terça-feira, 7 de junho de 2016

O principio da Tolerancia na vida da Igreja

Décimo Quinto Dia

O princípio da Tolerância na vida da Igreja

Se há um encargo no seu coração pela edificação da Igreja você deve estar atento para algo que tem o poder de destruir vida da Igreja: é a intolerância.
Falar de intolerância dentro da igreja tornou-se um pouco difícil por causa da mentalidade desse século. No mundo a tolerância tem sido exaltada como a maior virtude de todas. Para os pensadores e intelectuais desse mundo a intolerância é o único pecado que não pode ser tolerado.
Mas o que a nossa cultura moderna realmente ensina é a “neutralidade forçada”. Eles rejeitam qualquer um que se opõe ao pensamento prevalecente da sociedade. Isso evidentemente não é uma tolerância genuína. Se alguém me pergunta, por exemplo, o que eu penso do islamismo, eu diria que o ensinamento deles é frontalmente contra o ensinamento do cristianismo, mas defendemos o direito de um muçulmano de praticar livremente a sua religião. Essa é a tolerância legítima.
Mas o que o mundo quer que falemos é algo do tipo: “Bem, nós pensamos que o islamismo é tão verdadeiro e válido para conhecer a Deus, como qualquer outra religião, inclusive o cristianismo”. Isso é “neutralidade forçada”. O mundo defende uma hipocrisia educada.
Como o conceito de tolerância é definido no mundo como um tipo de neutralidade forçada, as pessoas sempre vêem os cristãos como intolerantes. A verdade é que as únicas pessoas que não são toleradas hoje são os cristãos genuínos. É assim porque tolerante no mundo é alguém que não acredita em coisa alguma; se defendemos uma fé logo somos taxados de intolerantes.
Por causa de todo esse conceito mundano muitos crentes rejeitam o conceito de tolerância em nome de sua fé e por isso também não se importam de serem chamados de intolerantes. No entanto a tolerância é uma virtude quando colocada no seu próprio contexto.
O contexto a que me refiro é a vida dentro da igreja, dentro da comunidade dos salvos. Quando somos intolerantes com os nossos irmãos nós destruímos a vida da Igreja. É sobre isso que Paulo fala em Romanos 14.
Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus. Romanos 14:1-12
No mundo é considerado tolerante aquele que não acredita em coisa alguma e uma vez que defendemos a fé, somos taxados de intolerantes. Por causa disso muitos crentes quando ouvem a palavra tolerância ficam na defensiva pensando que devem abrir mão de sua fé e isso evidentemente levanta todo tipo de resistência. Mas o contexto que gostaria de falar é a tolerância dentro da vida da Igreja. Não podemos edificar a igreja sem a tolerância. Ela é aboslutamente vital para que a igreja tenha vitalidade. O intolerante destrói a vida do corpo.

1. O princípio da tolerância – Rm. 14:1
Nesse contexto quem eram o fracos e os fortes na fé? Para entendermos isso precisamos nos localizar historicamente. Os primeiros cristãos eram quase que exclusivamente judeus nos primeiros anos do cristianismo. Eles não pensavam que tinham mudado de religião, por isso continuavam guardando o sábado e observando as leis judaicas da dieta. Logo muitos gentios se converteram e desde o início receberam o ensino de que não precisavam guardar essas coisas. Isso produziu um grande conflito. Os dois grupos ficavam constantemente tentando mudar a opinião do outro. A igreja se tornou um lugar cheio de debates e controvérsias.
A lei do Antigo Testamento em nenhum lugar proíbe de comer carnes. Ela proíbe comer certos tipos de carne, como carne de porco, mas permite outras carnes, como frango e carne bovina. Com o passar do tempo surgiram muitas tradições entre os judeus de como o animal deveria ser morto, de como a carne deveria ser cortada e assim por diante. Como eles não sabiam se a carne vendida nos mercados seguia os regulamentos religiosos eles concluíram que a coisa mais certa a se fazer era se abster completamente de carne.
Para completar o quadro, toda a carne que era vendida nos marcados naqueles dias era a carne oferecida como sacrifício a algum ídolo. Por causa disso os judeus não comiam carne. A lei nos os proibia de comer carne, mas eles se abstinham por considerarem algo maligno, pois estava associado a ídolos.
Se você vivesse no império romano você comeria carne? Você hoje comeria a carne de uma galinha que foi usada num despacho? Então você é capaz de entender o ponto de vista de muitos crentes daquela época. Paulo diz que a carne de si mesma não é nada, mas alguns crentes ficavam escandalizados quando outros irmãos comiam carne. Paulo diz que esses são os fracos na fé.
No verso primeiro Paulo diz: “Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.” Na igreja de Roma havia dois grupos que Paulo chama de os “fracos na fé” e os “fortes na fé”. Paulo
O objetivo de Paulo é que os irmãos aceitassem aqueles que eram fracos na fé. Aceitar aqui é mais que apertar a mão ou dar um sorriso, é tratar o outro como um irmão genuíno e acolhê-lo na comunhão da igreja.
Evidentemente aqueles crentes que não comiam carne se julgavam muito santos e não toleravam os outros que comiam. Um irmão fazendo um churrasco era visto como carnal mesmo. E os que comiam se julgavam mais espirituais e desprezavam os outros. Tudo isso produzia muito debate e discussão entre irmãos dos dois grupos, por isso Paulo exorta aqueles que se achavam fortes a acolherem o que é débil na fé.
Paulo deseja que essa aceitação seja genuína. Não é aceitar para depois tentar mudar o outro, é ter uma tolerância genuína, é conviver com o irmão mesmo tendo opiniões diferentes da dele. O exemplo bíblico é o da comida, mas há hoje em dia muitos outros assuntos que dividem os irmãos.
Mas será que devemos tolerar tudo? O que realmente devemos tolerar? Paulo diz que devemos tolerar diferenças quando se trata de “assuntos controvertidos” e de “coisas secundárias na fé”.

2. O que devemos tolerar? – Rm. 14:2-3
Que tipo de comportamento ou ensino nós devemos tolerar dentro da Igreja? A tolerância possui algum limite? Devemos tolerar problemas morais? Essas são questões importantes que definem os limites da nossa atitude de tolerância.
No verso 2 Paulo esclarece que o fraco na fé é aquele cuja fé é frágil e ele não se sente confiante e seguro para fazer certas coisas. Sua fé em Cristo é real, mas a sua consciência o acusa por fazer certas coisas que outros irmãos fazem sem qualquer constrangimento.
Os fracos na fé na Igreja de Roma eram aqueles que não comiam carne, mas apenas vegetais, e consideravam alguns dias mais santos que outros.
Paulo vê esses cristãos como “fracos na fé”. Agora não há nenhuma evidência de que estes cristãos judeus estavam fazendo essas coisas com o fim de serem salvos. Se eles estivessem fazendo isso Paulo teria dito que eles estavam seguindo um falso evangelho, como ele disse os judaizantes no livro de Gálatas.
Parece que eles simplesmente não se sentiam em paz de contrariarem tudo o que tinham aprendido desde a infância.
Os cristãos que não tinham essa consciência fraca são descritos como “fortes na fé”. Para eles Paulo diz no verso 3 para não desprezar os fracos como se fossem inferiores; e aos fracos ele diz para não julgar os que comem como se fossem carnais.
O que vemos aqui não é o legalismo judaizante que encontramos na carta de Paulo aos Gálatas, onde alguns cristãos judeus estavam ensinando que todos tinham que abraçar a lei de Moisés, a fim de serem salvos. O que encontramos aqui é uma diferença honesta de opinião, e embora Paulo tenha suas próprias convicções como alguém forte na fé, ele admite que há espaço para a diferença honesta de opinião sobre como melhor aplicar as verdades da Palavra de Deus.
O princípio geral é que devemos ser tolerantes quando há uma diferença de opinião sobre a aplicação de uma verdade bíblica. O ensino de Paulo é que precisamos ser tolerantes a respeito de doutrinas que não são essenciais ou fundamentais na fé cristã.
Entre os Gálatas havia pessoas ensinando um outro evangelho. Eles ensinavam que para ser salvo o homem tinha de, além de crer em Jesus, guardar a lei de Moisés. Assim aos gálatas Paulo é bem contundente, pois aquilo era uma heresia, um falso evangelho. Mas em Roma, alguns cristãos simplesmente não se sentiam confortáveis comendo todo tipo de comida e adorando em qualquer outro dia. Portanto, neste caso, Paulo incentiva a tolerância. Quando há uma doutrina cristã essencial da fé em jogo, como discípulos de Jesus, precisamos permanecer firmes.
Tolerância cristã também não é tolerância em áreas de claros absolutos morais. A Bíblia claramente ensina que existem valores morais absolutos. Alguns cristãos pensam que a tolerância significa abrir mão de valores morais absolutos. Hoje existem igrejas, por exemplo, que aceitam homossexuais praticantes em sua comunhão sendo que a Bíblia ensina claramente que o comportamento homossexual é inaceitável diante de Deus. Não é isso que Paulo está nos encorajando a fazer aqui. Ninguém tem o direito de diluir os claros ensinamentos morais da Palavra de Deus.
A questão da dieta e do sábado ainda produz debates até hoje. Outro dia ouvi de uma igreja que ensina que o culto aos domingos é a marca da besta do livro de Apocalipse. Mesmo no Brasil existem muitos grupos evangélicos messiânicos que guardam o sábado e a dieta judaica.
Mas existem muitas outras áreas em nossa igreja local e no meio evangélico onde devemos aplicar o princípio da tolerância.
Veja por exemplo a questão do tipo de batismo. O ensino bíblico é que todo o que crê deve ser batizado. Alguns evangélicos batizam por aspersão enquanto outros batizam por imersão. O problema é que fazem disso um fundamento de fé e assim produziram uma divisão por causa de intolerância. Nós mesmos temos de definir como fazemos o batismo, mas incluímos em nossa comunhão aqueles que se batizam de forma diferente. No entanto ainda é muito comum os irmãos nas células não aceitarem alguém que se batizou por imersão. A visão é a aceitação dos irmãos e a unidade do corpo.
Sempre gosto de pensar naqueles dois cegos que foram curados por Jesus. Em Marcos lemos que o Senhor encontrou um cego e o curou apenas passando a sua saliva. Depois, lá em João, o Senhor encontra outro cego, mas dessa vez ele mistura a saliva com o barro e passa no olho para ser curado (Mc. 8:23 e Jo. 9:6). Aquele que o Senhor passou apenas a saliva não foi curado instantaneamente. Depois da primeira oração ele passou a ver os homens como árvores. O segundo cego, porém, foi curado depois que lavou a saliva misturada com barro na fonte de Siloé.
Eu imagino esses dois cegos se encontrando depois. “Fiquei sabendo que você foi curado?” pergunta o primeiro. “Ah! Sim. Eu era cego de nascença e o Senhor passou saliva no meu olho e eu comecei a ver.” “Mas ele não misturou a saliva com o lodo e te mandou lavar no tanque?” pergunta o primeiro. “Não. Ele só passou a saliva” Responde o outro meio ressabiado. “Não sei não. Acho que a sua cura não foi legítima. Não bate com a minha experiência.”
Teria cabimento um diálogo assim? Claro que não, ams é exatamente assim que procedemos com relação a uma série de questões na igreja. Simplesmente rejeitamos aquele que tem uma experiência um pouquinho diferente da nossa.
Um exemplo clássico é a questão do estilo de adoração na igreja. Este debate é sobre se uma igreja deve ter um estilo de adoração tradicional ou um estilo de adoração contemporânea. Ambos os lados concordam que a adoração a Deus é importante, mas precisam tolerar o estilo um do outro.
Um assunto que tem produzido grande intolerância entre nós é a questão do divórcio e novo casamento. Entre os evangélicos um grupo acredita que não há segundo casamento; o outro crê que pode haver segundo casamento no caso de traição. Há diferentes opiniões e não temos unanimidade entre os evangélicos, por causa disso precisamos ter a nossa posição bem definida, mas devemos tolerar aqueles que pensam diferente de nós.
O princípio geral é que precisamos ser tolerantes com relação a doutrinas que não são fundamentais, bem como com costumes e hábitos próprios de alguns grupos de irmãos. Mas se diz respeito a um fundamento da fé e se relaciona com algum valor moral claramente expoxto nas escrituras, então não podemos tolerar.

3. As razões para tolerarmos uns aos outros – Rm. 14:4-12
Devemos receber aquele a quem Deus acolheu – 2 e 3
A melhor maneira de sabermos qual deve ser a nossa atitude em relação a alguém é determinando qual é a atitude de Deus em relação a ele. Se Deus aceitou a alguém quem sou eu para rejeita-lo?

Todos pertencemos ao Senhor e vivemos para o Senhor – 4 a 9
Nenhum de nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo, pertencemos ao Senhor. Contanto que somos do Senhor não importa a comida que comemos ou a forma como somos batizados ou qual música cantamos.
E se pertencemos ao Senhor precisamos ter cuidado para não julgar um servo alheio. O nosso irmão é servo de Deus e não nosso.

Devemos receber aquele que é irmão – 10
Eu devo receber o meu irmão justamente porque é meu irmão. Não escolhemos os nossos pais e nem nossos irmãos, Deus os escolheu por nós. Posso não estar contente com os membros de minha família, mas não tenho escolha, devo aceita-los.

Toda controvérsia será resolvida no tribunal de Deus – 10 a 13
O julgamento referido no verso 10 se refere ao tribunal de Cristo mencionado em II Coríntios 5:10
Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo. II Cor. 5:10
Deus nos chama para praticar a tolerância cristã em assuntos controvertidos. Agora, só para ter certeza que você entendeu, lembre-se que este princípio não se aplica ao fundamento da fé cristã nem aos claros absolutos morais. Este princípio de tolerância cristã relaciona-se com diferenças honestas de opinião entre os crentes sobre a melhor forma de aplicar determinados princípios bíblicos. Nesta área, a intolerância cristã deve acabar.
O princípio da tolerância é um requisito mínimo fundamental para que haja vida de comunidade. Lembre-se, porém que Jesus não disse: “Um novo mandamento vos dou, que tolereis uns aos outros, por isso todas as pessoas vão saber que você são meus discípulos, pelo fato de vocês tolerarem uns aos outros.” O padrão do Novo Testamento é uma ética do amor, de amar uns aos outros com amor sacrificial
O amor vai mais longe do que a tolerância. O amor realmente se coloca diante do outro para servir, para dar de si mesmo para aqueles que têm convicções diferentes. Só desta forma o mundo vai olhar para nós e reconhecer que Deus está realmente em nosso meio.

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