2.7; 13.1-16).
Além disso, é muitas vezes dito que Deus fala “por meio” do profeta (1 Rs 14.18; 16.12,34; 2Rs 9.36; 14.25; Jr 37.2; Zc 7.7, 12).Assim, o que o profeta diz em nome de Deus é Deus quem diz (1 Rs 13.26 com v.21; lRs 21.19 com 2Rs 9.25,26;Ag 1.12; cf. lSm 15.3, l8).Nesses e em outros exemplos no AT, as palavras que os profetas falavam podem ser também referidas como as palavras que o próprio Deus falou. Portanto, descrer ou desobedecer a qualquer coisa que o profeta diz é descrer ou desobedecer ao próprio Deus (Dt 18.19; lSm 10.8; 13.13,14; 15.3,19,23; 1 Rs 20.35,36).
Esses versículos, por si mesmos, não afirmam que todas as palavras no AT sejam palavras de Deus, porque em si mesmos estão se referindo somente a seções específicas de palavras faladas ou escritas no AT. Por força cumulativa dessas palavras, incluindo as centenas de passagens que começam com “Assim diz o Senhor”, deve ficar demonstrado que dentro do AT temos registros escritos de palavras que são consideradas as próprias palavras de Deus. Essas palavras constituem largas porções do AT. Quando percebemos que todas as palavras que faziam parte do “Livro da Lei de Deus” ou do “Livro da Aliança” foram consideradas palavras de Deus, vemos que a totalidade do AT afirma essa espécie de autoridade (v. Êx 24.7; Dt 29.21; 31.24-26; Is 24.26; lSm 10.25; 2Rs 23.2,3).
No NT, várias passagens indicam que todas as palavras dos escritos do AT são consideradas palavras de Deus. 2Timotéo 3.16 diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça”. Aqui “Escritura” (gr. graphē)’ deve se referir aos escritos do AT, porque é a eles que a palavra graphē se refere em cada uma das suas 55 ocorrências no NT. Além disso, é às “Sagradas Letras” do AT que Paulo se referiu anteriormente no versículo 15.
Paulo aqui afirma que todos os escritos do AT são theopneustos, inspirados por Deus. Visto que são escritos que foram “inspirados”, essa inspiração deve ser entendida como metáfora de falar as palavras da Escritura. Esse versículo, dessa maneira, afirma brevemente o que era evidente em muitas passagens do AT: OS escritos do AT são considerados Palavra de Deus em forma escrita. Pois Deus é quem falou (e ainda fala) cada palavra do AT, embora tenha usado agentes humanos para registrar essas palavras.
Indicação similar do caráter dos escritos do AT como palavras de Deus é encontrada em 2Pedro 1.21. Falando das profecias da Escritura (v. 20), que significa ao menos as Escrituras do AT as quais Pedro encoraja seus leitores a prestar atenção cuidadosa (v. 19), Pedro diz que nenhuma dessas profecias jamais “teve origem na vontade humana”, mas que “homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”. Não é a intenção de Pedro negar completamente o papel da volição ou da personalidade humana ao escrever a Escritura (ele diz que homens “falaram”), mas, em vez disso, sua intenção foi dizer que a fonte suprema de cada profecia não foi a decisão do homem a respeito do que ele queria escrever, mas, antes, a ação do Espírito Santo na vida do profeta, cumprida de modos não especificados aqui (ou, de fato, em nenhuma parte da Escritura). Isso indica a crença de que todas as profecias do AT (e, à luz dos v. 19 e 20, provavelmente inclua toda a Escritura registrada do AT) são consideradas “procedentes de Deus”: a saber, elas são as próprias palavras de Deus.
Além disso, é muitas vezes dito que Deus fala “por meio” do profeta (1 Rs 14.18; 16.12,34; 2Rs 9.36; 14.25; Jr 37.2; Zc 7.7, 12).Assim, o que o profeta diz em nome de Deus é Deus quem diz (1 Rs 13.26 com v.21; lRs 21.19 com 2Rs 9.25,26;Ag 1.12; cf. lSm 15.3, l8).Nesses e em outros exemplos no AT, as palavras que os profetas falavam podem ser também referidas como as palavras que o próprio Deus falou. Portanto, descrer ou desobedecer a qualquer coisa que o profeta diz é descrer ou desobedecer ao próprio Deus (Dt 18.19; lSm 10.8; 13.13,14; 15.3,19,23; 1 Rs 20.35,36).
Esses versículos, por si mesmos, não afirmam que todas as palavras no AT sejam palavras de Deus, porque em si mesmos estão se referindo somente a seções específicas de palavras faladas ou escritas no AT. Por força cumulativa dessas palavras, incluindo as centenas de passagens que começam com “Assim diz o Senhor”, deve ficar demonstrado que dentro do AT temos registros escritos de palavras que são consideradas as próprias palavras de Deus. Essas palavras constituem largas porções do AT. Quando percebemos que todas as palavras que faziam parte do “Livro da Lei de Deus” ou do “Livro da Aliança” foram consideradas palavras de Deus, vemos que a totalidade do AT afirma essa espécie de autoridade (v. Êx 24.7; Dt 29.21; 31.24-26; Is 24.26; lSm 10.25; 2Rs 23.2,3).
No NT, várias passagens indicam que todas as palavras dos escritos do AT são consideradas palavras de Deus. 2Timotéo 3.16 diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça”. Aqui “Escritura” (gr. graphē)’ deve se referir aos escritos do AT, porque é a eles que a palavra graphē se refere em cada uma das suas 55 ocorrências no NT. Além disso, é às “Sagradas Letras” do AT que Paulo se referiu anteriormente no versículo 15.
Paulo aqui afirma que todos os escritos do AT são theopneustos, inspirados por Deus. Visto que são escritos que foram “inspirados”, essa inspiração deve ser entendida como metáfora de falar as palavras da Escritura. Esse versículo, dessa maneira, afirma brevemente o que era evidente em muitas passagens do AT: OS escritos do AT são considerados Palavra de Deus em forma escrita. Pois Deus é quem falou (e ainda fala) cada palavra do AT, embora tenha usado agentes humanos para registrar essas palavras.
Indicação similar do caráter dos escritos do AT como palavras de Deus é encontrada em 2Pedro 1.21. Falando das profecias da Escritura (v. 20), que significa ao menos as Escrituras do AT as quais Pedro encoraja seus leitores a prestar atenção cuidadosa (v. 19), Pedro diz que nenhuma dessas profecias jamais “teve origem na vontade humana”, mas que “homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”. Não é a intenção de Pedro negar completamente o papel da volição ou da personalidade humana ao escrever a Escritura (ele diz que homens “falaram”), mas, em vez disso, sua intenção foi dizer que a fonte suprema de cada profecia não foi a decisão do homem a respeito do que ele queria escrever, mas, antes, a ação do Espírito Santo na vida do profeta, cumprida de modos não especificados aqui (ou, de fato, em nenhuma parte da Escritura). Isso indica a crença de que todas as profecias do AT (e, à luz dos v. 19 e 20, provavelmente inclua toda a Escritura registrada do AT) são consideradas “procedentes de Deus”: a saber, elas são as próprias palavras de Deus.
Muitas outras palavras poderiam ser citadas (v. Mt 19.5; Lc 1.70; 24.25; lo 5.45-47; At 3.18,21; 4.25; 13.47; 28.25; Rm 1.2; 3.2; 9.17; lCo 9.8-10; Hb 1.1,2,6,7), mas o padrão de atribuir a Deus as palavras da Escritura do AT deve estar muito claro. Além do mais, em diversos lugares, todas as palavras dos profetas ou as palavras da Escritura do AT levam a essa crença ou nos compelem a crer que são de Deus (v. Lc 24.25,27,44; At 3.18; 24.14; Rm 15.4).
Mas, se Paulo estava se referindo somente aos escritos do AT quando falou de “toda a Escritura” como soprada por Deus em 2Timóteo 3.16, como pode esse versículo ser aplicado aos escritos do NT também? Será que esse versículo diz alguma coisa a respeito do caráter dos escritos do NT? Para responder a essas perguntas, devemos perceber que a palavra grega graphē (“escritura”) era o termo técnico para os escritores do NT e possuía um sentido altamente especializado. Embora ela seja usada 55 vezes no NT, em cada uma delas ela se refere aos escritos do AT, não a quaisquer outras palavras ou escritos fora do cânon da Escritura. Assim, cada coisa que pertencia à categoria “escritura” tinha o caráter de ser “soprada por Deus”: suas palavras eram as verdadeiras palavras de Deus.
Mas em dois lugares no NT vemos os escritos do NT também serem chamados “Escritura” juntamente com os escritos do AT. Em 2Pedro 3.15,16, Pedro diz: “Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles”.
Aqui Pedro mostra não somente a consciência da existência de cartas escritas de Paulo, mas também a clara disposição de classificar equivalentemente “todas as suas [de Paulo] cartas” com “as demais Escrituras”. Isso é a indicação de que muito cedo na história da igreja todas as cartas de Paulo foram consideradas palavras de Deus em forma escrita no mesmo sentido que os textos escritos do AT. Semelhantemente, em lTimóteo 5.18, Paulo escreve: “... pois a Escritura diz: ‘Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal’, e ‘o trabalhador merece o seu salário”’. A primeira citação vem de Deuteronômio 25.4, mas a segunda não ocorre em nenhum lugar do AT. ao contrário, a citação de Lucas 10.7. Paulo aqui cita as palavras de Jesus conforme encontradas no evangelho de Lucas e as chama “Escritura”.
Essas duas passagens tomadas juntas indicam que durante o tempo do registro dos documentos do NT havia a consciência de que adições foram sendo feitas a essa categoria especial de escritos chamada “escritura”, escritos que tinham o mesmo caráter das verdadeiras palavras de Deus. Assim, uma vez estabelecido que os escritos do NT pertencem à categoria especial de “escritura”, estamos certos em aplicar 2Timóteo 3.16 igualmente àqueles escritos e em dizer que aqueles escritos também possuem a característica que Paulo atribui a “toda a Escritura”: ela é “soprada por Deus”, e todas as suas palavras são as verdadeiras palavras de Deus.
Existe evidência adicional de que os escritores do NT pensaram em seus escritos (não apenas os do AT) como as palavras de Deus? Em alguns casos, há. Em lCoríntios 14.37, Paulo diz: “Se alguém pensa que é profeta ou espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor”. Aqui Paulo instituiu regras para a adoração na igreja de Corinto e exigiu que fossem reconhecidas por “mandamento do Senhor”.
Alguém poderia pensar que Paulo achava que suas ordens fossem inferiores às de Jesus Cristo e, portanto, não precisavam ser cuidadosamente obedecidas. Por exemplo, em 1 Coríntios 7.12, ele distingue suas palavras das de Jesus: “Aos outros, eu mesmo digo isto, não o Senhor...”. Isso, contudo, simplesmente significa que ele não tinha conhecimento de nenhuma palavra dita aqui na terra que Jesus houvesse falado sobre o assunto. Podemos perceber que esse é o caso, porque nos versículos 10 e 11 ele simplesmente repetiu o ensino terreno de Jesus de que “a esposa não se separe do seu marido” e “o marido não se divorcie da sua mulher”. Nos versículos de 12 a 15, contudo, Paulo dá as suas instruções acerca de um assunto sobre o qual aparentemente Jesus não falara nada. O que dera a Paulo o direito de agir assim? Paulo diz que falou “como alguém que, pela misericórdia de Deus, é digno de confiança” (lCo 7.25). Ele parece sugerir aqui que seus julgamentos deviam ser considerados como cheios de autoridade, como as ordenanças de Jesus!
Indicações
de idéias semelhantes dos escritos do NT são encontrados em João 14.26 e 16.13,
onde Jesus prometeu que o Espírito Santo haveria de trazer à lembrança dos
discípulos tudo o que ele lhes havia dito e que os guiaria a toda a verdade.
Isso aponta para a obra do Espírito de capacitar os discípulos a se lembrarem e
registrarem sem erro tudo o que Jesus havia dito. Indicações semelhantes são
encontradas também em 2Pedro 3.2; lCoríntios 2.13; 1Tessalonicenses 4.15 e
Apocalipse 22.18,19.
2.
Ficamos convencidos das declarações da Bíblia de ser a Palavra de Deus à medida
que a lemos.
Uma coisa
é afirmar que a Bíblia alega ser as palavras de Deus; outra coisa é ser
convencido de que essa alegação é verdadeira. Nossa convicção suprema de que as
palavras da Bíblia são palavras de Deus vem somente quando o Espírito Santo
fala em e por meio das palavras da Bíblia ao nosso coração e nos dá a certeza
interior de que essas são as palavras do Criador para nós. Sem a obra do
Espírito de Deus, a pessoa nunca receberá ou aceitará a verdade de que as
palavras da Bíblia são de fato as palavras de Deus.
Mas para aqueles em quem o Espírito de Deus está operando, há o reconhecimento de que as palavras da Bíblia são as palavras de Deus. Esse processo é intimamente análogo ao qual as pessoas que criam em Jesus sabiam que as palavras dele eram verdadeiras. Ele disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Os que são ovelhas de Cristo ouvem as palavras de Cristo, o grande Pastor delas, da mesma maneira que lêem as palavras da Escritura, e se convencem de que essas palavras são, de fato, as palavras do seu Senhor.
É importante lembrar que essa convicção de que as palavras da Escritura são as palavras de Deus não vem separada das palavras da Escritura ou em acréscimo às palavras da Escritura. Não é que o Espírito Santo cochiche em nosso ouvido, dizendo: ”Você vê aquela Bíblia sobre a sua escrivaninha? Eu quero que você saiba que as palavras daquela Bíblia são as palavras de Deus”. Ao contrário, enquanto as pessoas lêem a Escritura é que percebem que o livro que estão lendo é diferente de qualquer outro livro, que ele é de fato o livro que contém as próprias palavras de Deus falando ao coração delas.
Um movimento teológico influente no século XX foi chamado de neo-ortodoxia. O representante mais importante desse movimento foi o teólogo suíço Karl Barth (1886-1968). Embora muitos de seus escritos tenham proporcionado uma reafirmação bem-vinda dos ensinos da Bíblia, em distinção da incredulidade da teologia liberal da Alemanha, Barth não chegou a afirmar que todas as palavras da Bíblia são as palavras de Deus no sentido em que temos argumentado aqui. Ao contrário, ele disse que as palavras da Escritura tornam-se as palavras de Deus para nós à medida que nos encontramos com elas. Essa foi a razão primária por que os evangélicos não puderam apoiar completamente a neo-ortodoxia de Barth, embora tivessem apreciado muitas das coisas que ele ensinou isoladamente.
Mas para aqueles em quem o Espírito de Deus está operando, há o reconhecimento de que as palavras da Bíblia são as palavras de Deus. Esse processo é intimamente análogo ao qual as pessoas que criam em Jesus sabiam que as palavras dele eram verdadeiras. Ele disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Os que são ovelhas de Cristo ouvem as palavras de Cristo, o grande Pastor delas, da mesma maneira que lêem as palavras da Escritura, e se convencem de que essas palavras são, de fato, as palavras do seu Senhor.
É importante lembrar que essa convicção de que as palavras da Escritura são as palavras de Deus não vem separada das palavras da Escritura ou em acréscimo às palavras da Escritura. Não é que o Espírito Santo cochiche em nosso ouvido, dizendo: ”Você vê aquela Bíblia sobre a sua escrivaninha? Eu quero que você saiba que as palavras daquela Bíblia são as palavras de Deus”. Ao contrário, enquanto as pessoas lêem a Escritura é que percebem que o livro que estão lendo é diferente de qualquer outro livro, que ele é de fato o livro que contém as próprias palavras de Deus falando ao coração delas.
Um movimento teológico influente no século XX foi chamado de neo-ortodoxia. O representante mais importante desse movimento foi o teólogo suíço Karl Barth (1886-1968). Embora muitos de seus escritos tenham proporcionado uma reafirmação bem-vinda dos ensinos da Bíblia, em distinção da incredulidade da teologia liberal da Alemanha, Barth não chegou a afirmar que todas as palavras da Bíblia são as palavras de Deus no sentido em que temos argumentado aqui. Ao contrário, ele disse que as palavras da Escritura tornam-se as palavras de Deus para nós à medida que nos encontramos com elas. Essa foi a razão primária por que os evangélicos não puderam apoiar completamente a neo-ortodoxia de Barth, embora tivessem apreciado muitas das coisas que ele ensinou isoladamente.
3. Outra
evidência é útil, mas não totalmente convincente.
A
seção anterior não foi proposta para negar a validade de outras espécies de
argumentos que podem ser usados para dar apoio à declaração de que a Bíblia é o
conjunto das palavras de Deus. É útil para nós aprendermos que a Bíblia é
historicamente precisa, internamente coerente, que contém profecias que foram
cumpridas centenas de anos mais tarde, que influenciou o curso da história
humana mais que qualquer outro livro, que continua a mudar a vida de milhões de
indivíduos ao longo de toda a história, que por meio dela pessoas têm
encontrado a salvação, que ela tem uma beleza majestosa e uma profundidade
muito grande de ensino não alcançada por nenhum outro livro, e que ela afirma
centenas de vezes que suas palavras são as palavras de Deus. Todos esses
argumentos são úteis para nós e removem obstáculos que poderiam, de outra
forma, aparecer no caminho de nossa fé na Escritura. Mas todos eles, tomados
individualmente ou em conjunto, não podem convencer de forma final. É isso que
a Confissão de é de Westminster de 1643-1646 diz:
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade de seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e a certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra, e com a palavra testifica em nosso coração. (I,V)
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade de seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e a certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra, e com a palavra testifica em nosso coração. (I,V)
4. As
palavras da Escritura são autotestificadoras.
Visto que
as palavras da Escritura são “autotestificadoras”, não se pode “provar” que
elas são as palavras de Deus no apelo a uma autoridade superior. Se apelarmos,
por exemplo, à lógica humana ou à verdade científica para provar que a Bíblia é
a Palavra de Deus, então presumimos que a autoridade à qual apelamos é superior
às próprias palavras de Deus ou que é mais verdadeiro ou mais confiável.
Portanto, a autoridade suprema pela qual a Escritura demonstra ser a Palavra de
Deus deve ser a própria Escritura.
5.
Objeção: esse é um argumento circular.
Alguém
pode objetar que dizer que a própria Escritura demonstra ser as palavras de
Deus é um argumento circular: Cremos que a Escritura é a Palavra de Deus porque
ela alega isso. E cremos em sua alegação porque a Escritura é a Palavra de
Deus. E cremos que ela é a Palavra de Deus porque ela o diz, e assim por
diante.
Deve-se admitir que esse é uma espécie de argumento circular. Contudo, isso não torna o seu uso inválido, pois todos os argumentos para uma autoridade absoluta devem apelar supremamente para aquela autoridade a fim de que seja provada; de outra forma, a autoridade não seria uma autoridade absoluta ou superior. Esse problema não é exclusivo do cristão que está argumentando pela autoridade da Bíblia. Qualquer pessoa, implícita ou explicitamente, usa alguma espécie de argumento circular quando defende sua autoridade suprema para provar qualquer crença.
Alguns poucos exemplos simples ilustrarão os tipos de argumento circular que as pessoas usam para dar apoio às bases de suas crenças:
Minha razão é a autoridade suprema porque isso me parece razoável.
A coerência lógica é minha autoridade suprema porque é lógico agir assim.
As descobertas das experiências sensoriais dos homens são a autoridade suprema para descobrir o que é real e o que não é, porque nossos sentidos nunca descobriram outra coisa mais: assim, a experiência sensória do homem me diz que o meu princípio é verdadeiro.
Cada um desses argumentos utiliza um raciocínio circular para estabelecer um padrão definitivo para comprovar a verdade.
Como então o cristão ou qualquer outra pessoa pode escolher entre as várias reivindicações de autoridade absoluta? De modo definitivo, a veracidade da Bíblia recomenda a si mesma como muito mais persuasiva que outros livros religiosos (como o Livro de Mórmon ou o Alcorão) ou mais que outras construções intelectuais da mente humana (como lógica, razão humana, experiência sensória, metodologia científica etc.). Será que ela é mais persuasiva porque, na real experiência da vida, todas essas outras candidatas a autoridade suprema são vistas como incoerentes ou como tendo defeitos que as desqualificam, ao passo que a Bíblia será vista como estando de pleno acordo com tudo o que sabemos a respeito do mundo ao nosso redor, a respeito de nós mesmos e a respeito de Deus?
A Bíblia recomenda-se a si mesma como persuasiva desse modo, isto é, se estamos pensando corretamente sobre a natureza da realidade, sobre nossa percepção dela e de nós próprios, e sobre nossa percepção de Deus. O problema é que, por causa do pecado, nossa percepção e análise de Deus e da criação são imperfeitas. Portanto, ela requer a obra do Espírito Santo, vencendo os efeitos do pecado, para capacitar-nos a sermos persuadidos de que a Bíblia é, de fato, a Palavra de Deus e que a afirmação que ela faz de si mesma é verdadeira.
Em outro sentido, portanto, o argumento da Bíblia como a Palavra de Deus e nossa autoridade suprema não é um típico argumento circular. Esse processo de persuasão é talvez mais comparável a uma espiral na qual o crescente conhecimento da Escritura e o crescente entendimento correto de Deus e da criação tendem a suplementar um ao outro de modo harmonioso, cada um tendendo a confirmar a precisão do outro. Isso não é o mesmo que dizer que o nosso conhecimento do mundo ao redor serve como autoridade maior que a Escritura, mas, ao contrário, que tal conhecimento, se é o conhecimento correto, continua a dar uma certeza maior e melhor, além de uma convicção mais profunda, de que a Bíblia é a autoridade única e verdadeiramente suprema, e que outras afirmações competidoras de autoridade suprema são falsas.
Deve-se admitir que esse é uma espécie de argumento circular. Contudo, isso não torna o seu uso inválido, pois todos os argumentos para uma autoridade absoluta devem apelar supremamente para aquela autoridade a fim de que seja provada; de outra forma, a autoridade não seria uma autoridade absoluta ou superior. Esse problema não é exclusivo do cristão que está argumentando pela autoridade da Bíblia. Qualquer pessoa, implícita ou explicitamente, usa alguma espécie de argumento circular quando defende sua autoridade suprema para provar qualquer crença.
Alguns poucos exemplos simples ilustrarão os tipos de argumento circular que as pessoas usam para dar apoio às bases de suas crenças:
Minha razão é a autoridade suprema porque isso me parece razoável.
A coerência lógica é minha autoridade suprema porque é lógico agir assim.
As descobertas das experiências sensoriais dos homens são a autoridade suprema para descobrir o que é real e o que não é, porque nossos sentidos nunca descobriram outra coisa mais: assim, a experiência sensória do homem me diz que o meu princípio é verdadeiro.
Cada um desses argumentos utiliza um raciocínio circular para estabelecer um padrão definitivo para comprovar a verdade.
Como então o cristão ou qualquer outra pessoa pode escolher entre as várias reivindicações de autoridade absoluta? De modo definitivo, a veracidade da Bíblia recomenda a si mesma como muito mais persuasiva que outros livros religiosos (como o Livro de Mórmon ou o Alcorão) ou mais que outras construções intelectuais da mente humana (como lógica, razão humana, experiência sensória, metodologia científica etc.). Será que ela é mais persuasiva porque, na real experiência da vida, todas essas outras candidatas a autoridade suprema são vistas como incoerentes ou como tendo defeitos que as desqualificam, ao passo que a Bíblia será vista como estando de pleno acordo com tudo o que sabemos a respeito do mundo ao nosso redor, a respeito de nós mesmos e a respeito de Deus?
A Bíblia recomenda-se a si mesma como persuasiva desse modo, isto é, se estamos pensando corretamente sobre a natureza da realidade, sobre nossa percepção dela e de nós próprios, e sobre nossa percepção de Deus. O problema é que, por causa do pecado, nossa percepção e análise de Deus e da criação são imperfeitas. Portanto, ela requer a obra do Espírito Santo, vencendo os efeitos do pecado, para capacitar-nos a sermos persuadidos de que a Bíblia é, de fato, a Palavra de Deus e que a afirmação que ela faz de si mesma é verdadeira.
Em outro sentido, portanto, o argumento da Bíblia como a Palavra de Deus e nossa autoridade suprema não é um típico argumento circular. Esse processo de persuasão é talvez mais comparável a uma espiral na qual o crescente conhecimento da Escritura e o crescente entendimento correto de Deus e da criação tendem a suplementar um ao outro de modo harmonioso, cada um tendendo a confirmar a precisão do outro. Isso não é o mesmo que dizer que o nosso conhecimento do mundo ao redor serve como autoridade maior que a Escritura, mas, ao contrário, que tal conhecimento, se é o conhecimento correto, continua a dar uma certeza maior e melhor, além de uma convicção mais profunda, de que a Bíblia é a autoridade única e verdadeiramente suprema, e que outras afirmações competidoras de autoridade suprema são falsas.
6. Isso
não significa ditado de Deus como o único meio de comunicação.
Neste
momento é necessária uma palavra de advertência. O fato de que todas as
palavras da Escritura são as palavras de Deus não deve nos levar a pensar que
Deus ditou cada palavra da Escritura aos autores humanos.
Quando dizemos que todas as palavras da Bíblia são as palavras de Deus, estamos falando a respeito do resultado do processo que trouxe a Escritura à existência. A questão do ditado diz respeito ao processo que conduziu ao resultado ou à maneira pela qual Deus agiu a fim de assegurar o resultado que ele pretendia. Deve ser enfatizado que a Bíblia não fala de um único tipo de processo ou de uma única maneira pela qual Deus comunicou aos autores bíblicos o que ele queria que fosse dito. De fato, há indicação de uma grande variedade de processos que Deus usou para conseguir o resultado desejado.
Uns poucos exemplos esparsos de ditado são mencionados explicitamente na Escritura. Quando o apóstolo João viu o Senhor ressuscitado na visão na ilha de Patmos, Jesus lhe falou o seguinte:
“Ao anjo da igreja em Éfeso escreva” (Ap 2.1); “Ao anjo da igreja em Esmirna escreva” (Ap 2.8); “Ao anjo da igreja em Pérgamo escreva” (Ap 2.12). Esses são exemplos de puro e simples ditado. O Senhor ressuscitado diz a João o que escrever, e João escreve as palavras que ouve de Jesus.
Porém, em muitas outras seções da Escritura, tal ditado direto de Deus não é certamente a maneira pela qual as palavras da Escritura vieram à existência. O autor de Hebreus diz que Deus falou aos pais pelos profetas “muitas vezes e de várias maneiras” (Hb 1.1). Do outro lado do espectro do ditado temos, por exemplo, a pesquisa histórica ordinária que Lucas empreendeu para escrever seu evangelho. Ele diz: “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo” (Lc 1.1-3).
Esse claramente não é o processo de ditado. Lucas usou o método comum de conversar com testemunhas oculares e obter dados históricos de forma que pudesse escrever sua narrativa precisa da vida e dos ensinos de Jesus. Fez a pesquisa histórica de maneira completa, ouvindo relatos de muitas testemunhas oculares e avaliando sua evidência cuidadosamente. O evangelho que escreveu enfatiza e reflete seu estilo característico de escrever.
Entre os dois extremos, do ditado por um lado e da pesquisa histórica ordinária por outro, temos muitas indicações de vários modos pelos quais Deus comunicou-se com os autores humanos da Escritura. Em alguns casos, a Escritura fala de sonhos, visões ou de ouvir a voz do Senhor. Em outros casos, ela fala de homens que estiveram com Jesus, observaram sua vida e ouviram seus ensinos, homens cuja lembrança dessas palavras e ações tornou-se completamente precisa pela operação do Espírito Santo, à medida que ele as trazia à memória deles (Jo 14.26). Ao que parece, muitos métodos diferentes foram usados, mas não é importante que descubramos exatamente quais foram eles em cada caso.
Em exemplos em que a personalidade humana e o estilo de escrever do autor estavam proeminentemente envolvidos, como parece ser o caso com a maior parte da Escritura, tudo o que somos capazes de dizer é que a superintendência e a direção providenciais de Deus na vida de cada autor foram de tal ordem que a personalidade e a habilidade deles foram exatamente o que Deus queria que fossem para a tarefa de escrever a Escritura. As origens e o treinamento deles (como a preparação rabínica de Paulo, a de Moisés na casa de Faraó ou o trabalho de Davi como pastor), a capacidade de avaliar eventos no mundo ao redor deles, o acesso que tinham a dados históricos, seu julgamento com relação à exatidão de informações e as circunstâncias individuais quando escreveram foram exatamente o que Deus queria que fossem. Assim, quando eles realmente chegaram a escrever, as palavras eram plenamente as suas próprias palavras, mas também eram plenamente as palavras que Deus queria que eles escrevessem, palavras que Deus também afirmaria serem suas.
Quando dizemos que todas as palavras da Bíblia são as palavras de Deus, estamos falando a respeito do resultado do processo que trouxe a Escritura à existência. A questão do ditado diz respeito ao processo que conduziu ao resultado ou à maneira pela qual Deus agiu a fim de assegurar o resultado que ele pretendia. Deve ser enfatizado que a Bíblia não fala de um único tipo de processo ou de uma única maneira pela qual Deus comunicou aos autores bíblicos o que ele queria que fosse dito. De fato, há indicação de uma grande variedade de processos que Deus usou para conseguir o resultado desejado.
Uns poucos exemplos esparsos de ditado são mencionados explicitamente na Escritura. Quando o apóstolo João viu o Senhor ressuscitado na visão na ilha de Patmos, Jesus lhe falou o seguinte:
“Ao anjo da igreja em Éfeso escreva” (Ap 2.1); “Ao anjo da igreja em Esmirna escreva” (Ap 2.8); “Ao anjo da igreja em Pérgamo escreva” (Ap 2.12). Esses são exemplos de puro e simples ditado. O Senhor ressuscitado diz a João o que escrever, e João escreve as palavras que ouve de Jesus.
Porém, em muitas outras seções da Escritura, tal ditado direto de Deus não é certamente a maneira pela qual as palavras da Escritura vieram à existência. O autor de Hebreus diz que Deus falou aos pais pelos profetas “muitas vezes e de várias maneiras” (Hb 1.1). Do outro lado do espectro do ditado temos, por exemplo, a pesquisa histórica ordinária que Lucas empreendeu para escrever seu evangelho. Ele diz: “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo” (Lc 1.1-3).
Esse claramente não é o processo de ditado. Lucas usou o método comum de conversar com testemunhas oculares e obter dados históricos de forma que pudesse escrever sua narrativa precisa da vida e dos ensinos de Jesus. Fez a pesquisa histórica de maneira completa, ouvindo relatos de muitas testemunhas oculares e avaliando sua evidência cuidadosamente. O evangelho que escreveu enfatiza e reflete seu estilo característico de escrever.
Entre os dois extremos, do ditado por um lado e da pesquisa histórica ordinária por outro, temos muitas indicações de vários modos pelos quais Deus comunicou-se com os autores humanos da Escritura. Em alguns casos, a Escritura fala de sonhos, visões ou de ouvir a voz do Senhor. Em outros casos, ela fala de homens que estiveram com Jesus, observaram sua vida e ouviram seus ensinos, homens cuja lembrança dessas palavras e ações tornou-se completamente precisa pela operação do Espírito Santo, à medida que ele as trazia à memória deles (Jo 14.26). Ao que parece, muitos métodos diferentes foram usados, mas não é importante que descubramos exatamente quais foram eles em cada caso.
Em exemplos em que a personalidade humana e o estilo de escrever do autor estavam proeminentemente envolvidos, como parece ser o caso com a maior parte da Escritura, tudo o que somos capazes de dizer é que a superintendência e a direção providenciais de Deus na vida de cada autor foram de tal ordem que a personalidade e a habilidade deles foram exatamente o que Deus queria que fossem para a tarefa de escrever a Escritura. As origens e o treinamento deles (como a preparação rabínica de Paulo, a de Moisés na casa de Faraó ou o trabalho de Davi como pastor), a capacidade de avaliar eventos no mundo ao redor deles, o acesso que tinham a dados históricos, seu julgamento com relação à exatidão de informações e as circunstâncias individuais quando escreveram foram exatamente o que Deus queria que fossem. Assim, quando eles realmente chegaram a escrever, as palavras eram plenamente as suas próprias palavras, mas também eram plenamente as palavras que Deus queria que eles escrevessem, palavras que Deus também afirmaria serem suas.
Portanto,
descrer ou desobedecer a qualquer palavra da Escritura é descrer ou desobedecer
a Deus.
A seção
anterior argumentou que todas as palavras da Escritura são palavras de Deus.
Conseqüentemente, descrer ou desobedecer a qualquer palavra da Escritura é
descrer ou desobedecer ao próprio Deus.Assim, Jesus pôde repreender seus discípulos
por não crerem nas Escrituras do AT (Lc 24.25: “Como vocês custam a entender e
como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram!”). Os crentes devem
guardar ou obedecer às palavras dos discípulos (Jo 15.20: “... Se obedeceram, à
minha palavra, também obedecerão à de vocês”). Os cristãos são encorajados a
lembrar-se do “mandamento de nosso Senhor e Salvador que os apóstolos de vocês
lhes ensinaram” (2Pe 3.2). Desobedecer aos escritos de Paulo era tornar-se
sujeito à disciplina da igreja, como a excomunhão (2Ts 3.14) e a punição
espiritual (2Co 13.2,3), incluindo a punição de Deus (esse é o sentido evidente
do verbo na voz passiva “será ignorado” em lCo 14.38). Por contraste, Deus se
agrada de cada pessoa que “treme” diante da sua palavra (Is 66.2).
Ao longo de toda a história da igreja, os maiores pregadores têm sido os que reconheceram que não possuem autoridade vinda de si mesmos; sua tarefa tem sido a explicação das palavras da Escritura e a sua clara aplicação na vida de seus ouvintes. A pregação deles deriva seu poder não da proclamação de suas experiências cristãs ou das experiências de outros, nem de suas opiniões, idéias criativas ou habilidades retóricas, mas das poderosas palavras de Deus. Essencialmente, eles permaneceram no púlpito, apontaram para o texto bíblico e disseram de fato à sua congregação: “Isso é o que esse versículo quer dizer. Você também vê esse significado aqui? Então, você deve crer nele e obedecer a ele de todo o seu coração, porque o próprio Criador e Senhor está dizendo exatamente isso para você hoje!”. Somente as palavras escritas da Escritura podem dar essa espécie de autoridade à pregação.
Ao longo de toda a história da igreja, os maiores pregadores têm sido os que reconheceram que não possuem autoridade vinda de si mesmos; sua tarefa tem sido a explicação das palavras da Escritura e a sua clara aplicação na vida de seus ouvintes. A pregação deles deriva seu poder não da proclamação de suas experiências cristãs ou das experiências de outros, nem de suas opiniões, idéias criativas ou habilidades retóricas, mas das poderosas palavras de Deus. Essencialmente, eles permaneceram no púlpito, apontaram para o texto bíblico e disseram de fato à sua congregação: “Isso é o que esse versículo quer dizer. Você também vê esse significado aqui? Então, você deve crer nele e obedecer a ele de todo o seu coração, porque o próprio Criador e Senhor está dizendo exatamente isso para você hoje!”. Somente as palavras escritas da Escritura podem dar essa espécie de autoridade à pregação.
Autor:
Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br .
Fonte: Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br .
A veracidade da Escritura
Nota: AT = Antigo
Testamento ; NT= Novo Testamento
1. Deus
não pode mentir ou falar falsamente.
A
essência da autoridade da Escritura é a sua capacidade de compelir-nos a crer
nela e a obedecer-lhe, tornando tal crença e obediência equivalentes a crer e a
obedecer ao próprio Deus. Porque as coisas são assim, é necessário considerar a
veracidade da Escritura, pois, se pensamos que algumas partes da Escritura não
são verdadeiras, naturalmente não seremos capazes de crer nelas.
Visto que os escritores bíblicos repetidamente afirmam que as palavras da Bíblia, embora humanas, são as próprias palavras de Deus, é apropriado olhar para os textos bíblicos que falam a respeito do caráter das palavras de Deus e aplicá-los ao caráter das palavras da Escritura. Especificamente falando, há certo número de passagens bíblicas que falam a respeito da veracidade da fala de Deus. Tito 1.2 declara que “Deus que não mente”. Porque Deus é um Deus que não pode falar mentiras, suas palavras são sempre confiáveis. Visto que toda a Escritura é falada por Deus, toda a Escritura deve ser verdadeira, como Deus o é. Não pode haver nada que não seja verdadeiro na Escritura. Hebreus 6.18 menciona duas coisas imutáveis (o juramento e a promessa de Deus) “nas quais é impossível que Deus minta”. Aqui o autor não diz meramente que Deus não mente, mas que é impossível para ele mentir. Embora a referência imediata seja somente o juramento e as promessas, se é impossível para Deus mentir nessas declarações, então certamente é impossível para ele mentir.
Visto que os escritores bíblicos repetidamente afirmam que as palavras da Bíblia, embora humanas, são as próprias palavras de Deus, é apropriado olhar para os textos bíblicos que falam a respeito do caráter das palavras de Deus e aplicá-los ao caráter das palavras da Escritura. Especificamente falando, há certo número de passagens bíblicas que falam a respeito da veracidade da fala de Deus. Tito 1.2 declara que “Deus que não mente”. Porque Deus é um Deus que não pode falar mentiras, suas palavras são sempre confiáveis. Visto que toda a Escritura é falada por Deus, toda a Escritura deve ser verdadeira, como Deus o é. Não pode haver nada que não seja verdadeiro na Escritura. Hebreus 6.18 menciona duas coisas imutáveis (o juramento e a promessa de Deus) “nas quais é impossível que Deus minta”. Aqui o autor não diz meramente que Deus não mente, mas que é impossível para ele mentir. Embora a referência imediata seja somente o juramento e as promessas, se é impossível para Deus mentir nessas declarações, então certamente é impossível para ele mentir.
2.
Portanto, todas as palavras da Escritura são completamente verdadeiras e sem
erro em qualquer parte.
Visto que
as palavras da Bíblia são as palavras de Deus, e visto que Deus não pode mentir
ou falar falsamente, é correto concluir que não há nada inverossímil nem nenhum
erro em qualquer parte das palavras da Escritura. Encontramos isso afirmado em
diversos lugares da Escritura. “As palavras do SENHOR são puras, são como prata
purificada num forno, sete vezes refinada” (Sl 12.6).Aqui o salmista usa uma
figura vivida para falar da indissolúvel pureza das palavras de Deus; não há
nenhuma imperfeição nelas. Também Provérbios 30.5 diz: “Cada palavra de Deus é
comprovadamente pura; ele é um escudo para quem nele se refugia”. Isso não se
diz apenas de algumas das palavras da Escritura, mas de todas elas. De fato, a
Palavra de Deus está firmada no céu por toda a eternidade: “A tua palavra,
SFNH0R,para sempre está firmada nos céus” (Sl 119.89). Jesus pode falar da
natureza eterna de suas palavras: “Os céus e a terra passarão, mas as minhas
palavras jamais passarão” (Mt 24.35). Esses versículos afirmam explicitamente o
que estava implícito na exigência de que creiamos em todas as palavras da Escritura,
a saber, que não há nada que não seja verdadeiro ou que seja falso afirmado em
qualquer das declarações da Bíblia.
3. As
palavras de Deus são o padrão supremo de verdade.
Em João
17, Jesus ora ao Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo
17.17). Esse versículo é interessante porque Jesus não usa um adjetivo,
alēthinos ou alēthēs (“verdadeira”), que era o esperado, para dizer que a ”tua
palavra é a verdade”. Ao contrário, ele usa um substantivo, alētheia
(“verdade”), para dizer que a Palavra de Deus não é simplesmente “verdadeira”,
mas é a própria verdade.
A diferença é significativa, porque essa afirmação nos encoraja a pensar na Bíblia não simplesmente como “verdadeira” no sentido em que a conformamos ao padrão mais alto de verdade, mas, antes, encoraja-nos a pensar da Bíblia como ela própria o padrão final de verdade. A Bíblia é a Palavra de Deus, e a Palavra de Deus é a definição última do que é verdadeiro e do que não é verdadeiro: a Palavra de Deus, em si mesma, é a verdade. Assim, devemos pensar na Bíblia como o padrão último da verdade, o ponto de referência pelo qual qualquer outra alegação de veracidade possa ser medida.As declarações que se conformam à Escritura são “verdadeiras”, ao passo que as que não se conformam à Escritura não o são.
Então, o que é a verdade? A verdade é o que Deus diz, e temos o que Deus diz (exatamente, não exaustivamente) na Bíblia.
Essa doutrina da veracidade absoluta da Escritura permanece em contraste claro com a concepção comum na sociedade moderna que muitas vezes é chamada pluralismo.
O pluralismo é o pensamento de que cada pessoa tem uma perspectiva sobre a verdade que é tão válida como a perspectiva de outra pessoa qualquer — portanto, não devemos dizer que a religião ou o padrão ético de outra pessoa esteja errado. De acordo com o pluralismo, não podemos conhecer a verdade absoluta; podemos somente ter perspectivas e expectativas próprias. Naturalmente, se o pluralismo é verdadeiro, a Bíblia não pode ser o que ela declara ser: as palavras que o único e verdadeiro Deus, o criador e juiz de todo o mundo, nos tem falado.
O pluralismo é um aspecto do pensamento contemporâneo global do mundo chamado pós-modernismo. O pós-modernismo não sustentaria simplesmente que nunca podemos encontrar a verdade absoluta; ele diria que a verdade absoluta não existe. Todas as tentativas de afirmar a verdade em uma ou em outra idéia são justamente o resultado de nossa origem, cultura, tendências, projetos pessoais (especialmente nosso desejo de poder). Tal visão do mundo, é claro, opõe-se diretamente à visão bíblica, que vê a Bíblia como verdade que nos foi dada da parte de Deus.
A diferença é significativa, porque essa afirmação nos encoraja a pensar na Bíblia não simplesmente como “verdadeira” no sentido em que a conformamos ao padrão mais alto de verdade, mas, antes, encoraja-nos a pensar da Bíblia como ela própria o padrão final de verdade. A Bíblia é a Palavra de Deus, e a Palavra de Deus é a definição última do que é verdadeiro e do que não é verdadeiro: a Palavra de Deus, em si mesma, é a verdade. Assim, devemos pensar na Bíblia como o padrão último da verdade, o ponto de referência pelo qual qualquer outra alegação de veracidade possa ser medida.As declarações que se conformam à Escritura são “verdadeiras”, ao passo que as que não se conformam à Escritura não o são.
Então, o que é a verdade? A verdade é o que Deus diz, e temos o que Deus diz (exatamente, não exaustivamente) na Bíblia.
Essa doutrina da veracidade absoluta da Escritura permanece em contraste claro com a concepção comum na sociedade moderna que muitas vezes é chamada pluralismo.
O pluralismo é o pensamento de que cada pessoa tem uma perspectiva sobre a verdade que é tão válida como a perspectiva de outra pessoa qualquer — portanto, não devemos dizer que a religião ou o padrão ético de outra pessoa esteja errado. De acordo com o pluralismo, não podemos conhecer a verdade absoluta; podemos somente ter perspectivas e expectativas próprias. Naturalmente, se o pluralismo é verdadeiro, a Bíblia não pode ser o que ela declara ser: as palavras que o único e verdadeiro Deus, o criador e juiz de todo o mundo, nos tem falado.
O pluralismo é um aspecto do pensamento contemporâneo global do mundo chamado pós-modernismo. O pós-modernismo não sustentaria simplesmente que nunca podemos encontrar a verdade absoluta; ele diria que a verdade absoluta não existe. Todas as tentativas de afirmar a verdade em uma ou em outra idéia são justamente o resultado de nossa origem, cultura, tendências, projetos pessoais (especialmente nosso desejo de poder). Tal visão do mundo, é claro, opõe-se diretamente à visão bíblica, que vê a Bíblia como verdade que nos foi dada da parte de Deus.
4. Podem
alguns fatos novos contradizer a Bíblia?
Poderá
qualquer novo fato científico ou histórico que venha a ser descoberto contradizer
a Bíblia? Aqui podemos dizer com confiança que isso nunca acontecerá — é algo
impossível. Se qualquer “fato” suposto for descoberto que seja considerado
contrário à Escritura, então (se entendemos a Escritura corretamente) tal
“fato” deve ser falso, porque Deus, o autor da Escritura, conhece todos os
fatos verdadeiros (passados, presentes e futuros). Nenhum acontecimento
inesperado aparecerá do qual Deus não tenha tido conhecimento no passado e que
não tenha levado em conta quando fez a Escritura ser escrita. Cada fato
verdadeiro é algo que Deus já conhecia desde toda a eternidade e, portanto, não
poderia contradizer as palavras de Deus na Escritura.
Não obstante, deve ser lembrado que o estudo científico ou histórico (assim como outras espécies de estudo da criação) pode fazer-nos reexaminar a Escritura para ver se ela realmente ensina o que pensamos que ela ensinava. Por exemplo, a Bíblia não ensina que o sol gira ao redor da terra só porque ela usa descrições dos fenômenos como os vemos de nossa perspectiva, nem pretende descrever as operações do universo de algum ponto “fixo” arbitrário em algum lugar no espaço. Todavia, até o estudo da astronomia ter avançado o suficiente para demonstrar a rotação da terra sobre o próprio eixo, as pessoas presumiam que a Bíblia ensinava que o sol girava ao redor da terra. Assim, o estudo dos dados científicos levou ao reexame dos textos bíblicos apropriados. Portanto, todas as vezes que confrontados algum “fato” que parece contradizer a Escritura, devemos não somente examinar os dados apresentados para demonstrar o fato em questão; devemos também reexaminar os textos bíblicos apropriados para ver se a Bíblia realmente ensina o que pensamos que ela ensina. Podemos fazer isso com confiança, pois nenhum fato verdadeiro jamais contrariará as palavras do Deus que conhece todos os fatos e que nunca mente.
Não obstante, deve ser lembrado que o estudo científico ou histórico (assim como outras espécies de estudo da criação) pode fazer-nos reexaminar a Escritura para ver se ela realmente ensina o que pensamos que ela ensinava. Por exemplo, a Bíblia não ensina que o sol gira ao redor da terra só porque ela usa descrições dos fenômenos como os vemos de nossa perspectiva, nem pretende descrever as operações do universo de algum ponto “fixo” arbitrário em algum lugar no espaço. Todavia, até o estudo da astronomia ter avançado o suficiente para demonstrar a rotação da terra sobre o próprio eixo, as pessoas presumiam que a Bíblia ensinava que o sol girava ao redor da terra. Assim, o estudo dos dados científicos levou ao reexame dos textos bíblicos apropriados. Portanto, todas as vezes que confrontados algum “fato” que parece contradizer a Escritura, devemos não somente examinar os dados apresentados para demonstrar o fato em questão; devemos também reexaminar os textos bíblicos apropriados para ver se a Bíblia realmente ensina o que pensamos que ela ensina. Podemos fazer isso com confiança, pois nenhum fato verdadeiro jamais contrariará as palavras do Deus que conhece todos os fatos e que nunca mente.
Autor:
Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova. Compre este livro http://www.vidanova.com.br .
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A clareza, a necessidade e a
suficiência da Bíblia.
Nota: AT= Antigo Testamento ; NT =
Novo Testamento
Somente
os estudiosos da Bíblia podem entendê-la corretamente?
Para que propósitos a Bíblia é necessária?
Será que a Bíblia é suficiente para conhecermos o que Deus quer que pensemos ou façamos?
Depois de estudar no capítulo 2 sobre a autoridade que a Bíblia afirma possuir, voltamo-nos agora para outras três características da Escritura para completar a nossa discussão a respeito do que a Bíblia ensina sobre si mesma.
Para que propósitos a Bíblia é necessária?
Será que a Bíblia é suficiente para conhecermos o que Deus quer que pensemos ou façamos?
Depois de estudar no capítulo 2 sobre a autoridade que a Bíblia afirma possuir, voltamo-nos agora para outras três características da Escritura para completar a nossa discussão a respeito do que a Bíblia ensina sobre si mesma.
EXPLICAÇAO E BASE BÍBLICA
Qualquer
pessoa que tenha começado a ler a Bíblia com seriedade haverá de perceber que
algumas partes dela podem ser entendidas muito facilmente, ao passo que outras
partes parecem mais difíceis. Embora devamos admitir que nem todas as partes da
Escritura sejam facilmente entendidas, seria um erro pensar que a maior parte
da Escritura ou que a Escritura em geral seja difícil de ser entendida. De
fato, o AT e o NT muitas vezes afirmam que a Escritura é escrita de tal forma que
seus ensinos são inteligíveis para crentes comuns. Portanto, examinaremos
primeiro a doutrina da clareza da Escritura.
Além da questão de nossa capacidade de entender a Escritura, temos a questão de sua necessidade: Precisamos conhecer o que a Bíblia diz para saber que Deus existe? Ou que somos pecadores necessitados de salvação? Essa é a espécie de perguntas que a investigação da necessidade da Escritura pretende responder.
Finalmente, faremos uma breve análise da suficiência da Escritura. Devemos procurar outras palavras de Deus em adição às que já temos na Escritura? Será que a Bíblia é suficiente para que conheçamos o que Deus requer que creiamos ou façamos? A doutrina da suficiência da Escritura focaliza essas perguntas.
Além da questão de nossa capacidade de entender a Escritura, temos a questão de sua necessidade: Precisamos conhecer o que a Bíblia diz para saber que Deus existe? Ou que somos pecadores necessitados de salvação? Essa é a espécie de perguntas que a investigação da necessidade da Escritura pretende responder.
Finalmente, faremos uma breve análise da suficiência da Escritura. Devemos procurar outras palavras de Deus em adição às que já temos na Escritura? Será que a Bíblia é suficiente para que conheçamos o que Deus requer que creiamos ou façamos? A doutrina da suficiência da Escritura focaliza essas perguntas.
A.
A clareza da Escritura
1. A
Bíblia muitas vezes afirma a própria clareza.
A Bíblia
muitas vezes fala de sua clareza e da responsabilidade dos crentes de lê-la e
de entendê-la. Em uma passagem muito conhecida, Moisés diz ao povo de Israel:
“Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as
com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em
casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se
levantar” (Dt 6.6,7). Esperava-se que todas as pessoas de Israel fossem capazes
de entender as palavras da Escritura o suficiente para conseguir ensiná-las a
seus filhos. Esse ensino não consistiria meramente em memorização mecânica
esvaziada de entendimento, porque o povo de Israel deveria discutir as palavras
da Escritura durante suas atividades, quando estivesse assentado em suas casas,
ou ao se deitar ou ao se levantar pela manhã. Deus esperava que todos dentre o
seu povo conhecessem e fossem capazes de falar a respeito de sua Palavra com a
devida aplicação às situações comuns da vida.
É dito
que o caráter da Escritura é de tal modo que mesmo “os inexperientes” podem
compreendê-la corretamente, tornando-se sábios. “Os testemunhos do SENHOR são
dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes” (Sl 19.7). Em outro
lugar lemos que “a explicação das tuas palavras ilumina e dá discernimento aos
inexperientes” (Sl 119.130). Aqui, a pessoa “inexperiente” não é meramente a
que carece de capacidade intelectual, mas a que carece de julgamento sadio, que
é propensa a cometer erros e que é facilmente induzida ao erro. A Palavra de
Deus é inteligível, tão clara que torna sábia até mesmo essa espécie de pessoa.
Isso deve servir de grande encorajamento a todos os crentes. Nenhum crente deve
pensar de si mesmo como se fosse incapaz de ler a Escritura e de entendê-la
suficientemente para se tornar sábio por meio dela.
Há uma ênfase semelhante no NT. O próprio Jesus, em seus ensinos, suas conversas e discussões, nunca responde a quaisquer perguntas com o intento de acusar as Escrituras do AT de não serem claras. Ao contrário, estivesse ele falando a estudiosos ou a pessoas comuns sem preparo, suas respostas sempre presumem que a acusação de entendimento errôneo de qualquer ensino da Escritura não deve ser colocada sobre a Escritura, mas sobre os que a entendem erroneamente ou que se recusam a aceitar o que está escrito. Repetidamente ele responde a perguntas com afirmações semelhantes a estas: “Vocês não leram...”(Mt 12.3,5; 19.14; 22.31),”Vocês nunca leram isto nas Escrituras?” (Mt 2 1.42), ou mesmo: “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!” (Mt 22.29; v. tb. Mt 9.13; 12.7; 15.3; 21.13; Jo 3.10).
Para que não pensemos que o entendimento da Bíblia era de certo modo mais fácil para os cristãos do primeiro século que para nós, é importante percebermos que em muitos exemplos as cartas do NT foram escritas a igrejas que tinham grandes percentuais de cristãos gentílicos. Eles eram cristãos relativamente novos que não tinham nenhum conhecimento prévio de qualquer espécie de sociedade cristã, e que tinham pouco ou nenhum entendimento anterior da história e da cultura de Israel. Os eventos da vida de Abraão (c. 2000 a.C.) estavam no passado tão distante deles como os eventos do NT estão de nós! Não obstante, os autores do NT não mostraram qualquer hesitação, esperando que mesmo esses cristãos gentios fossem capazes de ler uma tradução do AT em sua língua e de entendê-la corretamente (v.Rm 4.1-25; 15.4; lCo 10.1-11; 2Tm 3.16,17 ).
Há uma ênfase semelhante no NT. O próprio Jesus, em seus ensinos, suas conversas e discussões, nunca responde a quaisquer perguntas com o intento de acusar as Escrituras do AT de não serem claras. Ao contrário, estivesse ele falando a estudiosos ou a pessoas comuns sem preparo, suas respostas sempre presumem que a acusação de entendimento errôneo de qualquer ensino da Escritura não deve ser colocada sobre a Escritura, mas sobre os que a entendem erroneamente ou que se recusam a aceitar o que está escrito. Repetidamente ele responde a perguntas com afirmações semelhantes a estas: “Vocês não leram...”(Mt 12.3,5; 19.14; 22.31),”Vocês nunca leram isto nas Escrituras?” (Mt 2 1.42), ou mesmo: “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!” (Mt 22.29; v. tb. Mt 9.13; 12.7; 15.3; 21.13; Jo 3.10).
Para que não pensemos que o entendimento da Bíblia era de certo modo mais fácil para os cristãos do primeiro século que para nós, é importante percebermos que em muitos exemplos as cartas do NT foram escritas a igrejas que tinham grandes percentuais de cristãos gentílicos. Eles eram cristãos relativamente novos que não tinham nenhum conhecimento prévio de qualquer espécie de sociedade cristã, e que tinham pouco ou nenhum entendimento anterior da história e da cultura de Israel. Os eventos da vida de Abraão (c. 2000 a.C.) estavam no passado tão distante deles como os eventos do NT estão de nós! Não obstante, os autores do NT não mostraram qualquer hesitação, esperando que mesmo esses cristãos gentios fossem capazes de ler uma tradução do AT em sua língua e de entendê-la corretamente (v.Rm 4.1-25; 15.4; lCo 10.1-11; 2Tm 3.16,17 ).
2. As
qualidades morais e espirituais necessárias para o entendimento correto.
Os
escritores do NT muitas vezes afirmam que a capacidade de entender a Escritura
corretamente é mais uma capacidade moral e espiritual que intelectual: “Quem
não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe
são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas
espiritualmente” (1 Co 2.14; cf. 1.18—3.4; 2Co 3.14-16; 4.3,4,6; Hb 5.14; Tg
1.5,6; 2Pe 3.5; cf. Mc 4.11,12; Jo 7.17; 8.43). Assim, embora os autores do NT
afirmem que a Bíblia em si mesma seja escrita com clareza, eles também afirmam
que ela não será entendida corretamente por aqueles que não estão desejosos de
receber seus ensinos. A Escritura é capaz de ser entendida por todos os
descrentes que vão lê-la sinceramente buscando salvação e pelos crentes que a
lerão procurando a ajuda de Deus para entendê-la. Isso acontece porque, em
ambos os casos, o Espírito Santo opera vencendo os efeitos do pecado, que de
outra forma fariam a verdade parecer tolice (lCo 1.18-25; 2.14; Tg
1.5,6,22-25).
3.
Definição de clareza da Escritura.
A fim de
resumir esse material bíblico, podemos afirmar que a Bíblia foi escrita de tal
modo que todas as coisas necessárias para a salvação e para nossa vida cristã e
nosso crescimento são muito claramente demonstradas na Escritura. Embora certos
teólogos já tenham definido a clareza da Escritura de modo mais estrito
(dizendo, por exemplo, que ela é clara somente no ensino do caminho da
salvação), os textos citados anteriormente aplicam—se a muitos aspectos
diferentes do ensino bíblico e não parecem dar apoio a tal limitação às áreas
em que se considera que ela fala claramente. Parece mais fiel aos textos
bíblicos citados definir a clareza da Escritura do seguinte modo: A clareza da Escritura
significa que a Bíblia foi escrita de tal modo que seus ensinos são passíveis
de ser entendidos por todos que a lêem procurando pela ajuda de Deus e que
estão desejosos de recebê-la. Uma vez que afirmemos isso, contudo, devemos
também reconhecer que muitas pessoas, mesmo as do povo de Deus, ainda
compreendem erroneamente a Escritura.
4. Por
que as pessoas compreendem erroneamente a Escritura?
Durante o
tempo do ministério de Jesus, os próprios discípulos às vezes falharam no
entendimento do AT e até de seus ensinos (v. Mt 15.16; Mc 4.10-13; 6.52;
8.14-21; 9.32; Lc 18.34; Jo 8.27; 10.6). Embora isso algumas vezes se deva ao
fato de que eles simplesmente precisavam esperar por eventos adicionais na
história da redenção, e especialmente na vida do próprio Cristo (v. Jo 12.16;
13.7; cf. Jo 2.22), houve também ocasiões em que isso aconteceu devido à
própria falta de fé deles ou à sua dureza de coração (Lc 24.25). Além disso,
houve momentos na igreja primitiva quando os cristãos não entenderam ou não
concordaram com os ensinos do AT ou a respeito das cartas escritas pelos
apóstolos: observe o processo de crescimento em entendimento quanto às
implicações da inclusão dos gentios na igreja (culminando em “muita discussão”
[At 15.7] no Concílio de Jerusalém em Atos 15), e observe o entendimento
errôneo que Pedro teve desse assunto em Gálatas 2.11-15. De fato, no decorrer
de toda a história da igreja, as discordâncias doutrinárias têm sido muitas, e
o progresso na resolução dessas diferenças doutrinárias foi muitas vezes lento.
A fim de ajudar as pessoas a evitar erros na interpretação da Escritura, muitos professores de Bíblia têm desenvolvido “princípios de interpretação”, ou orientações para encorajar o crescimento na habilidade de interpretar a Escritura corretamente. A palavra hermenêutica (do grego hermeneuõ, “interpretar”) é o termo mais técnico para esse campo de estudo: Hermenêutica é o estudo dos métodos corretos de interpretação (especialmente a interpretação da Escritura).
Outro termo técnico muitas vezes usado nas discussões sobre a interpretação bíblica é exegese, termo que se refere mais à prática real de interpretar a Escritura, não às teorias e princípios a respeito de como isso deveria ser feito: Exegese é o processo de interpretar o texto da Escritura. Conseqüentemente, quando alguém estuda os princípios de interpretação, isso é chamado “hermenêutica”, mas quando a pessoa aplica esses princípios e começa realmente a explicar o texto bíblico, ele está fazendo “exegese”.
A existência de muitas discordâncias a respeito do significado da Escritura no decorrer de toda a história nos lembra que a doutrina da clareza da Escritura não implica ou sugere que todos os crentes haverão de concordar em todos os ensinos da Escritura. Não obstante, ela nos diz algo muito importante — que o problema sempre repousa não na Escritura, mas em nós mesmos. Afirmamos que todos os ensinos da Escritura são claros e passíveis de ser entendidos, mas também reconhecemos que as pessoas muitas vezes (por causa de seus defeitos) entendem erroneamente o que está claramente escrito na Escritura.
A fim de ajudar as pessoas a evitar erros na interpretação da Escritura, muitos professores de Bíblia têm desenvolvido “princípios de interpretação”, ou orientações para encorajar o crescimento na habilidade de interpretar a Escritura corretamente. A palavra hermenêutica (do grego hermeneuõ, “interpretar”) é o termo mais técnico para esse campo de estudo: Hermenêutica é o estudo dos métodos corretos de interpretação (especialmente a interpretação da Escritura).
Outro termo técnico muitas vezes usado nas discussões sobre a interpretação bíblica é exegese, termo que se refere mais à prática real de interpretar a Escritura, não às teorias e princípios a respeito de como isso deveria ser feito: Exegese é o processo de interpretar o texto da Escritura. Conseqüentemente, quando alguém estuda os princípios de interpretação, isso é chamado “hermenêutica”, mas quando a pessoa aplica esses princípios e começa realmente a explicar o texto bíblico, ele está fazendo “exegese”.
A existência de muitas discordâncias a respeito do significado da Escritura no decorrer de toda a história nos lembra que a doutrina da clareza da Escritura não implica ou sugere que todos os crentes haverão de concordar em todos os ensinos da Escritura. Não obstante, ela nos diz algo muito importante — que o problema sempre repousa não na Escritura, mas em nós mesmos. Afirmamos que todos os ensinos da Escritura são claros e passíveis de ser entendidos, mas também reconhecemos que as pessoas muitas vezes (por causa de seus defeitos) entendem erroneamente o que está claramente escrito na Escritura.
Portanto,
à medida que as pessoas crescem na vida cristã, adquirindo mais conhecimento da
Escritura conforme gastam tempo estudando-a, haverão de entendê-la melhor. A
doutrina da clareza da Escritura diz que a Escritura é passível de ser
entendida, não que todos a entenderão igualmente.
5.
Encorajamento prático dessa doutrina.
A
doutrina da clareza da Escritura tem uma implicação prática muito importante e
extremamente encorajadora. Ela nos diz que onde há áreas de discordância
doutrinária ou ética (por exemplo, sobre o batismo, predestinação ou governo da
igreja), há somente duas causas possíveis de discordância: 1) De um lado, pode
ser que estejamos procurando fazer afirmações onde a Escritura silencia. Em
tais casos, devemos estar mais preparados para admitir que Deus não tem dado
resposta à nossa investigação e permitir que haja diferentes perspectivas
dentro da igreja. (Esse muitas vezes é o caso com respeito a diversas questões
práticas, como métodos de evangelização, estilos de ensino bíblico ou tamanho
apropriado de igreja). 2) De outro lado, é possível que tenhamos cometido erros
em nossa interpretação da Escritura. Isso pode ter acontecido porque os dados
que usamos para decidir uma questão de interpretação foram inexatos ou
incompletos. Ou isso se deve a algumas insuficiências pessoais de nossa parte,
como orgulho pessoal, avidez, falta de fé, egoísmo, ou mesmo falha em dedicar
tempo suficiente à leitura e estudo da Escritura acompanhados de oração.
Mas em
nenhum caso somos livres para dizer que o ensino da Bíblia sobre qualquer
assunto seja confuso ou não seja passível de ser entendido corretamente. Em
nenhum caso devemos pensar que as discordâncias persistentes sobre algum
assunto no decorrer da história da igreja signifiquem que não sejamos capazes
de chegar à conclusão correta sobre a questão. Antes, se a preocupação genuína
a respeito de tal assunto surge em nossa vida, devemos sinceramente buscar a
ajuda de Deus e, então, ir à Escritura, pesquisando com toda a nossa aptidão,
crendo que Deus irá nos capacitar para termos o entendimento correto.
6. O
papel dos estudiosos.
Existe
algum papel a ser desempenhado pelos estudiosos da Bíblia ou por aqueles com
conhecimento especializado em hebraico (para o AT) e em grego (para o NT)?
Certamente há uma função para eles em ao menos quatro áreas.
Primeiro,
eles podem ensinar a Escritura com muita clareza, comunicando o seu conteúdo a
outros, e assim cumprem o ofício de ”mestre”, que é mencionado no NT (lCo
12.28; Ef 4.11).
Segundo,
eles podem explorar novas áreas para o entendimento dos ensinos da Escritura.
Essa exploração raramente envolverá a negação dos principais ensinos que a
igreja tem sustentado através dos séculos; muitas vezes, no entanto, envolverá
a aplicação da Escritura a novas áreas da vida, em resposta às questões
difíceis que têm sido levantadas tanto por crentes como por não-crentes em cada
novo período da história, bem como a contínua atividade de refinar e tornar
mais preciso o entendimento da igreja dos pontos detalhados de interpretação de
versículos isolados ou de assuntos de doutrina ou de ética.
Terceiro,
eles podem defender os ensinos da Bíblia contra os ataques de outros estudiosos
ou daqueles com treinamento técnico especializado. O papel de ensino da Palavra
de Deus às vezes envolve a correção de falsos ensinos. Uma pessoa deve ser
capaz não somente de “encorajar outros pela sã doutrina”, mas também de
“refutar os que se opõem a ela” (Tt 1.9; 2Tm 2.25: “Deve corrigir com mansidão
os que se lhe opõem...”; e Tt 2.7,8). Algumas vezes, os que atacam os ensinos
bíblicos têm treinamento especializado e conhecimento técnico em estudos
históricos, lingüísticos ou filosóficos e usam esse preparo para montar ataques
sofisticados contra o ensino da Escritura. Em tais casos, os crentes com
habilidades especializadas semelhantes podem usar seu preparo para entender e
responder a tais ataques.
Em última
análise, eles podem suplementar o estudo da Escritura para o benefício da
igreja. Estudiosos da Bíblia muitas vezes têm o preparo que os capacitará a
relacionar os ensinos da Escritura à rica história da igreja e a tornar a
interpretação da Escritura mais precisa, bem como o seu significado mais
vívido, relacionado ao conhecimento maior das línguas e culturas nas quais a
Bíblia foi escrita.
Essas quatro funções beneficiam a igreja como um todo, e todos os crentes devem ser agradecidos por aqueles que as realizam. Contudo, essas funções não incluem o direito de decidir pela igreja como um todo qual é a verdadeira ou falsa doutrina, ou qual é a conduta adequada para uma situação difícil. Se tal direito de preservação fosse dos estudiosos da Bíblia formalmente treinados, então eles se tornariam a elite governante na igreja, e o funcionamento ordinário do governo da igreja, como descrito no NT, cessaria de existir. O processo de tomar decisões pela igreja deve ser deixado aos oficiais da igrejas, sejam eles estudiosos ou não (e, nas igrejas onde há a forma congregacional de governo, não somente aos oficiais, mas também às pessoas da igreja como um todo).
Essas quatro funções beneficiam a igreja como um todo, e todos os crentes devem ser agradecidos por aqueles que as realizam. Contudo, essas funções não incluem o direito de decidir pela igreja como um todo qual é a verdadeira ou falsa doutrina, ou qual é a conduta adequada para uma situação difícil. Se tal direito de preservação fosse dos estudiosos da Bíblia formalmente treinados, então eles se tornariam a elite governante na igreja, e o funcionamento ordinário do governo da igreja, como descrito no NT, cessaria de existir. O processo de tomar decisões pela igreja deve ser deixado aos oficiais da igrejas, sejam eles estudiosos ou não (e, nas igrejas onde há a forma congregacional de governo, não somente aos oficiais, mas também às pessoas da igreja como um todo).
B.
A necessidade da Escritura
A
necessidade da Escritura pode ser definida do seguinte modo: A necessidade da
Escritura significa que a Bíblia é necessária para o conhecimento do evangelho,
para a manutenção da vida espiritual e para certo conhecimento da vontade de
Deus, mas não é necessária para saber que Deus existe ou para saber algo a
respeito do caráter de Deus e das leis morais.
Essa definição pode agora ser explicada em suas várias partes.
Essa definição pode agora ser explicada em suas várias partes.
1. A
Bíblia é necessária para o conhecimento do evangelho.
Em
Romanos 10.13,14,17, Paulo diz: “...porque ‘todo aquele que invocar o nome do
Senhor será salvo’. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como
crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem
pregue? [...] Conseqüentemente, a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem
é ouvida mediante a palavra de Cristo”.
Essa afirmação indica a seguinte linha de raciocínio: 1) Ela presume que a pessoa deve invocar o nome do Senhor a fim de ser salva. (No uso paulino em geral, assim como no contexto específico [cf.v.9],”Senhor”refere-se ao Senhor Jesus Cristo.) 2)As pessoas só podem invocar o nome de Cristo se crêem nele (isto é, aquele que é o Salvador digno de ser invocado, que responderá aos que o invocam). 3) As pessoas não podem crer em Cristo a menos que tenham ouvido a respeito dele. 4) Elas não podem ouvir de Cristo a menos que haja alguém que lhes fale a respeito de Cristo (um “pregador”). 5) A conclusão é que a fé salvadora vem pelo ouvir — isto é, por ouvir a mensagem do evangelho — e ouvir a mensagem do evangelho vem por meio da pregação de Cristo. A conclusão parece ser que, sem ouvir a pregação do evangelho de Cristo, ninguém pode ser salvo.
Essa passagem é uma das diversas que mostra que a salvação eterna vem somente por meio da fé em Jesus Cristo, e não de Outro modo. Falando de Cristo, João 3.18 diz: “Quem nele crê não e condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus”. De modo semelhante, em João 14.6, Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”.’
Mas se as pessoas podem ser salvas somente por meio da fé em Cristo, alguém poderia perguntar como os crentes da antiga aliança podiam ser salvos. A resposta deve ser que os que foram salvos sob a antiga aliança foram salvos por meio da confiança em Cristo, embora sua fé fosse um “olhar adiante” baseado na palavra da promessa de Deus de que o Messias ou o Redentor haveria de vir. Falando dos crentes do AT como Abel, Enoque, Noé, Abraão e Sara, o autor de Hebreus diz: “Todos estes vive ram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-no de longe...” (Hb 11.13). E Jesus pôde dizer de Abraão: “Abraão, pai de vocês, regozijou-se porque veria o meu dia; ele o viu e alegrou-se” (Jo 8.56). Isso se refere certamente à alegria de Abraão em olhar em direção ao dia do Messias prometido. Assim, mesmo os crentes do AT possuíam fé salvadora em Cristo, para quem eles olharam, não com o conhecimento exato dos detalhes históricos da vida de Cristo, mas com grande fé na absoluta confiabilidade da palavra da promessa de Deus.
A Bíblia é necessária para a salvação, portanto, neste sentido: uma pessoa deve ler a mensagem do evangelho da Bíblia por si própria ou ouvi-la de outra pessoa. Mesmo os crentes que alcançaram a salvação na antiga aliança obtiveram-na quando confiaram nas palavras de Deus que prometiam o Salvador que estava para vir.
Há outras idéias que diferem deste ensino bíblico. O inclusivismo é o pensamento de que as pessoas podem ser salvas pela obra de Cristo sem conhecer nada a respeito dele e sem confiar nele, mas simplesmente por seguirem sinceramente a religião que conhecem. Os inclusivistas freqüentemente falam a respeito de “muitos caminhos diferentes para Deus” mesmo que enfatizem que eles pessoalmente crêem em Cristo. O universalismo é o pensamento de que todas as pessoas, em última instância, serão salvas. O pensamento sustentado neste capítulo de que as pessoas não podem ser salvas sem conhecer a respeito de Cristo e da confiança nele é por vezes chamado exclusivismo (embora a palavra em si mesma não seja feliz, por sugerir um desejo excluir outros e, desse modo, falhe em transmitir o tema do alcance missionário, tão forte no NT).
Essa afirmação indica a seguinte linha de raciocínio: 1) Ela presume que a pessoa deve invocar o nome do Senhor a fim de ser salva. (No uso paulino em geral, assim como no contexto específico [cf.v.9],”Senhor”refere-se ao Senhor Jesus Cristo.) 2)As pessoas só podem invocar o nome de Cristo se crêem nele (isto é, aquele que é o Salvador digno de ser invocado, que responderá aos que o invocam). 3) As pessoas não podem crer em Cristo a menos que tenham ouvido a respeito dele. 4) Elas não podem ouvir de Cristo a menos que haja alguém que lhes fale a respeito de Cristo (um “pregador”). 5) A conclusão é que a fé salvadora vem pelo ouvir — isto é, por ouvir a mensagem do evangelho — e ouvir a mensagem do evangelho vem por meio da pregação de Cristo. A conclusão parece ser que, sem ouvir a pregação do evangelho de Cristo, ninguém pode ser salvo.
Essa passagem é uma das diversas que mostra que a salvação eterna vem somente por meio da fé em Jesus Cristo, e não de Outro modo. Falando de Cristo, João 3.18 diz: “Quem nele crê não e condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus”. De modo semelhante, em João 14.6, Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”.’
Mas se as pessoas podem ser salvas somente por meio da fé em Cristo, alguém poderia perguntar como os crentes da antiga aliança podiam ser salvos. A resposta deve ser que os que foram salvos sob a antiga aliança foram salvos por meio da confiança em Cristo, embora sua fé fosse um “olhar adiante” baseado na palavra da promessa de Deus de que o Messias ou o Redentor haveria de vir. Falando dos crentes do AT como Abel, Enoque, Noé, Abraão e Sara, o autor de Hebreus diz: “Todos estes vive ram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-no de longe...” (Hb 11.13). E Jesus pôde dizer de Abraão: “Abraão, pai de vocês, regozijou-se porque veria o meu dia; ele o viu e alegrou-se” (Jo 8.56). Isso se refere certamente à alegria de Abraão em olhar em direção ao dia do Messias prometido. Assim, mesmo os crentes do AT possuíam fé salvadora em Cristo, para quem eles olharam, não com o conhecimento exato dos detalhes históricos da vida de Cristo, mas com grande fé na absoluta confiabilidade da palavra da promessa de Deus.
A Bíblia é necessária para a salvação, portanto, neste sentido: uma pessoa deve ler a mensagem do evangelho da Bíblia por si própria ou ouvi-la de outra pessoa. Mesmo os crentes que alcançaram a salvação na antiga aliança obtiveram-na quando confiaram nas palavras de Deus que prometiam o Salvador que estava para vir.
Há outras idéias que diferem deste ensino bíblico. O inclusivismo é o pensamento de que as pessoas podem ser salvas pela obra de Cristo sem conhecer nada a respeito dele e sem confiar nele, mas simplesmente por seguirem sinceramente a religião que conhecem. Os inclusivistas freqüentemente falam a respeito de “muitos caminhos diferentes para Deus” mesmo que enfatizem que eles pessoalmente crêem em Cristo. O universalismo é o pensamento de que todas as pessoas, em última instância, serão salvas. O pensamento sustentado neste capítulo de que as pessoas não podem ser salvas sem conhecer a respeito de Cristo e da confiança nele é por vezes chamado exclusivismo (embora a palavra em si mesma não seja feliz, por sugerir um desejo excluir outros e, desse modo, falhe em transmitir o tema do alcance missionário, tão forte no NT).
2. A
Bíblia é necessária para a manutenção da vida espiritual.
Jesus diz
em Mateus 4.4 (citando Dt 8.3) que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda
palavra que procede da boca de Deus”. Aqui Jesus indica que nossa vida espiritual
é mantida pela nutrição diária com a Palavra de Deus, exatamente como nossa
vida física é mantida pela nutrição diária com comida física. Negligenciar a
leitura regular da Palavra de Deus é prejudicial para a saúde de nossa alma,
como negligenciar a comida física é prejudicial para a saúde de nosso corpo.
3. A
Bíblia é necessária para o conhecimento seguro da vontade de Deus.
Será
argumentado adiante que todas as pessoas nascidas possuem algum conhecimento da
vontade de Deus por meio de sua consciência. Mas esse conhecimento é muitas
vezes indistinto e não pode comunicar certeza. De fato, se não houvesse nenhuma
Palavra de Deus escrita, não poderíamos nunca adquirir certeza a respeito da
vontade de Deus por outros meios, como o conselho de outros, o testemunho
interno do Espírito Santo, circunstâncias mudadas e o uso do raciocínio
santificado e do senso comum. Esses meios todos poderiam dar uma aproximação da
vontade de Deus de modo mais ou menos confiável, mas somente por intermédio
deles nenhuma certeza da vontade de Deus poderia ser obtida, ao menos no mundo
decaído onde o pecado distorce a nossa percepção do que é certo e do que é
errado, conduz ao raciocínio errôneo em nosso processo de pensamento e suprime
de vez em quando o testemunho de nossa consciência (cf. Jr 17.9; Rm 2.14,15;
lCo 8.10; Hb 5.14; 10.22; v. tb. lTm 4.2; Tt 1.15).
Na Bíblia, contudo, temos afirmações claras e definidas a respeito da vontade de Deus. Deus não nos revelou todas as cosias, mas nos revelou o suficiente para sabermos sua vontade: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29). Como foi no tempo de Moisés, assim é conosco hoje: Deus nos revelou suas palavras a fim de que pudéssemos obedecer a suas leis e, desse modo, fazer sua vontade. Ser “irrepreensível” à vista de Deus é viver “conforme a lei do SENHOR” (Sl 119.1). O homem “feliz” é aquele que não segue o conselho dos ímpios (S1 1.1), mas “sua satisfação está na lei do SENHOR” (Sl 1.2). Amar a Deus (e, assim, agir de modo que o agrade) é “obedecer aos seus mandamentos” (1Jo 5.3). Se podemos ter certo conhecimento da vontade de Deus, devemos obtê-lo mediante o estudo da Escritura.
De fato, em certo sentido pode ser argumentado que a Bíblia é necessária para se obter algum conhecimento a respeito de qualquer coisa. Um filósofo poderia argumentar da seguinte maneira:
O fato de que não conhecemos tudo requer de nós que estejamos incertos a respeito de cada coisa que afirmamos conhecer. Isso é assim porque algo que desconhecemos pode ainda surgir para provar que o que pensamos ser verdadeiro é realmente falso. Contudo, Deus conhece todos os fatos que aconteceram ou acontecerão. E este Deus, que nunca mente, falou-nos na Escritura, na qual ele nos declara muitas coisas a respeito de si mesmo, de nós próprios e do universo que criou. Nenhum fato pode jamais surgir para contradizer a verdade falada por Aquele que é onisciente.
Assim, é apropriado para nós estar mais seguros a respeito das verdades que lemos na Escritura do que sobre qualquer outro conhecimento que temos. Se fôssemos falar a respeito de graus de certeza de conhecimento que temos, então o conhecimento que obtemos da Escritura teria o mais alto grau de certeza. Se a palavra certo pode ser aplicada a qualquer espécie de conhecimento humano, ela pode ser aplicada a este conhecimento. Os cristãos que sustentam a Bíblia como Palavra de Deus livram-se do ceticismo filosófico a respeito da possibilidade de obter conhecimento seguro com nossa mente finita. Nesse sentido, então, é correto dizer que, para pessoas que não são oniscientes, a Bíblia é necessária para o conhecimento seguro a respeito de tudo.
Na Bíblia, contudo, temos afirmações claras e definidas a respeito da vontade de Deus. Deus não nos revelou todas as cosias, mas nos revelou o suficiente para sabermos sua vontade: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29). Como foi no tempo de Moisés, assim é conosco hoje: Deus nos revelou suas palavras a fim de que pudéssemos obedecer a suas leis e, desse modo, fazer sua vontade. Ser “irrepreensível” à vista de Deus é viver “conforme a lei do SENHOR” (Sl 119.1). O homem “feliz” é aquele que não segue o conselho dos ímpios (S1 1.1), mas “sua satisfação está na lei do SENHOR” (Sl 1.2). Amar a Deus (e, assim, agir de modo que o agrade) é “obedecer aos seus mandamentos” (1Jo 5.3). Se podemos ter certo conhecimento da vontade de Deus, devemos obtê-lo mediante o estudo da Escritura.
De fato, em certo sentido pode ser argumentado que a Bíblia é necessária para se obter algum conhecimento a respeito de qualquer coisa. Um filósofo poderia argumentar da seguinte maneira:
O fato de que não conhecemos tudo requer de nós que estejamos incertos a respeito de cada coisa que afirmamos conhecer. Isso é assim porque algo que desconhecemos pode ainda surgir para provar que o que pensamos ser verdadeiro é realmente falso. Contudo, Deus conhece todos os fatos que aconteceram ou acontecerão. E este Deus, que nunca mente, falou-nos na Escritura, na qual ele nos declara muitas coisas a respeito de si mesmo, de nós próprios e do universo que criou. Nenhum fato pode jamais surgir para contradizer a verdade falada por Aquele que é onisciente.
Assim, é apropriado para nós estar mais seguros a respeito das verdades que lemos na Escritura do que sobre qualquer outro conhecimento que temos. Se fôssemos falar a respeito de graus de certeza de conhecimento que temos, então o conhecimento que obtemos da Escritura teria o mais alto grau de certeza. Se a palavra certo pode ser aplicada a qualquer espécie de conhecimento humano, ela pode ser aplicada a este conhecimento. Os cristãos que sustentam a Bíblia como Palavra de Deus livram-se do ceticismo filosófico a respeito da possibilidade de obter conhecimento seguro com nossa mente finita. Nesse sentido, então, é correto dizer que, para pessoas que não são oniscientes, a Bíblia é necessária para o conhecimento seguro a respeito de tudo.
4. Mas a
Bíblia não é necessária para se saber que Deus existe ou para saber algo a
respeito do caráter de Deus e das leis morais.
Que dizer
de pessoas que não lêem a Bíblia? Elas podem obter algum conhecimento de Deus?
Elas podem conhecer certas coisas a respeito de suas leis? Sim, é possível
algum conhecimento de Deus sem a Bíblia, mesmo que não seja um conhecimento
seguro.
a. A
revelação geral e a revelação especial. As pessoas podem obter o conhecimento
de que Deus existe e de alguns de seus atributos simplesmente por observar a si
mesmas e ao mundo que as rodeia. Davi diz: “Os céus declaram a glória de Deus;
o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl 19.1). Olhar para o céu
significa ver a evidência do infinito poder, sabedoria e mesmo beleza de Deus;
significa observar o testemunho majestoso da glória de Deus.
Mesmo aqueles que, por sua impiedade, suprimem a verdade, não podem evitar as evidências da existência e da natureza de Deus na ordem da criação:
Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se Rm 1.19-21).
Aqui Paulo não diz somente que a criação dá evidência da existência e do caráter de Deus, mas também que mesmo os ímpios reconhecem essa evidência. O que pode ser conhecido a respeito de Deus “é manifesto entre eles”, e realmente eles conheceram Deus (ao que parece, eles conheceram quem ele era), mas “não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças”. Essa passagem nos permite dizer que todas as pessoas, mesmo as mais ímpias, possuem algum conhecimento interno ou percepção de que Deus existe e que ele é o Criador poderoso. Esse conhecimento é visto “por meio das coisas criadas”, expressão que se refere a toda a criação, incluindo a raça humana.
Paulo continua a mostrar em Romanos 1 que mesmo os descrentes que não possuem nenhum registro escrito das leis de Deus ainda têm em suas consciências algum entendimento das exigências morais de Deus. Falando de uma longa lista de pecados (“inveja, homicídio, rivalidades, engano...”), Paulo diz dos ímpios que os praticam: “Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam” (Rm 1.32). Os ímpios sabem que seus pecados são errados, ao menos em grande medida.
Paulo fala então a respeito da atividade da consciência nos gentios que não possuem a lei escrita: “De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Rm 2.14,15).
A consciência dos descrentes testemunha dos padrões morais de Deus, mas às vezes essa evidência da lei de Deus no coração deles é distorcida ou suprimida. Às vezes seus pensamentos os acusam e às vezes seus pensamentos os defendem, diz Paulo. O conhecimento das leis de Deus derivado de tais fontes nunca é perfeito, mas é suficiente para criar a consciência das exigências morais de Deus para toda a raça humana. (E é com base nisso que Paulo argumenta que toda a humanidade é considerada culpada diante de Deus pelo pecado, mesmo os que não possuem as leis escritas de Deus na Escritura).
O conhecimento da existência, do caráter e da lei moral de Deus, que vem por meio da criação para toda a humanidade, é muitas vezes chamado “revelação geral” (porque ela vem a todas as pessoas).A revelação geral vem por meio da observação da natureza, por meio da percepção da influência direta de Deus na história e por meio do senso interior da existência de Deus e de suas leis que ele colocou dentro de cada pessoa. A revelação geral é distinta da revelação especial, que se refere às palavras de Deus dirigidas a pessoas específicas, como as palavras que estão na Bíblia, as palavras dos profetas do AT e dos apóstolos do NT, e as palavras de Deus faladas diretamente, como aquelas ditas no monte Sinai e no batismo de Jesus.
O fato de que todas as pessoas conhecem alguma coisa das leis morais de Deus é uma grande bênção para a sociedade, pois sem elas não haveria restrição social à prática do mal que as pessoas cometeriam nem refreamento vindo de suas consciências. Porque há algum conhecimento comum do certo e do errado, os cristãos podem muitas vezes estabelecer grande consenso com os não-cristãos em matéria da lei civil, padrões de comunidade, ética básica de negócios e de atividade profissional, além de padrões de conduta aceitáveis na vida cotidiana. O conhecimento da existência e do caráter de Deus também proporciona uma base de informação que capacita o evangelho a fazer sentido para o coração e a mente do não-cristão; os descrentes sabem que Deus existe e que eles quebraram os seus padrões, de modo que as novas de que Cristo morreu para pagar por seus pecados deveriam soar verdadeiramente como boas novas para eles.
Mesmo aqueles que, por sua impiedade, suprimem a verdade, não podem evitar as evidências da existência e da natureza de Deus na ordem da criação:
Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se Rm 1.19-21).
Aqui Paulo não diz somente que a criação dá evidência da existência e do caráter de Deus, mas também que mesmo os ímpios reconhecem essa evidência. O que pode ser conhecido a respeito de Deus “é manifesto entre eles”, e realmente eles conheceram Deus (ao que parece, eles conheceram quem ele era), mas “não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças”. Essa passagem nos permite dizer que todas as pessoas, mesmo as mais ímpias, possuem algum conhecimento interno ou percepção de que Deus existe e que ele é o Criador poderoso. Esse conhecimento é visto “por meio das coisas criadas”, expressão que se refere a toda a criação, incluindo a raça humana.
Paulo continua a mostrar em Romanos 1 que mesmo os descrentes que não possuem nenhum registro escrito das leis de Deus ainda têm em suas consciências algum entendimento das exigências morais de Deus. Falando de uma longa lista de pecados (“inveja, homicídio, rivalidades, engano...”), Paulo diz dos ímpios que os praticam: “Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam” (Rm 1.32). Os ímpios sabem que seus pecados são errados, ao menos em grande medida.
Paulo fala então a respeito da atividade da consciência nos gentios que não possuem a lei escrita: “De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Rm 2.14,15).
A consciência dos descrentes testemunha dos padrões morais de Deus, mas às vezes essa evidência da lei de Deus no coração deles é distorcida ou suprimida. Às vezes seus pensamentos os acusam e às vezes seus pensamentos os defendem, diz Paulo. O conhecimento das leis de Deus derivado de tais fontes nunca é perfeito, mas é suficiente para criar a consciência das exigências morais de Deus para toda a raça humana. (E é com base nisso que Paulo argumenta que toda a humanidade é considerada culpada diante de Deus pelo pecado, mesmo os que não possuem as leis escritas de Deus na Escritura).
O conhecimento da existência, do caráter e da lei moral de Deus, que vem por meio da criação para toda a humanidade, é muitas vezes chamado “revelação geral” (porque ela vem a todas as pessoas).A revelação geral vem por meio da observação da natureza, por meio da percepção da influência direta de Deus na história e por meio do senso interior da existência de Deus e de suas leis que ele colocou dentro de cada pessoa. A revelação geral é distinta da revelação especial, que se refere às palavras de Deus dirigidas a pessoas específicas, como as palavras que estão na Bíblia, as palavras dos profetas do AT e dos apóstolos do NT, e as palavras de Deus faladas diretamente, como aquelas ditas no monte Sinai e no batismo de Jesus.
O fato de que todas as pessoas conhecem alguma coisa das leis morais de Deus é uma grande bênção para a sociedade, pois sem elas não haveria restrição social à prática do mal que as pessoas cometeriam nem refreamento vindo de suas consciências. Porque há algum conhecimento comum do certo e do errado, os cristãos podem muitas vezes estabelecer grande consenso com os não-cristãos em matéria da lei civil, padrões de comunidade, ética básica de negócios e de atividade profissional, além de padrões de conduta aceitáveis na vida cotidiana. O conhecimento da existência e do caráter de Deus também proporciona uma base de informação que capacita o evangelho a fazer sentido para o coração e a mente do não-cristão; os descrentes sabem que Deus existe e que eles quebraram os seus padrões, de modo que as novas de que Cristo morreu para pagar por seus pecados deveriam soar verdadeiramente como boas novas para eles.
b. A
revelação especial é necessária para a salvação. Contudo, deve ser enfatizado
que em nenhum lugar a Escritura indica que as pessoas podem conhecer o
evangelho, ou o caminho da salvação, por meio da revelação geral. Elas podem
saber que Deus existe, que ele as criou, que elas lhe devem obediência e que
elas pecaram contra ele. Mas como a santidade e a justiça de Deus podem ser
conciliadas com o seu desejo de perdoar pecados é um mistério que nunca foi
resolvido por religião alguma à parte da Bíblia. Nem a Bíblia nos dá qualquer
esperança de que tal mistério possa ser desvendado independentemente da
revelação específica de Deus. É uma grande maravilha de nossa redenção que o
próprio Deus tenha providenciado o caminho de salvação por enviar o próprio
Filho, que é tanto Deus como homem, para ser o nosso representante e suportar a
penalidade de nossos pecados, combinando dessa forma a justiça e o amor de Deus
de modo infinitamente sábio e por meio de um ato maravilhosamente gracioso.
Esse fato, que parece lugar-comum aos ouvidos do cristão, não deveria perder o
seu encanto para nós: ele nunca poderia ter sido concebido somente pelo homem
independentemente da revelação verbal e especial de Deus.
C. A
suficiência da Escritura
Podemos
definir a suficiência da Escritura da seguinte maneira: A suficiência da
Escritura significa que a Escritura continha todas as palavras de Deus que ele
pretendeu que seu povo tivesse em cada estágio da história redentora, e que
agora ela contém tudo o que precisamos que Deus nos diga para nossa salvação,
para confiarmos nele perfeitamente e para que lhe obedeçamos perfeitamente.
Essa definição enfatiza o fato de que é na somente Escritura que devemos procurar as palavras de Deus para nós. Ela também nos lembra que Deus considera o que nos tem dito na Bíblia como suficiente para nós e que devemos nos regozijar na grande revelação que ele nos deu, ficando contentes com ela.
A explicação e o apoio bíblico significativos para essa doutrina são encontrados nas palavras de Paulo a Timóteo: “Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).O contexto mostra que “as Sagradas Letras” aqui significam as palavras escritas na Escritura (2Tm 3.16). Isso é a indicação de que as palavras de Deus que temos na Escritura são todas as palavras de Deus de que precisamos a fim de que sejamos salvos; essas palavras são capazes de nos tornar sábios “para a salvação”.
Outras passagens indicam que a Bíblia é suficiente para equipar-nos para viver a vida cristã. Em Salmos 119.1 afirma-se: “Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que vivem conforme a lei do SENHOR!”. Esse versículo mostra a equivalência entre ser irrepreensível e “viver conforme a lei do SENHoR”; os irrepreensíveis são os que andam na lei do Senhor. Aqui temos a indicação de que tudo o que Deus requer de nós está registrado na Palavra escrita. Simplesmente fazer tudo o que a Bíblia ordena é ser irrepreensível à vista de Deus. Mais tarde lemos que um jovem pode “manter pura a sua conduta”. Como? “Vivendo de acordo com a tua palavra” (Sl 119.9). Paulo diz que Deus deu a Escritura a fim de que o homem de Deus fosse “plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.17).
Essa definição enfatiza o fato de que é na somente Escritura que devemos procurar as palavras de Deus para nós. Ela também nos lembra que Deus considera o que nos tem dito na Bíblia como suficiente para nós e que devemos nos regozijar na grande revelação que ele nos deu, ficando contentes com ela.
A explicação e o apoio bíblico significativos para essa doutrina são encontrados nas palavras de Paulo a Timóteo: “Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).O contexto mostra que “as Sagradas Letras” aqui significam as palavras escritas na Escritura (2Tm 3.16). Isso é a indicação de que as palavras de Deus que temos na Escritura são todas as palavras de Deus de que precisamos a fim de que sejamos salvos; essas palavras são capazes de nos tornar sábios “para a salvação”.
Outras passagens indicam que a Bíblia é suficiente para equipar-nos para viver a vida cristã. Em Salmos 119.1 afirma-se: “Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que vivem conforme a lei do SENHOR!”. Esse versículo mostra a equivalência entre ser irrepreensível e “viver conforme a lei do SENHoR”; os irrepreensíveis são os que andam na lei do Senhor. Aqui temos a indicação de que tudo o que Deus requer de nós está registrado na Palavra escrita. Simplesmente fazer tudo o que a Bíblia ordena é ser irrepreensível à vista de Deus. Mais tarde lemos que um jovem pode “manter pura a sua conduta”. Como? “Vivendo de acordo com a tua palavra” (Sl 119.9). Paulo diz que Deus deu a Escritura a fim de que o homem de Deus fosse “plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.17).
1.
Encontramos tudo o que Deus disse sobre tópicos específicos e podemos encontrar
respostas às nossas perguntas.
Naturalmente,
percebemos que nunca obedeceremos perfeitamente a toda a Escritura nesta vida
(v. Tg 3.2; lJo 1.8-10). Assim, à primeira vista pode não parecer muito
importante dizer que tudo o que temos de fazer é o que Deus nos ordena na
Bíblia, visto que nunca seremos capazes de obedecer a ela em todas as coisas,
de qualquer forma. Mas a verdade da suficiência da Escritura é de grande
importância para nossa vida cristã, porque ela nos capacita a concentrar nossa
busca das palavras de Deus para nós somente na Bíblia e nos livra da tarefa
infindável de pesquisar em todas os escritos dos cristãos por meio de toda a
história, ou nos ensinos da igreja, ou em todas as sensações e impressões
subjetivas que vêm à nossa mente dia após dia, a fim de saber o que Deus requer
de nós. De modo muito prático, isso significa que somos capazes de chegar a
conclusões claras sobre muitos ensinos da Escritura.
Essa doutrina significa, além disso, que é possível coletar todas as passagens que dizem respeito diretamente a questões doutrinárias como a expiação, ou a pessoa de Cristo, ou a obra do Espírito Santo na vida dos crentes hoje. Nessas e em centenas de outras questões morais ou doutrinárias, o ensino bíblico a respeito da suficiência da Escritura dá-nos confiança de que nós seremos capazes de saber o que Deus requer que pensemos ou façamos nessas áreas. Em muitas dessas áreas podemos obter certeza de que nós, juntamente com a grande maioria da igreja no decorrer da história, encontramos de maneira corretamente formulada tudo o que Deus quer que pensemos ou façamos. Afirmada de modo simples, a doutrina da suficiência da Escritura nos diz que é possível estudar teologia sistemática e ética e encontrar nelas respostas às nossas perguntas.
Essa doutrina significa, além disso, que é possível coletar todas as passagens que dizem respeito diretamente a questões doutrinárias como a expiação, ou a pessoa de Cristo, ou a obra do Espírito Santo na vida dos crentes hoje. Nessas e em centenas de outras questões morais ou doutrinárias, o ensino bíblico a respeito da suficiência da Escritura dá-nos confiança de que nós seremos capazes de saber o que Deus requer que pensemos ou façamos nessas áreas. Em muitas dessas áreas podemos obter certeza de que nós, juntamente com a grande maioria da igreja no decorrer da história, encontramos de maneira corretamente formulada tudo o que Deus quer que pensemos ou façamos. Afirmada de modo simples, a doutrina da suficiência da Escritura nos diz que é possível estudar teologia sistemática e ética e encontrar nelas respostas às nossas perguntas.
2. A
quantidade de Escritura dada foi suficiente em cada estágio da história
redentora.
A
doutrina da suficiência da Escritura não implica simplesmente que Deus não pode
mais acrescentar palavras às que ele já falou ao seu povo. Ao contrário, a
doutrina implica que os seres humanos não podem acrescentar, por iniciativa
própria, quaisquer palavras às que Deus já falou. Além disso, ela sugere que de
fato Deus não falou à raça humana outras palavras mais, em relação às quais ele
requeira crença ou obediência, além das que temos na Bíblia.
Esse ponto é importante, porque nos ajuda a entender como Deus poderia dizer a seu povo que suas palavras lhes eram suficientes em muitos pontos diferentes na história da redenção e como ele poderia, não obstante, acrescer outras palavras posteriormente. Por exemplo, em Deuteronómio 29.29 Moisés diz que “as coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei”.
Esse versículo nos lembra que Deus sempre tomou a iniciativa de revelar coisas a nós. Ele decidiu o que revelar e o que não revelar. Em cada estágio da história da redenção, as coisas que Deus revelou foram para o seu povo para aquela época, e eles deviam estudá-las, crer nelas e obedece-las. Com o progresso posterior da história da redenção, mais palavras de Deus foram acrescentadas, registrando e interpretando aquela história.
Esse ponto é importante, porque nos ajuda a entender como Deus poderia dizer a seu povo que suas palavras lhes eram suficientes em muitos pontos diferentes na história da redenção e como ele poderia, não obstante, acrescer outras palavras posteriormente. Por exemplo, em Deuteronómio 29.29 Moisés diz que “as coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei”.
Esse versículo nos lembra que Deus sempre tomou a iniciativa de revelar coisas a nós. Ele decidiu o que revelar e o que não revelar. Em cada estágio da história da redenção, as coisas que Deus revelou foram para o seu povo para aquela época, e eles deviam estudá-las, crer nelas e obedece-las. Com o progresso posterior da história da redenção, mais palavras de Deus foram acrescentadas, registrando e interpretando aquela história.
3.
Aplicações práticas da suficiência da Escritura.
A
doutrina da suficiência da Escritura tem diversas aplicações práticas para
nossa vida cristã. A lista seguinte tem a intenção de ser útil, mas não é
completa.
a.
Encorajamento para buscar respostas na Bíblia. A suficiência da Escritura
deveria nos encorajar a tentar descobrir o que Deus queria que pensássemos (a
respeito de uma questão doutrinária específica) e que fizéssemos (em certa
situação específica). Devemos ser encorajados a encontrar na Escritura tudo o
que Deus quer nos dizer a respeito de determinado assunto. Isso não quer dizer
que a Bíblia tem resposta para todas as perguntas que possamos imaginar, porque
“as coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus” (Dt 29.29). Mas
significa que, quando enfrentamos um problema de importância genuína para a
vida cristã, podemos abordar a Escritura com a certeza de que nela Deus proverá
orientação para esse nosso problema.
Haverá ocasiões, naturalmente, em que a resposta que procuramos para nossas perguntas não estará mencionada diretamente na Escritura. (Seria o caso, por exemplo, de tentar encontrar na Escritura que tipo de adoração devemos usar nos cultos dominicais, ou se é melhor ajoelhar ou permanecer em pé quando oramos, ou em que horário devemos tomar nossas refeições durante o dia, e assim por diante.) Nesses casos, podemos concluir que Deus não exigiu que pensássemos ou agíssemos de determinado modo com respeito a essas questões (exceto, talvez, em termos de princípios gerais com respeito a nossas atitudes e metas). Mas, em muitos outros casos, encontraremos orientação direta e clara do Senhor para equipar-nos para “toda boa obra” (2Tm 3.17).
Haverá ocasiões, naturalmente, em que a resposta que procuramos para nossas perguntas não estará mencionada diretamente na Escritura. (Seria o caso, por exemplo, de tentar encontrar na Escritura que tipo de adoração devemos usar nos cultos dominicais, ou se é melhor ajoelhar ou permanecer em pé quando oramos, ou em que horário devemos tomar nossas refeições durante o dia, e assim por diante.) Nesses casos, podemos concluir que Deus não exigiu que pensássemos ou agíssemos de determinado modo com respeito a essas questões (exceto, talvez, em termos de princípios gerais com respeito a nossas atitudes e metas). Mas, em muitos outros casos, encontraremos orientação direta e clara do Senhor para equipar-nos para “toda boa obra” (2Tm 3.17).
b.
Advertência para não acrescentar nada à Escritura.
A suficiência da Escritura lembra-nos que não devemos acrescentar nada à Escritura e que não devemos considerar nenhum outro livro que seja de igual valor ao da Escritura. Esse princípio tem sido violado pela maioria de todas as seitas. Os mórmons, por exemplo, dizem crer na Bíblia, mas também dizem crer na autoridade divina do Livro de Mórmon. Semelhantemente a Ciência Cristã afirma crer na Bíblia, mas na prática considera que o livro Ciência e saúde com a chave das Escrituras, escrito por Mary Baker Eddy, é de igual valor ao da Bíblia ou maior até em matéria de autoridade. Visto que essas pretensões violam os mandamentos de Deus de não acrescentar nada às suas palavras, não devemos pensar que quaisquer palavras adicionais de Deus a nós podem ser encontradas nesses livros. Mesmo nas igrejas cristãs erros semelhantes são cometidos quando as pessoas vão além do que a Escritura ensina e asseveram com grande confiança novas idéias a respeito de Deus ou do céu, baseando seus ensinos não na Escritura, mas em sua especulação, ou mesmo em pretensas experiências de terem morrido e voltado à vida.
A suficiência da Escritura lembra-nos que não devemos acrescentar nada à Escritura e que não devemos considerar nenhum outro livro que seja de igual valor ao da Escritura. Esse princípio tem sido violado pela maioria de todas as seitas. Os mórmons, por exemplo, dizem crer na Bíblia, mas também dizem crer na autoridade divina do Livro de Mórmon. Semelhantemente a Ciência Cristã afirma crer na Bíblia, mas na prática considera que o livro Ciência e saúde com a chave das Escrituras, escrito por Mary Baker Eddy, é de igual valor ao da Bíblia ou maior até em matéria de autoridade. Visto que essas pretensões violam os mandamentos de Deus de não acrescentar nada às suas palavras, não devemos pensar que quaisquer palavras adicionais de Deus a nós podem ser encontradas nesses livros. Mesmo nas igrejas cristãs erros semelhantes são cometidos quando as pessoas vão além do que a Escritura ensina e asseveram com grande confiança novas idéias a respeito de Deus ou do céu, baseando seus ensinos não na Escritura, mas em sua especulação, ou mesmo em pretensas experiências de terem morrido e voltado à vida.
c.
Advertência para não contar com qualquer outra direção de Deus como igual à
Escritura.
A suficiência da Escritura nos mostra que nenhuma das revelações modernas ditas como vindas de Deus deve ser colocada no nível igual à autoridade da Escritura. Várias vezes no decorrer da história da igreja, e particularmente no movimento carismático moderno, pessoas têm asseverado que Deus deu revelações por meio delas para o benefício da igreja. Mesmo pessoas de igrejas não-carismáticas muitas vezes dizem que Deus as “conduziu” ou “guiou” de certo modo. Contudo, ao avaliarmos tais alegações, devemos ser cuidadosos em nunca permitir (na teoria ou na prática) que tais revelações sejam colocadas no nível igual ao da Escritura. Devemos insistir no fato de que Deus não requer de nós que creiamos em nada a respeito de si mesmo ou de sua obra no mundo que esteja contido nessas revelações, mas que não esteja na Escritura. Devemos insistir em que Deus não requer de nós que obedeçamos a qualquer orientação moral que nos venha mediante tais meios, mas que não seja confirmada pela Escritura.A Bíblia contém todas as palavras de Deus em que precisamos confiar e às quais devemos obedecer perfeitamente.
A suficiência da Escritura nos mostra que nenhuma das revelações modernas ditas como vindas de Deus deve ser colocada no nível igual à autoridade da Escritura. Várias vezes no decorrer da história da igreja, e particularmente no movimento carismático moderno, pessoas têm asseverado que Deus deu revelações por meio delas para o benefício da igreja. Mesmo pessoas de igrejas não-carismáticas muitas vezes dizem que Deus as “conduziu” ou “guiou” de certo modo. Contudo, ao avaliarmos tais alegações, devemos ser cuidadosos em nunca permitir (na teoria ou na prática) que tais revelações sejam colocadas no nível igual ao da Escritura. Devemos insistir no fato de que Deus não requer de nós que creiamos em nada a respeito de si mesmo ou de sua obra no mundo que esteja contido nessas revelações, mas que não esteja na Escritura. Devemos insistir em que Deus não requer de nós que obedeçamos a qualquer orientação moral que nos venha mediante tais meios, mas que não seja confirmada pela Escritura.A Bíblia contém todas as palavras de Deus em que precisamos confiar e às quais devemos obedecer perfeitamente.
d.
Advertência para não acrescentar mais pecados ou exigências aos que já são
mencionados na Escritura.
Com respeito à vida cristã, a suficiência da Escritura nos lembra que nada é pecado que não seja proibido pela Escritura explícita ou implicitamente. Andar na lei do Senhor é ser irrepreensível (Sl 119.1). Portanto, não devemos acrescentar proibições às que já estão afirmadas na Escritura. De vez em quando pode haver situações nas quais seria errado para o cristão, por exemplo, beber café ou Coca-Cola, ou ir ao cinema, ou comer carne oferecida a ídolos (v. lCo 8.10), mas a menos que se possa mostrar algum ensino específico ou princípio geral da Escritura proibindo tais atividades (ou semelhantes) para todos os crentes de todas as épocas, devemos insistir em que essas atividades não são em si mesmas pecaminosas e que não são em todas as situações proibidas por Deus para o seu povo.
A descoberta desta grande verdade poderia trazer tremenda alegria e paz para a vida de milhares de cristãos que, gastando horas sem conta procurando a vontade de Deus fora da Escritura, muitas vezes continuam sem saber se a encontraram. Em vez disso, os cristãos que estão convencidos da suficiência da Escritura devem ansiosamente começar a procurar e encontrar a vontade de Deus na Escritura. Eles devem crescer em obediência a Deus, de modo entusiástico e regular, experimentando grande liberdade e paz na vida cristã. Então, serão capazes de dizer, como o salmista:
Com respeito à vida cristã, a suficiência da Escritura nos lembra que nada é pecado que não seja proibido pela Escritura explícita ou implicitamente. Andar na lei do Senhor é ser irrepreensível (Sl 119.1). Portanto, não devemos acrescentar proibições às que já estão afirmadas na Escritura. De vez em quando pode haver situações nas quais seria errado para o cristão, por exemplo, beber café ou Coca-Cola, ou ir ao cinema, ou comer carne oferecida a ídolos (v. lCo 8.10), mas a menos que se possa mostrar algum ensino específico ou princípio geral da Escritura proibindo tais atividades (ou semelhantes) para todos os crentes de todas as épocas, devemos insistir em que essas atividades não são em si mesmas pecaminosas e que não são em todas as situações proibidas por Deus para o seu povo.
A descoberta desta grande verdade poderia trazer tremenda alegria e paz para a vida de milhares de cristãos que, gastando horas sem conta procurando a vontade de Deus fora da Escritura, muitas vezes continuam sem saber se a encontraram. Em vez disso, os cristãos que estão convencidos da suficiência da Escritura devem ansiosamente começar a procurar e encontrar a vontade de Deus na Escritura. Eles devem crescer em obediência a Deus, de modo entusiástico e regular, experimentando grande liberdade e paz na vida cristã. Então, serão capazes de dizer, como o salmista:
Obedecerei
constantemente à tua lei, para todo o sempre.
Andarei em verdadeira liberdade, pois tenho buscado os teus preceitos. [...].
Os que amam a tua lei desfrutam paz, e nada há que os faça tropeçar.
(Sl 119.44,45,165)
Andarei em verdadeira liberdade, pois tenho buscado os teus preceitos. [...].
Os que amam a tua lei desfrutam paz, e nada há que os faça tropeçar.
(Sl 119.44,45,165)
e.
Encorajamento para satisfazer-nos com a Escritura.
A
suficiência da Escritura lembra-nos de que em nosso ensino ético e doutrinário
devemos enfatizar o que a Escritura enfatiza e satisfazer-nos com o que Deus
nos tem dito na Escritura. Há alguns assuntos a respeito dos quais Deus nos
disse muito pouco ou nada na Bíblia. Devemos lembrar que “as coisas encobertas
pertencem ao SENHOR” (Dt 29.29) e que Deus revelou-nos na Escritura exatamente
o que considera o suficiente para nós. Devemos aceitar isso, e não pensar que a
Escritura é algo menos que deveria ser ou começar a desejar que Deus nos
tivesse dado muito mais informações a respeito desses assuntos sobre os quais
há pouca menção na Escritura.
Os assuntos doutrinários que têm dividido as denominações protestantes evangélicas são quase sempre assuntos nos quais a Bíblia coloca relativamente pouca ênfase e outros sobre os quais são tiradas conclusões muito mais em razão de inferências habilidosas que de afirmações bíblicas diretas. Por exemplo, diferenças denominacionais constantes têm ocorrido ou sido mantidas por causa da forma “apropriada” de governo da igreja, da natureza precisa da presença de Cristo na Ceia do Senhor e da seqüência exata dos eventos que circundam a volta de Cristo.
Não devemos dizer que todas essas questões sejam sem importância, nem devemos dizer que a Escritura não dê solução alguma para qualquer delas (de fato, com respeito a muitas delas, a solução específica será defendida nos capítulos subseqüentes deste livro). Contudo, visto que todos esses tópicos recebem relativamente pouca ênfase direta na Escritura, é irônico e trágico que líderes denominacionais com freqüência gastem muito de sua vida defendendo precisamente os pontos doutrinários de menor importância que fazem com que suas denominações difiram das outras. Tal esforço é realmente motivado pelo desejo de trazer unidade de entendimento para a igreja? Ou origina-se no orgulho humano, no desejo de exercer poder sobre outros? Ou será ainda a tentativa de autojustificação, que é desagradável a Deus e, de modo definitivo, não traz edificação para a igreja?
Os assuntos doutrinários que têm dividido as denominações protestantes evangélicas são quase sempre assuntos nos quais a Bíblia coloca relativamente pouca ênfase e outros sobre os quais são tiradas conclusões muito mais em razão de inferências habilidosas que de afirmações bíblicas diretas. Por exemplo, diferenças denominacionais constantes têm ocorrido ou sido mantidas por causa da forma “apropriada” de governo da igreja, da natureza precisa da presença de Cristo na Ceia do Senhor e da seqüência exata dos eventos que circundam a volta de Cristo.
Não devemos dizer que todas essas questões sejam sem importância, nem devemos dizer que a Escritura não dê solução alguma para qualquer delas (de fato, com respeito a muitas delas, a solução específica será defendida nos capítulos subseqüentes deste livro). Contudo, visto que todos esses tópicos recebem relativamente pouca ênfase direta na Escritura, é irônico e trágico que líderes denominacionais com freqüência gastem muito de sua vida defendendo precisamente os pontos doutrinários de menor importância que fazem com que suas denominações difiram das outras. Tal esforço é realmente motivado pelo desejo de trazer unidade de entendimento para a igreja? Ou origina-se no orgulho humano, no desejo de exercer poder sobre outros? Ou será ainda a tentativa de autojustificação, que é desagradável a Deus e, de modo definitivo, não traz edificação para a igreja?
“Não há
implicação, de minha parte, da adoção de ponto de vista cessacionista sobre os
dons espirituais (que é o entendimento de que certos dons, tais como a profecia
e o falar em línguas tenham cessado com a morte dos apóstolos). Eu simplesmente
quero destacar que há um perigo em dar a esses dons, explícito ou
implicitamente, um status, que na prática, desafia a autoridade ou a
suficiência da Escritura na vida cristã”.
Autor:
Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do Autor, Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br .
Fonte: Teologia Sistemática do Autor, Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br .
A inerrância da Escritura
Nota: AT = Antigo Testamento ; NT =
Novo Testamento
1. O
significado de inerrância.
A seção
anterior tratou a respeito da veracidade da Escritura. Um componente importante
desse tópico é a inerrância da Escritura. Essa questão é de grande importância
no mundo evangélico hoje porque em muitos círculos a veracidade da Escritura
tem sido questionada ou mesmo abandonada.
Com a evidência dada acima a respeito da veracidade da Escritura, estamos agora na posição de definir a inerrância bíblica: A inerrância da Escritura significa que a Escritura, nos seus manuscritos originais, não afirma nada que seja contrário ao fato.
Essa definição enfoca a questão da veracidade e da falsidade na linguagem da Escritura. A definição em termos simples significa apenas que a Bíblia sempre diz a verdade e que ela sempre diz a verdade a respeito de cada coisa a que se refere. Essa definição não significa que a Bíblia nos diz cada fato que há para conhecer a respeito de um assunto, mas afirma que o que ela diz a respeito de um assunto é verdadeiro.
É importante perceber no começo desta discussão que o foco desta controvérsia é sobre a questão da veracidade na linguagem. Deve-se reconhecer que a veracidade absoluta na linguagem está de acordo com alguns outros tipos de afirmações, como as que se seguem:
Com a evidência dada acima a respeito da veracidade da Escritura, estamos agora na posição de definir a inerrância bíblica: A inerrância da Escritura significa que a Escritura, nos seus manuscritos originais, não afirma nada que seja contrário ao fato.
Essa definição enfoca a questão da veracidade e da falsidade na linguagem da Escritura. A definição em termos simples significa apenas que a Bíblia sempre diz a verdade e que ela sempre diz a verdade a respeito de cada coisa a que se refere. Essa definição não significa que a Bíblia nos diz cada fato que há para conhecer a respeito de um assunto, mas afirma que o que ela diz a respeito de um assunto é verdadeiro.
É importante perceber no começo desta discussão que o foco desta controvérsia é sobre a questão da veracidade na linguagem. Deve-se reconhecer que a veracidade absoluta na linguagem está de acordo com alguns outros tipos de afirmações, como as que se seguem:
a. A
Bíblia pode ser inerrânte e ainda falar a linguagem habitual da conversação
diária.
Isso é
especialmente verdadeiro nas descrições de fatos ou eventos de caráter
“científico” ou “histórico”. A Bíblia pode falar do sol que se levanta e da
chuva que cai por causa perspectiva do narrador, que é exatamente o que
acontece. Da perspectiva do narrador, o sol realmente se levanta e a chuva
realmente cai, e essas são descrições perfeitamente verdadeiras dos fenômenos
naturais que o narrador observa.
Uma consideração similar aplica-se aos números quando usados para contar ou para medir. Um repórter pode dizer que 8000 homens foram mortos em determinada batalha sem, desse modo, sugerir que ele contou cada um e que não havia 7 999 ou 8001 soldados mortos. Isso é verdade também a respeito das medidas. Se eu digo: “Não moro longe da biblioteca”, ou “Moro a pouco mais de um quilômetro da biblioteca”, ou “Moro a um pouquinho menos de um quilômetro da biblioteca” ,ou “Moro a um quilômetro e meio da biblioteca”, todas essas afirmações possuem certo grau de proximidade e de exatidão. Em ambos os exemplos, e em muitos outros que poderiam ser retirados da vida diária, os limites da veracidade dependeriam do grau de precisão sugerido pelo narrador e esperado por seus ouvintes originais. Não haveria problema para nós, então, em afirmar que, ao mesmo tempo em que a Bíblia é absolutamente verdadeira em tudo o que diz, ela usa a linguagem comum para descrever os fenômenos naturais e dar aproximações ou números redondos quando eles são apropriados no contexto.
Uma consideração similar aplica-se aos números quando usados para contar ou para medir. Um repórter pode dizer que 8000 homens foram mortos em determinada batalha sem, desse modo, sugerir que ele contou cada um e que não havia 7 999 ou 8001 soldados mortos. Isso é verdade também a respeito das medidas. Se eu digo: “Não moro longe da biblioteca”, ou “Moro a pouco mais de um quilômetro da biblioteca”, ou “Moro a um pouquinho menos de um quilômetro da biblioteca” ,ou “Moro a um quilômetro e meio da biblioteca”, todas essas afirmações possuem certo grau de proximidade e de exatidão. Em ambos os exemplos, e em muitos outros que poderiam ser retirados da vida diária, os limites da veracidade dependeriam do grau de precisão sugerido pelo narrador e esperado por seus ouvintes originais. Não haveria problema para nós, então, em afirmar que, ao mesmo tempo em que a Bíblia é absolutamente verdadeira em tudo o que diz, ela usa a linguagem comum para descrever os fenômenos naturais e dar aproximações ou números redondos quando eles são apropriados no contexto.
b. A
Bíblia pode ser inerrânte e, todavia, incluir citações livres ou soltas.
O método
pelo qual uma pessoa cita as palavras de outra é um procedimento que em grande
parte varia de cultura para cultura. Enquanto na cultura contemporânea
americana e inglesa costumamos mencionar as palavras exatas de uma pessoa
fazendo citações entre aspas, o grego escrito no tempo do NT não possuía aspas
ou qualquer espécie de sinalização equivalente, e a citação exata de outra
pessoa precisava incluir somente a apresentação correta do conteúdo do que a
pessoa havia dito (mais ou menos como o nosso uso de citações indiretas); não
era esperado que cada palavra fosse citada com exatidão. Assim, a inerrância é
coerente com citações livres ou soltas do AT ou das palavras de Jesus, por
exemplo, contanto que o conteúdo não seja falso em relação ao que
originariamente foi afirmado. O escritor original não sugeriu de forma geral
que estivesse usando as palavras exatas de um narrador e somente aquelas, nem
os ouvintes originais esperavam a citação textual em tal narração.
c. As
construções gramaticais incomuns ou excepcionais na Bíblia não contradizem a
inerrância.
Alguma
coisa da linguagem na Escritura é elegante e estilisticamente excelente. Outras
passagens da Escritura contêm linguagem mais própria das pessoas comuns. As
vezes isso inclui a falha em seguir as regras de expressão usualmente
aceitáveis (como o uso de um verbo no plural, quando as regras gramaticais
exigem um verbo no singular). Essas afirmações gramaticais estilisticamente
incorretas (muitas delas são encontradas no livro de Apocalipse) não devem ser
problema para nós, pois elas não afetam a veracidade das afirmações em pauta; a
afirmação pode não ser gramaticalmente correta e, todavia, ser totalmente
verdadeira. Por exemplo, o lenhador da área rural que não possua educação
formal pode ser o homem mais confiável da região, mesmo que a sua gramática
seja pobre, porque ele ganhou a reputação de nunca mentir. De modo semelhante,
há algumas afirmações na Escritura (nas línguas originais) que não são corretas
gramaticalmente (de acordo com os padrões vigentes da boa gramática naquele
tempo), mas são ainda inerrântes porque são completamente verdadeiras. Deus
usou pessoas comuns que usaram o seu vocabulário comum. A questão não é a
elegância de estilo, mas a veracidade no falar.
2. Alguns
desafios comuns a inerrância.
Nesta
seção vamos examinar algumas das objeções mais importantes que são regularmente
levantadas contra o conceito de inerrância.
A Bíblia é a única regra repleta de autoridade para a “fé e prática”.
Uma das objeções mais freqüentes à inerrância é levantada por aqueles que dizem que o propósito da Escritura é ensinar-nos em áreas que dizem respeito à “fé e prática” somente, isto é, nas áreas que dizem respeito diretamente à nossa fé religiosa ou nossa conduta ética. Essa posição permite a possibilidade de afirmações falsas na Escritura, como, por exemplo, em outras áreas como a de detalhes históricos sem maior importância ou em fatos científicos — essas áreas, é dito, não dizem respeito ao propósito da Bíblia, que é o de nos instruir sobre em que devemos crer e como devemos viver. Os defensores dessa posição muitas vezes preferem dizer que a Bíblia é infalível, mas hesitam em usar a palavra inerrânte.
A resposta a essa objeção pode ser afirmada do seguinte modo: A Bíblia repetidamente afirma que toda a Escritura é útil para nós e que tudo é “inspirado por Deus” (2Tm 3.16). Assim, ela é completamente pura (Sl 12.6), perfeita (Sl 119.96) e verdadeira (Sl 119. 160).A Bíblia não faz ela própria qualquer restrição aos assuntos sobre os quais fala com toda a verdade.
A Bíblia é a única regra repleta de autoridade para a “fé e prática”.
Uma das objeções mais freqüentes à inerrância é levantada por aqueles que dizem que o propósito da Escritura é ensinar-nos em áreas que dizem respeito à “fé e prática” somente, isto é, nas áreas que dizem respeito diretamente à nossa fé religiosa ou nossa conduta ética. Essa posição permite a possibilidade de afirmações falsas na Escritura, como, por exemplo, em outras áreas como a de detalhes históricos sem maior importância ou em fatos científicos — essas áreas, é dito, não dizem respeito ao propósito da Bíblia, que é o de nos instruir sobre em que devemos crer e como devemos viver. Os defensores dessa posição muitas vezes preferem dizer que a Bíblia é infalível, mas hesitam em usar a palavra inerrânte.
A resposta a essa objeção pode ser afirmada do seguinte modo: A Bíblia repetidamente afirma que toda a Escritura é útil para nós e que tudo é “inspirado por Deus” (2Tm 3.16). Assim, ela é completamente pura (Sl 12.6), perfeita (Sl 119.96) e verdadeira (Sl 119. 160).A Bíblia não faz ela própria qualquer restrição aos assuntos sobre os quais fala com toda a verdade.
O NT
contém afirmações adicionais sobre a confiabilidade de todas as partes da
Escritura. Em Atos 24.14, Paulo diz que ele adora a Deus, acreditando “em tudo
o que concorda com a Lei e no que está escrito nos Profetas”. Em Lucas 24.25
(RA), Jesus diz que os discípulos são “néscios” porque eram “tardos de coração
para crer tudo o que os profetas disseram”. Em Romanos 15.4, Paulo diz que
“tudo o que foi escrito no passado” no AT “foi escrito para nos ensinar”. Esses
textos não dão indicação alguma de que haja qualquer parte da Escritura que não
seja digna de confiança ou na qual não se possa confiar completamente.
O rápido exame do detalhes históricos do AT que são citados no NT indica que os escritores do NT estavam desejosos de confiar na veracidade de qualquer parte das narrativas históricas do AT. Nenhum detalhe é tão insignificante que não possa ser usado para a instrução dos cristãos do NT (v.,por ex., Mt 12.3,4,41; Lc 4.25,26; Jo 4.5; Co 10.11; Hb 11; Hb 12.16,17; Tg 2.25; 2Pe 2.16 etc.). Não há indicação alguma de que eles pensassem que uma categoria de afirmações da Escritura não fosse confiável (por exemplo, afirmações “históricas e científicas” como opostas às passagens de caráter doutrinário ou moral). Parece claro que a Bíblia em si mesma não dá suporte a qualquer restrição com respeito a assuntos dos quais ela fala com autoridade e verdade absoluta; de fato, muitas passagens na Escritura realmente excluem a validade desta espécie de restrição.
A segunda resposta aos que limitam a veracidade necessária da Escritura a matérias de “fé e prática” é que o pensamento deles confunde o propósito principal da Escritura com o propósito total dela. Dizer que o propósito principal da Escritura é ensinar-nos em matéria de “fé e prática” é fazer um sumário útil e correto do propósito de Deus em nos dar a Bíblia. Mas, como sumário, ele inclui somente o propósito mais proeminente de Deus ao nos dar a Escritura. Não é, contudo, legítimo usar esse sumário para negar que é parte do propósito da Escritura discorrer a respeito de detalhes históricos menos importantes ou a respeito de alguns aspectos de astronomia ou geografia, e assim por diante. Um sumário não pode ser devidamente usado para negar uma das coisas que ele está sintetizando! É melhor dizer que o propósito total da Escritura é dizer tudo o que ela diz, qualquer que seja o assunto. Cada uma das palavras de Deus na Escritura foi considerada por ele como importante para nós. Assim, Deus emite severas advertências a qualquer um que retire mesmo uma só palavra do que ele nos disse (Dt 4.2; 12.32; Ap 22.18,19). Não podemos acrescentar nada às palavras de Deus ou retirar algo delas, porque todas são parte do propósito mais amplo que ele nos quis comunicar. Cada coisa afirmada na Escritura está ali porque Deus quis que estivesse. Deus não diz nada sem propósito!
O rápido exame do detalhes históricos do AT que são citados no NT indica que os escritores do NT estavam desejosos de confiar na veracidade de qualquer parte das narrativas históricas do AT. Nenhum detalhe é tão insignificante que não possa ser usado para a instrução dos cristãos do NT (v.,por ex., Mt 12.3,4,41; Lc 4.25,26; Jo 4.5; Co 10.11; Hb 11; Hb 12.16,17; Tg 2.25; 2Pe 2.16 etc.). Não há indicação alguma de que eles pensassem que uma categoria de afirmações da Escritura não fosse confiável (por exemplo, afirmações “históricas e científicas” como opostas às passagens de caráter doutrinário ou moral). Parece claro que a Bíblia em si mesma não dá suporte a qualquer restrição com respeito a assuntos dos quais ela fala com autoridade e verdade absoluta; de fato, muitas passagens na Escritura realmente excluem a validade desta espécie de restrição.
A segunda resposta aos que limitam a veracidade necessária da Escritura a matérias de “fé e prática” é que o pensamento deles confunde o propósito principal da Escritura com o propósito total dela. Dizer que o propósito principal da Escritura é ensinar-nos em matéria de “fé e prática” é fazer um sumário útil e correto do propósito de Deus em nos dar a Bíblia. Mas, como sumário, ele inclui somente o propósito mais proeminente de Deus ao nos dar a Escritura. Não é, contudo, legítimo usar esse sumário para negar que é parte do propósito da Escritura discorrer a respeito de detalhes históricos menos importantes ou a respeito de alguns aspectos de astronomia ou geografia, e assim por diante. Um sumário não pode ser devidamente usado para negar uma das coisas que ele está sintetizando! É melhor dizer que o propósito total da Escritura é dizer tudo o que ela diz, qualquer que seja o assunto. Cada uma das palavras de Deus na Escritura foi considerada por ele como importante para nós. Assim, Deus emite severas advertências a qualquer um que retire mesmo uma só palavra do que ele nos disse (Dt 4.2; 12.32; Ap 22.18,19). Não podemos acrescentar nada às palavras de Deus ou retirar algo delas, porque todas são parte do propósito mais amplo que ele nos quis comunicar. Cada coisa afirmada na Escritura está ali porque Deus quis que estivesse. Deus não diz nada sem propósito!
O termo
inerrância é um termo pobre.
As
pessoas que fazem essa segunda objeção dizem que o termo inerrância é preciso
demais e que no uso comum denota uma espécie de precisão científica absoluta
que não queremos reivindicar para a Escritura. Além disso, os que levantam essa
objeção observam que o termo inerrância não é usado na própria Bíblia.
Portanto, eles dizem, provavelmente não é o termo apropriado sobre o qual
devamos insistir.
A resposta a essa objeção pode ser feita do seguinte modo: Primeiro, a palavra tem sido usada por estudiosos há mais de cem anos, e eles sempre têm atentado para “limitações” que fazem parte de uma narrativa na linguagem comum. Ademais, deve ser observado que muitas vezes usamos termos não bíblicos para resumir um ensino bíblico. A palavra Trindade não ocorre na Escritura, nem a palavra encarnação. Todavia, ambos os termos são muito úteis porque nos permitem sintetizar em uma palavra um conceito bíblico verdadeiro e são, portanto, úteis para capacitar-nos a discutir um ensino bíblico mais facilmente. Finalmente, hoje na igreja parece que somos incapazes de levar a discussão adiante nessa matéria sem o uso do termo. As pessoas podem objetar a termos, se quiserem, mas, gostando ou não, esse é o termo em torno do qual a discussão tem-se desenvolvido e quase certamente continuará a sê-lo nas próximas décadas. Portanto, parece apropriado manter seu uso na discussão a respeito da veracidade completa da Escritura.
A resposta a essa objeção pode ser feita do seguinte modo: Primeiro, a palavra tem sido usada por estudiosos há mais de cem anos, e eles sempre têm atentado para “limitações” que fazem parte de uma narrativa na linguagem comum. Ademais, deve ser observado que muitas vezes usamos termos não bíblicos para resumir um ensino bíblico. A palavra Trindade não ocorre na Escritura, nem a palavra encarnação. Todavia, ambos os termos são muito úteis porque nos permitem sintetizar em uma palavra um conceito bíblico verdadeiro e são, portanto, úteis para capacitar-nos a discutir um ensino bíblico mais facilmente. Finalmente, hoje na igreja parece que somos incapazes de levar a discussão adiante nessa matéria sem o uso do termo. As pessoas podem objetar a termos, se quiserem, mas, gostando ou não, esse é o termo em torno do qual a discussão tem-se desenvolvido e quase certamente continuará a sê-lo nas próximas décadas. Portanto, parece apropriado manter seu uso na discussão a respeito da veracidade completa da Escritura.
Não possuímos nenhum manuscrito inerrânte.
Portanto,
falar a respeito de inerrância é um engano. Os que fazem essa objeção apontam
para o fato de que a inerrância sempre tem sido reivindicada para o documento
original ou para as cópias originais dos documentos bíblicos. Todavia, nenhuma
delas sobrevive; temos somente cópias de cópias do que Moisés, Paulo ou Pedro
escreveram. Qual é, então, a razão de se atribuir tanta importância à doutrina
que se aplica somente aos manuscritos que ninguém possui?
Em resposta a essa objeção, podemos primeiro pensar em uma analogia da história americana. A cópia original da Constituição dos Estados Unidos está guardada no edifício chamado National Archives, em Washington, DC. Se por causa de um terrível evento o edifício for destruído e a cópia original da Constituição se perder, poderíamos saber o que a Constituição dizia? Claro que sim! Nós compararíamos suas centenas de cópias e, onde todas concordassem, teríamos razão para crer que temos as palavras exatas do documento original.
Processo semelhante ocorreu na determinação das palavras originais da Bíblia. Pois, em cerca de 99% das palavras da Bíblia, nós sabemos o que o manuscrito original dizia. Mesmo que em muitos versículos haja variantes textuais (isto é, palavras diferentes em diferentes cópias antigas do mesmo versículo), a decisão correta é com freqüência bastante clara (pode haver um óbvio erro de copista, por exemplo), e há realmente pouquíssimos lugares onde a variante textual seja ao mesmo tempo difícil de avaliar e relevante para a determinação do sentido do texto. Em porcentagem pequena de casos em que há incerteza significativa a respeito do que o texto original dizia, o sentido geral da frase em geral é suficientemente claro por causa do contexto.
Isso não significa que o estudo das variantes textuais não seja importante, mas significa que o estudo das variantes textuais não nos deixa confusos a respeito do que os manuscritos originais disseram. Ao contrário, esse estudo nos aproxima do conteúdo dos manuscritos originais. Porque, para a maior parte dos propósitos práticos, os textos especializados presentemente publicados do hebraico do AT e do grego do NT são como se fossem os manuscritos originais. Portanto, a doutrina da inerrância afeta como pensamos não somente a respeito dos manuscritos originais, mas também a respeito dos manuscritos atuais.
Em resposta a essa objeção, podemos primeiro pensar em uma analogia da história americana. A cópia original da Constituição dos Estados Unidos está guardada no edifício chamado National Archives, em Washington, DC. Se por causa de um terrível evento o edifício for destruído e a cópia original da Constituição se perder, poderíamos saber o que a Constituição dizia? Claro que sim! Nós compararíamos suas centenas de cópias e, onde todas concordassem, teríamos razão para crer que temos as palavras exatas do documento original.
Processo semelhante ocorreu na determinação das palavras originais da Bíblia. Pois, em cerca de 99% das palavras da Bíblia, nós sabemos o que o manuscrito original dizia. Mesmo que em muitos versículos haja variantes textuais (isto é, palavras diferentes em diferentes cópias antigas do mesmo versículo), a decisão correta é com freqüência bastante clara (pode haver um óbvio erro de copista, por exemplo), e há realmente pouquíssimos lugares onde a variante textual seja ao mesmo tempo difícil de avaliar e relevante para a determinação do sentido do texto. Em porcentagem pequena de casos em que há incerteza significativa a respeito do que o texto original dizia, o sentido geral da frase em geral é suficientemente claro por causa do contexto.
Isso não significa que o estudo das variantes textuais não seja importante, mas significa que o estudo das variantes textuais não nos deixa confusos a respeito do que os manuscritos originais disseram. Ao contrário, esse estudo nos aproxima do conteúdo dos manuscritos originais. Porque, para a maior parte dos propósitos práticos, os textos especializados presentemente publicados do hebraico do AT e do grego do NT são como se fossem os manuscritos originais. Portanto, a doutrina da inerrância afeta como pensamos não somente a respeito dos manuscritos originais, mas também a respeito dos manuscritos atuais.
Os autores bíblicos “acomodaram” suas mensagens nos detalhes menos importantes às falsas idéias correntes em seu tempo e afirmaram ou ensinaram essas idéias de modo incidental.
Os que sustentam essa posição argumentam que teria sido muito difícil para os escritores bíblicos comunicar-se com o povo de seu tempo se tivessem tentado corrigir toda a falsa informação histórica e científica aceita por seus contemporâneos (como o universo de três andares ou que nosso planeta é uma espécie de prato plano, e assim por diante). Portanto, dizem, quando os autores da Escritura estavam tentando propor um argumento mais amplo, algumas vezes incidentalmente fizeram certas afirmações falsas aceitas pelas pessoas de sua época.
A essa objeção à inerrância podemos responder que Deus é o Senhor da linguagem que pode usar a linguagem humana para comunicar-se perfeitamente sem ter de afirmar quaisquer idéias falsas que possam ter sido sustentadas pelas pessoas contemporâneas aos autores da Escritura. Além disso, tal “acomodação” de Deus ao nosso entendimento errôneo implicaria que Deus agiu contrariamente ao seu caráter de um Deus que não pode mentir (Nm 23.19; Tt 1.2; Hb 6.18). Embora Deus se rebaixe a falar a língua dos seres humanos, nenhuma passagem da Escritura ensina que ele seja ‘‘condescendente’’ a ponto de agir de modo contrário ao seu caráter moral. Essa objeção, assim, em sua raiz, interpreta mal a pureza e a unidade de Deus na medida em que elas afetam todas as suas palavras e os seus atos.
Há alguns
erros claros na Bíblia.
Para
muitos que negam a inerrância, a convicção de que há alguns erros evidentes na
Escritura é o fator de maior importância que os persuade a desafiar a doutrina
da inerrância. Em cada caso, contudo, a primeira resposta que deveria ser dada
a essa objeção é perguntar onde os erros estão, ou em qual versículo específico
ou versículos esses “erros” ocorrem. É surpreendente ver quantas vezes essa
objeção é levantada por pessoas que têm pouca ou nenhuma idéia sobre onde os
erros específicos estão. Todavia crêem que há erros porque outros disseram que
há.
Em outros casos, contudo, alguns mencionam uma ou mais passagens específicas onde, segundo alegam, há uma afirmação falsa na Escritura. Em muitos exemplos, o exame cuidadoso do texto bíblico em si trará à luz uma ou mais soluções possíveis para a dificuldade alegada. Em poucas passagens, nenhuma solução para a dificuldade pode ficar imediatamente evidente da leitura do texto em nossa língua. A essa altura é útil consultar alguns comentários sobre o texto. Há uns poucos textos em que certo conhecimento do hebraico ou grego talvez seja necessário a fim de se encontrar a solução, e quem que não possui acesso de primeira mão a essas línguas terá de encontrar respostas em um comentário mais técnico ou servir-se de alguém que possua treinamento para isso.
Naturalmente, o nosso entendimento da Escritura nunca é perfeito, e isso significa que pode haver casos em que não seremos capazes de encontrar solução para uma passagem difícil no presente momento. Isso é assim porque a evidência lingüística, histórica ou contextual de que precisamos para entender a passagem corretamente ainda é desconhecida para nós. Essa dificuldade em pequeno número de passagens não deve incomodar-nos, desde que o padrão total de nossa investigação dessas passagens mostre que não há, de fato, nenhum dos erros alegados.
Em outros casos, contudo, alguns mencionam uma ou mais passagens específicas onde, segundo alegam, há uma afirmação falsa na Escritura. Em muitos exemplos, o exame cuidadoso do texto bíblico em si trará à luz uma ou mais soluções possíveis para a dificuldade alegada. Em poucas passagens, nenhuma solução para a dificuldade pode ficar imediatamente evidente da leitura do texto em nossa língua. A essa altura é útil consultar alguns comentários sobre o texto. Há uns poucos textos em que certo conhecimento do hebraico ou grego talvez seja necessário a fim de se encontrar a solução, e quem que não possui acesso de primeira mão a essas línguas terá de encontrar respostas em um comentário mais técnico ou servir-se de alguém que possua treinamento para isso.
Naturalmente, o nosso entendimento da Escritura nunca é perfeito, e isso significa que pode haver casos em que não seremos capazes de encontrar solução para uma passagem difícil no presente momento. Isso é assim porque a evidência lingüística, histórica ou contextual de que precisamos para entender a passagem corretamente ainda é desconhecida para nós. Essa dificuldade em pequeno número de passagens não deve incomodar-nos, desde que o padrão total de nossa investigação dessas passagens mostre que não há, de fato, nenhum dos erros alegados.
Finalmente,
a perspectiva histórica sobre essa questão é útil. Não há realmente quaisquer
problemas “novos” na Escritura. A Bíblia em sua totalidade tem mais de dezenove
séculos, e os pretensos “textos-problema” estavam ali o tempo todo. Todavia, no
decorrer de toda a história da igreja há a firme crença na inerrância das
Escrituras no sentido em que ela foi definida neste capítulo. Além disso, há
centenas de anos estudiosos muito competentes da Bíblia lêem e estudam esses
textos-problema e ainda não encontraram dificuldade em sustentar a inerrância.
Isso deveria deixar-nos confiantes em que as soluções para esses problemas
estão disponíveis e em que a crença na inerrância está totalmente de acordo com
a duradoura atenção dedicada ao texto da Escritura.
3.
Problemas com a negação da inerrância.
Os
problemas que aparecem com a negação da inerrância bíblica são muito
significativos e, quando entendemos a magnitude desses problemas, isso nos dá o
encorajamento adicional não somente para afirmar a inerrância, mas também para
garantir sua importância para a igreja. Alguns dos problemas mais sérios são os
listados a seguir:
a.
Se negarmos a inerrância, deparamos com um sério problema moral: Podemos
imitar Deus e intencionalmente mentir nas pequenas coisas também? Efésios 5.1
nos diz que sejamos imitadores de Deus. Mas a negação de inerrância que ainda
alega que as palavras da Escritura são palavras sopradas por Deus
necessariamente leva à conclusão de que Deus intencionalmente falou falsamente
para nós em algumas das afirmações menos centrais da Escritura. Mas, se para
Deus é correto agir assim, como pode ser errado para nós? Tal linha de
raciocínio, se crêssemos nela, exerceria grande pressão sobre nós para que
começássemos a falar inverdades em situações onde poderiam parecer de ajuda em
nossa comunicação, e assim por diante. Essa posição seria uma ladeira
escorregadia com resultados negativos sempre crescentes em nossa vida.
b.
Segundo, se a inerrância é negada, começamos a pensar se realmente podemos
confiar em Deus em qualquer coisa que ele venha a dizer.
Uma vez
que nos convençamos de que Deus nos falou de maneira falsa em alguns assuntos
de menor importância na Escritura, percebemos que Deus é capaz de nos falar
falsamente. Isso ocasionará um efeito prejudicial sério sobre a nossa
capacidade de levar Deus a sério em sua palavra e confiar nele completamente ou
obedecer a ele plenamente no restante da Escritura. Podemos começar a
desobedecer inicialmente nas seções da Escritura que menos desejaríamos
obedecer, e desconfiar inicialmente das seções nas quais estaríamos menos
inclinados a confiar. Mas tal procedimento finalmente se expandirá, para grande
prejuízo de nossa vida espiritual.
c.
Terceiro, se negarmos a inerrância, essencialmente faremos da mente o padrão de
verdade mais alto que a própria Palavra de Deus.
Usamos
nossa mente para estabelecer juízo sobre algumas partes da Palavra de Deus e as
pronunciamos como contendo erros. Mas isso é, de fato, dizer que conhecemos a
verdade com mais certeza e mais exatidão que a própria Palavra de Deus (ou que
Deus), ao menos nessas áreas. Tal procedimento, que torna nossa mente o padrão
mais alto de verdade que a Palavra de Deus, é a raiz de todo o pecado
intelectual.
d.
Quarto, se negarmos a inerrância, devemos também dizer que a Bíblia esta errada
não somente nos detalhes menos importantes, mas igualmente em algumas de suas
doutrinas.
A negação
da inerrância significa dizermos que o ensino da Bíblia a respeito da natureza
da Escritura e a respeito da veracidade e confiabilidade das palavras de Deus
também é falso. Esses não são pequenos detalhes, e sim preocupações
doutrinárias muito importantes na Escritura.
e. A
Palavra de Deus escrita é a nossa autoridade final. É importante perceber que a
forma final na qual a Escritura é cheia de autoridade é a forma escrita. Foram
as palavras de Deus escritas em tábuas de pedra que Moisés depositou na arca da
aliança. Mais tarde, Deus ordenou a Moisés e subseqüentemente aos profetas para
escreverem suas palavras em um livro. Foi a Palavra de Deus escrita que Paulo
disse ser ”inspirada” (gr. graphē em 2Tm 3.16). Isso é importante porque as
pessoas às vezes (de forma intencional ou não) tentam substituir as palavras
escritas da Escritura por algum outro padrão final. Por exemplo, elas se
referem ao “que Jesus realmente disse” e afirmam que, quando traduzimos as
palavras gregas dos evangelhos para a língua aramaica que Jesus falou, podemos
obter entendimento melhor das palavras de Jesus do que foi dado pelos
escritores dos evangelhos. Em outros casos, há quem alegue conhecer ”o que
Paulo realmente pensava” mesmo quando esse conhecimento é diferente do
significado das palavras que ele escreveu. Ou falam do “que Paulo teria dito se
ele tivesse sido coerente com o restante de sua teologia”. De modo semelhante,
outras pessoas falam da “situação da igreja à qual Mateus está escrevendo” e
tentam dar força normativa tanto para essa situação como para a solução que
pensam que Mateus estava tentando produzir nessa situação.
Em todos
esses exemplos, devemos admitir que perguntar a respeito das palavras ou
situações que estão por trás do texto da Escritura pode, às vezes, ser útil
para nós no entendimento do que o texto significa. Não obstante, nossas
reconstruções hipotéticas dessas palavras ou situações podem nunca substituir
ou competir com a própria Escritura como a autoridade final, nem devemos
permitir que contradigam ou levantem dúvidas sobre a exatidão de qualquer das
palavras da Escritura. Devemos continuamente relembrar que temos na Bíblia as
verdadeiras palavras de Deus, e não podemos tentar “melhorá-las” de algum modo,
pois isso não pode ser feito. Ao contrário, devemos procurar entendê-las e,
então, confiar nelas e obedecer a elas de todo o nosso coração.
Embora as
posições indesejáveis listadas acima estejam logicamente relacionadas à negação
da inerrância, uma Palavra de advertência se faz necessária: nem todos que
negam a inerrância adotarão também as conclusões indesejáveis mencionadas.
Algumas pessoas (provavelmente de modo incoerente) negarão a inerrância, mas
não caminharão para esses passos lógicos. Em debates sobre a inerrância, como
em outras discussões teológicas, é importante que critiquemos as pessoas com
base nas idéias que elas realmente sustentam e que distingamos claramente essas
idéias das posições que pensamos que elas sustentam, para ver se estas estão de
acordo com as próprias idéias afirmadas.
Autor: Wayne Grudem.
Fonte: Teologia Sistemática do autor, Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br .
Fonte: Teologia Sistemática do autor, Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br .
A Interpretação da Bíblia
At 15.15,16; Ef 4.11-16; 2 Pe 1.16-21; 2 Pe 3.14-18
At 15.15,16; Ef 4.11-16; 2 Pe 1.16-21; 2 Pe 3.14-18
Qualquer
documento escrito, para poder ser compreendido, precisa ser interpretado. Nosso
país possui indivíduos altamente capacitados, cuja tarefa diária é interpretar
a Constituição. Eles forma o Supremo Tribunal Federal. Interpretar a Bíblia é
uma tarefa muito mais solene do que interpretar a Constituição de um país.
Requer grande cuidado e diligência.
A Bíblia
é o seu próprio Supremo Tribunal. A regra principal de interpretação bíblica é:
"A Bíblia é sua própria intérprete". Esse princípio significa que a
Bíblia deve ser interpretada pela própria Bíblia. O que é obscuro em uma parte
da Bíblia pode ser esclarecido em outra parte. Interpretar a Bíblia pela Bíblia
significa que não devemos colocar uma passagem contra outra. Cada texto deve
ser entendido não somente à luz do seu contexto imediato, mas também à luz do
contexto da Bíblia como um todo.
Além disso,
entendido adequadamente, o único método legítimo e válido de interpretação da
Bíblia é o da interpretação literal. Existe, contudo, muita confusão a respeito
dessa idéia de interpretação. Interpretação literal, estritamente falando,
significa que devemos interpretar a Bíblica assim como está escrito. Um
substantivo é interpretado como substantivo e um verbo, como um verbo. Quer
dizer que todas as formas usadas na redação da Bíblia devem ser interpretadas
de acordo com as regras normais que regem tais formas. Poesia deve ser tratada
como poesia. Relatos históricos devem ser tratados com História. Parábolas como
parábolas, hipérboles como hipérboles, e assim por diante,.
Nesse
aspecto, a Bíblia deve ser interpretada de acordo com as regras que governam a interpretação
de qualquer outro livro. Em algumas de suas características, a Bíblia é
diferente de qualquer outro livro que já foi escrito. Em termos de
interpretação, entretanto, deve ser tratada como qualquer outro livro.
A Bíblia
não deve ser interpretada de acordo com nossos próprios desejos e preconceitos.
Devemos buscar entender o que ele de fato diz e nos guardarmos de forçar nossos
próprios pontos de vista sobre ela. Este é o passatempo dos hereges: buscar
base bíblica para doutrinas falsas que não têm base no texto. O próprio Satanás
citou as Escrituras de maneira ilegítima, num esforço para seduzir Jesus Cristo
a pecar (Mt 4.1-11).
A
mensagem da Bíblia é simples e clara o suficiente para que até uma criança
possa entender. Mesmo assim, p "alimento sólido" da Bíblia requer
estudos e atenção cuidadosos para ser entendido adequadamente. Algumas questões
tratadas na Bíblia são tão complexas e profundas que mantêm os maiores eruditos
constantemente envolvidos nos esforço de resolvê-las.
Existem
alguns princípios de interpretação que são básicos para todo estudo saudável da
Bíblia. Incluem o seguinte:
(1) As
narrativas devem ser interpretadas à luz das passagens de "ensino".
Por exemplo, a história de Abraão oferecendo Isaque no Monte Moriá pode sugerir
que Deus não sabia que Abraão tinha uma fé genuína. As passagens didáticas da
Bíblia, porém, deixam claro que Deus é onisciente;
(2)
aquilo que é implícito sempre deve ser interpretado à Luz do que é explícito;
nunca deve ser o contrário. Isto é, se um texto específico parece ter uma idéia
ou lição implícita, não devemos aceitar a implicação como correta se for
contrária a algo que é declarado explicitamente em outro lugar da Bíblia;
(3) as
leis da lógica governam a interpretação da Bíblia. Por exemplo, se sabemos que
todos os gatos têm cauda, não podemos deduzir que alguns gatos não têm. Se é
verdadeiro que alguns gatos não têm cauda, então não pode ser verdade que
todos os gatos têm. Isso não é apenas uma questão de leis técnicas de
inferência; é uma questão de senso comum.
Mesmo
assim, a grande maioria das interpretações equivocas da Bíblia é causada por
deduções ilegítimas extraídas da Bíblia.
Sumário
1. A
Bíblia é sua própria intérprete.
2.
Devemos interpretar a Bíblia literalmente - assim com está escrito.
3. A
Bíblia deve ser interpretada como qualquer outro livro.
4. Partes
obscuras da Bíblia devem ser interpretadas pelas partes mais claras.
5. O
implícito deve ser interpretado à luz do explícito.
6. As
leis da lógica governa aquilo que pode ser racionalmente deduzido da Bíblia.
Autor:
R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
A interpretação pessoal
Ne 8.8; 2 Tm 2.15; 2 Tm 3.14-17; Hb1.1-4; 2 Pe 1.20,21
Ne 8.8; 2 Tm 2.15; 2 Tm 3.14-17; Hb1.1-4; 2 Pe 1.20,21
Dois dos
grandes legados que recebemos da Reforma foram o princípio da interpretação
pessoal da Bíblia e a sua tradução a língua do povo. O próprio Lutero colocou
em foco essas questões. Quando se apresentou diante da Dieta de Worms (um
concílio no qual foi acusado de heresia por causa de seus ensinamentos), ele
declarou:
"A
menos que eu seja convencido pela Escritura, minha consciência continuará
cativa da Palavra de Deus - não aceito a autoridade de papas e concílios,
porque se têm contraditado. Não posso nem quero retratar-me, porque ir contra a
consciência não é certo nem seguro. Que Deus me ajude. Amém."
A
declaração de Lutero, e sua subseqüente tradução da Bíblia para sua língua
vernácula (do próprio País), tiveram dois efeitos. Primeiro, tirou da Igreja
Católica Romana o direito exclusivo de interpretação. O povo não mais
ficaria à mercê das doutrinas da igreja, tendo de aceitar as tradições ou
ensinos eclesiásticos como tendo autoridade igual à da Palavra de deus.
Segundo, colocou a interpretação nas mãos do povo. Essa mudança foi mais
problemática. Levou aos mesmos excessos sobre os quais a Igreja Romana estava
envolvida - interpretações *subjetivas do texto que levam ao afastamento da fé
cristã histórica.
O
*subjetivismo tem sido o grande perigo da interpretação pessoal. O princípio da
interpretação pessoal não significa que o povo de Deus tenha o direito de
interpretar a Bíblia da maneira que bem entender. Juntamente com o
"direito" de interpretar as Escrituras vem também a responsabilidade
de interpretá-la corretamente. Os crentes têm liberdade de descobrir as
verdades da Escrituras, mas não são livres para fabricar suas próprias
verdades. São chamados para entender os sólidos princípios de interpretação e
evitar os perigos do subjetivismo.
Portanto,
buscar um entendimento objetivo das Escrituras de maneira nenhuma reduz a
Bíblia a algo frio, abstrato e sem vida. O que estamos fazendo é buscar
entender o que a Palavra diz em sus contexto antes de prosseguirmos para a
tarefa igualmente necessária de aplicá-la à nossa vida. Uma declaração em
particular pode ter numerosas aplicações pessoais possíveis, mas só pode ter um
único significado correto. O direito de interpretar a Bíblia leva junto consigo
a obrigação de interpretá-la com exatidão. A Bíblia não é um "nariz de
cera" que pode ser moldado e assumir a forma desejada pelo intérprete.
Sumário
1. A
Reforma deu à Igreja uma tradução da Bíblia na língua comum e a cada crente o
direito e a responsabilidade de interpretar a Bíblia pessoalmente.
2. A
tradição da igreja, embora seja instrutiva como um guia, não tem autoridade
igual à da Bíblia.
3. A
interpretação pessoal não equivale a uma licença para o subjetivismo.
4. O
princípio da interpretação pessoal leva consigo a obrigação de buscar a
interpretação correta da Bíblia.
5. Embora
cada texto bíblico tenha múltiplas aplicações, ele tem um único significado
correto.
*
Interpretação subjetiva é há interpretação individual, pessoal, particular. Não
se baseia unicamente nos textos das Escrituras Sagradas, mas na própria mente
do indivíduo.
Autor:
R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br .
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br .
O Cânon das Escrituras
Lc 24.44,45; 1 Co 15.3-8; 2 Tm 3.16,17; 2 Pe 1.19-21; 2 Pe 3.14-16
Lc 24.44,45; 1 Co 15.3-8; 2 Tm 3.16,17; 2 Pe 1.19-21; 2 Pe 3.14-16
Geralmente
pensamos na Bíblia como um livro grande.Na verdade, trata-se de uma pequena
biblioteca composta de 66 livros individuais. Juntos, tais livros compõem o que
chamamos cânon da Escritura Sagrada. O termo cânon deriva-se de uma palavra
grega que significa "vara de medir", "padrão", ou
"norma". Historicamente, a Bíblia tem sido a regra autoritativa de fé
e prática na Igreja.
Com
referência aos livros que compões o Novo Testamento, existe completo acordo
entre católicos e protestantes. Existe, entretanto, forte divergência entre os
dois grupos sobre o que deveria ser incluído no Antigo Testamento. Os católicos
romanos consideram os livros chamados apócrifos como sendo canônicos, enquanto
o protestantismo histórico não os considera. (Os livros apócrifos foram
escritos depois que o Antigo Testamento já estava completo e antes que
começasse o Novo Testamento.) O debate concernente aos apócrifos concentra-se
na questão mais ampla do que era considerado canônico pela comunidade judaica.
Existem fortes evidências de que era considerado canônico pela comunidade
judaica. Existem fortes evidências de que os apócrifos não eram incluídos no
cânon palestino dos judeus. Por outro lado, tudo indica que os judeus que
viviam no Egito teriam incluído tais livros (traduzidos para o grego) no cânon
alexandrino. Evidências recentes, entretanto, laçam dúvidas sobre isso.
Alguns
críticos da Bíblia argumentam que a Igreja não tinha a Bíblia como tal até
quase o início do quinto sáculo. Isso, porém, é uma distorção de todo o
processo do desenvolvimento canônico. A igreja reuniu-se em concílio em várias
ocasiões nos primeiros séculos para decidir as disputas sobre quais livros
pertenciam propriamente ao cânon. O primeiro cânon formal do Novo Testamento
foi criado pelo herege Marcião, o qual produziu sua própria versão expurgada da
Bíblia. Para combatê-lo, a Igreja descobriu que era preciso declarar qual o
conteúdo exato do Novo Testamento.
Embora a
grande maioria dos livros que atualmente se acham incluídos no Novo Testamento
claramente funcionava com autoridade canônica desde que foram escritos, houve
alguns poucos livros cuja inclusão no cânon do Novo Testamento foi muito
debatida. Esses livros incluíam Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e
Apocalipse.
Houve
também vários livros que disputavam a condição de canônicos, mas que não foram
incluídos. A maioria esmagadora desses livros compunha-se de obras espúrias escritas
por hereges gnósticos do século II. Tais livros nunca receberam uma
consideração séria. (Esse ponto é menosprezado pelos críticos que alegam que
mais do dois mil volumes resultaram numa lista de 27. Daí eles perguntam:
"Quais são as probabilidades de que os 27 selecionados sejam os
corretos?" De fato, apenas dois ou três livros que não foram incluídos no
cânon foram levados em consideração. Foram estes: 1 Clemente, O Pastor de
Hermas e O Didaquê. Estes livros não foram incluídos no cânon das Escrituras
porque não foram escritos por apóstolos e os próprios autores reconheceram que
a autoridade deles estava subordinada aos apóstolos.
Alguns
cristãos ficam preocupados com o fato de que houve um processo de seleção
histórica. Ficam perturbados com a dúvida: "Como podemos saber que o cânon
do Novo Testamento inclui os livros certos?" A teologia tradicional
católica romana responde a essa pergunta apelando para a infabilidade da
igreja. A igreja então é vista com "criadora" do cânon, tendo,
portanto, a mesma autoridade que a própria Bíblia. O protestantismo clássico
nega que a igreja seja infalível e também que ela "tenha
criado" o cânon. A diferença entre o catolicismo romano e o protestantismo
pode ser resumida da seguinte maneira:
Visão do
Catolicismo Romano:
O Cânon é uma coleção infalível de livros infalíveis.
O Cânon é uma coleção infalível de livros infalíveis.
Visão do
Protestantismo Clássico:
O Cânon é uma coleção falível de livros infalíveis.
O Cânon é uma coleção falível de livros infalíveis.
Visão dos
Críticos Liberais:
O Cânon é uma coleção falível de livros falíveis.
O Cânon é uma coleção falível de livros falíveis.
Embora os
protestantes creiam que Deus teve um cuidado especial e providencial para
assegurar que os livros certos fossem incluídos, nem por isso consideram que
ele tenha tornado a igreja infalível. Os protestantes também lembram aos
católicos romanos que a igreja não "criou" o cânon. A igreja
identificou, reconheceu, recebeu e se submeteu ao cânon das Escrituras. O termo
usado pela igreja em Concílio foi "recipimus", que significamos “nós
recebemos".
Qual foi
o critério de avaliação dos livros? As assim chamadas marcas de canonicidade
incluíam o seguinte:
1. Tinham
de ter autoria ou endosso apostólico;
2. Tinham
de ser recebidos como autoritativos pela igreja primitiva;
3. Tinham
de estar em harmonia com os livros a respeito dos quais não havia dúvida.
Embora
numa época de sua vida Martinho Lutero tenha questionado a canocidade de
Thiago, posteriormente mudou de opinião. Não existe nenhuma razão séria para se
ter um mínimo de dúvida de que os livros atualmente incluídos no cânon do Novo
Testamento não sejam os verdadeiros.
Sumário
1. O
termo cânon deriva-se do grego e significa "norma" ou
"padrão". O cânon é usado para descrever a lista autoritativa de
livros que a igreja reconheceu como Escrituras Sagradas, e portanto sua
"regra" de fé e prática.
2. Além
dos 66 livros da Bíblia aceitos pelos protestantes, os católicos romanos também
aceitam os Livros Apócrifos como Escrituras autoritativa.
3. Para
combater as heresias, a Igreja descobriu que era preciso declarar quais livros
tinham sido reconhecidos como sendo autoritativos.
4.
Existem alguns livros no cânon que foram assuntos de debate (Hebreus, Tiago, 2
Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse) e alguns livros cuja inclusão foi
considerada, mas que não foram admitidos no cânon, incluindo 1 Clemente, O
Pastor de Hermas e O Didaquê.
5. A Igreja
não criou o Cânon, mas apenas reconheceu os livros que tinham as marcas de
canonicidade e que portanto tinham autoridade na Igreja.
6. As
marcas de canonicidade incluíam: (a) autoridade ou endosso apostólico; (2)
autoridade reconhecida na Igreja primitiva e (3) estar em harmonia com os
livros que já faziam parte inquestionável do cânon.
Autor:
R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br
A Palavra sob Ataque
Satanás
foi historicamente o primeiro a lançar dúvidas quanto à Palavra de Deus. A
partir daí, ainda que sem admitir, na prática todos somos conduzidos, de uma
forma ou de outra, a duvidar do que Deus disse. Como? Quando, por exemplo, não
consideramos os seus ensinamentos em nossa conduta e decisões. Chamo isso de
negação existencial da Palavra ou ateísmo prática. Vejamos como Satanás agiu e
ainda age no que se refere à Palavra de Deus:
A.
Deturpando a Palavra
Há muitas
pessoas que sabem citar de memória, com grande facilidade, trechos das
Escrituras. Algumas dessas pessoas fazem isso fora de contexto. Foi
precisamente assim que Satanás fez com Eva e agiu do mesmo modo com Cristo, no
deserto.
No livro de Gênesis, encontramos o registro da ordem de Deus dada a Adão: “De toda árvore comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17). Quando Satanás se depara com uma ocasião propícia para os seus intentos, diz a Eva: “É assim que Deus disse: Não comerás de toda árvore do jardim?... É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele [fruto] comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.1,4,5). Com Jesus, Satanás tenta fazer a mesma coisa (Mt 4.1-11), citando o Salmo 91.11,12, para que ele, cedendo à tentação, disse algo como: “Eu sou o filho de Deus e vou provar isso”.
No livro de Gênesis, encontramos o registro da ordem de Deus dada a Adão: “De toda árvore comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17). Quando Satanás se depara com uma ocasião propícia para os seus intentos, diz a Eva: “É assim que Deus disse: Não comerás de toda árvore do jardim?... É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele [fruto] comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.1,4,5). Com Jesus, Satanás tenta fazer a mesma coisa (Mt 4.1-11), citando o Salmo 91.11,12, para que ele, cedendo à tentação, disse algo como: “Eu sou o filho de Deus e vou provar isso”.
Ao longo
da História, esta tem sido uma das estratégias preferidas de Satanás: deturpar
a Palavra de Deus. Quantas heresias surgiram e continuam surgindo, supostamente
baseadas em textos bíblicos? O homem moderno, falando da possibilidade de “uma
leitura deferente das Escrituras”, tem ensinado aberrações antibíblica.
A maior
parte das heresias tem em sua esfera trechos isolados das Escrituras que
parecem ensinar algo de novo e arrebatador, ainda não percebido antes. No
entanto, quando vamos analisar o fundamento dessas “interpretações” percebemos
o quão deferente é da verdade bíblica. Há pessoas que negam a divindade de
Cristo pela Bíblia; outros que fundamentam o adultério, a poligamia, o
espiritismo, a adoração de anjos, homossexualismo, etc. para todos esses erros
a Bíblia é usada como fundamento.
Precisamos estar vigilantes para que não sejamos seduzidos pela astúcia do inimigo que sabe agir com sutileza.
Precisamos estar vigilantes para que não sejamos seduzidos pela astúcia do inimigo que sabe agir com sutileza.
B.
Insinuando
Satanás
não diz diretamente algo a nós, mas dá a entender, induz, sugere uma idéia. Ele
nos faz pensar de uma forma equivocada, dando-nos a impressão de que agora, de
fato, descobrimos a verdade.
A Eva, ele diz: “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1). Ora, Deus não tinha dito isso; ao contrário; de toda a árvore o homem poderia comer exceto uma: a árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, usando palavras semelhantes, ele diz coisas bem diferentes. Em sua insinuação havia a tentativa de dizer que deus era mentiroso e, portanto, não deveria ser obedecido. Eva cedeu; duvidou da Palavra de Deus.
A Eva, ele diz: “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1). Ora, Deus não tinha dito isso; ao contrário; de toda a árvore o homem poderia comer exceto uma: a árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, usando palavras semelhantes, ele diz coisas bem diferentes. Em sua insinuação havia a tentativa de dizer que deus era mentiroso e, portanto, não deveria ser obedecido. Eva cedeu; duvidou da Palavra de Deus.
A Jesus,
com fome no deserto, ele usa da mesma estratégia, dizendo: “Se és Filho de
Deus, manda que estas pedras se transformem em pão” (Mt 4.3). O seu desejo é
fazer com que Jesus duvide da sua filiação divina, ou que tente prová-la,
sucumbindo à tentação. Aliás, este foi um desafio comum a Jesus Cristo: usar do
seu poder eterno para fazer o que desejava. Mas ele permaneceu fiel em tudo (Mt
26.29; Jo 8.28, 29, 42; 17.1-6).
Não
satisfeito com a resposta de Jesus, Satanás continua: “Se és Filho de Deus, atira-te
abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito; que te
guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma
pedra” (Mt 4.6).
Mais tarde, na sua crucificação , o mesmo tipo de tentação é feito ao Senhor Jesus (Mt 27.38-43; 15.30-32).
Mais tarde, na sua crucificação , o mesmo tipo de tentação é feito ao Senhor Jesus (Mt 27.38-43; 15.30-32).
Na
insinuação diabólica há sempre uma tentativa de mostrar que o nosso caminho, a
nossa opção é a melhor; a sua proposta sempre parecerá ser mais lógica e
atraente. A desobediência a Deus é, com freqüência, o caminho que nos parece
mais objetivo e prático, além de encontrarmos uma inclinação natural para ele.
No entanto, a vontade de Deus para nós é que resistamos a estas tentações e
continuemos crendo em Deus e na sua Palavra, seguindo a rota proposta; o
caminho de vida por ele traçando por nós.
C.
Lançando dúvidas
Antes de
prosseguirmos nesse estudo, é necessário dizer que a dúvida não é
necessariamente má; é preciso que cultivemos uma boa dose de dúvida, ou
critérios, para que não sejamos conduzidos a qualquer crendice.
Satanás
procura tirar a certeza que temos da Palavra de deus, para vacilar-nos em nossa
fé, abrindo uma brecha para a sua ação mais efetiva.
A
recomendação bíblica é resistir ao maligno, porque o resto Satanás deixa por
nossa c0nta, deixa que a nossa imaginação pecaminosa fermente a sua insinuação,
adicionando outros elementos no decorrer do tempo. O diabo conhece as fraquezas
e os deslizes de cada um. Ele sabe onde afetar e onde sustentar desejos
pecaminosos. Mas a grande verdade é que quando alguém cai, o pecado cometido
não é cobrado de Satanás, mas da pessoa que se deixou seduzir, bem como Adão e
Eva tiveram a merecida punição de sua desobediência.
Outra dúvida que ele lançou foi a Pedro. Jesus, quando declarou que sofreria muitas coisas, até que fosse morto e ressuscitasse, Pedro, que acabara de confessar ser Jesus Cristo, é usado por Satanás para lançar dúvidas na dolorosa, porem verdadeira certeza que Cristo tinha (Mt 16.22,23).
Outra dúvida que ele lançou foi a Pedro. Jesus, quando declarou que sofreria muitas coisas, até que fosse morto e ressuscitasse, Pedro, que acabara de confessar ser Jesus Cristo, é usado por Satanás para lançar dúvidas na dolorosa, porem verdadeira certeza que Cristo tinha (Mt 16.22,23).
Percebam
a astúcia de Satanás, como ele age: Jesus começou naquele momento a falar aos
seus discípulos dos seus sofrimentos futuros, morte e ressurreição e Satanás,
em ato contínuo, usa justamente a Pedro, aquele que confessara o seu senhorio,
para tentá-lo.
A palavra
de Pedro pareciam encorajadoras e consoladores, mas Jesus detectou o mal que
estava por trás delas e afastou de si a tentação de não seguir em frente com a
missão salvadora, porém externamente dolorosa e devastadora.
A ousadia
de Satanás nesse episódio é tremendamente eloqüente. Cristo o repreendeu, não
se deixando conduzir por esta ação maligna.
"Desde
então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que
ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais
sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia
ressuscitasse.E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo:
Tenha Deus compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá. Ele,
porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de
escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas
que são dos homens."
(Mt 16.21-23)
Autor:
Herminsten Maia Pereira da Costa
Fonte: Revista Expressão, Século 21 – Atualidades, A igreja em seu contexto, Lição 6, pg. 26-28, Ed. Cep. Compre esta revista trimestra em http://www.cep.org.br
Fonte: Revista Expressão, Século 21 – Atualidades, A igreja em seu contexto, Lição 6, pg. 26-28, Ed. Cep. Compre esta revista trimestra em http://www.cep.org.br
Livre exame e livre
interpretação
Tradição, Confissão e a Supremacia das Escrituras
O erudito
evangélico Grescham Machen (1881-1937), asseverou em 1921: “A Reforma do século
16 foi baseada na autoridade da Bíblia e ... colocou o mundo em chamas” [1].
Ele estava certo. A Reforma não somente retomou o estudo e o ensino das
Escrituras, como também recuperou a antiga e esquecida forma de lê-la, abrindo
o seu estudo para todos. Com isso, iniciando com uma reforma espiritual, ela
gerou uma revolução em todas as áreas do saber. Vejamos alguns aspectos disso.
I. Tradição e Escrituras.
A. A redescoberta da
interpretação bíblica
Na
Reforma Protestante do século 16, sustentando o princípio do “livre exame” das
Escrituras, deu-se uma mudança de quadro de referência. Um dos pelares
fundamentais é a questão hermenêutica da tradição da igreja para a compreensão
da Palavra. Há uma mudança de critério de verdade que determina toda a
diferença.
Conforme
acentua Popkin, Lutero inicialmente confrontou a igreja dentro da perspectiva
da própria tradição da igreja, somente mais tarde é que ele: “deu um passo
crítico que foi negar a regra de fé da Igreja, apresentando um critério de
conhecimento religiosos totalmente diferente. Foi neste período que ele deixou
de ser apenas mais um reformador atacando os abusos e a corrupção de uma
burocracia decadente, para tornar-se o
líder de uma revolta intelectual que viria a abalar os próprios
fundamentos da civilização ocidental”[2].
Partindo
desses princípios, a Reforma, onde quer que chegasse, se preocupava em colocar
a Bíblia na língua do povo, a fim de que todos tivessem acesso à leitura –
sendo o “reavivamento” da pregação da Palavra um dos marcos fundamentais da
Reforma.
Os
Reformadores criam que se as Escrituras estivessem numa língua acessível aos
povos, todos os que quisessem poderiam ouvir a voz de Deus, e todos os crentes
teriam acesso à presença de Deus. Contudo, os reformadores esbarraram com um
problema estrutural: o analfabetismo. A socialização do saber acabou sendo
também um produto da Reforma. As pessoas deveriam ser alfabetizadas para ler as
Escrituras, daí a grande reforma educacional gerada pelo protestantismo.
B. “Sola Scriptura” x tradição?
A
tradição nunca foi rejeitada pelo simples fato de ser tradição. Na própria
Escritura encontramos ênfase a crítica à tradição (2 Ts 2.15). A questão básica
é: a que tradição estamos nos referindo?
Sproul explica: “Lutero e os reformadores não queriam dizer por Sola Scriptura
que a Bíblia é a única autoridade da igreja. Pelo contrário, queriam dizer que
a Bíblia é a única autoridade infalível dentro da Igreja” [3]. A autoridade dos
Credos (Apostólicos, Nicéia, Calcedônia) era indiscutivelmente considerada
pelos reformadores – tendo inclusive Lutero [O Catecismo Maior (1529) e O Catecismo Menor (1529)] e Calvino [Catecismo de Genebra (1536/37 e 1541/2)
e Confissão Gaulesa (1559)] elaborado
Catecismos para igreja [4].
Para nós
os Credos servem para que continuemos nossa caminhada na preservação da
doutrina e na aplicação das verdades bíblicas aos novos desafios de nossa
geração, integrando-nos assim, à nobre sucessão daqueles que amam a Deus e à
sua Palavra e que buscam entendê-la e aplicá-la, em submissão ao Espírito, à
vida da igreja.
Uma
tradição saudável tem compromisso com o passado na geração do futuro. Só este
fato deveria, por si só, nos conduzir a uma atitude mais humilde, como assinala
Noll: “ O Estudo da história da igreja deve aumentar a nossa humildade sobre
quem somos e aquilo em que cremos. Não há nada que a igreja moderna desfrute
que na seja uma dádiva das gerações anteriores do povo de Deus. Na realidade,
nós modificamos, adaptamos e ampliamos essas dádivas do passado, mas não as
criamos” [5]. Portanto, “o
conservadorismo criativo utiliza-se da tradição, não como autoridade final ou
absoluta, mas como recurso importante colocado à nossa disposição pela
providência de Deus, a fim de nos ajudar a entender o que a Escritura está nos
dizendo sobre quem é Deus, quem somos nós, o que é o mundo ao nosso redor, e o
que fomos chamados para fazer aqui e agora” [6].
O Credo é
uma resposta do homem à Palavra de Deus, sumariando os artigos essenciais da fé
cristã. Dessa forma, eles pressupõem fé; mas não a geram. Isso é obra do
Espírito Santo através da palavra (Rm 10.17). Os credos têm a sua autoridade
decorrente das Escrituras.
Os credos
são somente uma aproximação e uma relativa exposição da verdade revelada. Dessa
forma, podem ser modificados pelo progressivo conhecimento da Bíblia a qual é
infalível e inesgotável.
Não
devemos tomar os Credos como autoridade final para definir um ponto
doutrinário: os limites de nossa reflexão teológica estão na Bíblia, não nos
Credos. Os Credos não estabelecem o limite de nossa fé, antes a norteiam.
2. O valor da Confissão de Fé de
Westminster
A
Confissão de Fé de Westminster (1647) [7],
apresenta-nos um bom resumo dos princípios hermenêuticos que nos
orientam na interpretação das Escrituras. Vejamos alguns pressupostos:
a) Que as
Escrituras são inspiradas por Deus (CFW, I.2,8). Ele é o seu Autor (CFW, I.4);
b) Deus
concedeu as Escrituras para serem a regra
de fé e de prática (CFW, I.1-2);
c) Ela é indispensável para a vida cristã (CFW,
I.1), devendo ser lida e estudada no
temor de Deus (CFW, 1.8). Por isso, a igreja deve promover a sua tradução
para todos os idiomas, a fim de que o homem possa conhecer a Deus, adorando-o
de forma aceitável, bem como usufruir as bênçãos espirituais decorrentes da
compreensão das Escrituras (CFW, I.8).
3. A Autoridade das Escrituras
A. Autoridade interna
“A autoridade da Escritura
Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho
de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que
é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus. II
Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.”
(CFW I.4)
A
autoridade da Bíblia deriva do fato dela ser a Palavra de Deus. O seu testemunho
é interno e evidente, mesmo que os homens assim não creiam. Ela não depende do
nosso testemunho para ter autoridade; ela é o que é (1Ts 2.13; 2 Tm 3.16; 2 Pe
1.20,21; 1 Jo 5.9).
Não é a
igreja que autentica a Palavra por sua interpretação, como a igreja romana
sustentou em diversas ocasiões. É a Bíblia que se autentica a si mesma como
Palavra de Deus possuidora de autoridade e é ele mesmo quem nos ilumina para
que a interpretemos corretamente (Sl 119.18). Por isso, o Espírito não pode ser
separado da Palavra. Somente pela operação divina poderemos reconhecer a sua
origem divina bem como compreendê-la salvadoramente. (CFW, I.5,6).
Cabe nós
submeter o nosso juízo e entendimento à verdade de Deus conforme testemunhada
pelo Espírito. A Palavra de Deus direcionada ao homem revela a seriedade com
que Deus nos trata: “Sempre que o Senhor
se nos acerca com sua Palavra, Ele está tratando conosco da forma mais séria,
com o fim de mover todos os nossos sentidos mais profundos. Portanto, não há
parte de nossa alma que não receba sua influência”. [8].
B. Autoridade hermenêutica
A Bíblia apresenta a melhor
interpretação a respeito dos seus ensinamentos: “A regra infalível de
interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão
sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que
não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por
outros textos que falem mais claramente. At. 15: 15; João 5:46; II Ped.
1:20-21.” (CFW, 1.9).
Nós não
podemos criar uma suposta categoria científica a qual se torne a verinha de
condão para a interpretação da Bíblia. Os princípios hermenêuticos devem estar
subordinados a esta verdade e, devem ser derivados, portanto, da própria
Bíblia: a harmonia do seu todo e das suas partes estabelecem uma unidade
harmoniosa, por meio da qual, formulamos os princípios de interpretação, tendo
como mestres, os profetas – que interpretaram os acontecimentos passados e a
história dos seus dias -, Jesus Cristo e os apóstolos, os quais deram lições
práticas de hermenêutica, interpretando o Antigo e o Novo Testamentos: “Os
crentes possuem um padrão permanente e um modelo no uso que nosso Senhor fez do
Antigo Testamento, e uma parte do atual trabalho do Espírito Santo no tocante
aos crentes é abrir-lhes as Escrituras, conforme o Cristo ressurreto as abriu
para os dois discípulos no caminho para Emaús (Lc 24.25ss)” [9].
Quando
nos aproximamos da Bíblia partimos do pressuposto de que ele é o registro fiel
e inerrante da Revelação de Deus (Jo 10.35; 1Tm 1.15; 3.1; 4.9; 2Tm 3.16; 2Pe
1.20,21); por isso, podemos dizer como Paulo: “Fiel é a Palavra” (1 Tm 3.1;
4.9).
É por
meio das Escrituras que aprendemos que o melhor intérprete da Palavra é o Espírito falando na Escritura (CFW, 1.10;
veja Mt 22.29,31; At 4.24-26; 28.25; 1 Co 2.10-16); como nos instruiu o Senhor
Jesus Cristo: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda
a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e
vos anunciará as cousas que há de vir” (Jo 16.13). “Mas o Consolador, o
Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as
cousas e vos farpa lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26; Jo 5.30;
14.6; 17.17).
C. Autoridade auxiliadora
“Sob o nome de Escritura Sagrada,
ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo
Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem
a regra de fé e de prática...” (CFW, I.2).
Como bem
sabemos, a Escritura é infalível, não a nossa interpretação, portanto, devemos
buscar sempre nas Escrituras o sentido pleno da revelação. A Teologia é uma
reflexão interpretativa e sistematizada da Palavra de Deus. Não existe teologia
inspirada por Deus. A relevância de nossa formulação não dependerá de sua
“beleza”, “popularidade” ou “significado para o homem moderno”, mas sim na sua
conformação às Escrituras.
O mérito
de toda teologia está nos seu apego incondicional e irrestrito à Revelação. A melhor
interpretação é a que expressa o sentido do texto à luz de toda a Escritura, ou
seja, em conexão com toda a verdade revelada.
Não há nada mais edificante e
prático do que a verdade de Deus.
A
Teologia Reformada é uma reflexão baseada na Palavra em submissão ao Espírito,
buscando sempre uma compreensão exata do que Deus revelou e inspirou e que,
agora, nos ilumina pelo mesmo Espírito (Ef 1.15-21; Sl 119.18).
A
Teologia Reformada reconhece a centralidade real de Deus em todas as coisas,
tendo como alvo principal, não tão
decantado bem-estar humano – que por certo tem a sua relevância-, mas a glória
de Deus, sabendo que as demais coisas serão acrescentadas (Mt 6.33; Ef
1.11,12).
É a
Palavra de Deus que deve dirigir toda a nossa abordagem e interpretação
teologia, bem como de toda a nossa compreensão da realidade.
D. Autoridade para nos conduzir a
Deus
“Ainda que a luz da natureza e as
obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria
e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são
suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário
para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes
modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; ... foi
igualmente servido fazê-la escrever toda.” (CFW I.1).
“A própria luz da natureza no
espírito do homem e as obras de Deus claramente manifestam que existe um Deus;
porém só a sua Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo suficiente e
eficazmente aos homens para a sua salvação” (Catecismo Maior de Westminster,
resposta à pergunta 2).
Entendemos
que sem as Escrituras não podemos ter um conhecimento correto e salvador de
Jesus Cristo (Jo 5.39; Rm 10.17), como bem observou Calvino (1509-1564): “Ora,
já que, em razão de sua obtusidade, de modo nenhum pode a mente humana chegar
até Deus, salvo se assistida e sustentada por sua Sagrada Palavra” [10].
Todavia,
também, sabemos que este conhecimento não deve ter um fim em si mesmo; a
revelação foi-nos dada para nos conduzir a Deus (Jo 5.39,40), adorando-o na
liberdade do Espírito e nos parâmetros
da Palavra. Sem as Escrituras, Cristo
não pode ser conhecido salvadoramente. O Conhecimento de Cristo deve implicar
sempre na sua adoração.
E. Autoridade para julgar a nossa
teologia
“O Velho Testamento em
Hebraico... e o Novo Testamento em Grego... sendo inspirados imediatamente por
Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os
séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a
Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal..." (CFW, I.8)
“...o Juiz Supremo em cuja
sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando
na Escritura” (CFW, I.10)
O valor
da teologia estará sempre subordinado à sua fidelidade bíblica. Por isso é que
a teologia ou é bíblica ou não é teologia. Não julgamos a Bíblia; ela que
julga. O Espírito falando por meio da palavra, é fogo depurador da genuína
teologia.
F. Autoridade completa
“Todo o conselho de Deus
concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação,
fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser
lógica e claramente deduzido dela. (CFW, I.6)”
A
Escritura é a revelação completa de Deus; tudo o que Deus quer que saibamos a
respeito da nossa salvação está registrado de forma explícita (CFW I,1.7) A
demais verdades reveladas, que precisam
ser obedecidas, criadas e observadas para a salvação podem ser
compreendidas por meio de uma interpretação lógica, amparada no conjunto de
ensinamentos bíblicos. (CFW, I.6).
G. Autoridade escrita final
“...À Escritura nada se
acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por
tradições dos homens...” (CFW, I.6)
Entendemos
que os 66 livros canônicos encontra-se a revelação escrita de Deus, registra de
forma inerrante. À Bíblia, não se fará
nenhum acréscimo, correção ou eliminação
(Dt 4.2; 12.32; Mt 5.18; Ap 22.18,19). Ela é a palavra final de Deus, no que se
refere à sua vontade para nós. A Revelação é completa – atingindo tudo o que
Deus deseja -, e final: permanece para sempre.
O que
afirmamos, exclui o obviamente, a aceitação dos apócrifos (CFW, I.3), as
supostas revelações complementares, as interpretações “oficiais” (CFW, I.4) e a
tradição verbal ou escrita (como no caso da igreja romana).
Daqui
concluímos que o nosso sistema doutrinário deve permanecer sempre aberto a um
reestudo das Escrituras. O nosso sistema doutrinário, por melhor que seja - e
eu estou convencido de que é -, não pode ser mais rico do que a Palavra de
Deus. Por isso, o critério último de análise, será sempre O Espírito Santo falando nas Escrituras (CFW, I.10).
Conclusão
Como
vimos, a Escritura é a melhor intérprete de si mesma. Como “norma da fé” a
Escritura é o crivo pelo qual toda doutrina ou mesmo profecia deve ser analisada.
DA própria Escritura procedem os princípios de interpretação e os termos empregados.
Isso nos
ensina que todo crente tem livre acesso aos ensinos da Palavra. Todos devem se
empenhar em compreendê-la com a máxima perfeição possível. Por meio desse livre
exame, todo crente se desenvolve e é edificado nos estudo pessoal e particular
das Escrituras.
Nota
[1] J.
Gresham Machen, Cristianismo e Liberalismo, São Paulo: Os puritanos, 2001, p.
83.
[2]
Richard H. Popkin, Histótia do Ceticismo de Erasmo a Spinoza, Rio Janeiro:
Francisco Alves, 200, p. 26.
[3] R. C.
Sproul, “Sola Scriptura: Crucial ao Evangelismo”: In: J.M. Boice, org. O alicerce da Autoridade Bíblica, São
Paulo: Vida Nova, 1982, p. 122.
[4] Para
um estudo mais detalhado deste ponto, ver: Hermisten M. P. Costa, “Os símbolos
de Fé na História: Sua Relevância e Limitações” In: Fides Reformata: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew
Jumper, IX/1 (2004) 51-57.
[5] Mark
A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, São Paulo: Cultura Cristã,
p. 20.
[6] J. I.
Packer, “O Conforto do Conservadorismo” in: Michael Horton, org. Religião de
poder, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 241.
[7]
Doravante citada como CFW.
[8] João
Calvino, Exposição de hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 4.12), p. 108.
[9] F.F.
Bruce, “Interpretação Bíblia”: In: J.D. Douglas, org. O Novo Dicionário da
Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, Vol II, p. 753.
[10] João
Calvino, As Institutas, I.6.4.
Autor:
Herminsten Maia Pereira da Costa
Fonte:
Revista Expressão, Século 21 – Atualidades, A igreja em seu contexto, Lição 07,
pg. 28-35, Ed. Cep.
Leia as confissões:
Autoridade e
Suficiência das Escrituras – Origem, Testemunho e nossa
prática.
Um dos
princípios sustentado pela Reforma Protestante do Século 16 foi a afirmação da
suficiência das Escrituras (Sola
Scriptura significa Somente as
Escrituras, em latim). Com isso, os Reformadores enfatizaram que somente a
Bíblia é a única autoridade infalível dentro da Igreja: Somente as Escrituras
são incondicionalmente autoritativas.
Um dos
problemas fundamentais entre os cristãos do século 20/21, está na não aceitação
teórica (confessional) e prática (vivencial) da Bíblia como Palavra
autoritativa, inerrante e infalível de Deus. Uma visão relapsa deste ponto
determina o fracasso teológico e espiritual da Igreja.
Este
desvio teológico, acerca destas doutrinas, tem contribuído de forma acentuada,
para que os homens não mãos discirnam a palavra de Deus e, por isso, não possam
gozar da sua operação eficaz levada a efeito pelo Espírito (Cf. 1Ts 2.13
compare com Jo17.17), caindo assim, na “rampa escorregadia” da negação de
outras doutrinas. Vejamos, então, alguns aspectos concernentes à autoridade das
Escrituras.
1. A Suficiência das Escrituras:
Sua Origem
Deus é o
Autor da Escrituras. Mesmo a Bíblia sendo registrada por homens, falando do
pecado do homem, descrevendo a desobediência circunstancial de seus autores
secundários, ela é prioritariamente um livro divino.
Paulo diz
que “toda Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16), indicando a sua
procedência: toda a Escritura Sarada é soprada, exalada por Deus. Esta Palavra
não foi apenas entregue aos homens, mas foi preservada por Deus; Deus preservou
ao seu registro e quanto à sua conservação.
Warfield
(1851-1921), comentando o texto de 2 Timóteo 3.16, diz: “Numa palavra, o que se
declara nesta passagem fundamental é, simplesmente, que as Escrituras são um
produto divino, sem qualquer indicação da maneira como Deus operou para as
produzir. Não se poderia escolher nenhuma outra expressão que afirmasse, com maior saliência, a
produção divina das Escrituras, como esta o faz. 9.(...) Paulo (...) afirma com
toda a energia possível, que as Escrituras são o produto de uma operação
especificamente divina.”¹
Com isto,
estamos dizendo que o Deus que se revelou, esteve “expirando” os homens que ele
mesmo separou para registrarem esta revelação. A inspiração bíblica garante que
seja registrado de forma veraz aquilo que a inspiração profética fazia com
respeito à palavra do profeta, para que ela correspondesse literalmente À mente
de Deus; em outras palavras: a Palavra escrita é tão fidedigna quando a Palavra
falada pelos profetas; ambas foram inspiradas por Deus.
2. A Suficiência do Testemunho
das Escrituras
A Bíblia
autentica-se a si mesma como o registro inspirado e inerrante da revelação de
Deus. Deus ordenou que a sua palavra fosse escrita (Ex 17.14), sendo chamado
este registro de “Livro do Senhor” (Is 34.16). Analisemos este ponto
substanciando-o com alguns dos muitos textos bíblicos que fundamentam a nossa
afirmação:
A. Os Profetas
1) Os
profetas são descritos como aqueles dos quais Deus fala (Ex 7.1; Dt 18.15,18;
Jr 1.9; 7.1). O Profeta não criava nem adaptava a mensagem; a ele competia
transmiti-la como havia recebido (Ex 4.30; Dt 4.2,5). O que se exige do Profeta
é fidelidade.
2)Os
Profetas tinham consciência de que foram chamados por Deus (1 Sm 3; Is 6; Jr 1;
Ez 1-3); receberam a mensagem da parte de Deus (Nm 23.5; Dt 18.18; Jr 1.9;
5.14), que era distinta dos seus próprios pensamentos (Nm 16.28; 24.13; 1 Rs
12.33; Ne 6.8). Os falsos profetas eram acusados justamente de proferirem as
suas próprias palavras e não as de Deus (Jr 14.14; 23.16; 29.9; Ez 13.2,3,6).
3) Quando
os profetas se dirigiam ao povo, diziam: “Assim diz o Senhor...”, “Ouvi a
Palavra do Senhor...”. “Veio a Palavra do Senhor” (Cf. Ez 31.1; Os 1.1; Jl 1.1;
Am 1.3; 2.1; Ob 1.1; Mq 1.1; Jr 27.1; 30.1,4, etc.); isto indicava a certeza
que tinham de que Deus lhes dera a mensagem e os enviara (Cf. Jr 20.7-9; Ez
3.4ss, 17,22; 37.1; Am 3.8; Jn 1.2).
4) um
fato importante a favor da sinceridade dos profetas de Deus, é que nem sempre
eles entendiam a mensagem transmitida (Cf. Dn 12.8,9; Zc 1.9; 4.4; 1 Pe
1.10,11).
B. Os apóstolos
Os
escritores do Novo Testamento reconheciam ser o Antigo Testamento a Palavra de
Deus (Hb 1.1; 3.7), sendo a “Escritura” um registro fiel da história e da
vontade de Deus (Rm 4.3; 9.17; Gl 3.8; 4.30).
Os
Apóstolos falavam com a convicção de que estavam pregando e ensinado a Palavra
inspirada de Deus, dirigidos pelo Espírito Santo (Vd. 1 Co 2.4-13; 7.10; 14.37;
2 Co 13.2,3; Gl 1.6-9; Cl 4.16; 1 Ts 2.13; 2 Ts 3.14)
Paulo e
Pedro colocavam os Escritos do Novo testamento no mesmo nível do Antigo
Testamento (Cf. 1 Tm 5.18 compara com Dt 25.4; Lc 10.7; 2 Pe 3.16).
Paulo
reconheceu os apóstolos e os profetas, no mesmo nível, como os fundamentos da
Igreja, edificados sobre Jesus Cristo, a pedra angular (Ef 2.20)
C. Jesus Cristo
Jesus
apela para o Antigo Testamento, considerando-o como a expressão fiel do
Conselho de Deus, sendo a verdade final e decisória. Deus é o autor das
Escrituras (Mt 4.4,7, 10; 11.10; 15.4; 19.4; 21.16,42; 22.29; Mt 105-9; 12.24;
Lc 19.46; 24.25-27; 44-47; Jo 10.34).
D. Afirmações diretas das
Escrituras
O Novo
Testamento declara enfaticamente que toda a Escritura, como Palavra de Deus, é
inspirada, inerrante e infalível (Vd. Mt 5.18; Lc 16.17, 29, 31; Jo 10.35; At
1.16; 4.24-26; 28.25; Rm 15.4; 2 Tm 3.16; Hb 1.1,2; 3.7-11; 10.15-17; 2 Pe
1.20).
A Bíblia
fornece argumentos racionais que demonstram a sua inspiração e inerrância,
todavia, os homens só poderão ter esta convicção mediante o testemunho interno
do Espírito Santo (Sal 119.118).² Os discípulos de Cristo, só entenderam as
Escrituras, quando o próprio Jesus lhes abriu o entendimento (Lc 24.45). A
Escritura autentica-se a si mesma e nós a recebemos pelo Espírito.³
A Igreja
sustenta a total rendição às reivindicações proféticas, apostólicas e do
próprio Cristo. Diante de um testemunho tão evidente, como poderia eu descartá-lo
e seguir as opiniões fantasiosas de homens? O cristão sincero deve aprender,
pelo Espírito de Deus, a subordinar a sua inteligência à sabedoria de Deus
revelada nas Escrituras e a guardar no coração a Palavra de Deus (Sl 119.11)
3. A Suficiência das Escrituras e
a Evangelização
No ato
evangelizador da Igreja, ela prega a palavra de Deus conforme a ordem divina
expressa nas Escrituras; fala da salvação eterna oferecida por Cristo, conforme
as Escrituras proclama as perfeições de Deus, conforme as Escrituras... Ora, se
a Igreja não tem certeza da fidedignidade do que ensina, como então, poderá
testemunhar de forma honesta?
Uma
Igreja que não aceite a inspiração e a inerrância bíblica, não poderá ser uma
igreja missionária. Como poderemos pregar a palavra se não estivermos
confiantes do sentido exato do que está sendo dito? Como evangelizar se nós
mesmos não temos certeza, se o que falamos procede da Palavra de Deus ou, está
embasado numa falácia? Paulo dá testemunho de que a Escritura é fiel; por isso,
ele a ensinava com autoridade (1 Tm 1.15; 4.9 compare com 2 Tm 4.6-8).
Satanás
objetando esmorecer o ímpeto evangelístico da Igreja, tem usado deste
artifício: minar a doutrina da inspiração e inerrância das Escrituras, a fim de
que a Igreja perca a compreensão de sua própria natureza e, assim, substitua a
pregação evangélica por discursos éticos, políticos e propaganda pessoal.
Aliás, A Escritura sempre foi um dos alvos
prediletos de Satanás (Vd. Gn 3.1-5; Mt 4.3,6,8,9; 2 Co 4.3,4).
Entretanto, a Igreja é chamada a proclamar com firmeza o Evangelho, conforme
registrado na Bíblia e preservado pelo Espírito através dos séculos (2 Tm 4.2).
A Igreja
prega o Evangelho, consciente de que ele é o poder de Deus para salvação do
pecador (Rm 1.16); por isso, recusar o Evangelho significa rejeitar o próprio
Deus que nos fala (1 Ts 4.8). Calvino, comentado Romanos 1.16, diz que aqueles
que “se retraem de ouvir a Palavra proclamada estão premeditadamente rejeitando
o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode libertá-los.” [4] A
Igreja proclama a Palavra, não as suas opiniões a respeito da Palavra,
consciente que Deus age através das Escrituras, produzindo frutos de vida
eterna (Rm 10.8-17; 1 Co 1.21; 1 Co 15.11; Cl 1.3-6; 1 Ts 2.13,14). A Igreja
por si só não produz vida, todavia ela recebeu a vida em Cristo (Jo 10.10),
através da sua Palavra vivificadora; deste modo, ela ensina a Palavra, para que
pelo Espírito de Cristo, que atua mediante as Escrituras, os homens creiam e
recebam vida abundante e eterna.
Conclusão
Nós somos
herdeiros dos princípios bíblicos da Reforma; para nós, como para os
Reformadores, a Palavra de Deus é a fonte autoritativa de Deus para o nosso pensar,
crer sentir e agir: A Palavra de Deus é-nos suficiente.
Quando
Satanás tentou a Jesus durante os seus 40 dias de jejum e oração no deserto,
dizendo: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transforme em pães”
(Mt 4.3), Jesus Cristo, recorrendo ao
Livro de Deuteronômio, capítulo 8, verso 3, respondeu: “ Não só de pão viverá o
homem, mas de toda a palavra que procede de Deus” (Mt 4.4). Notemos que esta
afirmação torna-se ainda mais dramática se consideramos o fato de que Jesus
estava à beira da inanição, sendo induzido a pensar que caso não comesse
imediatamente poderia morrer.
Nestas
palavras, não temos um contraste entre o espiritual e o físico, antes; há uma
demonstração categórica, feita por Cristo, de que devemos ter me mente que a
nossa sustentação, em todos os sentidos, provém de Deus: Somos sustentados pela
Palavra de Deus. O mesmo Espírito que nos regenerou através da Palavra (Tg
1.18; 1Pe 1.23), age mediante esta mesma Palavra, para que vivamos, de fato,
como novas criaturas que somos. A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito,
porque ela foi inspirada pelo Espírito Santo (2Pe 1.21).
Jesus
orou ao Pai para que ele nos santificasse na Verdade, que é a sua Palavra. Meus
irmãos, se quisermos crescer espiritualmente temos de recorrer à Palavra
vivificada de Cristo; somente ela pode nos tornar sábios para a Salvação
mediante a fé depositada unicamente em Jesus Cristo (2 Tm 3.15). Com este
propósito ela foi-nos concedida (Rm 15.4).
Você
aceita a autoridade das Escrituras? Quando sua opinião sobre determinado tema é
uma e a posição da Bíblia é outra, com qual você fica?
Nota:
¹B.B.WARFIELD, The
Inspiration of the Bíble: In: The Works
of Benjamin B. Warfield, Grande Rapids, Michigan, Baker Book House, 1981,
Vol. I, p. 79.
² Vd. J.
Calvino, Exposição de Romanos, São
Paulo, Paracletos, 199 (Rm 8.16), p. 279.
³ Vd. J.
Calvino, As Institutas São Paulo,
Casa Presbiteriana, 1985, I;7.4-5 e I.8.13
[4] J.
Calvino, Exposição de Romanos, (Rm
1.16), p. 58.
Autor:
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
Fonte:
Revista Palavra Viva – Graça e Fé, lição 04 - Sola Scriptura, pg 13-16, Editora Cultura Cristã. Compre esta
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A Bíblia e a Ciência
A Bíblia
não é um manual científico; ela não pretende ensinar-nos química, físico,
biologia, botânica, astronomia etc. Entretanto, cremos que o que ela diz no
campo científico, como em qualquer outro, é a verdade do ponto de vista
fenomenológico, não havendo divergência real entre a genuína ciência e a
correta interpretação da Palavra. Deus é o Senhor de toda a verdade. Portanto,
nossa compreensão bíblica é determinada pela revelação de Deus nas Escrituras;
não interpretamos a Bíblia simplesmente à luz da história, ou de seus
condicionamentos políticos, sociais, econômicos e culturais; antes, olhamos a
história a partir da perspectiva das promessas divinas.
Acreditamos
na coerência de toda a realidade, aceitamos até mesmo o que as Escrituras dizem
sobre o pecado. A ciência genuína nunca nos afastará de Deus. Ela só encontrará
pleno sentido no seu Senhor e para onde
todo o real converge e encontra seu verdadeiro significado. Aliás, como bem
acentuou Herman Bavinck (1854-1921):
Qualquer ciência, filosofia ou
conhecimento que suponha poder firmar-se em suas próprias pressuposições,
deixando Deus de fora de suas considerações, transforma-se em seu próprio
opositor e desilude a todos que constroem suas expectativas nisto. [1]
Portanto,
não temos medo dos fatos, porque sabemos
que provêm de Deus; nem tememos pensar, porque sabemos que toda verdade
procede de Deus. A razão corretamente conduzida e o exercício da genuína
ciência não oferecem perigo à fé, antes, são suas aliadas. Contudo, devemos
estar atentos isto: as Escrituras não se propõem a fazer ciência. Calvino
destacou isso ao comentar Gênesis 1:14:
“É necessário relembrar que Moisés não fala com agudez filosófica sobre
os mistérios ocultos, porém relata aquelas coisas que em toda parte observou, e
que igualmente são comuns aos homens simples” [2]. Inspirando por Deus, Moisés
escreveu do ponto de vista fenomenológico, sem a preocupação – e este não era
seu objetivo – de registrar os fatos com terminologia científica.
Na
hipótese de Moisés ter escrito conforme os padrões científicos de sua época – o
que não ocorreu, e isso é impressionante, pois ele rompeu com sua primorosa
formação egípcia -, certamente o que disse seria ridicularizado hoje. Em
contrapartida, se tivesse redigido o relato da criação com rigor cientifico
absoluto, dificilmente entenderíamos o que teria dito. As Escrituras
continuariam sendo ridicularizadas nesse caso simplesmente por nossa ignorância
científica. A linguagem descrita dos
fatos conforme se apresentam à nossa percepção é o melhor modo de tornar algo
compreensível a todas as épocas; assim,
Deus se designou fazer e o fez. Calvino afirma:
Moisés registra que foi acabada a
terra e acabados os céus, como todo o exército deles (Gn 2.1). Que vale
ansiosamente indagar em que dia, à parte das estrelas e dos planetas, hajam
também começado a existir os demais exércitos celestes mais recônditos, quais
sejam os anjos? Para não alongar-me em demasia, lembremo-nos neste ponto, com
em toda a doutrina da religião, de que se deve manter a só norma de modéstia e
sobriedade, de sorte que, em se tratando de cousas obscuras, não falemos, ou sintamos,
ou sequer almejemos saber, outra cousa que aquilo que nos haja ensinado na
Palavra de Deus. Ademais, impõe-se, ainda, que no exame da Escritura nos
atenhamos a buscar e meditar continuamente aquelas cousa que dizem respeito à
edificação, nem cedamos à curiosidade, ou à investigação de cousas
inúteis. E, porque o Senhor nos quis
instruir não em questões frívolas, mas na sólida piedade, no temor do Seu nome,
na verdadeira confiança, no deveres da santidade, contentemos-nos com este
conhecimento [3].
Charles
Hodge (1797-1878), teólogo calvinista americano afirmou:
[Deus] não ensinou astronomia ou
química aos homens, porém ele deu-lhes os fatos externos sobre os quais aquelas
ciências são construídas. Tampouco ensinou-nos teologia sistemática, porém ele
deu-nos na Bíblia as verdades que, propriamente compreendidas e organizadas,
constituem a ciência da Teologia [4].
Nota:
[1] Our Reasonable Faith,
p. 20.
[2] Commentaries on The
First Book of Moses Called Gênesis, vol. I,p. 84.
[3] As Institutas, I. 14.4
[4] Systematic Theology,
vol. I. p. 3.
Autor:
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
Fonte:
Fundamentos da teologia reformada, pg. 49- 51, Editora Mundo Cristão. Compre
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A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras*
A
doutrina que me proponho a considerar neste artigo foi de fundamental
importância na Reforma Protestante do Século XVI. Em contraposição, por um
lado, à doutrina católica romana de uma tradição oral apostólica e, por outro
lado, ao misticismo dos assim chamados entusiastas ou reformadores radicais, os
Reformadores defenderam a doutrina da autoridade suprema das Escrituras. Essa
foi, portanto, a resposta deles à autoridade da tradição eclesiástica e do
misticismo pessoal.
A
autoridade suprema das Escrituras também é uma doutrina puritano-presbiteriana.
A ela os puritanos tiveram que apelar freqüentemente na luta que foram
obrigados a travar contra as imposições litúrgicas da Igreja Anglicana.1
A Confissão de Fé de Westminster professa a referida doutrina em três
parágrafos do seu primeiro capítulo. No quarto parágrafo, ela trata da origem
ou fundamento da autoridade das Escrituras:
A
autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida,
não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de
Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida,
porque é a Palavra de Deus.
O
parágrafo quinto aborda a questão da certeza ou convicção pessoal da autoridade
das Escrituras:
Pelo
testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente
apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia
da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes,
o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que
faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências
incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se
evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza
da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do
Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações.
O décimo
e último parágrafo desse capítulo confere às Escrituras (a voz do Espírito
Santo) a palavra final para toda e qualquer questão religiosa, reconhecendo-a
como supremo tribunal de recursos em matéria de fé e prática:
O Juiz
Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e
por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos
antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares; o
Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o
Espírito Santo falando na Escritura.
Em dias
como os que estamos vivendo, em que cresce a impressão de que o evangelicalismo
moderno (particularmente o brasileiro) manifesta profunda crise teológica,
eclesiástica e litúrgica,2 convém considerar novamente essa importante doutrina
reformado-puritana. Convém uma palavra de alerta contra antigas e novas
tendências de usurpar ou limitar a autoridade da Palavra de Deus.
Tal é o propósito deste artigo.
I. Definição
O que
queriam dizer os Reformadores ao professarem a doutrina da autoridade das
Escrituras? Que, por serem divinamente inspiradas, elas são verídicas em todas
as suas afirmativas. Segundo esta doutrina, as Escrituras são a fonte infalível
de informação que estabelece definitivamente qualquer assunto nelas tratado: a
única regra infalível de fé e de prática, o supremo tribunal de recursos ao
qual a Igreja pode apelar para a resolução de qualquer controvérsia religiosa.
Isto não
significa que as Escrituras sejam o único instrumento de revelação divina. Os
atributos de Deus se revelam por meio da criação: a revelação natural (cf. Sl
19:1-4 e Rm 1:18-20). Uma versão da sua lei moral foi registrada em nosso
coração: a consciência (cf. Rm 2:14-15), "uma espiã de Deus em nosso
peito," "uma embaixadora de Deus em nossa alma," como os
puritanos costumavam chamá-la.3 A própria pessoa de Deus, o ser de Deus,
revela-se de modo especialíssimo no Verbo encarnado, a segunda pessoa da
Trindade (cf. Jo 14.19; Cl 1.15 e 3.9).
Mas,
visto que Cristo nos fala agora pelo seu Espírito por meio das Escrituras, e
que as revelações da criação e da consciência não são nem perfeitas e nem
suficientes por causa da queda, que corrompeu tanto uma como outra, a palavra
final, suficiente e autoritativa de Deus para esta dispensação são as
Escrituras Sagradas.
II. Base Bíblica
A base
bíblica da doutrina reformada da autoridade suprema das Escrituras é tanto
inferencial como direta.
A. Base Inferencial
É
inferencial, porque decorre do ensino bíblico a respeito da inspiração divina
das Escrituras. Visto que as Escrituras não são produto da mera inquirição
espiritual dos seus autores (cf. 2 Pe 1.20), mas da ação sobrenatural do
Espírito Santo (cf. 2 Tm 3.16 e 2 Pe 1.21), infere-se que são autoritativas. Na
linguagem da Confissão de Fé, a autoridade das Escrituras procede da sua
autoria divina: "porque é a Palavra de Deus."
Isto não
significa que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a
mente e a personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não
escreveram mecanicamente. As Escrituras não foram psicografadas, ou melhor,
"pneumografadas." Os diversos livros que compõem o cânon revelam
claramente as características culturais, intelectuais, estilísticas e
circunstanciais dos diversos autores. Paulo não escreve como João ou Pedro.
Lucas fez uso de pesquisas para escrever o seu Evangelho e o livro de Atos.
Cada autor escreveu na sua própria língua: hebraico, aramaico e grego. Os
autores bíblicos, embora secundários, não foram instrumentos passivos nas mãos
de Deus. A superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as suas
características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência humana
também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram de tal
modo dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo que tudo o que foi
registrado por eles nas Escrituras constitui-se em revelação infalível,
inerrante e autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos
revelados foram registrados, mas as próprias palavras empregadas foram
escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores.4
O fato é
que, por procederem de Deus, as Escrituras reivindicam atributos divinos: são perfeitas,
fiéis, retas, puras, duram para sempre, verdadeiras,
justas (Sl 19.7-9) e santas (2 Tm 3.15).5
B. Base Direta
Mas a
doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se fundamenta apenas em
inferências. Diversos textos bíblicos reivindicam autoridade suprema.
Os
profetas do Antigo Testamento reivindicam falar palavras de Deus, introduzindo
suas profecias com as assim chamadas fórmulas proféticas, dizendo: "assim
diz o Senhor," "ouvi a palavra do Senhor," ou "palavra que
veio da parte do Senhor."6 No Novo Testamento, vários textos do
Antigo Testamento são citados, sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo.
Por exemplo: "Assim diz o Espírito Santo..." (Hb 3:7ss).7
A
autoridade apostólica também evidencia a autoridade suprema das Escrituras. O Apóstolo
Paulo dava graças a Deus pelo fato de os tessalonicenses terem recebido as suas
palavras "não como palavra de homens, e, sim, como em verdade é, a palavra
de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que
credes" (1 Ts 2:13). Que autoridade teria Paulo para exortar aos gálatas
no sentido de rejeitarem qualquer evangelho que fosse além do evangelho que ele
lhes havia anunciado, ainda que viesse a ser pregado por anjos? Só há uma
resposta razoável: ele sabia que o evangelho por ele anunciado não era segundo
o homem; porque não o havia aprendido de homem algum, mas mediante revelação de
Jesus Cristo (Gl 1:8-12).
Jesus
também atesta a autoridade suprema das Escrituras: pelo modo como a usa, para
estabelecer qualquer controvérsia: "está escrito"8 (exemplos: Mt
4:4,6,7,10; etc.), e ao afirmar explicitamente a autoridade das mesmas, dizendo
em João 10:35 que "a Escritura não pode falhar."9
III. Usurpações da
Autoridade das Escrituras
Apesar da
sólida base bíblico-teológica em favor da doutrina reformada da autoridade
suprema das Escrituras, hoje, como no passado, deparamo-nos com a mesma
tendência geral de diminuir a autoridade das Escrituras. E isso ocorre de duas
maneiras: por um lado, há a propensão em admitir fontes adicionais ou suplementares
de autoridade, que tendem a usurpar a autoridade da Palavra de Deus. Por outro
lado, há a tendência de limitar a autoridade das Escrituras, negando-a,
subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo.
Com
relação à primeira dessas tendências, pelo menos três fontes suplementares
usurpadoras da autoridade das Escrituras podem ser identificadas: a tradição
(degenerada em tradicionalismo), a emoção (degenerada em emocionalismo)
e a razão (degenerada no racionalismo). Sempre que um desses elementos é
indevidamente enfatizado, a autoridade das Escrituras é questionada, diminuída
ou mesmo suplantada.
A. A Tradição Degenerada em Tradicionalismo
Este foi
um dos grandes problemas enfrentados pelo Senhor Jesus. A religião judaica
havia se tornado incrivelmente tradicionalista. Havendo cessado a revelação, os
judeus, já no segundo século antes de Cristo, produziram uma infinidade de
tradições ou interpretações da Lei, conhecidas como Mishnah. Essas
tradições foram cuidadosamente guardadas pelos escribas e fariseus por séculos,
até serem registradas nos séculos IV e V A.D., passando a ser conhecidas como o
Talmude,10 a interpretação judaica oficial do Antigo Testamento
até o dia de hoje. Muitas dessas tradições judaicas eram, entretanto,
distorções do ensino do Antigo Testamento. Mas tornaram-se tão autoritativas,
que suplantaram a autoridade do Antigo Testamento. Jesus acusou severamente os
escribas e fariseus da sua época, dizendo:
Em vão me
adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o
mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda:
Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria
tradição... invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição que vós
mesmos transmitistes... (Mc 7.7-9,13).11
O
Apóstolo Paulo também denunciou essa tendência. Escrevendo aos colossenses, ele
advertiu:
Cuidado
que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo...
Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis
no mundo, vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies isto, não proves aquilo,
não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? (Cl
2.8,20-22).
Quinze
séculos depois, os Reformadores se depararam com o mesmo problema: as tradições
contidas nos livros apócrifos e pseudepígrafos, nos escritos dos
pais da igreja, nas decisões conciliares e nas bulas papais também degeneraram
em tradicionalismo. As tradições eclesiásticas adquiriram autoridade que não
possuíam, usurpando a autoridade bíblica. É neste contexto que se deve entender
a doutrina reformada da autoridade das Escrituras. Trata-se, primordialmente,
de uma reação à posição da Igreja Católica.
Isto não
significa, entretanto, que a tradição eclesiástica seja necessariamente ruim.
Se a tradição reflete, de fato, o ensino bíblico, ou está de acordo com ele,
não sendo considerada normativa (autoritativa) a não ser que reflita realmente
o ensino bíblico, então não é má. Os próprios Reformadores produziram,
registraram e empregaram confissões de fé e catecismos (os quais também são
tradições eclesiásticas). Para eles, contudo, esses símbolos de fé não têm
autoridade própria, só sendo normativos na medida em que refletem fielmente a
autoridade das Escrituras.
O
problema, portanto, não está na tradição, mas na sua degeneração, no
tradicionalismo, que atribui à tradição autoridade inerente. O tradicionalismo
atribui autoridade às tradições, pelo simples fato de serem antigas ou
geralmente observadas, e não por serem bíblicas. Essa tendência acaba sempre
usurpando a autoridade das Escrituras.
B. A Emoção Degenerada em Emocionalismo
Outra
fonte de autoridade que sempre ameaça a autoridade das Escrituras é a emoção,
quando degenerada em emocionalismo. Isto quase inevitavelmente conduz ao
misticismo. Na esfera religiosa, freqüentemente é dado um valor exagerado à
intuição, ao sentimento, ao convencimento subjetivo. Quando tal ênfase ocorre,
facilmente esse sentimento subjetivo de convicção, pessoal e interno, é
explicado misticamente, em termos de iluminação espiritual e revelação divina
direta, seja por meio do Espírito, seja pela instrumentalidade de anjos,
sonhos, visões, arrebatamentos, etc.
Não é que
Deus não tenha se revelado por esses meios. Ele de fato o fez. Foi, em parte,
através desses meios que a revelação especial foi comunicada à Igreja e
registrada no cânon pelo processo de inspiração. O que se está afirmando é que
o misticismo copia, forja essas formas reais de revelação do passado, para
reivindicar autoridade que na verdade não é divina, mas humana (quando não
diabólica). Essa tendência não é de modo algum nova. Eis as palavras do Senhor
através do profeta Jeremias:
Assim diz
o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvido às palavras dos profetas que entre vós
profetizam, e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não
o que vem da boca do Senhor... Até quando sucederá isso no coração dos profetas
que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração?... O
profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a
minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo?
diz o Senhor (Jr 23.16,26,28).
Séculos
depois o Apóstolo Paulo enfrentou o mesmo problema. Ele próprio foi instrumento
de revelações espirituais verdadeiras, inspirado que foi para escrever suas
cartas canônicas. Nessa condição, ele sabia muito bem o que eram sonhos,
visões, revelações e arrebatamentos. Mas, ainda assim, advertiu aos
colossenses, dizendo: "Ninguém se faça árbitro contra vós outros,
pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem
motivo algum na sua mente carnal" (Cl 2:18). Tanto Jesus como os apóstolos
advertem a Igreja repetidamente contra os falsos profetas, os quais ensinam
como se fossem apóstolos de Cristo, mas que não passam de enganadores.
Pois bem,
sempre que tal coisa ocorre, a autoridade das Escrituras é ameaçada. O
misticismo, como degeneração das emoções (não se pode esquecer que também as
emoções foram corrompidas pelo pecado) tende sempre a usurpar, a competir com a
autoridade das Escrituras, chegando mesmo freqüentemente a suplantá-la. Na
época dos Reformadores não foi diferente. Eles combateram grupos místicos por
eles chamados de entusiastas12 que reivindicavam autoridade espiritual
interior, luz interior, revelações espirituais adicionais que suplantavam ou
mesmo negavam a autoridade das Escrituras. Esta tem sido igualmente uma das
características mais comuns das seitas modernas, tais como mormonismo,
testemunhas de Jeová, adventismo do sétimo dia, etc. Entre os movimentos
pentecostais e carismáticos também não é incomum a emoção degenerar em
emocionalismo, produzindo um misticismo usurpador da autoridade das Escrituras.
C. A Razão Degenerada em Racionalismo
A ênfase
exagerada na razão também tende a usurpar a autoridade das Escrituras. O homem,
devido a sua natureza pecaminosa, sempre tem resistido a submeter sua razão à
autoridade da Palavra de Deus. A tendência é sempre tê-la (a razão) como fonte
suprema de autoridade. Isto foi conseqüência da queda. Na verdade, foi também a
causa, tanto da queda de Satanás como de nossos primeiros pais. Ambos caíram
por darem mais crédito às suas conclusões do que à palavra de Deus. Desde
então, essa soberba mental, essa altivez intelectual tem tendido sempre a minar
a autoridade da Palavra de Deus, oral (antes de ser registrada) ou escrita.
Por que o
ser humano, tendo conhecimento de Deus, não o glorifica como Deus nem lhe é
grato? O Apóstolo Paulo explica: porque, suprimindo a verdade de Deus (Rm
1:18), "...se tornaram nulos em seus próprios raciocínios,
obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se
loucos... pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a
criatura, em lugar do Criador...’’ (Rm 1:21-22,25).
Esta tem
sido, sem dúvida, a causa de uma infinidade de heresias e erros surgidos no
curso da história da Igreja. A heresia de Marcião, o gnosticismo, o arianismo,
o docetismo, o unitarianismo, e mesmo o arminianismo são todos erros provocados
pela dificuldade do homem em submeter sua razão à revelação bíblica. Todos
preferiram uma explicação racional, lógica, em lugar da explicação bíblica que
lhes parecia inaceitável. Assim, Marcião concebeu dois deuses, um do Antigo e
outro do Novo Testamento. Por isso, também o gnosticismo fez distinção moral
entre matéria e espírito. Já o arianismo originou-se da dificuldade de Ario em
aceitar a eternidade de Cristo. Do mesmo modo, o docetismo surgiu da
dificuldade de alguns em admitir um Cristo verdadeiramente divino-humano. O
unitarianismo, por sua vez, decorre da recusa em aceitar a doutrina bíblica da
Trindade, enquanto que o arminianismo surgiu da dificuldade de Armínio em
conciliar a doutrina da soberania de Deus com a doutrina da responsabilidade
humana (rejeitando a primeira).
A tendência
da razão em usurpar a autoridade das Escrituras tem sido especialmente forte
nos últimos dois séculos. O desenvolvimento científico e tecnológico instigou a
soberba intelectual do homem. Assim, passou-se a acreditar apenas no que possa
ser constatado, comprovado, pela razão e pela lógica. A ciência tornou-se a
autoridade suprema, a única regra de fé e prática. E a Igreja passou a fazer
concessões e mais concessões, na tentativa de harmonizar as Escrituras com a
razão e com a ciência. O relato bíblico da criação foi desacreditado pela
teoria da evolução; os milagres relatados nas Escrituras foram rejeitados como
mitos; e muitos estudiosos das Escrituras passaram a assumir uma postura
crítica, não mais submissa aos seus ensinos. Foi assim que surgiu o método de
interpretação histórico-crítico em substituição ao método histórico-gramatical.
Nele, é a suprema razão humana que determina o que é escriturístico ou mera
tradição posterior, o que é milagre ou mito, o que é verdadeiro ou falso nas
Escrituras.
Mas antes
de se atribuir tanta autoridade à ciência, convém considerar a sua história.
Quão falível e mutável é! A grande maioria dos "fatos" científicos de
dois séculos atrás já foram rejeitados pela própria ciência. Além disso, com
que freqüência meras teorias e hipóteses científicas são tomadas como fatos
científicos comprovados!13
IV. Limitações da
Autoridade das Escrituras
Além das
tendências que acabei de considerar, propensas a usurpar a autoridade das
Escrituras, existem outras, que tendem a limitar a autoridade bíblica, negando-a,
subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo. É o que têm feito a
teologia liberal, a neo-ortodoxia e o neo-evangelicalismo, com relação a três
dos principais aspectos da doutrina da autoridade das Escrituras. Estas três
concepções de "autoridade" bíblica precisam ser entendidas. Elas
estão sendo bastante divulgadas em nossos dias, e são, em certo sentido, até
mais perigosas do que as tendências anteriormente mencionadas, por serem mais
sutis. Este assunto pode ser melhor entendido considerando-se os três
principais aspectos da doutrina da autoridade das Escrituras: sua origem
(ou base), certeza (ou convicção) e escopo (ou abrangência).
A. Origem ou Base da Autoridade das Escrituras
A origem
ou base da autoridade das Escrituras, como já foi mencionado, encontra-se na
sua autoria divina. As Escrituras são autoritativas porque são de origem
divina: o Espírito Santo é o seu autor primário. Para os Reformadores, as
Escrituras são autoritativas porque são a Palavra de Deus inspirada. Por isso
são infalíveis, inerrantes, claras, suficientes, etc.
A
teologia liberal (racionalista) nega a própria base da autoridade da Escritura,
negando a sua origem divina. Para ela, as Escrituras são mero produto do
espírito humano, expressando verdades divinas conforme discernidas pelos seus
autores, bem como erros e falhas características do homem. Sua autoridade,
portanto, não é divina nem inerente, mas humana, devendo ser determinada pelo
julgamento da razão crítica. Eis o que afirmam: "A verdade divina não é
encontrada em um livro antigo, mas na obra contínua do Espírito na comunidade,
conforme discernida pelo julgamento crítico racional."14 De acordo
com a teologia liberal, "nós estamos em uma nova situação histórica, com
uma nova consciência da nossa autonomia e responsabilidade para repensar as
coisas por nós mesmos. Não podemos mais apelar à inquestionável autoridade de
um livro inspirado."15
B. Certeza da Autoridade das Escrituras
A certeza
ou convicção da autoridade das Escrituras16 provém do testemunho interno
do Espírito Santo. A excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina e a
sua extraordinária unidade são algumas das características das Escrituras que
demonstram a sua autoridade divina. Contudo, admitimos que "a nossa plena
persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da
operação interna do Espírito Santo, que pela Palavra e com a Palavra, testifica
em nossos corações."17
O
testemunho da Igreja com relação à excelência das Escrituras pode se constituir
no meio pelo qual somos persuadidos da sua autoridade, mas não na base
ou fundamento da nossa persuasão. A nossa persuasão da autoridade da
Bíblia dá-se por meio do testemunho interno do Espírito Santo com relação à sua
inspiração. Na concepção reformada, se alguém crê, de fato, na autoridade
suprema das Escrituras como regra de fé e prática, o faz como resultado da ação
do Espírito Santo. É ele, e só ele, quem pode persuadir alguém da autoridade da
Bíblia.
Essa
persuasão não significa de modo algum uma revelação adicional do Espírito.
Significa, sim, que a ação do Espírito na alma de uma pessoa, iluminando seu
coração e sua mente em trevas, regenerando-a, fazendo-a nova criatura, dissipa
as trevas espirituais da sua mente, remove a obscuridade do seu coração,
permitindo que reconheça a autoridade divina das Escrituras. O Apóstolo Paulo
trata deste assunto escrevendo aos coríntios. Ele explica, na sua primeira
carta, que, "o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem
espiritualmente" (1 Co 2.14). O homem natural, em estado de pecado, perdeu
a sua capacidade original de compreender as coisas espirituais. Ele não pode,
portanto, reconhecer a autoridade das Escrituras; ele não tem capacidade para
isso. Na sua segunda carta aos coríntios o Apóstolo é ainda mais explícito, ao
observar que,
...se o
nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está
encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos,
para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é
a imagem de Deus... Porque Deus que disse: de trevas resplandecerá luz —, ele mesmo
resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus na face de Cristo (2 Co 4.3-4,6).
O que
Paulo afirma aqui é que o homem natural, o incrédulo, está cego como resultado
da obra do diabo, que o fez cair. Nesse estado, ele está como um deficiente
visual, que não consegue perceber nem mesmo a luz do sol. Pode-se compreender
melhor o testemunho interno do Espírito com esta ilustração. O testemunho do
Espírito não é uma nova luz no coração, mas a sua ação através da qual ele abre
os olhos de um pecador, permitindo-lhe reconhecer a verdade que lá estava, mas
não podia ser vista por causa da sua cegueira espiritual.
Deve-se
ter em mente, entretanto — e esse é o ponto enfatizado aqui —, que esse
testemunho interno do Espírito Santo diz respeito à certeza do crente
com relação à plena autoridade das Escrituras, e não à própria autoridade
inerente das Escrituras. A convicção de um crente de que as Escrituras têm
autoridade é subjetiva, mas a autoridade das Escrituras é objetiva. Esteja-se
ou não convencido da sua autoridade, a Bíblia é e continua objetivamente
autoritativa. A neo-ortodoxia existencialista confunde estas coisas e defende a
subjetividade da própria autoridade da Bíblia. Para eles, a revelação bíblica
só é verdade divina quando fala ao nosso coração. Como dizem, "as
Escrituras não são, mas se tornam a Palavra de Deus" quando
existencializadas.18
C. Escopo da Autoridade das Escrituras
Essas
posições da teologia liberal e da neo-ortodoxia com relação à origem e à
certeza da autoridade das Escrituras são seríssimas. Contudo, talvez mais séria
ainda (por ser mais sutil) é a questão relacionada ao escopo da autoridade das
Escrituras.
Uma nova
concepção da autoridade das Escrituras tem surgido entre os eruditos
evangélicos (inclusive reformados de renome, tais como G. C. Berkouwer19),
conhecida como neo-evangélica. O neo-evangelicalismo limita o escopo (a área)
da autoridade das Escrituras ao seu propósito salvífico. Segundo essa
concepção, a autoridade das Escrituras limita-se à revelação de assuntos diretamente
relacionados à salvação, a assuntos religiosos.20
A
doutrina neo-evangélica faz diferença entre o conteúdo salvífico das
Escrituras e o seu contexto salvífico, reivindicando autoridade e
inerrância apenas para o primeiro. Mas tal posição não reflete nem se coaduna
com a posição reformada e protestante histórica. Para esta, o escopo da
autoridade das Escrituras é todo o seu cânon. É verdade que a Bíblia não se
propõe a ser um compêndio científico ou um livro histórico. Mas, ainda assim,
todas as afirmativas nelas contidas, sejam elas de caráter teológico, prático,
histórico ou científico, são inerrantes e autoritativas.21
Os
principais problemas relacionados com a posição neo-evangélica quanto à
autoridade das Escrituras são os seguintes: Primeiro, como distinguir o conteúdo
salvífico do seu contexto salvífico? É impossível. As Escrituras são
a Palavra de Deus revelada na história. Segundo, como delimitar o que está ou
não está diretamente relacionado ao propósito salvífico, se o propósito da obra
da redenção não é meramente salvar o homem, mas restaurar o cosmo? Que porções
das Escrituras ficariam de fora do escopo da salvação? Como Ridderbos admite,
"a Bíblia não é apenas o livro da conversão, mas também o livro da
história e o livro da Criação..."22 Que áreas da vida humana ficariam
de fora da obra da redenção? A arte, a ciência, a história, a ética, a moral?
Quem delimitaria as fronteiras entre o que está ou não incluído no propósito
salvífico? Admitir, portanto, o conceito neo-evangélico de autoridade das
Escrituras é cair na cilada liberal do cânon dentro do cânon, e colocar a razão
humana como juiz supremo de fé e prática, pois neste caso competirá ao homem
determinar o que é ou não propósito salvífico.
Conclusão
Em última
instância, a questão da autoridade das Escrituras pode ser resumida na seguinte
pergunta: quem tem a última palavra, Deus, falando através das Escrituras, ou o
homem, por meio de suas tradições, sentimentos ou razão? A resposta dos
Reformadores foi clara. Embora reconhecendo que o propósito especial das
Escrituras não é histórico, moral ou científico, mas salvífico, eles não
diminuíram a sua autoridade de forma alguma: nem por adições ou suplementos,
nem por reduções ou limitações de qualquer natureza. A fé reformado-puritana
reconhece a autoridade de todo o conteúdo das Escrituras, e sua plena
suficiência e suprema autoridade em matéria de fé e práticas eclesiásticas.
Tão
importante foi a redescoberta destas doutrinas pelos Reformadores, que pode-se
afirmar que, da aplicação prática das mesmas, decorreu, em grande parte, a
profunda reforma doutrinária, eclesiástica e litúrgica que deu origem às
igrejas protestantes. Todas as doutrinas foram submetidas à autoridade das
Escrituras. Todos os elementos de culto, cerimônias e práticas eclesiásticas
foram submetidos ao escrutínio da Palavra de Deus. A própria vida (trabalho,
lazer, educação, casamento, etc.) foi avaliada pelo ensino suficiente e
autoritativo das Escrituras. Muito entulho doutrinário teve que ser rejeitado.
Muitas tradições e práticas religiosas acumuladas no curso dos séculos foram
reprovadas quando submetidas ao teste da suficiência e da autoridade suprema
das Escrituras. E a profunda reforma religiosa do século XVI foi assim
empreendida.
Mas muito
tempo já se passou desde então. O evangelicalismo moderno recebeu,
especialmente do século passado, um legado teológico, eclesiástico e litúrgico
que precisa ser urgentemente submetido ao teste da doutrina reformada da
autoridade suprema das Escrituras. É tempo de reconsiderar as implicações desta
doutrina. É tempo de reavaliar a nossa fé, nossas práticas eclesiásticas e
nossas próprias vidas à luz desta doutrina. Afinal, admitimos que a Igreja
reformada deve estar sempre se reformando — não pela conformação constante às últimas
novidades, mas pelo retorno e conformação contínuos ao ensino das Escrituras.
Sabendo
que a nossa natureza pecaminosa nos impulsiona em direção ao erro e ao pecado,
conhecendo o engano e a corrupção do nosso próprio coração, reconhecendo os
dias difíceis pelos quais passa o evangelicalismo moderno (particularmente no
Brasil), e a ojeriza doutrinária, a exegese superficial e a ignorância
histórica que em grande parte caracterizam o evangelicalismo moderno no nosso
país, não temos o direito de assumir que nossa fé e práticas eclesiásticas
sejam corretas, simplesmente por serem geralmente assim consideradas. É
necessário submeter nossa fé e práticas eclesiásticas à autoridade suprema das
Escrituras.
Assim
fazendo, não é improvável que nós, à semelhança dos Reformadores, também
tenhamos que rejeitar considerável entulho teológico, eclesiástico e litúrgico
acumulados nos últimos séculos. Não é improvável que venhamos a nos
surpreender, ao descobrir um evangelicalismo profundamente tradicionalista,
subjetivo e racionalista. Mas não é improvável também que venhamos a presenciar
uma nova e profunda reforma religiosa em nosso país. Que assim
seja!
English
Abstract
In this article on reformed theology Anglada deals with the reformed
doctrine of the supreme authority of Scripture. Assuming a theological,
ecclesiastical and liturgical crisis in modern evangelicalism, particularly in
Brazil, he summarizes the biblical basis of the doctrine, and alerts against
the old and new tendencies of usurping or limiting the authority of God’s Word.
Among the usurping tendencies against the authority of Scripture, he includes
the ecclesiastical traditions degenerated into traditionalism, emotions
degenerated into emotionalism, and reason degenerated into rationalism. Among
the limiting tendencies he mentions the liberal negation of the very foundation
of Biblical authority, the neo-orthodox confusion concerning the certainty of
the authority of Scripture, and the neo-evangelical limitation of the scope of
its authority. He concludes the article by calling attention to the importance
of the doctrine in the sixteenth-century Reformation and by suggesting that if
the modern evangelical faith and ecclesiastical practices were subjected to the
scrutiny of this doctrine, a considerable number of doctrines and
ecclesiastical practices would have to be rejected, and a new reformation would
take place. __________________________
Notas
* Este artigo
foi originalmente publicado na revista Fides Reformata 2:2 (1997).
1 Ver, por exemplo, William Ames, A Fresh Suit against Human
Ceremonies in God’s Worship (Rotterdam, 1633); David Calderwood, Against
Festival Days, 1618 (Dallas: Naphtali Press, 1996); George Gillespie, Dispute
against the English Popish Ceremonies Obtruded on the Church of Scotland
(Edinburgh: Robert Ogle and Oliver & Boyd, 1844); e John Owen, "A
Discourse concerning Liturgies and their Impositions," em The Works of
John Owen, vol. 15 (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1965).
2 Cf.
John MacArthur Jr., Com Vergonha do Evangelho: Quando a Igreja se
torna como o Mundo (São José dos Campos: Editora Fiel, 1997) e Paulo
Romeiro, Evangélicos em Crise: Decadência Doutrinária na Igreja Brasileira
(São Paulo: Mundo Cristão, 1995).
3 Ver
capítulo sobre a "Consciência Puritana," em J. I. Packer, Entre os
Gigantes de Deus: Uma Visão Puritana da Vida Cristã (São José dos Campos:
Editora Fiel, 1991), 115-132.
4 Sobre o conceito reformado de inspiração e infalibilidade (inerrância)
das Escrituras, ver L. Berkhof, Introducción a la Teología Sistemática
(Grand Rapids: The Evangelical Literature League, [1973]), 159-190; A. A.
Hodge, Evangelical Theology: A Course of Popular Lectures
(Edinburgh and Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1976), 61-83; Loraine
Boettner, Studies in Theology (Phillipsburg and New Jersey: Presbyterian
and Reformed Publishing Company, 1978), 9-49; e J. C. Ryle, Foundations of
Faith: Selections From J. C. Ryle’s Old Paths (South Plainfield, New
Jersey: Bridge Publishing, 1987), 1-39.
5 Cf.
também Salmo 119.39, 43, 62, 75, 86, 89, 106, 137, 138, 142, 144, 160, 164,
172; Mateus 24.34; João 17.17; Tiago 1.18; Hebreus 4.12 e 1 Pedro 1.23,25.
6
Lloyd-Jones afirma que essas expressões são usadas 3.808 vezes no Antigo
Testamento; e que os que assim se expressavam estavam deixando claro que não
expunham suas próprias idéias ou imaginações. D. Martin
Lloyd-Jones, Authority (Edinburgh and Pennsylvania: The Banner of Truth
Trust, 1984), 50.
7 Ver
também Atos 28.25 e Hebreus 4.3, 5.6 e 10.15-16.
8 O termo
empregado é gegraptai. O tempo perfeito indica uma ação realizada no
passado, cujos resultados permanecem no presente: foi escrito e permanece válido,
falando com autoridade.
9 Outras
evidências da autoridade divina das Escrituras são apresentadas por
Lloyd-Jones, Authority, 30-50; e por John A. Witmer, "The Authority
of the Bible," Bibliotheca Sacra 118:471 (July 1961): 264-27.
10 O Talmud
inclui também a Gemara, comentários rabínicos sobre o Mishnah,
escritos entre 200 e 500 AD (C. L. Feinberg, "Talmude e Midrash," em
J. D. Douglas, ed., O Novo Dicionário da Bíblia, vol. 3 (São Paulo:
Edições Vida Nova, 1979), 1560-61.
11 Conferir também Mateus 15.3ss.
12 Berkhof, Introducción a la Teología Sistemática, 207.
13 Um
exemplo bem atual: há poucos dias atrás, cientistas anunciaram que pesquisas
feitas com o DNA dos fósseis do assim chamado homem de Neanderthal — até então
"inquestionavelmente" considerado um dos antepassados mais recentes
do homem na cadeia evolutiva —, revelam que esses ossos nada têm a ver com a
raça humana. Exemplos como estes repetem-se continuamente, e deveriam
tornar-nos cautelosos em atribuir à ciência autoridade maior do que a da
revelação bíblica.
14 C. Pinnock, citado por Keun-Doo Jung, "A Study of the Authority
with Reference to The Westminster Confession of Faith." (Tese de
Mestrado, Potchefstroom [South Africa] University for Christian Higher
Education, 1981), 45.
15 G. D. Kaufman,
ibid., 45.
16
Ensinada no parágrafo V do capítulo I da Confissão de Fé de Westminster.
17 Ibid.
18 Outros
dados sobre a importância da doutrina reformada da autoridade das Escrituras em
relação à teologia liberal e à neo-ortodoxia podem ser obtidos em Lloyd-Jones, Authority,
30-61; John A. Witmer, "Biblical Authority in Contemporary Theology,"
Bibliotheca Sacra 118:469 (January 1961), 59-67; e Kenneth S. Kantzer,
"Neo-Orthodoxy and the Inspiration of Scripture," Bibliotheca
Sacra 116:461 (January 1959), 15-29.
19 Ver G. C. Berkouwer, Studies in Dogmatics: Holy Scripture
(Grand Rapids: Eerdmans, 1975) e Ronald Gleason, "In Memoriam: Dr. Gerrit
Cornelius Berkouwer," Modern Reformation 5:3 (May/June 1996),
30-32.
20 Alguns
eruditos têm considerado a doutrina reformada tradicional da autoridade das
Escrituras conforme ensinada pelos teólogos de Princeton, tais como Charles
Hodge (1797-1878), Alexander Hodge (1823-1886) e B. B. Warfield (1851-1921),
como um desvio do ensino dos Reformadores e da Confissão de Fé de Westminster. Ver, por
exemplo, Ernest Sandeen, The Roots of Fundamentalism: British and American
Millenarianism, 1800-1930 (Chicago: University of Chicago Press, 1970). Alguns, como Jack Rogers e Donald
McKim, The Authority and Interpretation of the Bible: A Historical
Approach (San Francisco: Harper & Row, 1979), chegam a defender que a
doutrina reformada das Escrituras encontra seus legítimos representantes em
Abraham Kuyper (1837-1920) e Herman Bavinck (1854-1921), os quais teriam se
antecipado aos esforços de Karl Barth e G. C. Berkouwer no sentido de restaurar
a verdadeira tradição reformada. Outros, entretanto, têm demonstrado que estas
teses não procedem, visto que os teólogos de Princeton estão em substancial
harmonia com outros que os antecederam, e com Kuyper e Bavinck. Ver
Randall H. Balmer, "The Princetonians and Scripture: A
Reconsideration," Westminster Theological Journal 44:2 (1982):
352-365; e Richard B. Gaffin, Jr., "Old Amsterdam and Inerrancy?," Westminster
Theological Journal 44:2 (1982), 250-289; 45:2 (1983): 219-272.
21 Uma
demonstração da posição reformada e protestante histórica da inerrância das
Escrituras em português pode ser encontrada em John H. Gerstner, "A Doutrina
da Igreja sobre a Inspiração Bíblica," em James Montgomery Boice, ed., O
Alicerce da Autoridade Bíblica, 2a ed. (São
Paulo: Vida Nova, 1989), 25-68.
22 Herman Ridderbos, Studies in Scripture and its Authority (Grand
Rapids: Eerdmans, 1978), 24.
Autor: Rev.
Paulo Anglada, é ministro
presbiteriano, professor de Grego e Hermenêutica no Seminário Teológico Batista
Equatorial e presidente da Associação Reformada Palavra da Verdade, na cidade
de Belém. É mestre em Teologia pela Potchefstroom University for Christian
Higher Education (África do Sul) e doutorando em Ministério no Westminster
Theological Seminary, na Califórnia.
A Centralidade de
Palavra
Na visão
reformada, a Bíblia ocupa o centro do culto, pois é através dela que Deus nos
fala. Calvino afirmou: "... a função peculiar do Espírito Santo consiste
em gravar a Lei de Deus em nossos corações" [1][1].
A Igreja é a "escola de Deus" [2][2]. O Espírito é
o "Mestre" [3][3] (o “Mestre
interior”)[4][4]. Para
progredir nessa escola, “...devemos antes renunciar nosso próprio entendimento
e nossa própria vontade” [5][5].
A
pregação não deve ser rejeitada (lTs 5:19-21); deve ser entendida como a Palavra
de Deus para nós; recusá-la é o mesmo que rejeitar o Espírito (cf. lTs 4:8).
Como há falsos pregadores e falsos mestres, é necessário "provar" o
que está sendo proclamado para ver se o seu conteúdo se coaduna com a Palavra
de Deus (At 17: 11-12/ I Jo. 4: 1-6). No entanto, os homens querem ouvir mais o
reflexo de seus desejos e pensamentos, a homologação de suas práticas. Assim, a
palavra, que deveria ser profética, tende com freqüência a se tornar apenas
apetecível ao "público-alvo", aos seus valores e devaneios, ou,
então, nós, pregadores, somos tentados a usar a "eloqüência" para
compartilhar generalidades da semana, sempre, é claro, com uma alusão bíblica
aqui ou ali, para justificar a "pregação" [6][6].
O fato é
que uma geração incrédula é sempre crítica para com a palavra profética. Marvin
Vincent estava certo ao declarar: "A demanda gera o suprimento. Os
ouvintes convidam e moldam seus pregadores. Se as pessoas desejam um bezerro
para adorar, o ministro que fabrica bezerros logo é encontrado" [7][7]. É preciso
atenção redobrada para não cair nessa armadilha, uma vez que não é difícil
confundir os efeitos de uma mensagem com o conteúdo do que anunciamos: a
pregação deve ser avaliada pelo seu conteúdo, não pelos resultados. Esse
assunto está ligado à vertente relacionada ao crescimento de Igreja. Iain
Murray está correto ao afirmar:
o crescimento espiritual na graça
de Cristo vem em primeiro lugar. Onde esse crescimento é menosprezado em troca
da busca de resultados, pode haver sucesso, mas será de pouca duração e, no
final, diminuirá a eficácia genuína da Igreja. A dependência de número de
membros ou a preocupação com números freqüentemente tem se confirmado como uma
armadilha para a Igreja.[8][8]
A
confusão entre conteúdo e resultado é fácil de ser feita porque, como acentua
John MacArthur Jr.: "O pregador que traz a mensagem que mais necessitam
ouvir é aquele que eles menos gostam de ouvir".[9][9]
Portanto, a popularidade pode, em muitos casos, ser um atestado da infidelidade
do pregador na transmissão da voz profética. Lembremo-nos: "Toda a tarefa
do ministro fiel gira em torno da Palavra de Deus - guardá-la, estudá-la e
proclamá-la".[10][10] E:
"Ninguém pode pregar com poder sobrenatural, se não pregar a Palavra de
Deus".[11][11] Quanto mais
confiarmos no poder de Deus operante através da Palavra, menos estaremos
dispostos a confiar em nossa suposta capacidade. A Palavra que pregamos jamais
será ineficaz no seu propósito.[12][12]
O
pregador não "compartilha" opiniões nem dá "opiniões" sobre
o texto bíblico, nem faz paráfrase irreverente do texto. O objetivo é expressar
o que Deus disse sob a iluminação do Espírito. Pregar é explicar e aplicar a
Palavra aos ouvintes. O aval de Deus não é sobre nossas teorias e escolhas, nem
sobre a "graça" de piadas, mas sobre sua Palavra. Portanto, o
pregador prega o texto, de onde provém a verdade de Deus para o seu povo.
"Quando nos propomos a expor um texto, precisamos declarar exatamente o
que o texto afirma".[13][13]
Quando
Cristo retomar, certamente ele não se interessará por nossa escola homilética
ou se fomos "progressistas" ou "conservadores", mas sim se
fomos fiéis à Palavra em nossa vida e pregação. Devemos estar sinceramente
atentos ao que o Espírito diz à Igreja através da Palavra. Isto é válido para
quem ouve e para quem prega.
Outra
verdade que precisa ser ressaltada é que apesar de muitos de nós não sermos
"grandes" pregadores ou existirem pregadores infiéis, Deus fala. Por
isso, há a responsabilidade de ambos os lados: quem prega, pregue a Palavra;
quem ouve, ouça com discernimento a Palavra do Espírito de Deus.
A
pregação foi o meio deliberadamente escolhido por Deus para transformar pessoas
e edificar seu povo, preservando a sã doutrina através da Igreja, que é o
baluarte da verdade.
Autor.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
Fonte:
Fundamentos da teologia reformada, pg. 139-142, Editora Mundo Cristão. Compre
este maravilhoso livro em www.mundocristão.com.br
Estudo digitado pelo caríssimo
irmão e colaborado do site Teologia Calvinista: Davi
Barrozo de Carvalho
Estudar teologia não é uma área segregada à
academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se
preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais
mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a
respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros
anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que Ele
criou. Mas é tarefa de todas as pessoas – quer elas reconheçam esse dever, quer
não. É simplesmente pesquisar no lugar correto sobre a pessoa de Deus através
do estudo do que ele é, e do que ele faz.
Ter uma compreensão teológica adequada, extraída da
fonte correta, sobre a pessoa e os atos de Deus, é o que nos coloca no rumo do
reconhecimento e glorificação da Sua Pessoa. Essa compreensão das coisas que
podemos aprender sobre a divindade, tem que ser sedimentada nos corações pelo
poder soberano do Espírito Santo e correlacionada com as atividades do
dia-a-dia, pelo poder salvador de Cristo Jesus – Criador e centro da Criação.
Isso é o que dá sentido à nossa existência e é o que nos aproxima da nossa
finalidade original, que foi distorcida e desviada pelo pecado. É a ante-sala
da eternidade, aqui na terra.
Existe, portanto, a propriedade do estudo
desta área de conhecimento. Deve ser reconhecida, também, a centralidade
do estudo da teologia, na gama de conhecimentos disponíveis ao homem. Estudar
teologia é algo importante para que compreendamos a vida e o nosso papel nela.
Teologia, em seu conceito, é o summum bonum do pensar: nada a
excede em importância e relevância e todas as pessoas, quaisquer que sejam as
suas carreiras ou profissões, deveriam estar envolvidas nesse estudo. Essa
atividade intelectual não é antagônica nem contraditória à verdadeira piedade e
devoção a Deus. Muitos, é verdade, advertem contra o estudo da teologia. Vários
a contrapõem à piedade cristã; e ainda outros acham que o muito estudar afasta
de Deus. Mas a realidade é que esse pensar é fruto do “espírito
anti-intelectual dessa geração”, que “tem se infiltrado de tal maneira
na igreja, que eles recusam a crer que alguma atividade intelectual possua
valor intrínseco”.[1] É preciso, entretanto, nadar contra a corrente e
resgatar um estudo lógico, profundo, sistemático sobre o Deus verdadeiro.
Tudo isso começa com uma compreensão da doutrina
das Escrituras. Com a verificação e aceitação que elas são Palavra de Deus, a
base de tudo que se possa compreender sobre as demais doutrinas. A Confissão de
Fé de Westminster tem essa progressão lógica. As doutrinas de Deus, do Homem,
de Cristo, e da Salvação são estudadas após as estacas estarem
firmadas na Palavra Inspirada. A partir dessa fonte é que elas são apresentadas
Para o estudo da teologia é necessário, portanto, o saudável apreço pela
Escritura; pelo lugar básico do meio de comunicação de Deus para com as
pessoas – a Bíblia – como fonte do conhecimento religioso e como lugar onde
encontramos as respostas às questões principais relacionadas com o nosso
propósito e nosso destino.
Precisamos fugir do subjetivismo que tem mirrado as
mentes cristãs, e voltarmos à revelação proposicional e objetiva da Palavra de
Deus. Não podemos nos deslumbrar ou nos enganar com a pretensa
super-espiritualidade contemporânea, que pretendendo estar mais próxima de Deus
em um enlevo místico-misterioso, no qual dialoga-se com Deus, recebe-se
revelações; fala-se muito em amor, em vida, em ministério, em pregação, em
poder, em maravilhas, em atividades, em louvor; enquanto que progressiva e
paralelamente há demonstração de afastamento e desprezo para com a única fonte
de revelação objetiva que Deus nos legou: As Sagradas Escrituras.
As Escrituras não se constituem em uma mera
compilação ou registros das formulações e reflexos do pensar teológico humano,
ao longo dos tempos. A Bíblia não representa a apreensão subjetiva, e
estritamente humana, de comunidades “lucanas”, “petrinas”, “paulinas”
– eivadas de erros, mitos e cacoetes próprios, que precisam ser “descontruídos”
para se chegar ao cerne de uma mensagem desfigurada e anacrônica. Muitos livros
existem que tratam a Bíblia dessa maneira. O liberalismo teológico tem tomado
de assalto diversos segmentos da igreja cristã. Tais trabalhos não servem ao
proveito real de ninguém, a não ser à suposta intelectualidade dos autores, antigos
e contemporâneos, que assim pretendem se colocar como juizes sobre os textos
inspirados. A Bíblia é a palavra inspirada de Deus – merecedora
de toda confiabilidade; livre de erro; fonte confiável de instrução ao homem
sobre Deus e seus atos criativos, de justiça e redentivos, na história.
O estudo da Teologia constitui-se em uma abordagem
objetiva, sistemática e lógica dos dados encontrados nas Escrituras e esse tipo
de estudo anda por demais ausente do chamado evangelicalismo. Vivemos em meio a
um mar de posições amorfas e pseudo-amorosas que inundam o campo editorial
cristão e, com muita intensidade, até o reformado. É necessário trabalhar com
propriedade os textos, conceitos e doutrinas e laborar em lógica de pensar –
algo perdido e raro entre os evangélicos. É necessário que tenhamos mais vozes
que defendam clara e apaixonadamente a infalibilidade das Escrituras.
Temos que apreciar esse papel fundamental da
Bíblia. Os reformadores, no século XVI, compreenderam isso. A fé reformada
procura fazer com que a interpretação das escrituras seja a mais objetiva
possível, de tal forma que o elemento subjetivo esteja sempre sujeito à visão
mais transparente e proposicional do texto. Nesse sentido, o resgate do Sola
Scriptura, na Reforma, e o re-ensinar da doutrina do sacerdócio universal
dos crentes – que, além de outras implicações, nos autoriza a ir até a Bíblia e
verificar o que Deus nos falou através de seus autores inspirados, foi passo
gigantesco no mundo do subjetivismo e do misticismo em que havia mergulhado a
igreja medieval.
Os cristãos não podem se render ao ressurgimento
contemporâneo dessa situação eclesiástica, dominada por mentes teológicas
atrofiadas, vendidas ao misticismo e subjetivismo, presente em tantas formas
cúlticas e de louvor de igrejas, ou de “comunidades” cristãs. Não podemos nos
esquecer que Paulo, em Romanos 12.1-2, diz que Deus quer de nós o nosso “culto
racional”, com a “renovação da nossa mente”, para que “experimentemos...”.
Ou seja, a experiência deve estar subjugada ao entendimento. Mesmo que a
racionalidade esteja ausente do nosso meio; mesmo que o subjetivismo esteja
patente, com a negação das Escrituras como única fonte confiável de
conhecimento religioso; mesmo que inúmeras pessoas passem a dar importância ao
direcionamento que “sentem”, ao “recebimento” de revelações e profecias;
devemos permanecer racional e firmemente alicerçados na Palavra e sempre
considerar bem-vindas obras e livros que tenham essa mesma abordagem e
compreensão.
Devemos ser estimulados a pensar e a defender a
nossa compreensão e convicções – ou a modificá-las, quando sentirmos o peso da
argumentação bíblica e assim formos direcionados pelo soberano Espírito Santo
de Deus.
Presb. Solano Portela
Fonte: Blog Tempora e Mores http://tempora-mores.blogspot.com postado dia
Domingo, 16 de Março de 2008 às 23:18hs.
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[1] Introdução à Teologia sistemática de Vincent Cheung (São Paulo: Arte Editorial, 2008), p. 5, cujo prefácio escrevi. Aquele prefácio serviu de base, com adaptações, para este ensaio. Apesar de minha discordância com Cheung em alguns escritos seus, este livro (Introdução...) é um livro estimulante e que demonstra apreço pela Palavra de Deus.
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[1] Introdução à Teologia sistemática de Vincent Cheung (São Paulo: Arte Editorial, 2008), p. 5, cujo prefácio escrevi. Aquele prefácio serviu de base, com adaptações, para este ensaio. Apesar de minha discordância com Cheung em alguns escritos seus, este livro (Introdução...) é um livro estimulante e que demonstra apreço pela Palavra de Deus.
Ilustração: Sala de Teologia do Strahovský
Klášter de Malá
Strana, na
cidade de Praga .
O Deus que Fala
Encontramos
a palavra de Deus em suas várias relações nos três primeiros capítulos da
Bíblia. Veja primeiro a história da criação, em Gênesis 1.
Parte do
propósito desse capítulo é nos assegurar de que cada item que nos rodeia foi
colocado ali por Deus. O primeiro versículo apresenta o tema exposto no resto
do capítulo
-"No princípio Deus criou os céus e a terra".
O segundo versículo apresenta a circunstância dos acontecimentos de modo a
mostrar uma análise detalhada da ação de Deus. Tratava-se de uma situação em
que a terra era vazia, sem vida, escura e totalmente coberta de água. Então o
versículo 3 nos diz como Deus falou no meio desse caos e esterilidade.
"Disse
Deus: 'Haja luz'", e o que aconteceu? Imediatamente "houve luz".
Mais sete vezes (v. 6,9,11,14,20,24,26) a palavra criadora de Deus
"haja..." foi pronunciada, e passo a passo as coisas começaram a ser
feitas e ordenadas. Dia e noite (v. 5), céu e mar (v. 6), mar e terra (v. 9)
foram separados. Vegetação (v. 12), corpos celestes (v. 14), peixes e aves (v.
20), insetos e animais (v. 24) e finalmente o ser humano (v. 26) apareceram.
Tudo foi feito pela palavra de Deus (Sl 33:6, 9; Hb 11:3; 2Pe 3:5).
A
história, porém, atinge agora outro estágio. Deus fala com o homem e com a
mulher que ele fizera. "Deus [...] lhes disse [...]" (v. 28). Aqui
Deus se dirige diretamente aos seres humanos, e assim começou a amizade entre
Deus e eles. Note as mudanças que vão ocorrendo nas ordens de Deus ao ser
humano na história. A primeira palavra de Deus a Adão e a Eva foi de comando,
convocando-os a cumprir a vocação da humanidade de dirigir a ordem criada.
"Sejam férteis [...] Dominem [...]" v. 28). Segue depois uma palavra
de testemunho ("Eis [...]" v. 29) em que Deus explica que toda
vegetação, colheita e frutos foram feitos para alimentar pessoas e animais.
Encontramos, a seguir, uma proibição com a devida penalidade: "mas não
coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela
comer, certamente você morrerá" (2:17).
Finalmente,
depois da queda, Deus se aproxima de Adão e Eva e lhes fala outra vez, e agora
suas palavras são de promessa, favorável e desfavorável. Se, de um lado, diz
que a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente, de outro determina o
sofrimento de Eva no parto, o trabalho frustrante de Adão e a morte certa para
ambos (3:15-19).
Aqui, no
ritmo destes três curtos capítulos, vemos a palavra de Deus em todas as
relações que ela mantém com o mundo e com o ser humano. De um lado, determina
as circunstâncias e o ambiente do homem, de outro ordena que o homem obedeça,
solicita-lhe a confiança e abre-lhe a mente do Criador. No resto da Bíblia
vemos muitas novas ordenanças de Deus, mas nenhuma outra categoria de
relacionamento entre a palavra de Deus e suas criaturas. Em vez disso, a
apresentação da palavra de Deus em Gênesis 1 a 3 é reiterada e confirmada.
Portanto,
a Bíblia inteira declara que todas as circunstâncias e todos os acontecimentos
no mundo são determinados pela palavra de Deus, o Criador onipotente:
"Haja...". As Escrituras descrevem tudo o que acontece como
cumprimento da palavra de Deus, desde alterações climáticas (Sl 147:15-18;
148:8) até a ascensão e o declínio das nações. O fato de que a palavra divina
realmente determina os eventos mundiais foi a primeira lição que Deus ensinou a
Jeremias quando o chamou para profeta: "Veja! Eu hoje dou a você
autoridade sobre as nações e reinos, para arrancar, despedaçar, arruinar e
destruir; para edificar e plantar" (Jr 1:10).
Mas como
poderia ser isso? O chamado de Jeremias não era para que ele se tornasse
diplomata ou alguém poderoso, mas para ser profeta, o mensageiro de Deus (v.
7). Como poderia um homem sem nenhuma posição oficial, cujo único trabalho
seria falar, ser descrito como juiz das nações indicado por Deus? Apenas por
ter na boca a palavra de Deus (v. 9). Todas as palavras que Deus lhe deu sobre
o destino das nações seriam certamente cumpridas. Para que isso ficasse bem
fixado na mente de Jeremias, Deus lhe proporcionou a primeira visão: '"O
que você vê, Jeremias?' Vejo o ramo de uma amendoeira (shaqed) [...] Você viu
bem: pois estou vigiando (shoqed) para que a minha palavra se cumpra'" (Jr
1:11,12).
Por meio
de Isaías, Deus proclamou a mesma verdade desta forma: "Assim como a chuva
e a neve descem dos céus e não voltam para eles sem regarem a terra e
fazerem-na brotar e florescer [...] assim também ocorre com a palavra que sai
da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo..."
(Is 55:10,11). A Bíblia toda mantém a afirmação de que a palavra de Deus é seu
instrumento executivo em todos os assuntos humanos. A respeito dele e de
ninguém mais, é verdade que o que ele diz acontece. Na verdade, é a palavra de
Deus que governa o mundo e que determina nosso destino.
A Bíblia
coerentemente apresenta a palavra de Deus vindo a nós das três maneiras como
foi expressa no jardim do Éden. Às vezes nos chega como lei — no Sinai, em
diversos sermões dos profetas, em muitos ensinamentos de Cristo, na ordem
evangélica para o arrependimento (At 17:30) e para crer no Senhor Jesus Cristo
(1Jo 3:23). Às vezes ela vem como promessa — como na promessa da posteridade e
na aliança feita com Abraão (Gn 15:5; 17:1-8), a promessa de redenção no Egito
(Êx 3:7-10), a promessa do Messias (Is 9:6,7; 11:1,2) e do Reino de Deus (Dn
2:44; 7:14) e no Novo Testamento promessas da justificação, ressurreição e
glorificação para os cristãos.
Às vezes
ela vem mais uma vez como testemunho — a instrução divina a respeito dos fatos
da fé e dos princípios da piedade na forma de narração histórica, argumento
teológico, salmo e sabedoria. O fato de o chamado da palavra de Deus ser para
nós absoluto é sempre ressaltado: devemos receber a palavra, confiar nela e
obedecer-lhe porque é a palavra de Deus, o Rei. A essência da impiedade é a
obstinação orgulhosa deste "povo ímpio, que se recusa a ouvir as minhas
palavras" (Jr 13:10). A marca da verdadeira humildade e piedade está em
que a pessoa "treme diante da minha palavra" (Is 66:2).
Autor: J. I. Packer
Fonte: O
Conhecimento de Deus, Editora Mundo Cristão, Cap. 11. Compre este maravilhosos
livro em www.mundocristao.com.br
O Argumento da
Natureza da Bíblia
Quando consideramos a natureza da
Bíblia, somos forçados a chegar a uma única conclusão: Ela é a incorporação de
uma revelação divina. Consideremos, em primeiro lugar, o conteúdo da Bíblia.
Este livro inteiro reconhece a personalidade, unidade e trindade de Deus; ele
magnífica a santidade e o amor de Deus; explica a criatura como sendo uma
criação direta de Deus, feita à semelhança de Deus; mostra a queda do homem
como uma livre rebeldia contra a vontade revelada de Deus; mostra o pecado como
sendo indesculpável e sob pena de castigo eterno; ensina sobre o governo
soberano de Deus no universo; apresenta, com grandes detalhes a salvação
providenciada por Deus e as condições pelas quais ela pode ser experimentada;
delineia os propósitos de Deus com respeito a Israel e a Igreja; prediz o
desenvolvimento do mundo, socialmente, economicamente, politicamente e
religiosamente; retrata o clímax de todas as coisas na segunda vinda de Cristo,
as ressurreições, os julgamentos, o milênio e o estado eterno. Que conceito e
que livro! Quem, a não ser Deus, poderia ter inventado tal esquema e quem, além
dEle, poderia ter registrado tudo por escrito?
Consideremos, em segundo lugar, a
unidade da Bíblia. Apesar de ter sido escrita por uns quarenta autores
diferentes durante um período de aproximadamente 1. 600 anos, a Bíblia é um só
livro. Tem um só sistema doutrinário, um só padrão moral, um só plano de
salvação, um só programa das eras. As diversas narrativas ali encontradas dos
mesmos incidentes e ensinamentos não são contraditórios, mas suplementares. Por
exemplo, as palavras escritas na cruz foram, sem dúvida, as seguintes: “Este é
Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”. Mateus diz: “Este é Jesus, o Reis dos
Judeus” ( Mt. 27: 37 ); Marcos: “O Rei dos Judeus” ( Marcos 15: 26 ); Lucas:
“Este é o Reis dos Judeus” ( 23: 38 ); e João: “Jesus Nazareno, o Rei dos
Judeus” ( 19: 19 ). Vemos a lei e a graça harmonizarem-se quando entendemos a
natureza e o propósito exatos de cada uma. Os relatos de homens e nações que
praticaram o mal são inofensivos e até mesmo úteis se percebemos que são
registrados para serem condenados. A doutrina do Espírito Santo se harmoniza na
natureza progressiva da revelação desta verdade. Falando a respeito das
Escrituras Maometanas, Zoroastranas e Budistas, Orr diz que elas são
destituídas
de começo, meio e fim. Elas são, na maior parte, coleções de materiais
heterogêneos, juntados ao acaso. Quão diferente, todos têm que reconhecer, é o
caso da Bíblia! De Gênesis ao Apocalipse, sentimos que este livro é uma unidade
no verdadeiro sentido da palavra. Não é uma coleção de fragmentos mas tem, como
costumamos dizer, uma natureza orgânica ... Não há nada exatamente parecido com
ela, ou que mesmo se aproxime dela, em toda literatura”. James
Orr, The Problem of the Old Testament
( O Problema do Velho Testamento ) ( New York: Chas. Ser´s Sons, 1906 ).
Considerando o conteúdo e unidade da
Bíblia, parecemos ser obrigados a concluir que ela é a incorporação de uma
revelação divina. Que homem poderia ter inventado tal visão do mundo e da vida;
que autores poderiam apresentá-la de forma tão harmoniosa e autoconsistente?
Afirmamos, portanto, que a natureza da Bíblia prova ser ela a incorporação de
uma revelação divina.
Autor: Henry Clarence Thiessen
Fonte: Palestras em Teologia Sistemática - p. 49 e
50. – Boletim IPB Jd Limoeiro www.ipblimoeiro.v10.com.br
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