ALBERTO ARAÚJO é presbítero da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Cuiabá -MT, professor de EBD e Teologia, publicitário, blogueiro, varios cursos biblicos por diversos institutos e escolas de teologia e biblica do Brasil, entre elas, Academia de Pregadores, etc. teólogo preliminar pela FATEBOM/SP, teólogo básico e médio pela ETC, curso de gestão acadêmica pela UFMT, pós-graduado em Gestão Ambiental /UFMT, especialista em Gestão Pública /UFMT, Especialista em Politicas Públicas / UFMT.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA
4° LIÇÃO 1° TRI 2014 A
CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA
A CELEBRAÇÃO DA
PRIMEIRA PÁSCOA
TEXTO ÁUREO
[...] Porque Cristo,
nossa páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Co 5.7b).
VERDADE PRÁTICA
Cristo é o nosso
Cordeiro Pascal. Por meio do seu sacrifício expiatório fomos libertos da
escravidão do pecado e da ira de Deus.
LEITURA DIÁRIA
Êx 12.5 Um cordeiro sem mácula deveria ser morto
Êx 12.7 Sangue foi aspergido nas portas
Êx 12.29-33 Morte nas
famílias egípcias
Jo 1.29 O Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo
1 Jo 1.7 O sangue purificador do Cordeiro de Deus
Hb 11.28 Pela fé, Moisés celebrou a Páscoa
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE
Êxodo 12.1-11
1 - £ falou o SENHOR a
Moisés e a Ar ao na terra do Egito, dizendo:
2 - Este mesmo mês vos
será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano.
3 - Falai a toda a
congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, tome cada um para si um
cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada casa.
4 - Mas, se a família
for pequena para um cordeiro, então, tome um só com seu vizinho perto de sua
casa, conforme o número das almas; conforme o comer de cada um, fareis a conta
para o cordeiro.
5 - 0 cordeiro, ou
cabrito, será sem mácula, um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou
das cabras
6 - e o guardareis até
ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o
sacrificará à tarde.
7 - E tomarão do sangue
e pô-lo-ão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem.
8 - E naquela noite
comerão a carne assada no fogo, com pães asmos; com ervas amargosas a comerão.
9 - Não comereis dele
nada cru, nem cozido em água, senão assado ao fogo; a cabeça com os pés e com a
fressura.
10 - E nada dele
deixareis até pela manhã; mas o que dele ficar até peia manhã, queimareis no
fogo.
11 - Assim, pois, o
comereis: os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso
cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do SENHOR.
INTERAÇÃO
Na lição de hoje,
estudaremos uma das festas mais significativas para Israel e a Igreja — a
Páscoa. Deus queria que seu povo nunca se esquecesse desta comemoração
especial. Por isso, esta data foi santificada. No decorrer da lição, procure
enfatizar que a Páscoa era uma oportunidade para os israelitas descansarem,
festejarem e adorarem a Deus por tão grande livramento, que foi a sua
libertação e saída do Egito. Hoje, o nosso Cordeiro Pascal é Cristo. Ele morreu
para trazer redenção aos judeus e gentios. Cristo nos livrou da escravidão do
pecado e sua condenação eterna. Exaltemos ao Senhor diariamente por tão grande
salvação.
OBJETIVOS
Após a aula, o aluno
deverá estar apto a:
Analisar o significado
da Páscoa para os israelitas, egípcios e para os cristãos.
Saber quais eram os
elementos principais da Páscoa.
Conscientizar-se de que
Cristo é a nossa Páscoa.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para iniciar
a lição faça a seguinte pergunta: “O que significa a palavra Páscoa?” Ouça os
alunos com atenção e explique que o termo significa “passar por”. Diga que este
vocábulo tornou-se o nome de uma das mais importantes celebrações do povo
hebreu. Diga que a festa da Páscoa acontece no mês de abibe (março/abril).
Utilizando o quadro da
página seguinte, explique aos alunos o significado desta celebração para os
egípcios, judeus e cristãos. Conclua, enfatizando que a Páscoa nos fala do
sacrifício de Cristo, o nosso Cordeiro Pascal.
PALAVRA-CHAVE
Páscoa: Uma das mais
importantes festas do povo hebreu em que comemoravam a saída do Egito.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
A Páscoa foi instituída
pelo Senhor para que os israelitas celebrassem a noite em que Deus poupou da
morte todos os primogênitos hebreus. É uma festa repleta de significados tanto
para os judeus quanto para os cristãos. Os judeus deveriam comemorar a Páscoa
no mês de Abib (corresponde à parte de março e parte de abril em nosso
calendário), cujo significado são as “espigas verdes”.
Hoje estudaremos a
respeito desta festa sagrada e o seus significados para nós, cristãos.
I - A PÁSCOA
1. Para os egípcios.
Para os egípcios a Páscoa significou o juízo divino final sobre o Egito, Faraó
e todos os deuses cultuados ali. O Senhor havia enviado várias pragas e
concedido tempo suficiente para que Faraó se rendesse, deixando o povo partir.
Deus é misericordioso, longânimo e deseja que todos se salvem (2 Pe 3.9b).
Porém, Ele é também um juiz justo que se ira contra o pecado: “Deus é um juiz
justo, um Deus que se ira todos os dias” (Sl 7.11). O pecado, a idolatria e as
injustiças sociais suscitam a ira do Pai. O povo hebreu estava sendo massacrado
pelos egípcios e o Senhor queria libertá-lo. Restava uma última praga. Então o
Senhor falou a Moisés: “À meia-noite eu sairei pelo meio do Egito; e todo
primogênito na terra do Egito morrerá” (Êx 11 .4,5). Foi uma noite pavorosa
para os egípcios e inesquecível para os israelitas.
2. Para Israel. Era a
saída, a passagem para a liberdade, para uma vida vitoriosa e abundante. Foi
para isto que Cristo veio ao mundo, morreu e ressuscitou ao terceiro dia, para nos
libertar do jugo do pecado e nos dar uma vida cristã abundante (Jo 10.10).
Enquanto havia choro nas casas egípcias, nas casas dos judeus havia alegria e
esperança. O Egito, a escravidão e Faraó ficariam para trás. Os israelitas
teriam sua própria terra e não seriam escravos de ninguém.
3. Para nós. Como
pecadores também estávamos destinados a experimentar a ira de Deus, mas Cristo,
o nosso Cordeiro Pascal, morreu em nosso lugar e com o seu sangue nos redimiu
dos nossos pecados (1 Co 5.7).
Para nós, cristãos, a
Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em
Cristo. No Egito um cordeiro foi imolado para cada família. Na cruz morreu o
Filho de Deus pelo mundo inteiro (Jo 3.16).
SINOPSE DO TÓPICO (1)
Para nós cristãos a
Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em
Cristo.
II - OS ELEMENTOS DA
PÁSCOA
1. O pão. Deveria ser
assado sem fermento, pois não havia tempo para que o pão pudesse crescer (Êx
12.8,11,34-36). A saída do Egito deveria ser rápida. A falta de fermento também
representa a purificação, a libertação do fermento do mundo. Em o Novo
Testamento vemos que Jesus utilizou o fermento para ilustrar o falso ensino dos
fariseus (Mt 16.6, 11,12; Lc 12.1; Mc 8.15). O pão também simboliza vida. Jesus
se identificou aos seus discípulos como “o pão da vida” (Jo 6.35). Toda vez que
o pão é partido na celebração da Ceia do Senhor, traz à nossa memória o
sacrifício vicário de Cristo, através do qual Ele entregou a sua vida em
resgate da humanidade caída e escravizada pelo Diabo.
2. As ervas amargas (Êx
12.8). Simbolizavam toda a amargura e aflição enfrentadas no cativeiro. Foram
430 anos de opressão, dor, angústia, quando os hebreus eram cativos do Egito.
3. O cordeiro (Êx
12.3-7). Um cordeiro sem defeito deveria ser morto e o sangue derramado nos
umbrais das portas das casas. O sangue era uma proteção e um símbolo da
obediência. A desobediência seria paga com a morte. O cordeiro da Páscoa
judaica era uma representação do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”
(Jo 1.29). O sangue de Cristo foi vertido na cruz para redimir todos os filhos
de Adão (1 Pe 1.18,19). Aquele sangue que foi derramado no Egito, e aspergido
nos umbrais das portas, aponta para o sangue de Cristo que foi oferecido por
Ele como sacrifício expiatório para nos redimir dos nossos pecados.
SINOPSE DO TÓPICO (2)
Os três elementos da
Páscoa eram: o pão, as ervas amargas e o cordeiro sem mácula.
III - CRISTO, NOSSA
PÁSCOA
1. Jesus, o Pão da Vida
(Jo 6.35,48,51). Comemos pão para saciar a nossa fome, porém, a fome da
salvação da nossa alma somente pode ser saciada por Jesus. Certa vez, Ele
afirmou: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome” (Jo 6.3 5).
Apenas Ele pode saciar a necessidade espiritual da humanidade. Nadal pode
substituí-lo. Necessitamos deste pão divino diariamente. Sem Ele não é possível
a nossa reconciliação com Deus (2 Co 5.19).
2. O sangue de Cristo
(1 Co 5.7; Rm 5.8,9) No Egito, o sangue do cordeiro morto só protegeu os
hebreus, mas o sangue de Jesus derramado na cruz proveu a salvação não apenas
dos judeus, mas também dos gentios.
O cordeiro pascal
substituía o primogênito. O sacrifício de Cristo substituiu a humanidade
desviada de Deus (Rm 3.12,23). Fomos redimidos por seu sangue e salvos da morte
eterna pela graça de Deus em seu Cordeiro Pascal, Jesus Cristo.
3. A Santa Ceia. A Ceia
do Senhor não é um mero símbolo; é um memorial da morte redentora de Cristo por
nós e um alerta quanto à sua vinda: “Em memória de mim” (1 Co 11.24,25). É um
memorial da morte do Cordeiro de Deus em nosso lugar. O crente deve se assentar
à mesa do Senhor com reverência, discernimento, temor de Deus e humildade, pois
está diante do sublime memorial da paixão e morte do Senhor Jesus Cristo em
nosso favor. Caso contrário, se tornará réu diante de Deus (1 Co 11.27-32).
SINOPSE DO TÓPICO (3)
A Ceia do Senhor é um
memorial da morte redentora de Cristo por nós e um alerta quanto à sua vinda.
CONCLUSÃO
Deus queria que o seu
povo Israel nunca se esquecesse da Páscoa, por isso a data foi santificada. A
Páscoa era uma oportunidade para os israelitas descansarem, festejarem e
adorarem a Deus por tão grande livramento, que foi a sua libertação e saída do
Egito. Hoje o nosso Cordeiro Pascal é Cristo. Ele morreu para trazer redenção
aos judeus e gentios. Cristo nos livrou da escravidão do pecado e sua
condenação eterna. Exaltemos ao Senhor diariamente por tão grande salvação.
A PÁSCOA
A PÁSCOA
SEU SIGNIFICADO
Para os egípcios Significava o juízo
divino sobre o Egito.
Para os israelitas A saída do Egito, a
passagem para a liberdade.
Para os cristãos É a passagem da morte
dos nossos pecados para a vida de santidade em Cristo.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
COHEN, Armando Chaves.
Êxodo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
RICHARDS, Lawrence O.
Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por
capítulo. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Bibliológico
“O propósito de Deus em
instituir a Páscoa era estabelecer o marco inicial para a libertação de Israel
do cativeiro egípcio e proclamar a redenção alcançada pelo sangue do Cordeiro,
já revelada no sacrifício de Isaque (Gn 22.1-19), conforme mais tarde
escreveram os apóstolos Paulo e Pedro: ‘e demonstrar a todos qual seja a
dispensação do ministério, que, desde os séculos esteve oculto em Deus’ (Ef
3.9); [...] o qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, antes da
fundação do mundo’ (1 Pe 1.20).
Cristo é a nossa Páscoa
(1 Co 5.17). Ele é o Cordeiro de Deus Co 1.29). O cordeiro deveria ser separado
para o sacrifício até ao décimo quarto dia do primeiro mês do ano (Êx 12.3-6) e
tinha de ser sem defeito (Êx 12.5). Cristo cumpriu essa exigência (1 Pe
1.18,19). Ele entrou em Jerusalém no dia da separação do cordeiro e morreu no
mesmo dia do sacrifício. O cordeiro precisava ser imolado pela congregação,
assim como Cristo foi sacrificado pelos líderes civis e religiosos de Israel e
de Roma e pela vontade do povo. Nenhum osso do cordeiro poderia ser quebrado
(Êx 12.46), também nenhum osso de Cristo foi partido Oo 19.33-36)” (COHEN,
Armando Chaves. Êxodo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p.42).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO
II
Subsídio Bibliológico
“Êxodo 12 não diz
respeito somente ao momento da Páscoa, ao porquê da Páscoa e a como ela deve
ser observada, mas também quem deve participar (Êx 1 2.43-49). A Páscoa não era
algo indiscriminadamente aberto para todos. Quem podia participar? A
congregação de Israel (v. 47); os escravos (v. 44), quando circuncidados, por
terem os mesmos privilégios dos hebreus; os estrangeiros (v. 48), gentios que
tivessem abraçado a fé em Jeová. Quem não podia participar? O forasteiro (v.
43), pagão e incrédulo; o viajante (v. 45) que, hóspede ou de passagem, ficava
algum tempo no território de Israel; o servo assalariado (v. 45), que pertencia
a uma outra nação mas trabalhava em Israel. Essas distinções eram necessárias
por causa da ‘mistura de gente’ (1 2.38) que deixou o Egito. Foi por isso que
as instruções acerca da elegibilidade para participar da Páscoa (1 2.43-49)
foram passadas logo após essa ‘mistura de gente’ deixar o Egito (12.37-39)”
(HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. 2. ed. Rio de Janeiro; CPAD, 2007,
pp. 191-92).
EXERCÍCIOS
1. O que significou a
Páscoa para os egípcios?
R: Para os egípcios a
Páscoa significou o juízo divino final sobre o Egito, Faraó e todos os falsos
deuses cultuados ali.
2. Qual o significado
da Páscoa para Israel?
R: Era a saída, a
passagem para a liberdade, para uma vida vitoriosa e abundante.
3. Qual o significado
da Páscoa para os cristãos?
R: Para nós cristãos a
Páscoa é a passagem da morte dos nossos pecados para a vida de santidade em
Cristo.
4. Quais os elementos
da primeira Páscoa?
R: Pães asmos, ervas
amargas e cordeiro.
5. Por que Cristo é a
nossa Páscoa?
R: Porque Ele morreu em
nosso lugar para nos redimir de nossos pecados. Cristo nos livrou da escravidão
do pecado e sua condenação eterna.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Neste capítulo veremos
de que forma os acontecimentos de uma noite mudaram a história dos egípcios e
do povo de Israel. A celebração da Páscoa teve significados distintos para
hebreus e egípcios, pois na noite em que foi instituída, houve lamento no
Egito, mas a seguir ocorreu a libertação prometida por Deus para os seus
filhos.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 35.
PÁSCOA 1 Esta palavra
aparece várias vezes na Bíblia Sagrada. Porém na versão KJV em inglês ela
aparece apenas uma vez (At 12.4). É usada como tradução do termo grego pascha,
que é corretamente traduzido como "páscoa" nas passagens onde consta
no Novo Testamento. A palavra "Páscoa" em inglês ("Easter")
é derivada do nome de uma deusa teutônica da primavera, "Eastre", e
foi adaptada pelos cristãos ao uso atual aprox. no século VIII d.C.
PÁSCOA 2 Festa
instituída por Deus para Israel, na época do Êxodo, para celebrar a noite em
que o Senhor Jeová poupou todos os recém nascidos primogênitos dos israelitas e
matou todos os primogênitos dos egípcios (Êx 12.1-30,43-49). A palavra hebraica
pesah (do grego pascha) tem uma origem incerta. G. E. Mendenhall a relaciona
com a palavra acadiana pashu, que consta na carta Amarna 74.37 para descrever a
paz ou a segurança que resulta do estabelecimento de uma aliança (BASOR, #133
[1954], p. 29). B. Couroyer sugere que este termo é uma transliteração de duas
palavras egípcias p3 sh, 'Te coup" (o golpe, a pancada), e que ele
refere-se ao golpe infligido pelo Senhor à terra do Egito na décima praga. Ele
acredita que a expressão egípcia foi colocada ao lado de uma raiz hebraica
composta pelas mesmas consoantes, pasah, que significa saltar ou passar (por
cima) como em 1 Reis 18.26. Devido à sua conexão com a isenção dos primogénitos
de Israel, pesah veio a ter o sentido da misericordiosa intenção de Jeová ao
passar por cima das casas que foram marcadas com sangue ("Uorigine
égyptienne du mot 'Pâque'", Revue Biblique, LXII [1955], 481-496). O verbo
pasah ocorre em Êxodo 12.13,23,27, onde obviamente significa que o Senhor pulou
ou saltou por cima e, desse modo, poupou as casas israelitas quando feriu os
egípcios (Outro verbo com os mesmos radicais significa mancar ou ser manco; 2
Samuel 4.4.) A outra única ocorrência, no sentido de poupar ou proteger, está
em Isaías 31.5, onde pasah está em um paralelo com outros três verbos que
significam "proteger", "libertar" e "salvar". É
possível que em Isaías o significado possa ter sido estabelecido pelo uso em
Êxodo 12 e não por refletir o significado original da raiz. Portanto, não se
pode afirmar que o substantivo pesah deriva ou não do verbo pasah, que
originalmente significava passar por cima. Quanto à observação cerimonial da
festa da Páscoa no AT, Veja Festividades; Sacrifícios; Adoração.
No AT, é feita uma
referência à celebração da primeira Páscoa por Moisés, com a aspersão de sangue
para que os primogênitos israelitas não fossem tocados (Hb 11.28). Existem
muitas outras referências a festas da Páscoa durante a vida do Senhor Jesus.
Ainda criança, todos os anos Ele era levado por seus pais a Jerusalém para a
Festa da Páscoa (Lc 2.41). No quarto evangelho, três Páscoas são
definitivamente mencionadas durante o ministério do Senhor Jesus (Jo 2.13,23;
6.4; 11.55; 12.1; 13;1; 18.28,39; 19.14) e acredita-se que a festa mencionada
em João 5.1 seria a quarta Páscoa. Na época de Cristo, o cordeiro pascal
(geralmente um cordeiro ou cabrito de um ano, mas veja Êxodo 12.5) era
ritualmente sacrificado na área do Templo. Essa refeição, no entanto, podia ser
comida em qualquer casa da cidade. Um grupo comunitário, como o de Jesus e seus
discípulos, podia celebrar a Páscoa em conjunto, com se formasse uma unidade familiar.
Cerca de 120.000 a 180.000 judeus compareciam a Jerusalém para essa e outras
festas anuais, sendo que a grande maioria deles era formada por peregrinos
vindos de países da Diáspora (J. Jeremias, Jerusalém in the Time of Jesus,
Filadélfia. Fortress, 1969, pp. 58-84). Depois da destruição do Templo no ano
70 d.C, as provisões para o sacrifício de um animal, sob a forma de um ritual,
cessaram totalmente e a Páscoa dos judeus passou a ser uma simples cerimônia
familiar, uma refeição sem derramamento de sangue. Atualmente, apenas os
samaritanos (q.v.), em sua cerimônia anual da Páscoa no monte Gerizim,
sacrificam cordeiros ou cabritos visando cumprir a ordem de Êxodo 12. Uma
última passagem do NT desenvolve claramente o significado tipológico da Páscoa e
da Festa dos Pães Asmos para o cristão. Paulo conclama os coríntios a eliminar
o fermento da malícia e da iniquidade, e observar diariamente a festa
"porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Co 5.7).
Dessa forma, Paulo declara diretamente que Cristo é o "nosso Cordeiro
pascal", conforme o pronunciamento de João Batista de que Jesus é "o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). Devido a estas
passagens, e a ensinos semelhantes, a Igreja primitiva veio a entender que a
Ceia do Senhor (q.v.) substitui completamente a celebração da Páscoa.
PFEIFFER .Charles F.
Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1467-1468.
I - A PÁSCOA.
1. Para os egípcios.
Para que possamos
entender o significado da Páscoa para os egípcios, é preciso que recordemos o
que ocorreu nos últimos dias antes de ela acontecer.
Moisés já havia falado
com Faraó sobre ele libertar Israel, mas o rei não cedeu, mesmo com o envio de
pragas assustadoras que atacaram profundamente a vida dos egípcios. Entretanto,
Deus ainda tinha mais um julgamento contra o Egito, um julgamento tal que
aquela nação entraria em prantos: a morte dos primeiros filhos de cada família
egípcia. A Páscoa foi um duro julgamento de Deus para com as atrocidades
cometidas pelos egípcios contra os meninos hebreus. Não podemos nos esquecer de
que, no início do livro de Êxodo, Faraó ordenou que as parteiras Sifrá e Puá
matassem os meninos recém-nascidos. Como elas não o fizeram, a ordem foi dada a
qualquer egípcio. Isso significa que qualquer egípcio poderia entrar numa casa
hebreia, ver se ali havia algum menino e, caso o encontrasse, poderia pegar o
bebê e levá-lo para ser jogado no Rio Nilo, onde se afogaria ou seria alimento
para os crocodilos.
Se nessa época as casas
dos hebreus poderiam ser invadidas, na Páscoa as casas dos egípcios não
poderiam proteger os seus primogênitos, pois o anjo da morte entraria em cada
residência e executaria o mandado de Deus. Sem dúvida essa história poderia
terminar de outra forma se Faraó deixasse ir o povo embora. Mas por causa da
dureza de coração do rei, seus súditos pagaram um alto preço. Lembremo-nos de
que Moisés tinha advertido a Faraó antes, deixando claro que o povo sairia com
as crianças e o gado (Faraó não queria que isso acontecesse), e a última
resposta do rei para Moisés, antes da Páscoa, foi: “Vai-te de mim e guarda-te
que não mais vejas o meu rosto; porque, no dia em que vires o meu rosto,
morrerás” (Êx 10.28). Por essa resposta, entendemos que Faraó deu por encerrado
o diálogo com Moisés e com Deus, e assinou a ordem divina para a morte dos
primogênitos. Ele não quis obedecer às ordens de Deus, e isso lhe custaria a
vida do próprio filho.
"Deus tem dado
muitas ordens em sua Palavra que são acompanhadas de promessas que Ele mesmo
vai cumprir. Naquela noite, obedecer a Deus fez toda a diferença para os
israelitas."
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 35-36.
Êx 11.4 O Senhor.
Yahweh tinha-o informado. Cerca da meia-noite, o anjo da morte, o destruidor
(Êxo. 12.23), iniciaria a sua missão destrutiva. Todas as pragas anteriores
seriam como nada em comparação com a décima. Israel seria poupado (vs. 7); seus
primogênitos nada sofreriam.
O Faraó tinha, no
Egito, a reputação de ser um deus, uma encarnação de Rá, o deus-sol. A
mitologia egípcia contava a história de como, a cada noite, o deus- sol
precisava lutar e vencer os poderes das trevas, sob a forma do deus-serpente,
Apófis. A cada noite era obtida a vitória. Mas naquela noite, à meia-noite, o
poder das trevas, Rá, seria derrotado, e isso do ponto de vista dos egípcios.
Os versículos primeiro
a terceiro deste capítulo formam um parêntese. O quarto versículo dá
continuação ao diálogo de Êxodo 10.29. O Faraó tinha sido advertido pela última
vez. Moisés disse ao Faraó que os dois nunca mais se veriam face a face. Antes,
o Faraó teria de enfrentar Yahweh, sob a forma de seu anjo vingador. E o Faraó
em breve haveria de querer ver Moisés novamente (Êxo. 12.31).
Êx 11.5 Nenhum filho
primogênito, humano ou animal, seria poupado. Agora a ameaça era de uma
destruição deveras devastadora. “A morte dos primogênitos simboliza a derrota
imposta por Deus ao Egito, mediante o triunfo sobre os seus deuses. De acordo
com o pensamento dos hebreus, os primogênitos representavam o todo. O domínio
sobre o Egito, como uma entidade independente, chegara ao fim. Seus deuses
estavam mortos” (J. Edgar Park, in loc).
Os Animais aos quais os
Egípcios Adoravam Também Estavam Mortos. Visto que os primogênitos eram do sexo
masculino, as meninas escaparam completa mente. Mas o orgulho e as esperanças
de cada família giravam em torno do amado filho primogênito. Ele representava a
continuação da linhagem, o transmissor da herança. Portanto, nenhuma aflição
pior poderia ser imaginada do que a morte em massa dos filhos primogênitos.
Nenhuma família egípcia
escaparia à calamidade que atingiria em cheio o deus-sol do Faraó, desde a
humilde criada que, subitamente, perderia seu querido primeiro filho, até o
próprio rei, desde o menor até o maior; desde o mais pobre até o mais rico;
desde os culpados até os inocentes.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
pag. 346.
A Páscoa e os egípcios
(Êx 11:1-10)
O povo do Egito havia
sido transtornado pelas seis primeiras pragas; sua terra e seus bens haviam
sido devastados pelas duas pragas seguintes. A nona praga - três dias de
escuridão - havia preparado o caminho para a mais terrível de todas as pragas,
quando mensageiros da morte visitariam a terra. "Lançou contra eles o
furor da sua ira: cólera, indignação e calamidade, legião de anjos portadores
de males" (SI 78:49).
Moisés ouviu a Palavra
de Deus (vv. 1-3). Esses versículos descrevem o que aconteceu antes de Moisés
ser convocado para ir ao palácio e ouvir a última oferta do Faraó (Êx
10:24-29). O discurso de Moisés (Êx 11:4-8) foi apresentado entre os versículos
26 e 27 do capítulo 10 e terminou com Moisés deixando a sala do trono ardendo em
ira (Êx 10:29; 11:8).
Deus disse a Moisés que
enviaria mais uma praga ao Egito, uma praga tão terrível que o Faraó não apenas
deixaria como também ordenaria que os israelitas partissem. O Faraó os
expulsaria da terra e, assim, cumpriria a promessa que Deus havia feito mesmo
antes de começarem as pragas (Êx 6:1; ver 12:31, 32, 39).
Moisés disse ao povo
que havia chegado a hora de receberem seus pagamentos atrasados por todo o
trabalho que eles e seus ancestrais haviam feito como escravos no Egito. A
palavra hebraica para essa coleta é traduzida pelo verbo "pedir"
("peça"; v. 2). Os hebreus não tinham a intenção de devolver o que os
egípcios lhes dessem, pois aquela riqueza era pagamento por uma dívida pendente
do Egito para com Israel.
Deus havia prometido a
Abraão que seus descendentes deixariam o Egito com "grandes riquezas"
(Gn 15:14) e repetiu essa promessa a Moisés (Êx 3:21, 22). Deus havia tornado
seu servo, Moisés, extremamente respeitado no meio dos egípcios e também faria
com que os hebreus alcançassem o favor dos egípcios, de modo que estes dariam
livremente sua riqueza ao povo de Israel (Êx 12:36, 37).
Moisés advertiu o Faraó
(w. 4-10). Essa foi a última vez que Moisés dirigiu-se ao Faraó, que rejeitou
suas palavras como havia feito com todas as outras advertências. O Faraó não
tinha qualquer temor de Deus em seu coração e, portanto, não levou a sério o
que Moisés lhe disse. No entanto, ao rejeitar a Palavra de Deus, o Faraó causou
a morte dos mais excelentes jovens de sua terra e trouxe profunda tristeza
sobre si e sobre seu povo.
Há duas perguntas que
devem ser tratadas neste ponto: (1) Por que Deus matou apenas os primogênitos?
(2) Foi justo Deus fazer isso, uma vez que o Faraó era o único culpado? Ao
responder à primeira pergunta. também contribuímos para a resposta da segunda.
Na maioria das
culturas, os filhos primogênitos eram considerados especiais e, no Egito, eram
tidos como sagrados. Devemos nos lembrar de que Deus chama Israel de seu filho
primogênito (Êx 4:22; Jr 31:9; Os 11:1). Logo no início do conflito, Moisés
advertiu o Faraó de que a maneira como ele tratasse o primogênito de Deus
determinaria como Deus trataria os primogênitos do Egito (Êx 4:22, 23). O Faraó
havia tentado matar todos os bebês hebreus do sexo masculino e seus oficiais
haviam maltratado os escravos hebreus com brutalidade, de modo que, ao matar os
primogênitos, o Senhor estava simplesmente pagando ao Faraó com sua própria
moeda.
A compensação é uma lei
fundamental da vida (Mt 7:1, 2), e Deus não é injusto quando permite que essa
lei funcione no mundo. O Faraó afogou os bebês hebreus, de modo que Deus afogou
o exército do Faraó (Êx 14:26-31; 15:4, 5). Jacó mentiu para o pai, Isaque (Gn
27:15-17), e, anos depois, os filhos de Jacó mentiram para ele (Gn 37:31-35). Davi
cometeu adultério e mandou matar o marido de Bate-Seba (2 Sm 11); a filha de
Davi foi estuprada e dois de seus filhos morreram assassinados (2 Sm 13; 18).
Hamã construiu uma forca para matar Mordecai, mas o próprio Hamã acabou
enforcado nela (Et 7:7-10). "Não vos enganeis, de Deus não se zomba; pois
aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6:7).
Quanto à justiça da
décima praga, quem pode julgar os atos do Senhor, quando a "justiça e
direito são o fundamento do seu trono" (Sl 89:14)? Por outro lado, por que
a resistência de um homem a Deus deveria levar à morte de tantos jovens
inocentes? No entanto, acontecimentos semelhantes ocorrem em nosso mundo hoje
em dia. Quantos homens e mulheres que morreram como soldados em combate tiveram
a oportunidade de votar a favor ou contra uma declaração de guerra? E quanto à
"inocência" desses primogênitos, só Deus conhece o coração humano e
pode dispensar sua justiça com perfeição. "Não fará justiça o juiz de toda
a terra?" (Gn 18:25).
Ao ler o Livro de Gênesis,
descobre-se que, com frequência, Deus rejeitou o primogênito e escolheu o filho
seguinte para dar continuidade à linhagem da família e receber a bênção
especial do Senhor. Deus escolheu Abel, depois Sete, mas não Caim; escolheu Sem
e não Jafé; Isaque e não Ismael; Jacó e não Esaú. Essas escolhas não apenas
exaltam a graça soberana de Deus, como também servem de símbolo para dizer que
nosso primeiro nascimento não é aceito por Deus. Devemos passar por um segundo
nascimento - o nascimento espiritual - a fim de que Deus possa nos aceitar (Jo
1:12, 13; 3:1-18). O filho primogênito representa o que há de melhor na
humanidade, mas não é bom o suficiente para um Deus santo. Por causa de nosso
primeiro nascimento, herdamos a natureza pecaminosa de Adão e estamos perdidos
(Sl 51:5, 6). Contudo, quando nascemos de novo, por meio da fé em Cristo,
recebemos a natureza divina do Senhor e somos aceitos em Cristo (2 Pe 1:1-4; Gl
4:6; Rm 8:9).
O Faraó e o povo
egípcio pecaram contra a manifestação clara do Senhor e insultaram a
misericórdia de Deus. O Senhor havia suportado com longanimidade a rebeldia e
arrogância do rei do Egito bem como seu tratamento cruel para com o povo de
Israel.
Deus havia avisado o
Faraó várias vezes, mas ele se recusou a submeter-se. Jeová havia humilhado
publicamente os deuses e deusas e provado ser o único e verdadeiro Deus vivo,
e, ainda assim, a nação não creu. "Visto como se não executa logo a
sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente
disposto a praticar o mal" (Ec 8:11). A misericórdia de Deus deveria ter
conduzido o Faraó à sujeição; mas, em vez disso, ele endureceu o coração
repetidamente. Os oficiais do Faraó humilharam-se diante de Moisés (Êx 3:8),
então por que o Faraó não pôde seguir o exemplo deles? "A soberba precede
a ruína, e a altivez de espírito, a queda" (Pv 16:18).
WIERSBE. Warren W.
Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag.
256-257.
2. Para Israel.
Se para os egípcios a
noite da Páscoa foi uma noite de desgraça, para os hebreus a noite era de
expectativa em relação ao que Deus dissera por intermédio de Moisés. Havia uma
ordem para que os judeus matassem um cordeiro, comessem-no com ervas amargas e
pão sem fermento, e não se esquecessem de colocar o sangue daquele animal nas
ombreiras e na verga da porta. E essa ordem era seguida de uma promessa: “vendo
eu sangue, passarei por cima de vós” (Êx 12.13). Deus tem dado muitas ordens em
sua Palavra que são acompanhadas de promessas que Ele mesmo vai cumprir. Naquela
noite, obedecer a Deus fez toda a diferença para os israelitas. Moisés repassou
essa informação ao povo: “Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios,
porém, quando vir o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, o Senhor
passará aquela porta e não deixará ao destruidor entrar em vossas casas para
vos ferir” (Êx 12.23).
Para eles, obedecer ao
mandamento de Deus foi um ato de fé. Charles Swindoll comenta acerca das ordens
de Deus em relação a passar o sangue do cordeiro nos umbrais da porta:
Pare e pense um momento
sobre essas instruções. Que razão lógica havia para fazer essas coisas com o
sangue do cordeiro? Você diz: “Deus mandou fazer isso”. E verdade. Essa é a
resposta. Nesse ponto, essa era a única razão de que precisavam. Não havia poder
no sangue seco de um cordeiro morto. Todavia, em sua sabedoria insondável, Deus
preparou um plano que só exigia uma coisa — obediência.
O que Deus espera hoje
de nós que esperava dos israelitas no Egito? Obediência.
Essa palavra muitas
vezes tem colocado nossos pensamentos confrontando nossas atitudes. Não raro,
sabemos como obedecer a Deus. Sabemos também que Deus espera que não apenas
saibamos como proceder em nossa vida, mas espera que saibamos obedecer a Ele
integralmente.
Se você acha que obedecer
a Deus não faz muita diferença, desejo relembrar-lhe o caso de Saul, o primeiro
rei de Israel. Saul foi escolhido por Deus para ser o primeiro governante da
nação, mas a cada ordem recebida de Deus, resolvia fazer do seu próprio jeito,
o que acarretava em desobediência completa ao que Deus lhe havia dito.
Em uma dessas ordens
dadas a Saul, Deus lhe disse que se lembrava do que os amalequitas tinham feito
contra os israelitas quando estavam no deserto. Chegara a hora da retribuição
divina às atitudes dos amalequitas, que seriam destruídos por Saul. A ordem foi
dada, mas Saul poupou o rei daquela nação e o seu gado, e ainda acreditou que
estava obedecendo ao que Deus disse acerca dessa situação. Todavia, não foi o
que aconteceu: “Então, veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo: Arrependo-me
de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir e não executou as
minhas palavras” (1 Sm 15.10, 11). Como Deus disse que Saul não executou as
ordens dadas? Ele não estava sendo exagerado nesse quesito? Não! Depois de
poupar o rei e o gado, veja o que aconteceu:
Veio, pois, Samuel a
Saul; e Saul lhe disse: Bendito sejas tu do Senhor; executei a palavra do
Senhor. Então, disse Samuel: Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus
ouvidos, e o mugido de vacas que ouço?
E disse Saul: De
Amaleque as trouxeram; porque o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas,
para as oferecer ao Senhor, teu Deus; o resto, porém, temos destruído
totalmente. (1 Sm 15.13-15)
Deus havia pedido que
Saul trouxesse animais para holocaustos? Não. A ordem dada não fora cumprida
integralmente, e isso para Deus foi uma desobediência completa. Samuel chamou
Saul e lhe perguntou se o Senhor tinha mais prazer em ofertas do que tinha
prazer na obediência de seus servos.
Eis que o obedecer é
melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros.
Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade
e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te
rejeitou a ti, para que não sejas rei. (1 Sm 15.22, 23)
A obediência tem um
preço, e a desobediência também. No caso de Saul, seu reino foi rejeitado
porque ele não estava mais seguindo ao Senhor. E Saul aprendeu da pior forma a
diferença entre obedecer e desobedecer a Deus: se ele fosse obediente, seu
reino seria confirmado para sempre. O nome dele entraria para a história como o
grande rei que Deus escolheu para ser coluna em Israel. Ele seria lembrado como
o homem que obedeceu a Deus e que jamais teria sua memória apagada de Israel.
Além disso, ninguém
disse a Saul que Deus preferia receber sacrifícios a obediência, pois isso
seria ilógico. É o mesmo que dizer: “Não preciso obedecer a Deus completamente.
Basta oferecer a Ele alguma coisa e sua ira vai ser deixada de lado”. Deus não
pode ser comprado por objetos ou oferendas. Ele pode receber nossa obediência
por um ato de fé. Para Saul, obedecer parcialmente ao que Deus mandara lhe
custou o reino. Para os israelitas, obedecer integralmente ao que Deus mandara
preservaria a vida de todos os seus primogênitos. Obedecer faz a diferença
tanto quanto desobedecer.
Obedecer faz diferença.
Para os israelitas no Egito, a obediência preservou a vida do filho mais velho
de cada família israelita. Já pensou se sua obediência a Deus preservasse seu
filho, se você é pai ou mãe, e a sua desobediência lhe custasse seu
primogênito?
Charles Swindoll
continua seu pensamento:
Ele nunca pediu que
refletissem sobre isso. Nunca pediu que conversassem sobre a ordem. Nunca pediu
que considerassem a ideia e decidissem se concordavam com ela. Ele simplesmente
lhes disse o que fazer e quando. A seguir, disse a eles o que aconteceria como
resultado de sua estrita obediência às suas ordens.
Que atitudes dos pais
israelitas fez com que seus primogênitos fossem salvos? A fé no que Deus disse
e a obediência ao que Ele disse. Fé e obediência precisam caminhar juntas.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 36-39.
A FESTA DA LIBERTAÇÃO.
A Páscoa oferece um vasto campo para especulação por causa da grande variedade
de características: mancha de sangue, saltos, “uma noite de vigia”, o cordeiro
sacrificial, as primícias da cevada, a ceia sagrada, etc. Essas características
se assemelham a rimais praticados fora de Israel. Não é de se admirar que os
estudiosos a considerem uma festa enigmática. Alguns não consideram Êxodo 1-14
como um registro dos eventos, mas como uma lenda cúltica que tenta glorificar a
saída do Egito (Pederson, Israel: Its Life and Culture, III-IV, 726ss.). A
suposição repousa sobre um equívoco: o verdadeiro propósito da Páscoa era
glorificar o Deus de Israel. Seria inútil esperar dados históricos fora dos
próprios termos do escritor. No centro de Êxodo 1-14 está o Deus de Israel, que
realiza feitos poderosos em favor do seu povo (cp. G. von Rad, The Problem of
the Hexateuch [1965], 52). A história bíblica é escrita com um propósito, e o
propósito é atestar os atos graciosos de Deus. Israel compreende sua liberdade
como um milagre operado por YHWH que, com “poderosa mão e com braço estendido”
levou seu povo para fora do Egito (Dt 26.8). Para compreender o significado da
Páscoa deve-se procurar a interpretação bíblica; é inútil indagar qual era a
festa nos tempos pré-mosaicos.
É possível que a Páscoa
e a Festa dos Pães Asmos fossem festas agrícolas (cp. Êx 23.15s.).
Alguma evidência da
ligação cúltica entre a Páscoa e as primícias está preservada (Js 5.10-12; cp.
C. W. Atkinson, AthR [Jan 1962], 82). Mas a festa passou por uma
reinterpretação radical como resultado do grande evento na história de Israel,
conhecido como a libertação do Egito, a casa da escravidão. Os estudiosos não
sabem explicar como um rimai primitivo enraizado na superstição se tomou a festa
da libertação. Está de acordo com a prática do AT reinterpretar antigas
tradições à luz da própria história de Israel. Assim, a lei do Sábado é
associada à história da criação (Gn 2.3) e aparece também (Dt 5.15) como o
sinal da libertação de Israel da escravidão (cp. P. R. Ackroyd, The People of
the OT[1959], 48). O mesmo deve ter acontecido com a festa da primavera
original: à luz do Êxodo adquiriu uma nova dimensão, isto é, a dimensão da
liberdade unida a um evento histórico.
Ordenanças relacionadas
ao Pesa h. O AT refere-se a um conjunto de estatutos (nosn npn) que são
obrigatórios para a observância da festa (Êx 12.43; Nm 9.12,14; 2Cr 35.13).
Estes estatutos definem em detalhes a data, o período, a duração da festa e a
forma de se comer o cordeiro pascal, etc.
Os preparativos para a
festa deveriam começar no décimo dia do primeiro mês (i.e. Abibe, cp. Dt 16.1;
o nome babilónico foi substituído mais tarde por Nisã, cp. Ne 2.1; Et 3.7). O
cordeiro pascal era escolhido de acordo com o número de pessoas na família. O
cordeiro deveria ser sem mancha, de um ano de idade e macho. O animal deveria
ser tratado de maneira especial até o décimo quarto dia do mês quando seria
morto “entre as noites” (Êx 12.6mg.; Lv 23.5mg.). Isto quer dizer “à noite no
por do sol” (Dt 16.6). O sangue do animal deveria ser colocado em ambas as
ombreiras e na verga da porta. Posteriormente o sangue passou a ser borrifado
sobre o altar e derramado em suas bases (cp. 2 Cr 35.11; Jub 49.20; Pes 5.6). A
carne deveria ser assada no fogo com a cabeça, pernas e partes internas e
nenhum osso deveria ser quebrado (Êx 12.46; Nm 9.12). Não deveria ser comido
cru ou cozido em água (Êx 12.9; Dt 16.7 parecem contradizer essa regra; mas cp.
2 Cr 35.13; o verbo bissel pode significar “cozer” tanto quanto “ferver”). A
came assada deveria ser comida com pão asmo e ervas amargas, e deveria ser
consumida de forma que nada sobrasse para o dia seguinte; qualquer sobra
deveria ser queimada (Êx 12.10; 34.25). A refeição deveria ser comida às
pressas, com os lombos cingidos, sapatos calçados e a vara na mão. A festa da
Páscoa era um dia de memorial
e, portanto, para ser
comemorada por todas as gerações como uma ordenança eterna (Ex 12.14). A Festa
do Pão Asmo, como distinta do cordeiro pascal, deveria ser observada durante
sete dias (Ex 12.15; 13.6; 34.18; Lv 23.6; Nm 28.17; Dt 16.3; a única exceção
está em Deuteronômio 16.8, mas a diferença deriva do modo de se contar os dias,
cp. S. B. Hoenig, JQR [Abril 1959], 271 ss.). ’
Os israelitas que eram
impedidos de participar da Festa por causa da impureza levítica ou por viagem
deveriam celebrá-la um mês depois (Nm 9.10s.; cp. Pes 9.3).
A responsabilidade de
explicar o significado da Páscoa estava sobre o pai da família: “Naquele mesmo
dia contarás a teu filho, dizendo: E isto pelo que o Senhor me fez, quando saí
do Egito” (Ex 13.8; cp. 12.26). Somente os israelitas e aqueles que, através da
circuncisão, estavam unidos à comunidade podiam comer o cordeiro pascal.
Estrangeiros e viajantes, i.e., estrangeiros residentes, eram excluídos (Ex
12.45), mas a regra não era aplicada aos estrangeiros circuncidados e viajantes
que demonstrassem um real interesse em se identificar com Israel. A eles era
permitido participar da celebração da Páscoa (Nm 9.14). O cordeiro deveria ser
comido dentro da casa e não deveria ser levado para fora dela.
O tema Êxodo no AT. Com
a mudança de circunstâncias, as antigas leis tiveram que ser modificadas. Os
cultos centralizados em Jerusalém dificultaram algumas práticas. A mancha de
sangue nos umbrais da porta deveria ser completada com o borrifar do sangue no
altar (cp. 2Cr 30.16; 3 5.11). A regra de comer o cordeiro na casa foi, de
acordo com o Talmude, modificada para as casas em Jerusalém apenas (cp. Pes
9.12; mas cp. Jub 49.20). As características originais agrícolas da festa
abriram caminho para aspectos mais cúlticos. Uma característica peculiar
sobrevive até hoje: era e continua sendo um rito público. Os rabinos consideram
a regra de que o cordeiro pascal não pode ser morto para uma única pessoa
(apesar do Rabino José permitir; cp. Pes 8.7). Outra característica provinda de
tempos antigos era que a morte do cordeiro era feita por israelitas comuns
agindo em favor de seus familiares e não por sacerdotes como no caso dos outros
sacrifícios (cp. Pes 6.5). Tudo o que os sacerdotes tinham que fazer era
recolher o sangue e derramá-lo nas bases do altar. A Páscoa era a única ocasião
em que o israelita realizava uma função sacerdotal (a partir de 2 Cr 30 e 35
não está claro se era o povo ou os sacerdotes que matavam o animal). Outras
características permanecem obscuras, por exemplo, a queima das sobras: Êxodo
12.10 ordena que o que fosse deixado até pela manhã deveria ser queimado, ao
passo que Êxodo 23.18; 34.25 e Deuteronômio 16.4 especificam que deveria ser
terminado antes do amanhecer. Pode não ter havido uma tradição uniforme em
alguns assuntos; alguns “comeram a Páscoa, não como está escrito” (2Cr 30.18).
Uma tradição uniforme evoluiu gradualmente, mas os fatos principais
relacionados ao Êxodo nunca variaram.
O AT é repleto de
referências ao milagre da redenção do Egito. Os Salmos, em especial, se
deleitam em enfatizar o tema do Êxodo com todos os seus milagres. O Salmo 78
repete a história de Israel tendo o Êxodo como o tema central. O ato redentor
de Deus consistiu em tirar uma videira do Egito e plantá-la na Terra Prometida
(SI 80.8). Alguns salmos contrastam a fidelidade de Deus para com seu povo com
o comportamento rebelde de Israel no deserto (cp. SI 95; 106). O propósito
principal de recontar a história da redenção era louvara Deus por seus atos
poderosos (cp. SI 135; 136). Os velhos cantores exultavam no privilégio de
Israel ser chamado povo de Deus e de ter saído do Egito (SI 114.1).
Os profetas fazem
alusões frequentes à história da redenção do Egito e da longa viagem pelo
deserto. A aliança de Israel com o Egito por conveniência política era muito
abominável uma vez que parecia contradizer o propósito original de Deus (cp. Jr
2.18s.; Os 11.5). Em tempos de perigo, quando a Assíria pressionou duramente
Israel, o profeta trouxe à memória o que Deus fez por seu povo no Egito: “não
temas a Assíria” (Is 10.24,26s.; cp. 52.4). Jeremias lamenta o fato de Israel
falhar ao perguntar: “Onde está o Senhor que nos trouxe da terra do Egito, que
nos guiou no deserto” (2.6ss.). Ele os faz lembrar que desde o dia em que seus
pais saíram da terra do Egito até então, o Senhor persistentemente enviou
profetas ao seu povo de dura cerviz (7.25,26), advertindo- os (11.4), mas eles
não quiseram ouvir (vv. 7,8).
Esta referência a YHWH
que tirou Israel do Egito é um refrão frequente nos escritos proféticos (cp. Jr
16.14; 23.7; 31.32; 32.21; 34.13; Ez 20.6,9s.,36; Dn 9.15, Os 2.15; 11.1;
12.9,13; Am 2.10; 3.1; 9.7). Para os profetas, o Êxodo é um fato central na
história de Israel. Israel conhece YHWH principalmente como aquele que seu povo
da escravidão do Egito, o guiou pelo deserto e lhe deu estatutos e ordenanças
(Ez 20.9-11). Ezequiel parece associar a instituição do sábado à história da
redenção do Egito (20.12), e a “lascívia e... prostituição” de Israel é uma
triste herança trazida da casa da escravidão (23.27).
Os livros históricos
estão igualmente cientes do significado do Êxodo para a relação entre Israel e
YHWH. Deus se fez conhecido a seu povo ao libertá-lo da casa da escravidão e ao
estabelecê-lo na terra prometida (I Sm 8.8,2Sm 7.23; l Rs 8.53; etc).
O Êxodo domina num
senso real a perspectiva do AT, e a Páscoa é a lembrança do que Deus fez por
seu povo. A libertação do Egito e o estabelecimento na terra de Israel são
considerados como o selo da lealdade de YHWH para com as promessas da aliança
(cp. Mq 6.3s.).
MERRILL C. TENNEY.
Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 764-768.
O PESACH JUDAICO
O relato da instituição
desse rito se encontra em Êxodo 12. Deus ordena a Israel que o observe (w.
1,2). A observância do rito, além dos atos litúrgicos prescritos no relato,
exige à disposição um cordeiro ou um cabrito, macho de um ano, sem defeito (v.
5); pães ázimos e ervas amargas (v. 8). Estas recomendações dirigem-se ao
círculo familiar (v. 3), podendo estender-se à vizinhança (v. 4).
O cordeiro devia ser
assado inteiro, e aquilo que não era comido no banquete devia ser queimado
antes do dia seguinte (v. 10). Os comensais deviam comê-lo em pé e devidamente
trajados para uma longa viagem (v. 11). Nos tempos de Jesus, conforme indica
Raphael Martins, a cerimônia pascal havia recebido a influência dos gregos e
dos romanos que celebravam seus ágapes, não como escravos, mas como um povo
livre e independente, ou seja, comiam recostados em divãs providos de
almofadas. O Pesach significa na língua hebraica “passar por cima”, “passar por
sobre”. Na língua portuguesa foi traduzida por “Páscoa”.
O Pesach surgiu em face
da tradição de que o anjo destruidor, ou anjo da morte, “passou por sobre” as
casas cujo sangue do cordeiro imolado assinalava. “Porque, naquela noite,
passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos,
desde os homens até aos animais... O sangue vos será por sinal nas casas em que
estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós...” (Ex 12.12,13)
A passagem do anjo da
morte constituiu a última praga sobre o Egito, forçando o Faraó a libertar o
povo hebreu, possivelmente entre os anos de 1400-1200 a.C. O Pesach, na
descrição de McKenzie, mostra numerosas variantes que apontam para uma origem e
desenvolvimento complexos. O Pesach, segundo a grande maioria dos estudiosos,
era anterior à instituição no capítulo 12 de Êxodo. A festa original era pastoril
nos seus primórdios, onde os pastores celebravam o nascimento de ovelhas na
primavera; e esse termo também faz alusão à forma como as ovelhas costumam
“saltar por cima” dos obstáculos. Seja como for, por meio da historização, a
Páscoa se tomou a grande festa nacional de Israel, que celebrava sua
constituição como povo de Iahweh, acentua McKenzie. naquela noite, comerão a
carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão” (v. 8) Ázimos,
no hebraico maccot, significa “pães sem fermento”. A festa dos “pães sem
fermento” está registrada em Êxodo 23.15, ao lado de outras duas. No momento da
instituição do Pesach ela aparece em correlação com a mesma, como festa
histórica que celebra a libertação de Israel da opressão egípcia. O caráter da
cerimônia indica que se tratava de uma festa agrícola de agradecimento pelo
início da colheita. No Novo Testamento é sempre mencionada em conexão com o
Pesach (Mt 26.17; Mc 14.12).
Em memória dos
sofrimentos dos hebreus no Egito são comidas ervas amargas: chicória, escarola,
agrião, salsa, rabanete, amêndoa, tâmara, figo e passa. Esses ingredientes eram
misturados com vinagre, formando uma espécie de molho, cor de tijolo (haroset,
em hebraico), lembrando seu antigo ofício no Egito.
Roberto dos Reis
Santos. A Santa Ceia. Editora CPAD. pag. 12-14.
3. Para nós.
A Páscoa do Senhor,
como assim é chamada, tem um grande significado para nós. Ela deve nos fazer
recordar de Jesus, nosso Cordeiro Pascal. Ele entregou-se a si mesmo para que
eu e você tivéssemos a vida eterna e o acesso a Deus. A nossa vida foi
preservada porque Ele nos amou até a morte.
É evidente que não
temos de celebrar a Páscoa com um cordeiro assado, com pães asmos e ervas
amargas. Para nós, cristãos, esses elementos fazem parte da cultura judaica, e
que serviriam por todas as gerações de israelitas como uma lembrança da
libertação do Egito.
Além disso, a Páscoa
foi chamada de “páscoa do Senhor” (Ex 12.11), pois ela deveria ser comemorada
em homenagem ao Deus de Israel. Não é um momento que deveria ser lembrado pelos
israelitas posteriormente sem que tivessem em mente que era uma lembrança sobre
Deus e sobre o que Ele havia feito.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 39-40.
O TEMA PÁSCOA NO NT E
NA IGREJA, A atividade messiânica de Jesus alcança seu clímax nos eventos de
sua Ultima Páscoa. De acordo com João, a crucificação aconteceu no primeiro dia
da “Páscoa” (usado aqui aparentemente como uma designação da Festa dos Pães
Asmos). Os sinópticos deixam claro que foi no primeiro dia da festa. João que
parece estar interessado especialmente em dados cronológicos registra duas, ou
até mesmo três Páscoas (João 2.13; 6.4; 12.1; cp. W. F. Howard, The Fourth Gospel, revisado por C. K.
Banet [1955], 122). Contrário a C. H. Dodd (The Interpreter
of the Fourth Gospel [1953], 234), há um bom motivo para se acreditar que João
dedicou importância especial ao tema da Páscoa. Seu evangelho, que enfatiza ser
o Messias o verdadeiro pão da vida, se ajusta notavelmente bem ao contexto
pascal (cp. Jo 6.3 lss. cp. V. Ruland, INT [Out., 1964], 451 ss.). A Páscoa é
igualmente importante para os evangelhos sinópticos; tanto que se pode
vislumbrar o evangelho de Marcos como uma Haggadah da Páscoa Cristã escrita com
o propósito de reinterpretar o tema pascal em termos messiânicos como o Novo
Êxodo (cp. John Bowman, The Gospel of Mark [ 1965]). Um caso um pouco
semelhante é 1 Pedro, que faz tantas alusões à Páscoa que alguns estudiosos se
sentem justificados em considerá-la como uma liturgia pascal. Sugere-se que 1
Pedro é uma liturgia ligada à vigília pascal em preparação ao batismo pascal,
um costume amplamente praticado na igreja primitiva (cp. F. L. Cross, 1 Peter I [1954]; Roger Le Déaut, La Nuit
Pascale [1963], 297; A. R. C. Leaney, NTS, X [1964], 238ss.). Isto
pode provar, de maneira muito restrita, um conceito que tem sido contradito por
alguns (C. F. C. Moule; T. C. G. Thomton), mas não mostra, todavia, quão
profundamente o tema da páscoa está embutido no NT. Outros livros do NT fazem
alusões similares à Páscoa em conexão com a mensagem cristã. Paulo claramente
associa o Messias à Páscoa e compara a vida cristã com o símbolo do pão asmo
que permanece em sinceridade e verdade (ICo 5.7 s.).
Uma associação similar
entre o Messias e a Páscoa existe no Judaísmo rabínico. O dia 15 de Nisã é
declarado como um tempo de alegria para todos os israelitas, porque Deus
realizou um milagre (sinal) naquela noite, mas na era que virá (i.e., no tempo
do Messias) ele transformará a noite em dia (cp. SBKIV, 55). Na Haggadah
shelpesah, a expectativa messiânica está ligada ao seder tanto pela referência
direta ao Messias como pela parte que Elias representa a tradição pascal. O
costume de abrir a porta à meia-noite, na primeira noite da Páscoa, já era
praticada no Templo de Jerusalém (cp. Jos. Ant.. XVIII. ii.2), e tem
implicações messiânicas definidas. Déaut mostrou a íntima associação entre o
ritual pascal e as expectativas messiânicas no Judaísmo rabínico do séc. le.
Isto se aplica até mesmo aos samaritanos que esperavam a aparição de seu Taheb
(Messias) no dia de Páscoa (cp. Déaut, op. cit. 281, 283).
O tema pascal do NT, e
em especial de João (cp. A.
Guilding, The Fourth Gospel and Jewish Worship [1960], 58ss.), foi assumido
pela igreja gentílica. A liturgia da vigília pascal e a
tradição Quartusdecimus (décimo quarto) de fazer a Páscoa coincidir com a
Páscoa judaica persistiu na igreja por séculos (cp. B. Lohse, Das Passafest der
Quartodecimaner [1953]; Diepassa-Homilie des Bischofs Meliton von Sardes
[1958]). A expressão “a Páscoa da salvação”, entrou no vocabulário da igreja e
foi usada abertamente na liturgia (cp. Déaut, 296; apesar de Lohse ter
contradito). A identificação de Cristo com a Páscoa cristã foi aceita como
premissa teológica: “a festa da Páscoa do Salvador”.
23.1), significa tanto
a Última Páscoa que Jesus celebrou, como a Páscoa cristã quando a igreja
celebra a ressurreição de Cristo. Num jogo de palavras, que somente é possível
em grego é interpretado com o significado de 7iáa%co: “E no dia seguinte nosso
Salvador sofreu, aquele que era a Páscoa — sacrificado de modo propício pelos
judeus” (Ante-Nicene Christian Library XXIV, 167). Portanto, a Páscoa judaica e
a Páscoa cristã conservadas juntas de modo que o tema da páscoa do AT
perdurasse embora centrada na ressurreição de Jesus Cristo.
MERRILL C. TENNEY.
Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 786.
PÁSCOA CRISTÃ (EASTER)
Preservamos entre
parênteses a palavra inglesa, a fim de melhor destacar o fato de que há uma
diferença entre a páscoa dos hebreus e a páscoa dos cristãos. Ver o artigo
geral sobre a Páscoa, onde a versão cristã é incluída em uma seção separada.
Easter é uma palavra usada nos idiomas germânicos para denotar a festividade do
equinócio do inverno, e que, dentro da tradição cristã posterior, passou a ser
usada para denotar o aniversário da ressurreição de Cristo. Nas línguas
latinas, como o português, a palavra para «páscoa» vem do latim pascha, a qual,
por sua vez, alicerça-se sobre o termo hebraico, pesach , que significa «passar
por cima». O termo grego pascha também é derivado do hebraico, pelo que é
indeclinável.
A origem da palavra
Easter é controvertida. Alguns estudiosos pensam que a mesma está ligada ao
nome da deusa anglo-saxônica que representa a primavera, Eoestre, Nesse caso, teríamos
o comum fenômeno de um nome de um costume pagão receber um significado cristão.
Ou então, essa palavra poderia estar relacionada às vestes brancas usadas
durante a celebração da festa cristã relativa à semana da páscoa. Nesse último
caso, o plural da palavra que significa «branco» foi confundido com a palavra
que significa «alvorecer», e, subsequentemente, foi vinculado ao alvorecer do
dia da ressurreição. Seja como for, a celebração da ressurreição antecede a
tudo isso, visto que cada primeiro dia da semana, originalmente, representava
isso; e, pelos fins do século 11 D.C., a, celebração da ressurreição como uma
festa da Igreja cristã, já estava bem estabelecida. No tocante a detalhes sobre
a Páscoa Cristã, ver isso como um subponto do artigo geral sobre a Páscoa.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos.
pag. 102-103.
II - OS ELEMENTOS DA
PÁSCOA
1. O pão.
Na noite em que seria a
última dos hebreus no Egito, Deus os preparou para uma saída repentina, mas não
sem se alimentarem. A ordem divina aos hebreus não foi apenas para que
sacrificassem um cordeiro e colocassem o sangue dele na entrada da casa, mas
também para que se alimentassem de pão sem fermento, ervas amargas e do próprio
cordeiro.
Cada um deles tinha uma
representação para os hebreus, que deveria ser passada de geração a geração,
para que se lembrassem do quanto Deus operou grandemente em prol dos filhos de
Israel.
De acordo com a
descrição bíblica, o pão deveria ser sem fermento. A massa não deveria passar
pelo processo de fermentação, ou seja, seria levada ao fogo tão logo estivesse
pronta, sem ter de esperar para crescer. A ideia era mostrar que os israelitas
teriam pouco tempo para preparar sua última refeição como escravos, pois logo
sairiam para uma grande jornada. E evidente que o uso do fermento poderia fazer
com que a massa dobrasse seu tamanho e alimentasse mais pessoas, mas a
orientação divina indicava a pressa com que os judeus iriam comer para saírem
logo do Egito.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 40.
O Pão e o Vinho na
Comunidade Judaica
Nas terras do antigo
Oriente o pão e o vinho, assim como determinados produtos, eram as formas mais
comuns de alimentação. O pão, iehem, que aparece cerca de duzentas e oitenta
vezes no Antigo Testamento, em termos gerais significa “alimento”, “sustento”,
indicando sua presença indispensável para o sustento do povo hebreu.
O pão era o principal
alimento. A expressão “comer pão”, em hebraico, significava “fazer uma
refeição”.1 Noventa e cinco por cento dos habitantes do mundo antigo tiveram
como base alimentar os derivados do trigo, além de água e vegetais. Escreve I.
D. Lucírio: “natural da região do mediterrâneo e oriental médio, o trigo
começou a ser cultivado em 8500 a.C. e se tornou uma das principais fontes de
alimento do mundo antigo, que não vivia sem pão”.2 Sara apressou-se em preparar
pão para os viajantes (Gn 18.1-6); os que trabalharam no campo se alimentaram
de pão (Rt 2.14); durante as guerras o pão era usado como alimento básico para
os soldados (1 Sm 16.20); no episódio da multiplicação, pães e peixes foram
usados por Jesus (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44).
O pão devia ser tratado
com respeito, sendo proibido jogar fora até as migalhas. Talvez os judeus
utilizassem cães domésticos para esta função — comer “... das migalhas que caem
da mesa dos seus donos” (Mt 15.27).
O pão mais comum no
mundo antigo era feito de cevada, alimento dos pobres, por ser mais barato. O
pão de trigo era um luxo. O grão era moído por mulheres ou escravos entre duas
mós, cuja farinha fina era usada para cozer bolos e também para fins
litúrgicos. Três eram os métodos de cozimento: 1.0 tannur (forno), tubo cônico
onde a massa era cozida sobre pedras quentes; 2. Bandejas redondas de metal
colocadas sobre três pedras, onde era aceso o fogo; 3. A massa, colocada sobre
cinzas quentes. Os judeus empregavam o pão para fins religiosos, sendo o ato
uma espécie de gratidão pelos cuidados providenciais de Deus quando
simbolicamente entregavam, nos atos litúrgicos, parte do que foi provido por
Ele.
Além dos animais usados
nos sacrifícios veterotestamentários, os elementos do pão apareciam em quase
todos os atos sacrificiais, na classe de “ofertas de cheiro suave”, que não
tratavam do peca K Siinlii Ceio do, mas falavam de gratidão, comunhão e
consagração. O pão era usado em ofertas pacíficas (Lv 7.12) e ofertas das
primícias (Nm 15.17-20). Naturalmente, fazia parte das cerimônias da Páscoa, e,
posteriormente, na celebração da Santa Ceia cristã, “E, tomando um pão, tendo
dado graças, o partiu...” (Lc 22.19) O pão não podia ser cortado, mas partido.
Esse gesto era comum entre as famílias judaicas, onde o pai, ao iniciar uma
refeição, tomava um pão e, após dar graças ao Senhor, partia-o em pedaços e
distribuía-os entre os membros de sua família.
A origem do vinho é
antiga. Sua produção no Oriente Médio data da pré-história. O texto sagrado
indica que Noé o utilizou (Gn 9-20ss). Havia no mundo antigo diversos tipos de
bebidas, entre elas o suco de romã, de tâmaras, leite e shechar — uma espécie
de cerveja feita de cevada e painço. Entretanto, não se comparavam ao vinho.
O vinho fabricado na
Palestina era geralmente tinto, conforme indica a expressão “sangue da uva” (Gn
49.11; Dt 32.14).
O lagar, local onde se
fazia o vinho, em geral ficava na própria vinha. As escavações arqueológicas
realizadas na antiga cidade de Gabaon revelam que o lagar, segundo John
McKenzie, era composto de dois tanques, talhados na pedra a diversos níveis,
com um pequeno canal que levava do nível superior ao inferior.
A primeira compressão
se fazia espremendo a uva com os pés (Ne 13.15); era um trabalho festivo,
acompanhado de gritos (Jr 25.30; 48.33) e de instrumentos musicais. Em seguida,
os cachos eram espremidos por meio de uma haste com uma pedra pesada, ou por
meio de paus que serviam de alavanca para os pesos. O suco da uva depois era
colocado em tinas ou recipientes de couro para a fermentação.
O vinho é um dom e uma
bênção do próprio Deus (Dt 7.13; Pv 3.10; Os 2.10), e evidentemente, à
semelhança do pão, fazia parte nas ações litúrgicas do povo judeu. Em sentido
geral, todas as refeições têm para o judeu sentido sagrado. O alimento e a
bebida são dons de Deus, dádivas que os judeus não esquecem em sua orações:
Sobre o pão:
“Bendito sejas, ó
eterno, nosso Deus, Rei do universo, que da terra tirais o pão.”
Sobre o vinho:
“Bendito sejas, ó
eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes o fruto da vinha.”
Sobre o alimento:
“Bendito sejas, ó
eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes tantas formas de iguarias.”
Sobre as frutas das
árvores: “Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes os
frutos da terra.”
Sobre os produtos do
solo: “Bendito sejas, ó eterno, nosso Deus, Rei do universo, que criastes os
frutos do solo.”
Depois das refeições:
“Bendito sejas, ó
eterno, nosso Deus, Rei do universo, que alimentais todas as criaturas.”
Roberto dos Reis
Santos. A Santa Ceia. Editora CPAD. pag. 9-11.
Êx 12.11 Comê-lo-eis à
pressa. Essa foi a instrução final. Israel estava com pressa para deixar para
trás a servidão. O cordeiro pascal era comido estando as pessoas em pé, de
sandálias e as vestes cingidas. Esses eram sinais externos da pressa que eles
sentiam, por ordem de Deus. Esse foi um dos quatro elementos que não
prosseguiram na observância da páscoa em tempos posteriores. Ver as notas sobre
Êxo. 12.6 quanto a isso. O cajado e as sandálias eram objetos que as pessoas
usavam fora da casa. Assim, apesar de estarem ainda dentro de suas casas, eles
estavam preparados para sair delas, prontos para a jornada. Comiam vesti- dos
para viajar. Já tinham estado no Egito por tempo bastante. Um novo lar e um
novo destino esperavam por eles.
As sandálias usualmente
eram tiradas por ocasião das festividades e dias santos. Ver Gên. 18.4,5; Luc.
7.44; João 13.5. Na páscoa, porém, essa situação era revertida. O cajado era
companhia constante dos viajantes, seu apoio e ajuda, e, ocasionalmente, sua
defesa contra algum animal ou bandido que porventura ata- cassem. Ver Sal.
23.4.
A páscoa. A palavra
hebraica equivalente deriva-se de um termo que significa “coxear” ou “saltar”
(II Sam. 4.4; I Reis 18.21,26). Mas aponta para o fato que o anjo destruidor
passou por cima das casas protegidas pelo sangue do cordeiro, aplicado às
ombreiras e verga da porta (Êxo. 12.23).
Temos aqui o primeiro
uso da palavra páscoa na Bíblia. Alguns pensam que a palavra é de origem
egípcia e significaria então “abrir as asas para protegei, mas a maioria dos
estudiosos prefere o sentido do hebraico. Ver os vs. 24-27 quanto ao fato de
que a páscoa foi fatal para os egípcios, mas serviu de livramento para o povo
de Israel.
Êx 12.34 Provisões
Básicas. Os israelitas muniram-se de massa de trigo para a sua primeira
refeição no deserto. E também levaram amassadeiras, ou seja, bacias de madeira,
que podiam ser usadas para o fabrico do pão. Sua partida súbita não lhes
permitiu levarem pão normal, ou seja, levedado. Mas a cena também fez parte da
observação da festa dos pães asmos (ver sobre isso no Dicionário, e comentários
na introdução a Êxo. 12.1). Os israelitas partiram quando ainda esta- va escuro
(Deu. 16.1), provavelmente pouco antes do alvorecer. Cf. 0 vs. 39.
Êx 12.35 A Espoliação
dos Egípcios. Isso havia sido predito bem antes, como parte necessária do
êxodo. Ver Exo. 3.21,22 e 11.2,3, onde aparecem notas completas sobre a
questão, visto que o ponto já tinha sido mencionado nesses dois trechos,
sobretudo no décimo primeiro capítulo do Êxodo. A curiosa tradução, “pediram
em- prestado”, mesmo que seja possível com base no hebraico, seria um pequeno
toque de humor do autor sacro. Alguns eruditos pensam que houve, realmente, um
saque, mas que Moisés abrandou na narrativa, para que parecesse que os egípcios
se mostraram generosos. Tinham medo de perder a vida, e, naquele momento, eram
vítimas fáceis diante de qualquer tipo de aproveitamento.
Desde os dias de
Abraão, quando foi firmado o Pacto Abraâmico (ver as notas a respeito em Gên.
15.18), o exílio e a subsequente libertação tinham sido preditos. Ver Gên.
15.13,14. Este texto conta como essa servidão chegou ao fim, e como Israel
começou a voltar para a sua Terra Prometida. A Abraão foi revela- do que seus
descendentes sairiam do Egito levando “grandes riquezas". Isso incluía
tanto o que eles haviam acumulado na terra de Gósen, como o que agora os
egípcios lhes tinham doado. Sem dúvida isso serviu de reparação. Os ex escravos
mereciam tudo quanto tinham adquirido. Ver no Dicionário 0 artigo intitulado
Reparação (Restituição).
Êx 12.36 Generosidade e
Saque. A combinação desses dois atos permitiu que Israel extraísse grandes
riquezas dos aterrorizados egípcios. Uma pessoa fará quase qualquer coisa para
salvar a sua vida. Os egípcios julgaram-se pouco mais do que pessoas mortas
(vs. 33), pois Moisés poderia desfechar uma praga de modo súbito e
generalizado. Assim, os antes escravizados israelitas receberam o seu salário,
a paga pelas muitas décadas de cativeiro e trabalho árduo. “Israel arrancou
deles suas riquezas e bens, suas possessões mais valiosas" (John Gill, in
loc.). Artapano (apud Euseb. Praepar. Evan. 1.9 c. 27, par. 436) falou sobre as
bacias de madeira, sobre ricos tesouros e sobre vestes que os israelitas receberam
da parte dos egípcios, e a esse testemunho, Ezequiel, autor de tragédias
teatrais, adicionou a sua palavra (apud Euseb., idem, c. 29, par. 443).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
pag. 349; 352-353.
2. As ervas amargas (Êx
12.8).
As ervas amargas,
conforme se entende, dão a entender que eram uma representação da amargura com
que os israelitas foram tratados no Egito. Não era o tipo de iguaria que
provavelmente trazia alegria em uma mesa, mas sua utilização naquela refeição
mostrava aos israelitas o sofrimento pelo qual haviam passado, coisa que, se
dependesse dos planos de Deus, jamais se repetiria.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 40-41.
ERVAS AMARGAS
No hebraico, merorim
amargores e palavra usada apenas por três vezes no A. T. (Êxo. 12:8; Núm. 9:11
e Lam. 3:15). O hebraico diz apenas «amargores», uma palavra tio geral que
agora não sabemos quais ervas poderiam estar em foco. Alguns têm pensado em
verduras como a chicória, a alface, a acelga, a azeda, etc. Alguns pensam no
agrião. Nos tempos modernos, os judeus empregam a escarola e outras verduras,
em um total de cinco espécies, para conseguirem uma salada amargosa. Alguns
intérpretes supõem que, nos livros de Êxodo e Números, as ervas amargas eram
apenas a hortelã.
Uso de Ervas na Páscoa.
Nas Escrituras o amargor» simboliza aflição, miséria e servidão (Exo. 1:14;
Rute 1:20; Pro. 5:4), a iniquidade (Jer. 4:18) e também o luto e a tristeza
(Amôs 8: 10). Em face desses significados simbólicos, os israelitas receberam
ordens para celebrar a páscoa utilizando-se de ervas amargas para relembrarem a
amarga escravidão que haviam sofrido no Egito (Êxo. 12:8; Núm. 9:11). Os
documentos escritos que chegaram até nós, provenientes do antigo Egito, mostram que eles usavam
várias ervas amargosas em suas saladas, e é bem possível que Israel tivesse
empregado algumas delas na celebração da cerimônia da páscoa (ver o artigo).
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos.
pag. 431-432.
Êx 12.8 A carne assada
no fogo. Alguns têm pensado que o rito, antes de fazer parte da páscoa,
consistia em comer carne crua. Mas essa prática teria sido descontinuada por
Israel. 0 trecho de Deuteronômio 16.7 parece sugerir que carne cozida era uma
alternativa para a carne assada. A proibição ao consumo de sangue não permitia
que a carne fosse comida ema. A Mishna diz que o cordeiro era assado mediante 0
uso de um espeto de madeira de romãzeira, que atravessava a carcaça. Não eram
permitidos nem metais e nem grelhas. Em suas condições primitivas, no deserto,
0 povo de Israel podia assar o cordeiro com mais facilidade do que usar qualquer
outra forma de cozimento. Posteriormente, porém, os cordeiros eram cortados em
pedaços e cozidos (I Sam. 2.14,15).
“Originalmente, o
matzoth, a festa dos pães asmos, era distinto da páscoa” (J. Coert Rylaarsdam,
in loc.). Porém, havia uma festa preliminar e primitiva dos pães asmos, em
conjunção com a páscoa. Todos esses ritos desenvolveram-se em tempos
posteriores, e todos eles, em alguma forma primitiva, provavelmente antecederam
o evento do êxodo e da páscoa.
Ervas amargas. Essas
ervas simbolizavam os sofrimentos de Israel antes de sua libertação, e, como
tipo, apontavam para os sofrimentos de Cristo. A Mishna (Pesahim, 2.6) dá os
ingredientes necessários, sobre os quais comentamos no artigo acima referido.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
pag. 349.
Êx 12.8 As ervas
amargas (de variedade não especificada e, portanto, provavelmente apenas uma
nomenclatura geral; talvez alface selvagem seja o que se quis dar a entender)
eram provavelmente um tempero primitivo, embora mais tarde os judeus as
considerassem um símbolo do amargor da escravidão de Israel. O evangelista pode
ter visto aqui a chave para a “ mirra” amarga que foi misturada com o vinagre
oferecido a Cristo na cruz (Mc 15:23), especialmente tendo-se em vista que Ele
era considerado a vítima pascal (1 Co 5:7).
R. Alan Cole, Ph. D.
ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 103.
AS ERVAS AMARGAS
Vemos nas "ervas
amargosas", que deviam acompanhar os pães asmos, a significação e mesma
utilidade moral. Não podemos desfrutar da participação dos sofrimentos de
Cristo sem recordarmos o que tornou necessários esses sofrimentos, e esta
recordação deve, necessariamente, produzir um espírito de mortificação e
submissão, ilustrado, de um modo apropriado, nas ervas amargosas da festa da
páscoa. Se o cordeiro assado representa Cristo sofrendo a ira de Deus em Sua
Própria Pessoa na cruz, as ervas amargosas mostram que o crente reconhece a
verdade que Ele sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre
ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).
Por causa da leviandade
dos nossos corações é bom compreendermos a profunda significação das ervas
amargosas. Quem poderá ler os Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem compreender, em
alguma medida, o significado dos pães asmos com ervas amargosas1?- Uma vida
praticamente santa, unida a uma profunda submissão de alma, deve ser o fruto da
comunhão verdadeira com os sofrimentos de Cristo, porque é de todo impossível
que o mal moral e a leviandade de espírito possam subsistir na presença desses
sofrimentos.
Mas, pode perguntar-se
não sente a alma um gozo profundo no conhecimento que Cristo levou os nossos
pecados, e que esgotou, inteiramente, por nós, o cálice da ira justa de Deus?
Por certo que é assim. E este o fundamento inabalável de todo o nosso gozo.
Mas, poderemos nós esquecer que foi" por nossos pecados" que Ele
sofreu Poderemos perder de vista a verdade, poderosa para subjugar a alma, que
o bendito Cordeiro de Deus inclinou a Sua cabeça sob o peso das nossas
transgressões? Certamente que não. Devemos comer o nosso cordeiro com ervas
amargosas; as quais, não se esqueça, não representam as lágrimas de um
sentimentalismo desprezível e superficial, mas sim as experiências profundas e
verdadeiras de uma alma que compreende com inteligência espiritual o
significado e efeito prático da cruz.
Contemplando a cruz,
descobrimos nela aquilo que elimina a nossa culpa e dá doce paz e gozo. Porém,
vemos que ela põe de lado, inteiramente, também, a natureza humana— representa
a crucificação da "carne" e a morte do "homem velho" (veja-se
Romanos, 6:6; Gl. 2- .20; 6:14; Cl. 2:11). Estas verdades, nos seus resultados
práticos, implicam muitas coisas "amargosas" para a nossa natureza:
exigem a renúncia própria, a mortificação dos nossos membros que estão sobre a
terra (Cl 3:5), e a consideração do "homem velho" como morto para o
pecado (Rm 6). Todas estas coisas podem parecer terríveis de encarar; porém,
uma vez que se há entrado na casa cujas portas estão manchadas com o sangue
veem-se de uma maneira muito diferente. As mesmas ervas que, para o gosto de um
egípcio, eram, sem dúvida, tão amargosas, formavam uma parte integral da festa
de redenção de Israel. Aqueles que são remidos pelo sangue do Cordeiro, e
conhecem o gozo da comunhão com Ele, consideram como uma "festa"
tirar o mal e ter a velha natureza no lugar da morte.
C. H. MACKINTOSH.
Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
3. O cordeiro (Êx
12.3-7).
Deveria ser um animal
macho, de um ano, sem manchas no corpo e sem defeitos físicos. Esses eram
requisitos para a celebração da Páscoa, mas a colocação do sangue nos umbrais
da porta é que foi eficaz para que o anjo da morte não passasse nas casas dos
israelitas: “E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes;
vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de
mortandade, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12.13).
Observe que obedecer à
ordem de Deus integralmente fez a diferença na Páscoa. De nada adiantaria
separarem o cordeiro perfeito, prepararem-no como uma refeição que deveria ser
comida nos moldes designados e simplesmente se esquecerem de que o sangue
vertido do cordeiro deveria ser colocado na porta da casa. Essa ordem era de
pouca valia? Pense você mesmo: Se fosse pai ou mãe judeu com vários filhos e,
ao se esquecer desse pequeno detalhe, perdesse seu primeiro filho? Portanto, os
israelitas levaram a sério essa ordem divina.
Aprenda que quando Deus
dá detalhes para que sigamos em uma empreitada, esses detalhes devem ser
seguidos com rigor, sob pena de perdermos algo muito custoso para nós mesmos. O
sangue do cordeiro deveria estar na porta das casas. Ele impediria a morte no
lar da família que temia ao Senhor.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 41.
PÁSCOA, CRISTO COMO A
"...Cristo, nosso
Cordeiro pascal, foi imolado» (I Cor. 5:7). No seu contexto, essa declaração
tem um sentido moral. Deveríamos desvencilhar-nos de todos os elementos
estranhos à espiritualidade, visto que Cristo fez o seu grande e eterno
sacrifício, que é o agente de nossa purificação moral. Cumpre-nos abandonar
nossa velha maneira de viver.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos.
pag. 102.
Êx 12.3 Congregação de
Israel. Aos dez deste mês. Dia da
instituição e observância da páscoa. A páscoa era uma observância de cada
família, e 0 cordeiro pascal era a figura central. No livro de Deuteronômio o
caráter doméstico é substituído por um feriado religioso nacional. Finalmente,
tornou-se um dos sacrifícios efetuados no templo. Ver Eze. 45.21-25; Lev. 23.5;
Esd. 6.19,20; II Crô. 30; 35.1-19; Jubileus 49.
As orientações aqui
dadas, a escolha do cordeiro no décimo dia do primeiro mês etc., de acordo com
a Mishna (ver a respeito no Dicionário), aplicavam-se somente ao rito original,
o qual sofreu modificações em tempos posteriores.
Um cordeiro. No
hebraico, seh, filhote da ovelha ou da cabra. Ambos os filhotes eram usados
durante a páscoa, mas acabou prevalecendo, por costume, o cordeiro, de acordo
com uma antiga tradição. Segundo a casa dos pais. A nação de Israel estava
organizada por famílias, clãs, tribos e príncipes. Essa observância era
importante para as famílias, e, então, para a nação, em todas as suas expressões.
Um cordeiro era selecionado para cada família, a menos que esta fosse muito
pequena, quando então duas famílias podiam reunir-se para celebrar juntas a
páscoa. Estavam envolvidas razões econômicas (ver o vs. 4).
Êx 12.4 Compartilhando
a Páscoa. Sacrificar um cordeiro era um evento econômico avantajado. Uma
família ou casa pequena podia compartilhar um cordeiro com outra família.
Josefo diz-nos que dez pessoas era 0 número mínimo de uma casa (Guerras,
vi.9.3). Esse número tornou-se 0 padrão para a organização de uma congregação
ou minis sinagoga judaica. Quando duas famílias se uniam para celebrar a festa,
elas ficavam separadas no aposento, de costas uma para a outra, e assim era
preservada a unidade doméstica, apesar da cooperação. Um cordeiro pascal precisava
ser consumido inteiro, e uma família dificilmente poderia fazer isso em uma
única refeição. Ver Êxo. 12.10. Nenhuma pessoa podia comer sozinha do cordeiro
pascal. A festa não tinha valor no caso de uma pessoa isolada. Era uma festa
doméstica, uma observância comunal. A espiritualidade sempre se manifesta
melhor em um esforço grupal, o que não isenta o indivíduo de outras práticas e
observâncias solitárias, mas o convida a participar do espírito de comunidade.
Por aí calculareis
quantos bastem. Em outras palavras, cada cordeiro seria morto para um certo
número de pessoas, as quais, juntas, deveriam observar a páscoa.
Êx 12.5 O cordeiro será
sem defeito. Não poderia haver nenhum tipo de defeito físico, deformação,
enfermidade etc. Como é óbvio, isso fala da impecabilidade do Cordeiro de Deus.
Ver I Ped. 1.19 e João 1.29.
Macho de um ano. Ou um
animal que já tivesse completado seu primeiro ano de vida, ou que ainda
estivesse dentro de seu primeiro ano de vida, sem ter ainda atingido essa
idade. A Septuaginta fala em um ano completo, 0 que tem levado a maioria dos
estudiosos a pensar em uma idade exata do animal a ser sacrificado. Mas há quem
suponha que a prática original fosse abater um cordeiro ainda bem novo, talvez
com apenas algumas semanas de nascido. Uma vida preciosa era sacrificada com
esse propósito religioso. Todas as vidas preciosas pertencem a Deus Pai; e é
Sua responsabilidade cuidar de todas elas. Oh, Senhor, concede-nos tal graça!
Um cordeiro ou um
cabrito. Portanto, originalmente, qualquer desses filhotes podia ser usado,
embora depois fosse tradicional servir um cordeiro. Os Targuns mostram que a
preferência era dada ao cordeiro, embora também se usasse, ocasionalmente, um
cabrito.
Êx 12.6 Décimo quarto
dia. O animai a ser sacrificado era separado do rebanho no décimo dia do mês,
e, então, guardado para o sacrifício por quatro dias. Os rabinos alistam quatro
coisas supostamente derivadas dessa exigência, a qual acabou não sendo
preservada senão no começo da história de Israel, a saber: 1. Originalmente, os
cordeiros foram consumidos na terra de Gósen, na residência de cada família
israelita. 2. O cordeiro era separado no décimo dia do primeiro mês. 3. O
sangue do cordeiro abatido era usado para lambuzar ambas as ombreiras e a verga
da porta de entrada de cada casa. 4. O cordeiro era comido às pressas.
Quando foi
descontinuada a exigência acerca do décimo dia, naturalmente também foi
eliminada a exigência referente ao décimo quarto dia. Talvez aquele período
intermediário de quatro dias desse ao povo tempo amplo para que as pessoas se
certificassem de que o animal não tinha defeito. Essa questão não podia ser
tratada de modo superficial. Em tipo, de acordo com alguns intérpretes, isso
mostra Cristo preservado em Sua infância, enquanto estava sendo preparado para
Sua missão expiatória.
Todo o ajuntamento da
congregação de Israel. No começo, isso indicava que cada família cumpriria o
seu dever religioso. Todas as famílias, em seu conjunto, formavam a congregação
de Israel. Posteriormente, passou a haver um sacrifício comunal, quando a
questão se tornou parte da adoração no templo. Os chefes de família reuniam-se
em um só lugar para efetuar o sacrifício comunal. Os críticos veem aqui uma
referência a esse costume posterior, e não à forma primitiva da observância. A
Mishna entende que três grupos de famílias entravam sucessivamente no átrio do
templo, para matar os cordeiros escolhidos. Nesse caso, para preservar a
exigência original de que o sangue fosse aspergido, os chefes de família formavam
uma espécie de brigada com baldes, apanhando 0 sangue dos animais sacrificados
e, então, aplicando-o às ombreiras e às vergas das portas de cada casa. Ou,
então, o sangue era derramado ao pé do altar, que assim veio a substituir,
posteriormente, as portas de entradas das residências.
No crepúsculo da tarde.
Era o horário do sacrifício. Logo, tratava-se de uma festa noturna, celebrada
durante o tempo da lua cheia (vs. 8; ver também Isa. 30.29). De acordo com a
ortodoxia judaica, o abate do animal ocorria ao aproximar-se a noite. A Mishna
diz-nos que era apropriada qualquer hora depois do meio-dia para esse abate. Os
samaritanos, os caraítas e os saduceus especificavam o crepúsculo, antes de as
trevas absolutas cobrirem a terra. A prática original por certo era consumir o
cordeiro pascal durante a noite. Josefo explanou que, em seus dias, o
sacrifício tinha lugar entre a nona e a décima primeira horas (entre as 15
horas e as 17 horas, Guerras, 1.6, see. 3). Jesus foi crucificado à hora nona
(Mat. 26.17).
Tomarão do sangue. Ou
seja, aquela porção do sacrifício que, de acordo com a antiga crença,
destinava-se ao poder divino. Ver Lev. 1.5. Originalmente, o sangue foi
aplicado às ombreiras e à verga da porta de cada casa, ou seja, a parte ais
santa e dedicada da casa (Lev. 21.6; Deu. 6.9). No dia da matança dos
primogênitos no Egito, isso atuou como uma medida protetora contra o anjo
destruidor, que, vendo o sangue aplicado, passaria por sobre a casa assim
protegida. V« os vss. 22 e 23 deste capítulo, como também Êxo. 4.24, e as notas
expositivas 3á existentes.
No Dicionário ver os
artigos Sangue e Expiação (quanto a este seus pontos quinto e sexto). Ver
também ali os verbetes Expiação e Expiação pelo Sangue. E na Enciclopédia de
Bíblia, Teologia e Filosofia ver 0 artigo Expiação pelo Sangue de Cristo.
Alguns estudiosos
supõem que o uso do sangue, conforme aparece na primeira páscoa, realmente
antecedeu o evento, como um rito antigo que apelava aos poderes divinos em
busca de proteção contra forças espirituais malignas, para que fosse preserva a
paz na família. A porta, como entrada que dava acesso à casa, seria o lugar
lógico onde era aplicado o sangue protetor.
Vida ou Morte. O mesmo
anjo destruidor (o Anjo de Yahweh) que matou os primogênitos do Egito também
foi o anjo protetor de Israel. Assim foi e assim será sempre: escolhemos como o
Poder Divino haverá de relacionar-se conosco. No caso dos israelitas, o
cordeiro era morto em lugar dos filhos primogênitos, o que aponta para o poder
vicário do sacrifício de Cristo.
Talvez o sangue também
simbolizasse um laço que congregava a família e a comunidade, tendo-se tornado
assim um sinal do pacto que todos eles compartilhavam com Yahweh.
Expiação. O sangue do
cordeiro pascal fazia uma expiação simbólica pelos membros da família que se
protegesse com o sangue aplicado à porta de sua casa. Isso os protegeu da ira
divina que estava à solta naquela noite.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
pag. 348-349.
Êx 12.3. Toda a
congregação de Israel. Esta é a primeira ocorrência no Pentateuco do que viria
a ser um termo técnico para descrever Israel em sentido religioso {‘êdãh ocorre
frequentemente com este sentido; em Deuteronômio e livros mais recentes a forma
preferida é qãhãl) e que subjaz o uso da palavra ekklêsia (igreja) no Novo
Testamento. A palavra “ congregação” não é um termo abstrato: implica no
ajuntamento da nação de Israel, normalmente com propósito religioso.
Aos dez deste mês. É
provável que os israelitas primitivos, tal como os chineses, dividissem o mês
em três partes de dez dias cada, sendo a primeira destas a “ entrada” e a
última a “ partida” . Nosso conceito de “ crescente” e “ minguante” é
semelhante, embora baseado numa divisão do mês em duas partes. Tal como a
Páscoa, o Dia de Expiação caía no décimo dia de um outro mês (Lv 23:26,27).
Esta explicação é preferível à suposição de que o número dez era tido como
sagrado. A noite do décimo quarto dia (quando o cordeiro devia ser morto, v. 6)
seria exatamente a metade do mês, quando presumivelmente haveria lua cheia.
Um cordeiro. O termo
hebraico, êeh, é neutro e deveria ser traduzido “ cabeça de gado (miúdo)” ,
aplicável igualmente a ovelhas e cabras de qualquer idade. Os israelitas, tal
como os chineses, pareciam considerar qualquer distinção entre ovelhas e cabras
uma subdivisão sem importância.
Talvez por causa disso,
“ separar os bodes das ovelhas” veio a ser uma expressão proverbial para
indicar o discernimento divino ao tempo do Novo Testamento (Mt 25:32). Quem
conhece as ovelhas da Ásia, pequenas, de cor marrom ou preta e com pelo curto e
crespo, sabe bem da dificuldade em distingui-las, exceto pelas caudas. Além
disso, o seh poderia ser de qualquer idade: o versículo 5 diz que deveria ser “
filho de um ano” , expressão que pode significar “ do primeiro ano” , ou seja,
“ nascido há um ano ou menos” . Era assim, pelo menos, que entendiam os rabis.
As traduções modernas, que contêm a expressão “ macho de um ano” , estão
provavelmente forçando ideias ocidentais de cronologia a um texto asiático. Em
qualquer caso, porém, é apenas esta descrição de sua idade que nos mostra que o
sacrifício deveria ser um “cordeiro” e não uma “ ovelha” adulta.
Para cada família. A
Páscoa era uma comemoração doméstica e familiar, o que demonstra sua origem
antiga. Aqui não há templo, nem tenda da congregação, nem altar nem sacerdote:
a ideia de representação, porém, se não mesmo substituição, é claramente
sugerida.
Êx 12.4. Por aí
calculareis. Em dias mais recentes, o número mínimo de pessoas que poderia
comer um cordeiro era dez adultos; este número, porém, foi alcançado através de
uma exegese artificial. No principio, parecia ser questão de apetite, ou do
tamanho do cordeiro, ao invés de teologia.
Êx 12. 5. Macho de um
ano. O sacrifício deveria ser um macho jovem e sem defeito algum,
presumivelmente representando a perfeição da espécie. Se já tivesse realmente
um ano de idade, já estaria plenamente desenvolvido.
Êx 12.6. No crepúsculo
da tarde. Literalmente, “ entre as duas noites” . Estudiosos judeus não chegam
a um acordo quanto ao significado exato da frase. A expressão é usada para
descrever a hora do sacrifício vespertino regular (29:39) e a hora em que as
lâmpadas da tenda da congregação eram acesas (30:8). O pietismo ortodoxo do
judaísmo farisaico entendia a frase como uma referência ao período da tarde
entre a hora em que o calor do sol começava a diminuir (digamos 3 ou 4 horas) e
o pôr-do-sol. Outros grupos preferiam o período entre o pôr-do-sol e a
escuridão, ou outras explicações semelhantes.
7. Tomarão do sangue.
Dificilmente se poderia classificar a Páscoa como um sacrifício, no sentido
mais recente da palavra. Não era diretamente ligada a pecado, embora fosse “
apotropaica” no sentido de evitar o “ golpe” divino, havendo portanto um ritual
cruento a ela associado.
O fato de haver um
ritual cruento não é em si mesmo digno de nota: notável mesmo é o não haver
qualquer associação de sacerdotes com um tipo de rito que mais tarde seria
estritamente limitado à sua participação.
É claro, portanto, que
esta cerimônia surgiu antes do estabelecimento do sacerdócio “ profissional” em
Israel. Como presumivelmente acontecia no período patriarcal, o chefe da
família fazia as vezes de sacerdote.
Todavia, a despeito
deste resquício de tradição patriarcal, as ombreiras e vergas sugerem vida
sedentária, tal como Israel vivia em Gósen. Embora, estritamente falando, não
haja aqui o conceito de “ expiação” , o princípio básico do sacrifício cruento
é o mesmo: representa uma vida que foi sacrificada (Lv 17:11).
R. Alan Cole, Ph. D.
ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 101-103.
A Instituição da
Páscoa. A Festa dos Pães Asmos w. 1-20
Moisés e Arão aqui
recebem do Senhor aquilo que deveriam posteriormente transmitir ao povo com
relação à celebração da páscoa, para a qual é pré-fixada uma ordem, um novo
estilo a ser observado quanto ao seu calendário (w. 1,2): Este mesmo mês vos
será o princípio dos meses. Até aqui eles haviam começado o seu ano a partir de
meados de Setembro, mas daqui por diante eles deveriam começá-lo a partir de
meados de Março, ao menos em todos os seus cálculos eclesiásticos. Note que é
bom começar o dia, e começar o ano, e especialmente começar a nossa vida, com
Deus. Este novo cálculo iniciava o ano com a primavera, que renova a face da
terra, e era usada como um símbolo da chegada de Cristo, Cantares 2.11,12. Nós
podemos supor que, enquanto Moisés estava trazendo as dez pragas sobre os
egípcios, ele estava orientando os israelitas a se prepararem para a sua
partida que poderia acontecer a qualquer momento. É provável que ele tivesse
acabado com a dispersão deles reunindo-os gradualmente, pois aqui são chamados
de ‘A congregação de Israel” (v. 3). Além disto, aqui as ordens são enviadas a
uma congregação. O espanto e a pressa deles, é fácil deduzir, eram grandes.
Ainda mais agora que eles devem se dedicar à observância de um rito sagrado, em
honra a Deus. Note que não devemos nos esquecer da nossa religião, nem mesmo
quando nossas mentes estiverem repletas de preocupações, e nossas mãos
estiverem repletas de trabalho. Também não devemos permitir que haja em nós
qualquer tipo de indisposição para com os atos de devoção.
T Deus determinou que,
na noite em que eles sairiam do A Egito, eles deveriam, em cada uma de suas
famílias, matar um cordeiro, ou que duas ou três famílias, se fossem pequenas,
comessem juntas um cordeiro. O cordeiro deveria ser preparado quatro dias antes,
e, naquela tarde, eles deveriam matá-lo (v. 6) como um sacrifício. Não de forma
estrita, pois este não era oferecido no altar, mas como uma cerimônia
religiosa, reconhecendo a bondade de Deus para com eles, não apenas ao
protegê-los das pragas infligidas aos egípcios, mas libertando-os através
delas. Veja a origem da religião em família, E perceba a conveniência da
reunião de pequenas famílias para a adoração religiosa para que esta possa se
tornar mais solene.
no cordeiro morto desse
modo, eles deveriam comer assado (nós podemos supor, em seus vários
alojamentos), com pães asmos e ervas amargosas, porque deveriam comê-lo
apressadamente (v. 11), não deixando nada para o dia seguinte. Pois eles
dependeriam de Deus para o pão de cada dia, e não deveriam se inquietar pelo
amanhã. Aquele que os conduzia os alimentaria.
Antes de comerem a
carne do cordeiro, eles deveriam borrifar o sangue sobre as ombreiras das
portas, v 7. Através disso, suas casas seriam distinguidas das casas dos
egípcios, e assim os seus primogênitos estariam protegidos da espada do anjo
destruidor, vv. 12,13. Uma obra terrível seria realizada nesta noite no Egito.
Todos os primogênitos, tanto dos homens quanto dos animais deveriam ser mortos,
e julgamentos seriam executados contra os deuses do Egito. Moisés não menciona
o cumprimento neste capítulo, mesmo assim ele fala sobre isso em Números 33.4.
É muito provável que os ídolos que os egípcios adoravam tenham sido destruídos,
os de metal derreteram, os de madeira foram consumidos, e os de pedra foram
feitos em pedaços, de onde Jetro deduz (cap. 18.11): O Senhor é maior que todos
os deuses. O mesmo anjo que exterminou os seus primogênitos aniquilou os seus
ídolos, que não eram menos queridos para eles. Foi-lhes ordenado que
aspergissem o sangue do cordeiro sobre as ombreiras das portas para a proteção
de Israel, um gesto que seria aceito como um exemplo de sua crença nas
advertências divinas e de sua obediência aos preceitos divinos. Note que: 1. Se
em tempos de calamidade geral, Deus protege o seu próprio povo e coloca um
sinal sobre as pessoas, elas serão escondidas no céu ou debaixo do céu, e serão
protegidas do impacto dos julgamentos ou ao menos de seus aguilhões.
2. O sangue da aspersão
é a segurança do justo em tempos de calamidade geral; é isso que os marca para
Deus, tranquiliza consciências, e lhes dá ousadia e acesso ao trono da graça. E
assim se torna um muro de proteção em volta deles e uma parede divisória entre
eles e os filhos desse mundo.
Esta ordenança deveria
ser observada anualmente em suas futuras gerações como uma festa do Senhor, ao
qual a festa dos pães asmos foi acrescentada, e durante a qual, por sete dias,
eles deveriam comer apenas pães sem fermento, como um memorial por estarem
inevitavelmente limitados a esse tipo de pão por muitos dias após a sua saída
do Egito, w. 14-20. Esse compromisso é imposto para sua melhor orientação, e
para que eles não pudessem se enganar com respeito à páscoa. E também para
despertar a uma diligente observância deste ritual aqueles que, no Egito,
tinham se tornado tolos e descuidados nos aspectos da religião. Agora, sem
dúvida, havia muito do Evangelho nessa celebração. Ela é frequentemente
mencionada no Novo Testamento, e através dela nos é pregado o Evangelho. Esta
pregação também se estendia a eles, que não podiam olhar firmemente para o fim
dessas coisas. Hebreus 4.2; 2 Coríntios 3.13.
1. O cordeiro pascal
era uma tipificação do Salvador. Cristo é a nossa Páscoa, 1 Coríntios 5.7. (1)
Deveria ser um cordeiro. E Cristo é o Cordeiro de Deus (Jo 1.29),
frequentemente chamado no Apocalipse de “O Cordeiro”, manso e inocente como um
cordeiro, calado ante os tosquiadores, diante dos açougueiros. (2) Deveria ser
um macho de um ano (v. 5), uma primícias; Cristo se ofereceu no meio de seus dias,
não na infância com os bebês de Belém. Isso denota a força e a suficiência do
Senhor Jesus, em quem está o nosso auxílio. (3) Deveria ser um cordeiro sem
mácula (v. 5), simbolizando a pureza do Senhor Jesus, um cordeiro imaculado,
Hebreus 7.26; 1 Pedro 1.19. O juiz que o condenou (como se o seu julgamento
fosse feito apenas como a inspeção que era feita no tocante aos sacrifícios,
para verificar se eram sem mácula ou não) o declarou inocente. (4) Deveria ser
separado com quatro dias de antecedência (w. 3,6), indicando a designação do
Senhor Jesus para ser o Salvador, tanto no propósito quanto na promessa.
Podemos observar que, como Cristo foi crucificado durante a páscoa, Ele entrou
solenemente em Jerusalém com quatro dias de antecedência, no mesmo dia em que o
cordeiro pascal era separado. (5) O cordeiro deveria ser morto, e assado no
fogo (w. 6-9), o que simbolizava os sofrimentos intensos do Senhor Jesus, até a
morte, e morte de cruz. A ira de Deus é como fogo, e Cristo se fez maldição por
nós. (6) Deveria ser morto por toda a congregação no entardecer, entre os dois
dias, isto é, entre três e seis horas da tarde. Cristo sofreu no fim do mundo
(Hb 9.26) pela mão dos judeus, uma multidão deles (Lc 23.18), e pelo bem de
todo o seu Israel espiritual. (7) Nenhum osso do cordeiro deve ser quebrado (v.
46), o que é expressamente relatado como uma profecia que foi cumprida em
Cristo (Jo 19.33,36), simbolizando a força inquebrantável do Senhor Jesus.
HENRY. Matthew.
Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora
CPAD. pag. 260-261.
III - CRISTO, NOSSA
PÁSCOA.
1. Jesus, o Pão da Vida
(Jo 6.35,48,51).
Um pão pode ter mais de
um sabor. Pode ter mais de uma forma. Pode ser feito com diversos ingredientes.
Pode ser barato ou caro. Pode ser mais leve ou mais pesado. Mas sua função mais
importante é saciar a fome. É para isso que eles são feitos. Por que Cristo é
considerado o pão da vida?
Porque Ele mesmo disse
isso: “Eu sou o pão da vida; (' aquele que vem a mim não terá fome” (Jo 6.35).
Ele promete saciar a necessidade humana no que concerne às questões da vida e à
relação com Deus, ao perdão dos pecados e à vida eterna. A fome que temos de
Deus é saciada em Cristo Jesus.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 41-42.
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
«Eu SOU o pão da
"'da...» (Joio 6:35).
«Quem comer a minha
carne e beber o meu sangue tem a vida eterna... » (João 6:54).
«...isto é o meu
corpo...isto é o meu sangue... » (Mateus 26:26,28).
«..o que vem a mim,
jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede... » (João 6:35).
«Assim como o Pai, que
vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta,
por mim viverá» (João 6:57).
«Porque assim como o
Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo"
(João 5:26),
« os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e
os que a ouvirem, viverão" (João 5:25).
Em torno desses
versículos gira o ensino de Jesus como o Pão da Vida. Crentes sinceros têm
atribuído aos mesmos grande variedade de interpretações, e muitíssimas disputas
se têm originado de tais explicações. Parece que uma das dificuldades da
interpretação deriva-se do fato de que a mensagem central que essas passagens
procuram nos transmitir é muito mal compreendida pela igreja cristã, sendo
algumas vezes totalmente desconhecida e, ocasionalmente, até mesmo combatida.
Por causa dessas condições, apesar de que certas porções da ideia correta do
que aqui é ensinado são retidas por uma ou outra denominação, com algumas
variações, contudo, a própria ideia, em sua inteireza e majestade, é percebida
apenas em parte, obscuramente. Essa profunda ideia do cristianismo, que «Jesus,
como o Pão da Vida», oferece aos homens, está contida nas Escrituras de forma
dispersa. As alusões a esse conceito aparecem no evangelho de João; em alguns
trechos das epístolas paulinas, sobretudo no oitavo capitulo da epístola aos
Romanos e no primeiro capítulo da epístola aos Efésios; em 11 Coríntios 3:18 e
em II Pedro 1:4.
Na tentativa de
descobrir e lançar luz sobre o assunto, examinaremos os seguintes particulares:
1. A orientação
espiritual de João é mística, e não sacramental.
2. O modo de expressão
de João.
3. As interpretações
centrais do sexto capítulo do evangelho de João: a interpretação simbólica, a
sacramental e a mística.
4. A Ceia do Senhor, em
seu «símbolo» e na «verdade simbolizada».
5. Indicações
existentes no sexto capitulo do evangelho de João sobre a veracidade da interpretação
«mística».
Passemos, pois, à
exposição de cada uma dessas particularidades:
A Orientação Espiritual
de João é Mística, e Não Sacramental.
Dentre os quatro
evangelhos, o de João é o mais místico e o menos sacramental; assim sendo,
apesar do evangelho de João ser o mais usado, provavelmente é o menos
compreendido dos quatro. Notemos que no trecho de João 1:29-34, o lugar onde
poderíamos esperar a história do batismo de Jesus, por João Batista, não há
qualquer menção ou descrição sobre o batismo em água, conforme se lê nos demais
três evangelhos. Obviamente, se trata da mesma cena, e é indubitável que
devemos compreender ali que Jesus foi batizado por João Batista; porém, não há
qualquer alusão à própria cena do batismo. No entanto, encontramos nesse trecho
a menção especifica do batismo do Espírito Santo, em que Jesus aparece tanto
como o Cordeiro de Deus quanto como o Filho de Deus. Nessa seção do evangelho
de João, pois, o batismo é de natureza mística, e não-sacramental.
Ainda mais surpreendente
que essa instância é a daquela outra passagem onde poderíamos esperar uma
descrição sobre a instituição da Ceia do Senhor ou eucaristia, a saber, João
13:1-20. Pois, apesar de ser evidente que essa passagem se refere à páscoa,
sendo paralela aos trechos de Mat. 26:7-30; Mar. 14:17-26 e Luc. 22:14-39,
contudo, nem ao menos há alusão à instituição da Ceia do Senhor, ao passo que
lemos ali uma longa descrição da cerimônia do lava pês, que os demais
evangelhos nem mencionam, e que poderíamos julgar comparativamente sem
importância, em relação à Ceia do Senhor. Não obstante, nesse trecho do
evangelho de João, nos é ensinada uma verdade mística, o que também era muito
característico do autor do quarto evangelho; e por causa dessa verdade mística,
essa passagem obviamente se revestia de grande importância para o seu autor
sagrado.
Poderíamos asseverar,
por conseguinte, que o autor do quarto evangelho nem ao menos registra ou
descreve um evento tão importante como foi a instituição da Ceia do Senhor, ao
passo que os outros três evangelistas lhe conferem um tão conspícuo lugar? Não,
isso não seria verdade, pois o sexto capitulo do quarto evangelho encerra o
registro sobre essa instituição da Ceia; no entanto, foi escrito não para
descrever um sacramento e, sim, para servir de expressão acerca de uma elevada
doutrina mística.
Devemos observar, por
igual modo, que nesse sexto capitulo do evangelho de João não há qualquer
descrição acerca do modus operandi da cerimônia da Ceia do Senhor, porquanto
isso não se revestia de importância, aos olhos do autor sagrado; pelo
contrário, nos é exposto, com abundância de pormenores, o sentido espiritual
retratado por essa cerimônia; e esse sentido espiritual é uma profunda verdade
mística.
O evangelho de João,
portanto, aborda tanto o batismo como a Ceia do Senhor de maneira mística, e
não sacramental.
Modo de Expressão de
João
A fim de ilustrar a
natureza da pessoa de Cristo, bem como a sua relação para com o mundo, mais do
que os outros evangelistas, o apóstolo João se utiliza de termos simbólicos. Ê
João quem chama o Senhor Jesus de «a Luz», «a, Água», «o Pão», «o Pastor» e «a
Porta». E embora o evangelho de João não lance mão da expressão especifica,
«Este é o meu corpo» (em que Cristo se referiu ao pão da Ceia) contudo, no
sexto capitulo do mesmo é óbvio que uma terminologia assim seria perfeitamente
apropriada (ver João 6:54,55). Todavia, esse pão (que simboliza o corpo) é
declarado como algo que desceu do céu (ver João 6:32,58), o que mostra que,
antes de tudo, não está em vista alguma alusão ao corpo físico de Jesus; antes,
ele se refere a um tipo celestial de «pão», a um principio espiritual, a uma
comunicação e participação mística na vida divina, o que, na realidade, é um
conceito transcendental, e não uma ideia sacramental.
Por semelhante modo,
quando falamos na «água», devemos ter em mente a infusão da vida espiritual,
recebida mediante a fé, e não algum elemento sacramental. Isso fica demonstrado
pelo fato de que a grande passagem joanina sobre a «água da vida» (o quarto
capitulo do evangelho de João), que nos fornece maiores detalhes sobre a
significação tencionada acerca dessa «água», é registrada em um trecho
totalmente separado do capítulo que versa sobre o batismo do Senhor Jesus. Ali
a «água da vida» figura como a comunicação do Espírito Santo à alma humana (ver
João 4:23,24), em que essa água «mana» como uma fonte eterna, uma ação continua
e toda possessiva, e não uma ação momentânea, como se verifica no caso de
qualquer rito. Além disso, deve-se notar que no trecho de João 7:39 o próprio
autor sagrado interpreta o símbolo da água, ao dizer:
«... Isto ele disse com
respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem... » Torna-se
evidente, portanto, que vocábulos como «pão», «água», «porta», etc., são
expressões que indicam elevadíssimas verdades espirituais, místicas quanto à
sua natureza, e não sacramentais. Fica suposto com razão, neste sexto capitulo
do evangelho de João, segundo acredito, que o «sangue» de Cristo, que é
«...verdadeira bebida... ,. (João 6:55), tem um sentido equivalente ao
atribuído à «água», nos capítulos quarto e sétimo do evangelho de João, e que
abordamos aqui a transmissão da vida divina, por intermédio do Espírito Santo.
O modo de expressão do
evangelho de João, portanto, é místico, e não-sacramental.
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos.
pag. 43-44.
Este versículo faz um
paralelismo exato com João 4:14.26. O sentido espiritual completo é finalmente
trazido à luz. Temos aqui o primeiro dos grandes ·Eu sou», proferidos por
Jesus, neste quarto evangelho: Eu sou o pão do céu (ver o vs. 32). 0 pão de Deus
(ver o vs. 33). O pão da vida (ver o vs. 35), o pão vivo(ver o vs. 51). Tudo
isso deve ser destacado em seus diversos aspectos, quais sejam: (Ver notas
completas sobre o tema, Jesus, pão da vida, João, 6:48).
1. A mensagem de Cristo
é proveniente do céu e é transmitida por autoridade celestial, porquanto ele
vive em união com o Pai.
2. O caráter distintivo
da pessoa de Cristo, que é o Filho de Deus, o único capa/ de dar a vida eterna.
Fica subentendido, por extensão, 0 caráter distintivo do cristianismo.
3. Tudo quanto Cristo c
cm si mesmo, a sua Filiação especial e suas qualidades especiais como doador da
vida. E Cristo quem dá e sustenta a vida eterna, e nenhum desejo insatisfeito
pode frustrar permanentemente ao crente.
4. A exclusividade de
sua doação, porque ele é o Filho do único, sendo o único que pode fazer tais
reivindicações. Por conseguinte, essa vida reside exclusivamente nele.
5. Alguns intérpretes
(com Robertson, in loc.) também veem aqui o grande tema da vida «independente»
ou ·necessária», com a qual já nos encontramos e que explicamos, no trecho de
João 5:26. Isso é uma inferência correta, posto que João 6:57, em
desenvolvimento desse tema. aborda esse aspecto. O Pai tem vida em si mesmo,
porquanto não depende de outrem para a sua existência. Assim sendo, o Pai
possui vida independente. E o mesmo que a vida necessária, por tratar-se da
forma da vida que não pode cessar de existir. Essa forma de vida o Pai deu ao
filho, quando de sua encarnação; e o Filho de Deus. por sua vez, a dá a todos
os homens que dele se aproximam. Aqui. portanto, é declarada a participação,
por meio dos que creem cm Cristo, na vida eterna, que é divina, necessária,
independente.
O que vem a mim jamais
terá fome...o que crê em mim jamais terá sede...·. Com essas palavras é frisada
a necessidade de fé, conversão e regeneração, conforme também isso foi
vividamente salientado no terceiro, quarto e quinto capítulos deste evangelho.
O pão natural (maná) não satisfazia necessidade alguma a menos que fosse
apropriado, recolhido e ingerido. É mister que o indivíduo seja impelido pela
fome para comer, e pela sede, para beber. Aquele que não sente fome ou sede
espiritual, não se interessa por satisfazer essas condições. Isso.
naturalmente, serve de símbolo da necessidade e dos anelos da alma. E esses
anelos são ao mesmo tempo naturais para a alma -razão pela qual as Escrituras
dizem que os homens creem em Cristo, e são inspirados e produzidos por Deus, na
alma. através da ação do Espirito Santo -motivo por que as Escrituras ensinam
que os homens são dados ao Filho, pelo Pai, ou são atraídos ao filho mediante
as operações do Pai, conforme vemos nos vss. 37 e 39 deste mesmo capítulo.
A fome e a sede são
símbolos aptos para os anseios espirituais, pois essas são experiências comuns
a todos os seres humanos. O homem reconhece, instintivamente, o que significam
essas condições. Os aldeões galileus estavam bem familiarizados com tais
condições e costumavam passar longas horas de trabalho árduo, a fim de
satisfazerem a essas necessidades básicas. O Senhor Jesus, pois, salientou o
fato de que é necessário que os homens sintam fome e sede dos valores
espirituais, c, mais especialmente ainda, que devem querer diligentemente a
vida eterna.
A fé figura aqui, uma
vez mais como o agente da conversão. Pois a conversão consiste na fé c no
arrependimento; c isso é o começo da regeneração, bem como a fonte originária
de tudo que é a ·vida eterna*. Todas essas questões são abundantemente
comentadas neste quarto evangelho c o leitor deveria examinar as seguintes
referências: Sobre a «fé», em João 3:16 e Heb. 11:1: sobre a «conversão·, em
João 3:3; sobre o «arrependimento», em Mat. 3:2 e 21: 29; sobre a
«regeneração», em João 3:3; e sobre a «vida eterna», em João 3:15.
« Monteliore, embora
tivesse permanecido sempre um judeu convicto, concedeu francamente
originalidade a Jesus Cristo. E, juntamente com muitas outras linhas, diz como
segue: ‘Coube a Jesus transformar esse quadro da atividade divina em um ideal
de atividade humana; c é admirável pensarmos quão maravilhosos e frutíferos
resultados se tem seguido às dúzias ou vintenas de versículos, onde esse ideal
é destacado e impressionado ». Ou ainda: «Em meio aos mistérios e milagres,
parece emergir um personagem diferente de qualquer personagem do Antigo
Testamento ou herói rabínico».
Por semelhante modo.
Rudolf Otto, cm seu estudo simpático e mesmo entusiasta acerca das religiões da
índia, admite francamente que o eixo inteiro, em volta do qual a vida gira.
tanto em ação como em pensamento, é inteiramente diferente no cristianismo, em
confronto com essas outras fés.
CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Candeias. Vol. 2. pag. 359.
“O Verdadeiro Pão”
(6.35-40). Jesus agora lhes declarou abertamente aquilo que ficara oculto no
sinal e no simbolismo. Se realmente quisessem o pão que Ele lhes daria,
precisariam saber que Ele era aquele pão. Eu sou o pão da vida; aquele que vem
a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede (35; cf. 4.14; 6.48,58;
7.37- 38). Até agora, no Evangelho de João, a expressão Eu sou já ocorreu duas
vezes em declarações diretas de Jesus sobre a sua divindade (4.26; 6.20). Aqui
começa o uso de metáforas fortes e expressivas. Elas aparecem dezessete vezes e
os exemplos mudam: por exemplo, Eu sou o pão da vida; “Eu sou a luz do mundo”
(8.12); “Eu sou a porta” (10.9). Westcott escreve: “Os exemplos com que se
conecta [Eu Sou] fornecem um estudo completo da obra do Senhor”.
Os verbos vem e crê no
presente retratam uma ação continuada e persistente, e são importantes nesta
seção. A implicação é que deixar de vir ou de ter fé também significa a
descontinuidade da satisfação da fome e da sede.
O povo tinha pedido um
sinal (6.30) e agora Jesus lhes diz que eles têm um sinal — a Encarnação —
embora não acreditem. Já vos disse que também vós me vistes e, contudo, não
credes (36).
Nos versículos 37-40,
há dois temas principais. Primeiro, a vontade de Deus se torna efetiva para o
homem por meio do Filho, e tem como resultado a vida eterna. O Filho realiza a
vontade do Pai — porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a
vontade daquele que me enviou (38; cf. Mt 26.39, 42). Graças ao perfeito
desempenho do Filho em realizar a vontade do Pai, o plano de Deus para o homem
é: 1. uma completa comunhão com Cristo (37); 2. orientação e graça para aqueles
que vêm (37) e assim “continuam tendo fé nEle” (lit., 40); 3. a vida eterna,
i.e., a vida no seu nível mais elevado, aqui e agora — a vida santificada (cf.
1 Ts 4.3). Posteriormente, haverá a transformação completa (cf. 2 Co 3.18) com
a participação na sua ressurreição. A frase eu o ressuscitarei no último Dia
(40) aparece como um tipo de refrão por toda esta seção (39-40,44,54).
O segundo tema é que a
vida eterna, tanto no seu significado presente quanto no escatológico, está
aberta para o homem. Isto não se deve ao mérito do homem, mas somente à graça
de Deus. A interpretação negativa da frase Tudo o que o Pai me dá virá a mim
(37), como base para uma doutrina de reprovação, significa o retorno à lógica
inflexível. Gossip comenta: “Existem coisas mais verdadeiras do que isso na
vida... tudo o que ela diz é que se somos cristãos, então somos dele não por
causa de alguma coisa que tenhamos feito... mas unicamente porque Deus se
propôs a nos ganhar”
Joseph H. Mayfield.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag.71-72.
Agora Jesus faz uma
declaração clara e franca. Não lhes dissera que lhes daria o pão maravilhoso
que desceu do céu, mas lhes afirmara que este pão milagroso que desceu do céu
tinha o poder de dar a vida eterna. Ele em pessoa é esse Pão da vida. Não
importa, quem quer que vem a ele, já não mais sofrerá fome, assim como aquele
que bebe da água viva de sua salvação jamais será incomodado por sede. Vir a Jesus
significa crer nele como o Salvador do mundo. Nele e em sua misericórdia todos
os desejos e anseios da alma encontram sua plena satisfação. Mas, mesmo que o
Filho de Deus e uma tão perfeita satisfação foram trazidos tão próximo dos
judeus, eles ainda assim não creram nele.
Viram-no em seu
ministério de milagres, e ouviram as palavras da vida que nestas ocasiões
provinham de sua boca, mas recusavam-se a crer. Por isso, que soubessem, que
tudo o que Pai dá ao Filho virá a ele. Vir a Jesus é crer; fé é um vir
espiritual. O coração e a vontade duma pessoa vão a Cristo, são unidas a
Cristo. Todas aquelas pessoas, realmente, vem a Jesus, as quais o Pai lhe deu
como seus. A fé é o resultado da seleção misericordiosa de Deus. Esta é uma
vocação e uma seleção de graça, e, por isso o senhor não lançará fora nenhum
daqueles que vem pela fé a ele. Os pensamentos de Deus são tão somente
pensamentos de paz e de misericórdia. Ele não tem qualquer desejo pela morte de
qualquer pecador. Jesus veio ao mundo para cumprir este propósito
misericordioso e terno de seu Pai celeste. A vontade do Pai é que Jesus não
perca nenhum daqueles que o Pai lhe deu. Todos são igualmente preciosos aos
seus olhos, tendo sido adquiridos valiosamente demais, para serem perdidos.
Aqueles, por isso, que o Pai deu ao Filho como propriedade, o Filho iria
ressuscitar da morte no último dia para lhes dar o pleno gozo das bênçãos e da
glória que são sua herança. Jesus, para acentuar a clareza e ênfase, repete o
mesmo pensamento. A vontade do Pai, que enviou o Filho ao mundo, é que todo
aquele que na fé olha ao Filho, ou seja, que o aceita como o Filho de Deus e o
Salvador do mundo, esse, sem falha, terá a vida eterna, se tornará participante
das glórias do céu na e pela ressurreição. Em Cristo fomos escolhidos para a
vida eterna.
KRETZMANN. Paul E.
Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora Concordia Publishing
House.
João 6.35 Isso apenas
pode ser verificado quando Jesus agora progride para a última revelação e
confirma, por meio de uma automanifestação direta, que esse pão maravilhoso não
é ―algo‖, mas uma pessoa, ele, o próprio Jesus. Será que os galileus realmente
querem ter o pão sobrenatural? Pois bem, então ouçam: ―Jesus lhes declarou: Eu
sou o pão da vida.‖
Como em todas as outras
vezes, nessa palavra de Jesus a ênfase recai sobre o poderoso ―Eu‖. Por essa
razão é novamente destacado com ênfase no idioma grego. Jesus não visa
descrever a riqueza múltipla que sua pessoa abrange e que ele é, além de muitas
outras coisas, também o pão da vida. Não, quando pessoas compreenderam o que é
esse verdadeiro pão e quanta necessidade elas têm dele, e agora indagam onde
podem encontrá-lo, então Jesus somente pode responder: ―Esse pão maravilhoso,
procurado e imprescindível – sou Eu.‖ Esse pão não existe desvinculado de
Jesus. Ele em pessoa é esse pão. Por isso o pão não está presente numa coisa
qualquer que pode estar relacionada com Jesus, sem sê-lo pessoalmente. Nenhuma
doutrina sobre Jesus, por mais correta que seja, nenhum sacramento por ele instituído
como tal, tampouco a ceia do Senhor, ―é‖ esse pão. A poderosa afirmação ―Eu sou
o pão da vida‖ exclui todo o resto. Precisamos ter a Jesus pessoalmente se
quisermos ter de fato esse pão da vida.
Merece consideração que
as duas automanifestações de Jesus mencionam ―água‖ e ―pão‖. ―Água e pão‖ são
os elementos imprescindíveis para a vida, de que precisamos para realmente
permanecer vivos. Jesus não concede luxo, um adicional religioso embelezador e
aprazível, mas os ―víveres‖ imprescindíveis.
Simultaneamente podemos
ver essa auto-revelação de Jesus no contexto de toda a mensagem da Bíblia. Após
cair no pecado, o ser humano foi cortado da ―árvore da vida‖ e,
consequentemente, da vida eterna, ficando refém da morte (Gn 5.22-24). Agora
isso é anulado por Deus, ao enviar do céu o pão da vida e oferecê-lo ao ser
humano. A plenitude daquilo que segundo Ap 2.7 e 22.2 estará um dia consumado
já foi iniciada com Jesus.
Visto que o ―pão da
vida‖ consiste de uma pessoa, por enquanto Jesus ainda evita usar as metáforas
correlatas do ―comer‖. Ele se atém às expressões simples e, mesmo assim,
cabalmente expressivas: ―Vir a ele‖, ―crer nele‖. Quem ―vem a Jesus‖, solta-se
de si mesmo e desvencilha-se de toda a sua vida anterior. E quem ―crê em Jesus‖
se confia integralmente a ele. Desse momento em diante sua vida reside tão
somente em Jesus. Agora Jesus promete que o pão, ―que dá vida ao mundo‖, é
verdadeiramente acolhido e comido dessa maneira e causa seus efeitos. ―Quem vem
a mim com certeza jamais terá fome, e o que crê em mim com certeza jamais terá
sede.‖ Naquele tempo Jesus assegurou isso aos galileus com certeza absoluta.
Mil e novecentos anos de história de sua igreja confirmaram o quanto isso é
verdadeiro. Contudo, somente poderá experimentá-lo aquele que realmente vem ao
próprio Jesus e se entrega a ele.
João 6. 51 Quando a
pergunta onde, afinal, esse pão pode ser encontrado, é suscitada novamente
diante da extraordinária importância do mesmo, então Jesus tão somente pode
voltar a assegurar: ―Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer,
viverá eternamente.‖ ―Eternamente‖ tem o sentido literal de: ―para dentro do
éon‖. Ele não perecerá no deserto como os pais, mas chegará a ―Canaã‖, o novo
éon e o novo mundo, porque já traz dentro de si a vida desse novo mundo pela fé
em Jesus.
Com essas palavras
Jesus repetiu o que já havia afirmado. Agora, porém, acrescenta uma frase que
leva seu diálogo com os galileus (e conosco!) a um progresso significativo, a
saber, de forma semelhante ao que aconteceu também no diálogo com Nicodemos. Do
mesmo modo como na pergunta pelo ―renascimento‖, a pergunta pelo ―pão da vida‖
não pode ser respondida sem uma guinada para a cruz. ―E o pão que eu darei é a
minha carne para a vida do mundo.‖ Sem dúvida Jesus é em sua pessoa o pão da
vida, mas apesar disso não pode ser simplesmente recebido da maneira como agora
se encontra perante os galileus, como pão criador da vida. Antes cumpre-lhe
―dar‖ outra coisa, a única pela qual o ―mundo‖ obtém a dádiva redentora. ―Para
a vida do mundo‖ é preciso pagar um resgate, ofertar um sacrifício. Porque o
mundo é realmente é ―mundo‖, existência separada de Deus, rebelada contra Deus,
presa em pecado, trevas e morte. Será que o mundo de fato é capaz de encontrar
vida divina e chegar ao novo éon? Acaso vemos o quanto isso é ―impossível‖?
Para que essas coisas impossíveis se tornem possíveis, é preciso que aconteça
algo cuja magnitude corresponda a toda essa ―impossibilidade‖. Unicamente
através desse acontecimento é que se pode unir esse contraste total de ―mundo‖
e ―vida divina‖. É o acontecimento da cruz. O Filho dá a ―sua carne‖, sua
existência total como ser humano, para sacrifício propiciatório em favor do
―mundo‖.
Os galileus se
escandalizavam com a ―carne‖ de Jesus, sua condição humana real, por meio da
qual ele partilhava a existência deles, sendo como um deles. Como todos nós,
eles ansiavam pelo ser ―sobre-humano‖, por um salvador divino que deixasse para
trás a fraqueza e humildade da ―carne‖ e brilhasse em ―glória‖. Rejeitam a Jesus
porque ele trazia a carne tão nitidamente em si. Como ele, que era ―carne‖,
haveria de ser o pão da vida eterna? Não lhe deram crédito nisso. Veem em sua
mensagem nada mais que uma palavra presunçosa. Jesus, porém, lhes diz que
apenas através dessa ―sua carne‖ ele é capaz de ser o verdadeiro pão. Somente
porque ele se tornou ―carne‖, tem condições de andar o caminho sacrificial do
sofrimento e da morte. É óbvio que, se agora já se escandalizam com sua carne e
por isso não conseguem crer nele, como será quando sua carne estiver
dependurada no madeiro maldito, dilacerada, torturada e desfigurada?
Werner de Boor.
Comentário Esperança Cartas aos Filipenses. Editora Evangélica Esperança.
2. O sangue de Cristo
(1 Co 5.7; Rm 5.8,9)
Há uma semelhança
clara, no estudo da Páscoa, entre o cordeiro oferecido no Egito e o Senhor
Jesus Cristo, nosso Cordeiro Pascal.
Da mesma forma que o
cordeiro pascal foi sacrificado, o Senhor Jesus Cristo também o foi. A
diferença reside no fato de que o cordeiro de Êxodo não foi voluntário para
verter seu próprio sangue. Jesus Cristo se ofereceu para esse sacrifício:
Eu sou o bom Pastor, e
conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me
conhece a mim, também eu conheço o Pai e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda
tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas,
e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.
Por isso, o Pai me ama,
porque dou a minha vida para tomar a tomá-la. Ninguém má tira de mim, mas eu de
mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Esse
mandamento recebi de meu Pai. (Jo 10.14-18)
O sacrifício de Cristo
nos trouxe vida, da mesma forma que o sacrifício do cordeiro no Egito preservou
a existência dos primogênitos israelitas. A diferença é que o sacrifício de
Cristo oferece vida não apenas aos filhos mais velhos de cada família, mas a
todos que aceitarem pela fé o sacrifício de Cristo, se arrependerem de seus
pecados e nascerem de novo.
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 42.
SANGUE
Aquele fluido viscoso e
vermelho, essencial à vida biológica, que flui pelo organismo inteiro através
do sistema circulatório, levando oxigênio e nutrientes aos tecidos, e, ao mesmo
tempo, removendo o dióxido de carbono e outros materiais decompostos. Nesse
sentido literal, o sangue é frequentemente mencionado nas Escrituras (ver Gên.
37:31; Exo. 23:18 ss; II Sam. 20:12; I Reis 18:28; Luc. 13:1) onde a alusão é
ao sangue tanto de seres humanos quanto de animais irracionais.
1. Ideias das Culturas
Antigas. Nos estágios iniciais de quase todas as culturas, o sangue é encarado
com certo ar de respeito, o que tem provocado as noções mais estranhas. Alguns
atribuem ao sangue um poder misterioso, pelo que os guerreiros bebiam o sangue
de suas vítimas, a fim de adquirirem as energias vitais dos inimigos mortos.
Alguns pensavam que era perigoso tocar no sangue. Outros supunham que o sangue
derramado nas batalhas, o sangue da menstruação das mulheres, ou o sangue
perdido por ocasião do parto, poderia transmitir um contágio qualquer, pelo que
deveria ser lavado.
Os antigos semitas (ver
o artigo), identificavam o sangue com a princípio ativo da própria vida
biológica. Por essa razão, proibiam a ingestão de sangue, derramavam sangue
sobre altares consagrados, cobriam o sangue com terra, nos lugares sagrados, ou
aplicavam o sangue a pedras que representavam deuses. Segundo eles imaginavam,
desse modo os perigos e maravilhas do sangue podiam ser controlados e
utilizados. O sangue podia ser visto como perigoso ou benéfico. Por isso mesmo
era aspergido sobre os batentes das portas, para que a casa fosse protegida. Ou
então os idosos tomavam sangue, a fim de recuperar a vitalidade da juventude. E
o sangue também era empregado nas cerimônias de purificação e expiação. Alguns
povos antigos chegavam a usar sangue, ao invés de água, em ritos batismais,
As pessoas que se
consideravam íntimas bebiam um pouco do sangue uma da outra, como ato de união
e dedicação mútua. O ato algumas vezes servia de selo confirmatório de algum
pacto ou acordo, feito entre duas pessoas, ou mesmo entre duas nações. Os
estrangeiros eram admitidos como cidadãos pela troca mútua de sangue, ou pela
ingestão mútua de sangue.
2. O Sangue Usado como
Alimento. Muitas culturas antigas e modernas têm usado o sangue como alimento.
Uma das mais vigorosas tribos africanas, os zulus, bebem o sangue de seu gado.
Algumas vezes, a prática é ou era vinculada às ideias expostas no primeiro
ponto. Além de servir de alimento, esperava-se que o sangue provesse ao seu
consumidor alguma espécie de virtude. Dentro da cultura dos hebreus, era
estritamente proibida a prática da ingestão de sangue (Gên. 9:4; Lev. 3:8;
7:26), especificamente diante do fato de que a vida da carne está no sangue. Em
outras palavras, o sangue revestir-se-ia de virtudes misteriosas, tornando-se
sagrado. Portanto, não servia como artigo próprio para a alimentação.
3. O Sangue e os
Hebreus. No Antigo Testamento, a palavra hebraica dam, «sangue», aparece por
362 vezes, das quais 203 como descrições de mortes violentas, e 103 vezes, em
alusão a sacrifícios cruentos. Em três passagens do Antigo Testamento, o sangue
é diretamente vinculado ao princípio da vida (Gên. 9:4; Deu. 12:23 e Lev.
17:11). Também já verificamos que os povos semitas se apegavam a essa ideia. 0
texto de Levítico mostra que, por causa desse conceito, surgiu a ideia da
expiação pelo sangue. Mas, visto que o uso do sangue requer a morte de alguma
vítima, o sangue também era associado à morte, na antiga cultura dos hebreus.
De modo geral, pois, temos nesses sacrifícios alguma vida oferecida a Deus,
envolvendo o supremo sacrifício da vítima, ou seja, a sua morte. Em tudo isso
fica subentendida a seriedade do pecado, porquanto o pecado requer um remédio
radical. A expiação é obtida através da morte da vítima, mas igualmente, por
sua vida, oferecida no sangue.
4.0 Sangue no Novo
Testamento. o vocábulo grego aima, «sangue», além de referir-se à morte
sacrifical de Cristo, indica as ideias de reinado (João 1:13); da natureza
humana (Mat. 16:17; I Cor. 15:50); de morte violenta (vinte e cinco trechos
diferentes); e de animais sacrificados (doze referências, como se vê em Heb.
9:7,12 etc.) onde se enfatiza a perda da vida das vítimas, um conceito
destacado no Antigo Testamento. Quanto ao sangue de Cristo e o valor expiatório
do mesmo, há referências como Colossenses 1:20. Ver o artigo separado sobre
esse assunto, que provê certa variedade de referências e ideias. Os intérpretes
têm debatido se é a morte ou a vida perdida do animal que obtém a expiação.
Penso que se trata de ambas as coisas, pois, afinal de contas, é a vida de
Cristo que nos salva (Rom. 5:7) dando a entender a sua ressurreição e ascensão,
em virtude do que ele tornou-se o Salvador medianeiro permanente. Aquele mesmo
contexto, no nono versículo, afirma que o seu sangue nos justifica, o que nos
fez pensar tanto em sua vida como em sua morte e ressurreição. A vida que Jesus
viveu também faz parte de nossa inquirição espiritual, com vistas a nossa
salvação final; porque, quando procuramos imitar a vida de Cristo, passamos a
compartilhar de sua natureza metafísica, mediante operações do Espirito Santo
(II Cor. 3:18). Como é que alguns teólogos separam essas ideias inseparáveis,
como se fossem categorias distintas e valores isolados? Dentro do programa a e
salvação a vida e a morte de Jesus são fatores inseparáveis, embora em sentidos
diferentes.
5. Sentidos
Metafóricos, a. Temos visto como os sacrifícios cruentos simbolizavam tanto a
vida quanto a morte e como é óbvio, os sacrifícios do Antigo Testamento
simbolizavam a morte expiatória de Cristo. A Epístola aos Hebreus tem isso como
um de seus temas principais. Ver Heb. 7:27, quanto a uma declaração geral. b.
Estar no próprio sangue indica que um estado imundo e destituído, uma condição
de perdição (Eze. 16:6). c. Beber sangue indica ter a perversa satisfação de
haver assassinado alguém (Eze, 39:8; Isa. 49:26; Núm. 23:24). d. Ter de beber
sangue, significa ser morto como retribuição por ter-se deleitado em derramar
sangue (Apo. 17:7; Eze. 16:38). e. A vingança divina é retratada pelo ato de
mergulhar os próprios pés no sangue (Sal. 58:10; 68:23). f. Um homem de sangue
é uma pessoa cruel (II Sam. 16:7). g. O plural, sangues, aponta para homicídios
repetidos (Gên. 4:10; II Sam. 3:28). h. Tirar o sangue da boca e das
abominações significa libertar alguém do poder dessas coisas e de sua
inclinação para o homicídio. (AM ID S Z.)
CHAMPLIN, Russell Norman,
Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag.
5239-5240.
1 Cor 5.7 Na igreja não
existia ―um pouco de fermento‖ apenas no maléfico caso de impureza. Nos
capítulos subsequentes Paulo ainda evidenciará suficiente “fermento da maldade
e da malícia”. Por isso ele convoca agora para uma purificação abrangente e
profunda da igreja: “Varrei fora o velho fermento, para que sejais nova massa,
de conformidade com os asmos que sois” [tradução do autor]. Espera-se da igreja
um agir consciencioso e persistente. Paulo dificilmente pensou que a igreja
pudesse, num esforço único, acabar para sempre com o “fermento” e, sem lutar,
ser permanentemente uma ―nova massa‖. Essa hipótese é contrariada pela palavra
aos gálatas em Gl 5.16s. A carne com sua ―concupiscência‖ permanece. O ―andar
no Espírito‖ constantemente precisa impedir que essa concupiscência atinja o
alvo. O ―velho fermento‖ aparecerá repetidamente e precisa ser repetidamente
―varrido fora‖. No entanto, Paulo agora não diz ―para que vos torneis nova
massa‖. Isso seria ―idealismo‖, que tão somente redundará em fracasso. Não, ele
escreve: “para que sejais nova massa, de conformidade com os asmos que sois.”
Paulo enfatiza o ―ser‖. O ―ser‖ presenteado é o fundamento do ―fazer‖ bem-sucedido;
mas não torna obsoleto esse ―fazer‖, e sim necessário. De forma palpável
verificamos aqui a natureza da ética cristã, da concretização da vida cristã. O
princípio, a regra fundamental é: ―Seja o que você é‖ ou ―Torne-se
integralmente o que você é.‖ É óbvio que isso é sumamente ―ilógico‖. O
pensamento lógico sempre dirá: se eu sou algo, então não preciso vir a sê-lo;
se devo tornar-me algo, então eu ainda não o sou. Consequentemente, também a
atitude cristã de vida oscila com bastante frequência entre atividade sem fé,
que tenta conquistar tudo pessoalmente, e passividade ―crente‖, que ―tem‖ tudo
pela fé e por isso pensa que não precisa mais agir. Paulo, porém, sintetiza os
dois aspectos de forma ilógica e vivamente verdadeira.
No entanto, como é que
os coríntios já possuem o ―novo ser‖? Como é que já são “asmos”, “nova massa”?
Não podem sê-lo por si mesmos. Sua realidade de fato, afinal, é justamente tal
que precisam ser exortados com muita insistência, para varrer fora o velho
fermento. Somente o são ―em Cristo‖, a partir do sacrifício de Jesus. “Pois foi
imolado também o nosso passá, Cristo” [tradução do autor]. Na noite antes da
saída dos filhos de Israel do Egito a ira do santo Deus percorreu o país com o
juízo e vitimou seus primogênitos. As casas dos israelitas não estavam
―automaticamente‖ isentas do juízo. Não há acepção da pessoa diante da justiça
de Deus. A morte é a punição pelo pecado, também para Israel. Agora, porém, foi
possível entre os israelitas que um cordeiro sangrasse e morresse vicariamente
por eles, e o sangue do cordeiro pascal na porta cobria a casa e seus
habitantes diante do juízo. A igreja de Jesus não perde para Israel. Não, “foi
imolado também o seu passá, Cristo”. Sim, Cristo é de fato o verdadeiro
Cordeiro de Deus. Todos os cordeiros pascais imolados no passado no Egito e até
hoje em Israel são apenas uma ―sombra‖, antecipada, do verdadeiro Cordeiro (Hb
10.1; Cl 2.17), são indício provisório do sacrifício realmente válido, do
sangue realmente purificador, do feito de fato libertador na cruz. Em Cristo
todos os que nele creem são ―asmos‖, ―nova massa‖, ―pães doces‖, apesar de todo
velho fermento que ainda esteja apegado a eles.
Werner de Boor.
Comentário Esperança 1 Cartas aos Coríntios. Editora Evangélica Esperança.
O Imperativo Espiritual
(5.7a)
Por causa do perigo
para a igreja como um todo, Paulo profere uma ordem sonora: Alimpai-vos, pois,
do fermento velho. A referência ao fermento é extraída de Êxodo 12.18-20 e
13.6-7, onde cada família judaica recebia a ordem de se livrar de todo fermento
usado na preparação para a Páscoa. A palavra alimpai é forte e significa
“limpar totalmente, purificar... até eliminar”. O fermento velho era o mal
espiritual que permitia que a igreja tolerasse a pessoa incestuosa. Ele é
chamado de velho porque era o resíduo de seu estado pecaminoso anterior, o
qual, como o fermento, ainda estava em operação corrompendo o seu caráter”.
Paulo indica que a relutância dos coríntios em lidar com o pecado evidente em
sua igreja se devia ao fato de todos os coríntios possuírem o fermento velho em
si mesmos - “a velha disposição mundana e carnal que continuava em seus
corações, e que vinha do seu estilo de vida anterior”. A expressão Alimpai-
vos... do fermento velho significava que cada membro deveria aplicar o processo
de purificação a si mesmo, “a fim de não deixar na igreja nem uma única
manifestação do velho homem, da natureza corrupta, oculta e não corrigida”.
Cada cristão é exortado a ser liberto, não só livrando-se de todo o pecado, mas
também vivendo o tipo de vida santa que é potencialmente seu em Cristo Jesus.
O Potencial Espiritual
(5.7b)
A razão para a
preocupação de Paulo concernente à purificação do fermento velho da “corrupção
pagã e natural”, era que os coríntios poderiam perceber seu potencial
espiritual em Cristo: para que sejais uma nova massa. A remoção deste resíduo
de corrupção natural resultaria em um novo tipo de vida cristã. Nova (neos)
significa novo no sentido de que a coisa ou a condição não existiam antes.
Uma outra palavra para nova
(kainos) significa novo no sentido de diferir do que é velho. Os coríntios já
eram novos no sentido de diferirem do seu velho modo de vida. Mas agora eles
deveriam ser novos em um sentido diferente - “Sua vida e caráter cristãos devem
ser como um começo inteiramente novo”. Kling escreve sobre a nova massa: “Não
há fermento; portanto, temos como conseqüência uma totalidade moralmente
renovada pela purificação - uma igreja santa e livre do pecado, evidenciando o
seu primeiro amor e zelo”.
Paulo lembra aos
coríntios o potencial que têm por meio de uma referência ao ideal cristão:
assim como estais sem fermento, isto é, sem o fermento velho do pecado. O
método das Escrituras consiste em fazer referências aos cristãos em seu ideal,
em vez de ao seu estado real. No caso dos coríntios, a referência de Paulo
serve como um lembrete de que eles deveriam “alcançar o seu verdadeiro ideal”.
Este potencial espiritual é percebido através do poder de Cristo. O que o
cristão precisa fazer é tornar-se, na verdade, o que ele já é em potencial.
“Ele deve se tornar santo de fato, assim como o é idealmente”.
A base do potencial
espiritual da igreja é encontrada nas palavras: Porque Cristo, nossa páscoa,
foi sacrificado por nós. O verbo foi sacrificado é um aoristo, indicando um ato
definitivo e completo. Os benefícios do sacrifício consumado ainda se estendem
e se aplicam ao cristão, tanto nos dias de Paulo como nos dias atuais.
Donald S. Metz.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 278-279.
1 Cor 5.7, Dá-se seguimento
à metáfora, Paulo os concita a “ purificar o velho fermento” (o verbo traduzido
por “ purgar” , AV, tem definidamente a ideia de purificar). O ponto que
focaliza é que os velhos hábilos não são apenas maus — são corruptores.
Exatamente como o fermento, eles agirão até permear tudo. A única coisa a fazer
é livrar-se deles, inteiramente. Assim Paulo fala de uma nova massa. A igreja
cristã não é simplesmente a velha sociedade remendada. É radicalmente nova. O
mal que caracteriza os homens do mundo foi retirado, e o apóstolo pode dizer,
sois de fato sem fermento (Weymouth, “ livres de corrupção” ). Ele não diz, “
Deveis ser sem fermento” , mas afirma um fato. É isso que os cristãos
re,almente são. A inferência é que não lhes compete reintroduzir o velho
fermento. Gar, pois, introduz a razão de sua confiante asserção acerca do
estado deles. “ Cristo, a nossa páscoa, foi sacrificado” (AV; assim no grego).
É isto que faz novas todas as coisas para os cristãos. Com Sua morte, Cristo
pôs fora de ação o pecado deles. Fez com que eles ficassem sem fermento. A
páscoa era a comemoração anual da libertação do jugo do Egito no tempo antigo.
Os israelitas tinham
oferecido o seu cordeiro ou cabrito para que o anjo destruidor passasse sobre
eles. Foram libertos, e a ralé escrava emergiu do Egito como o povo de Deus. Ao
empregar essa figura, Paulo lembra a seus leitores que a morte de Cristo os
libertou de um perigo mortal, e os constituiu povo de Deus. Neste contexto,
porém, a coisa importante é a emersão para uma vida nova. Uma característica da
observância normal da páscoa era a solene busca e destruição de todo o
fermento, antes de iniciar-se a festa (durante sete dias só se podia comer pão
sem fermento). Este expurgo de todo o fermento era feito antes de a pascha, a
vítima pascal (cabrito ou cordeiro), ser oferecida no templo. Mas Paulo
assinala que “ Cristo, a nossa páscoa” , já foi sacrificado. É tempo, e mais
que tempo, de ter sido expurgado todo o fermento.
LEON MONIS. Comentário
Bíblico 1 Coríntios. Editora Vida Nova. pag. 71-72.
Rm 5.8-9. Os três
versículos seguintes retornam ao significado objetivo do amor de Deus. Eles nos
dão a prova mais clara possível de que Deus ama os homens, por mais pecadores
que eles sejam. “Pois o amor de Deus por nós é provado nisto (v. 8), porque
Cristo morreu por nós quando ainda éramos fracos (v. 6), pecadores (v. 8),
ímpios (v. 6), inimigos (v. 10). Ele não esperou por nós, mas veio para nos
encontrar e ir diante de nós”.238 Porque Cristo, estando nós ainda fracos - sem
forças para nos salvarmos - morreu por nós (6). A nossa condição natural é a da
incapacidade moral. Nós não temos força em nós mesmos para sermos justificados.
Mas por meio da Cruz de Cristo recebemos a capacitação sobrenatural para sermos
convertidos. Os teólogos chamam isto de graça prévia, isto é, a graça que vem
antes da justificação. O pecador incapacitado também é descrito como ímpio (cf.
Ef 2.12). Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo
bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova (synistesin, “estabelece”, e,
consequentemente, “prova”) o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós
(7-8)... sendo inimigos (10). Se quisermos saber o que é o amor (agape) de
Deus, Paulo responde mostrando-nos a morte de Cristo. Em nenhum outro lugar
existe uma revelação de amor como aquela que encontramos na Cruz. Somente ali
descobrimos o significado do amor de Deus. Outra vez, a linguagem e o
pensamento de Paulo são próximos a João: “Conhecemos a caridade nisto: que ele
deu a sua vida por nós” (1 Jo 3.16). Pela cruz, temos uma abertura ao coração
de Deus e vemos que se trata de um amor que se dá e que se sacrifica.
Paulo contrasta o amor
divino com o amor humano. O amor humano é motivado pela natureza do seu objeto
- sob certas condições pode levar-nos a morrer por um justo. O amor divino não
é motivado pela justiça do seu objeto, mas se dá para os pecadores, até mesmo
para os seus inimigos. O amor divino jorra do próprio ser de Deus, como um poço
artesiano. A sua única explicação é que “Deus é amor”. É a natureza do amor
agape que se derrama “sobre maus e bons” (veja Mt 5.43-48). É esta revelação de
Deus como Agape que constitui a exclusividade e a singularidade do evangelho
cristão. Quando perguntado se a sua religião ensinava que Deus o amava, um
estudante universitário hindu respondeu afirmativamente. A pergunta seguinte,
“Quando Ele ama você?”, ele respondeu “Quando eu sou bom”. A mensagem cristã é
que Deus nos ama, mesmo com as nossas iniquidades e hostilidades: Mas Deus
prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda
pecadores (8). A manifestação do amor de Deus se dá por meio de um evento
histórico - a cruz; a aplicação é feita pelo Espírito Santo (v. 5).
Tendo estabelecido o
fato do amor de Deus, Paulo retorna ao tema principal do parágrafo. Como Deus
já fez tanto por nós, temos a expectativa da salvação final. Logo, muito mais
agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira (9).
Chegamos ao clímax da seção. Justificados recorda o versículo 1, desfrutando no
presente a alegria da paz com Deus. Pelo seu sangue deve ser interpretado como
“por meio do seu sangue”. Sobre esse pensamento, veja os comentários sobre
3.25. Seremos salvos aponta para o futuro. Sobre os ensinos de Paulo sobre a
salvação, veja os comentários sobre 1.16 e 13.11. Esta salvação pertence
essencialmente ao futuro, e o verbo aqui está, como é usual, no futuro. Salvos
da ira se refere à libertação final no juízo final; esta salvação é garantida
pelo fato da justificação ser uma antecipação do veredicto favorável daquele
dia. Sobre o significado de ira, veja os comentários sobre 1.18 e 2.5.
Donald S. Metz.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 81-82.
O Teste da Edificação
(Rm 3.12-15). Em referência ao teste, ou inspeção da edificação, várias coisas
são claras. Primeiro, há materiais alternativos que podem ser usados. Paulo
menciona ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha (12). O material é
de dois tipos distintos e opostos, “rico e durável ou insignificante e
perecível”. Um tipo sugere cristãos maduros e estáveis fundados em doutrinas
sólidas, e rica experiência. O outro tipo é a palha frágil da opinião humana,
os pedaços de madeira aleatórios da sabedoria humana. Isto sugere membros da
igreja imaturos e instáveis.
Os olhos de Paulo não
estão enfraquecidos nem a sua mente está nublada. Ele levanta voo além dos
limites do tempo e do espaço para declarar que tanto as coisas do presente (os
acontecimentos contemporâneos) como as coisas futuras (os eventos futuros),
estão sujeitas ao controle soberano de Cristo. E uma vez que o cristão pertence
a Cristo, todas as coisas pertencem a ele. E vós, de Cristo, e Cristo, de Deus
(23). As discussões medíocres dos coríntios estavam reduzidas à
insignificância, à luz das possibilidades da graça através de Cristo. Visto que
Cristo é o próprio Deus revelado, Ele iria unir todos os crentes em Deus.
Donald S. Metz.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 264, 266.
Rm 3. 10-18 Quando no
versículo anterior Paulo afirmou: “já temos demonstrado”, era óbvio que isso se
deu unicamente por meio do amparo na Escritura. Como prova surge uma longa
citação composta, oriunda primordialmente de salmos de lamentação, sobre o
afastamento geral das pessoas de Deus. O apóstolo abrevia e complementa as
frases, aguça-as e funde-as num bloco sólido por meio do constante: “não há…”,
o que tem o sentido de: “Não há… nem um sequer…”.
Os v. 10-12 denunciam
maciçamente a ruptura da aliança: todos se extraviaram (v. 12). E nisso retornam
elementos da descrença gentílica. Pois a injustiça de 1.18 é citada aqui no v.
10a: Não há justo. A insensatez dos corações de 1.21,31 surge aqui no v. 11:
não há quem entenda. A indiferença perante Deus, de 1.28, retorna no v. 11b:
não há quem busque (verdadeiramente) a Deus. Repete-se pois no v. 12b a
condenação da perversão moral da sociedade, de 1.28,32: à uma se fizeram
inúteis.
Rm 3.22b,23 Neste
ponto, Paulo insere brevemente no seu raciocínio o resultado de 1.18–3.20.
Porque não há distinção (entre judeus e gentios): pois todos pecaram e carecem
da glória de Deus. De acordo com Sl 8.5,6, o ser humano na verdade está logo
abaixo de Deus. Como reflexo de Deus ele traz sobre a cabeça uma coroa de
glória, com a Criação aos seus pés. Ele, porém, possui essa dignidade somente
quando persevera na adoração de Deus, assim como a lua somente brilha quando
está voltada para o sol. Por meio da trágica alteração de percurso mencionada
em 1.21, o ser humano perdeu sua irradiação prevista por Deus. Em 1.24-32 e
3.10-18 Paulo retratou o ser humano desviado de Deus e, por isso,
assustadoramente sem brilho. Segundo 2.7,10, no juízo final estará em jogo a
pergunta se Deus nos conferirá esse brilho reluzente da dignidade humana
original.
Adolf Pohl. Comentário
Esperança Cartas aos Romanos. Editora Evangélica Esperança.
3. A Santa Ceia.
Recordemos um pouco
sobre a Santa Ceia. Ela é citada em pelo menos dois textos centrais: no
Evangelho de Lucas e na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios.
Lucas 22 mostra Jesus
ceando com seus discípulos antes de ser entregue nas mãos daqueles que o haviam
de matar. “Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça” (Lc
22.15). Ele sabia que em pouco tempo seria morto, mas fez questão de ter um
momento de comunhão com aqueles que iriam dar prosseguimento à sua obra na
terra. Aquela refeição mostrou o traidor, mas mostrou também a importância que
o Senhor deu em falar que o Reino de Deus não terminaria com sua morte. Foi um
momento reservado aos que eram próximos do Senhor.
Se em Lucas nos é
mostrado o momento do Senhor com seus discípulos antes de sua morte, em
Coríntios Paulo descreve sua tristeza para com os crentes daquela igreja sobre
vários aspectos, e a Ceia do Senhor era um desses motivos. Há indícios de que
os crentes que tinham mais posse levaram evidentemente mais recursos para a
ceia, e os mais pobres, menos recursos. Esses alimentos deveriam ser reunidos
para que todos pudessem ter uma refeição em conjunto, em comunhão, mas esse
sentimento era desconhecido naquela igreja. Os que tinham levado mais comida
pegavam antecipadamente o que tinham levado e o comiam, e o mesmo o faziam os
que tinham levado pouca comida. Eles não sabiam dividir seus recursos para que
todos comessem juntos e na mesma medida. Paulo diz que “assim um tem fome, e o
outro embriaga-se” (1 Co 11.21). O versículo 22 dá a entender que essa atitude
partia dos crentes mais abastados: “Não tendes, porventura, casas para comer e
para beber? Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm?” De
qualquer forma, foi necessário que Paulo corrigisse os desvios na Ceia do
Senhor, ordenando que esperassem uns pelos outros.
Os coríntios deveriam
aprender que a Ceia do Senhor é um momento sublime, em que somos motivados a
lembrar da morte do Senhor até o seu retorno. Não é um momento de manifestação
de egoísmo, e ninguém pode participar dela de forma indevida, sem ter em mente
que o sangue de um inocente foi dado em nosso lugar, para que tivéssemos vida.
Mais que isso, é um momento de anúncio do sacrifício de Cristo até que Ele
retorne.
A Páscoa nos traz
diversas lições espirituais, como obediência, sacrifício e comunhão. Que
possamos atentar para essas lições e ter em mente que Deus preza por todos eles
hoje.
"Que atitudes dos
pais israelitas fez com que seus primogênitos fossem salvos? A fé no que Deus
disse e a obediência ao que Deus disse. Fé e obediência precisam caminhar
juntas."
COELHO, Alexandre;
DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra
Prometida. Editora CPAD. pag. 43-44.
A ÚLTIMA CEIA. A
tradição que Paulo recebeu e registrou pertence ao mais primitivo registro do
que aconteceu na noite em que Jesus foi traído (1 Co 11.23-26). Este registro
afirma que foi à noite que houve uma refeição (Seutvov), que Jesus tomou o pão,
o partiu e disse, “Isto é o meu corpo, que é dado [partido] por vós; fazei isto
em memória de mim”. O mesmo com o cálice: “Este cálice é a nova aliança no meu
sangue. Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” Não há
menção da Páscoa no registro de Paulo, exceto de uma forma circunstancial: o
partir do pão de forma solene, o beber do vinho no cálice, a referência à
aliança. O registro sinóptico não se diferencia em essência do paradosis
paulino, exceto por ser apresentado como uma ceia pascal (cp. Mt 26.17; Mc
14.12; Lc 22.7).
a. A data da
crucificação. Se a referência de João ao sacrifício do cordeiro pascal, em 18.28,
refere-se à verdadeira ceia pascal, então a Ultima Ceia não poderia ter sido a
ceia pascal. Os sinópticos são explícitos ao declarar que a crucificação
aconteceu no primeiro dia da Páscoa (15 de Nisã). Há dois possíveis problemas
relativos a isto: os eventos descritos na história da paixão teriam que ser
comprimidos num curto período de tempo; o envolvimento das autoridades judaicas
no negócio sórdido de uma crucificação no primeiro dia de uma grande festa é
difícil de aceitar. J. Jeremias rejeita as dificuldades que se levantam em
relação a crucificação em 15 de Nisã (The Eucharistic Words of Jesus [1955],
46ss.), mas pelo lado judaico isto é considerado pura impossibilidade (cp. J. B. Sega, The Hebrew Passover [1963], 244 n 8; cp.
também D. Daube, The NT and Rabbinical Judaism [1956], 312). D.
Chwolson tentou resolver a dificuldade pressupondo duas datas para a Páscoa,
uma para se ajustar ao calendário farisaico e a outra para ao saduceu (Das
letzte Passamahl Christi under-Tag seines Todes [1892, rev. 1908]). Através da
literatura de Qumran sabemos que as diferenças no calendário eram causa de
dissensão (cp. M. Black The Scrolls and Christian Origins [1961], 199ss.). Não
há evidência de que os saduceus, que tinham a superintendência do Templo,
tivessem se comprometido em tão importante assunto como permitir duas datas
distintas. Mlle. Annie Jaubert trabalhou sobre a premissa de dois calendários
diferentes: um velho calendário sacerdotal baseado no sistema solar e o
calendário lunar oficial da época. De acordo com o sistema
solar, a Páscoa cairia
sempre numa quarta-feira;
0 sistema lunar tomaria
a festa móvel. Sugere-se então que a discrepância nos evangelhos deriva-se do
duplo sistema (cp. La Date de la Céne [1957]). De acordo com uma antiga
tradição da igreja/ Jesus foi preso na quarta-feira (cp. Epifânio, de fide
XXII, 1), o que significa que a Ultima Ceia teria acontecido numa terça-feira. A teoria de Mlle. Jaubert foi grandemente aceita (cp.
G. R. Driver, The Judaean Scrolls [1965], 330ss.; John Bowman, op. cit. 257ss.;
Norman Walker, “Conceming the Jaubertian Chronology of the Passion”, Nov Test
III [1959], 317ss.). Mas a teoria fica de pé e cai com a
suposição de duas celebrações pascais. Se os sinópticos e João estão falando da
mesma Páscoa “a discrepância não pode ser reconciliada” (Driver, op. cit. 331).
George Ogg mostrou porquê a teoria é insustentável (cp. Historicity and
Chronology in the NT [1965], 82s.). Ao mesmo tempo há um grande consenso de que
a Ultima Ceia foi a ceia pascal: nem a teoria do kiddush ou do haburah são
adequadas (cp. Bowman, op. cit. 274s.). Jeremias sugere 14 aspectos de uma ceia
pascal (op. cit. págs. 136ss.) e admite que a partir das evidências do NT
nenhuma resposta uniforme é possível (TWNT, V, 895ss.). Uma solução para o
dilema seria aceitar que a Ultima Ceia foi a ceia pascal, mas em antecipação à
festa, o que significaria que não havia cordeiro pascal; pelo menos o cordeiro
pascal nunca é mencionado no NT (apesar de Bowman admitir sua presença, op.
cit. 266). Tão simples solução toma possível a reconciliação das duas
tradições: João estava certo, pois a Páscoa começou na sexta-feira à noite; os
sinópticos estavam corretos, pois a Ultima Ceia foi a ceia pascal mesmo sem o
cordeiro (cp. J. Jocz, A
Theology ofElection [1958], 37; G. Ogg, op. cit. 85s.).
b. A ceia memorial.
Anamnesis é a ideia fundamental da Páscoa: Israel traz à memória o que Deus tem
feito pelo seu povo (cp. Hans Kosmala, Nov Test, IV [1959], 81ss.). No contexto
pascal, as palavras da instituição da Ultima Ceia se encaixam bem ao propósito
da festa. Mas está faltando o convite para “lembrar” nos sinópticos, com
exceção da VS mais longa de Lucas (cp. Lucas 22.17-19mg.). Isto levanta a
questão sobre qual texto é o original. A questão é complicada pelo fato de que
a VS mais longa está sob suspeita de ter assimilado o texto de 1 Coríntios
11.24s. Depois de um estudo cuidadoso, Jeremias escolheu a VS mais longa de
Lucas e atribui as similaridades verbais ao fato de que ela deriva da fórmula
litúrgica (op. cit. 91,102). Isto coincide com o próprio testemunho de Paulo de
que ele recebeu a tradição (cp. Birger Gerhardsson, Memory andManuscript
[1961], 321 ss.). A favor da VS mais longa de Lucas está a menção de dois
cálices, um antes e um após a refeição. Isto está de pleno acordo com os
costumes judaicos de ter o cálice kiddush no começo da festa.
O fato de anamnesis não
ser mencionado em Marcos não significa que a instituição da Última Ceia era
desconhecida naquele evangelho, como deduz Bowman (op. cit. 266). Sendo
admitido o contexto pascal, o anamnesis já está automaticamente incluído — toda
a festa (Ex 12.14). As palavras interpretativas que acompanham os atos manuais
estão em conformidade com a obrigação de explicar o significado do “ritual”
— (Êx 12.26; Pes 10.4).
Jesus seguiu o costume mas reinterpretou a Páscoa sob o ponto de vista do
evento messiânico: o Messias assumiu o papel do cordeiro pascal. É, portanto,
correto dizer que a Ultima Ceia proporciona à Páscoa um novo conteúdo (cp. J.
Steinbeck, Nov Test III [1959], 73). Daqui em diante o pão e o vinho do seder
se tomam os sinais do sacrifício do Messias na cruz. A ceia pascal se toma uma
ceia messiânica.
Os estudiosos suspeitam
que Paulo tenha recebido influências helénicas em vista das práticas das
refeições cúlticas nas religiões pagãs. O contexto pascal da Ultima Ceia toma
tais suspeitas infundadas (cp. E. Kãsemann, Exegetische Versuche und
Besinnungen [1960], 11). Sverre Aalen nega qualquer ligação com rituais não
judeus e aponta para o fato de que na Ultima Ceia não há indicação de uma ceia
compartilhada entre Deus e o homem (Nov Test VI, 151).
c. A Ultima Ceia e a
Páscoa. Na época do Templo, a ceia pascal consistia não apenas do cordeiro, mas
também da festa especial do sacrifício, da qual todos participavam (cp. 2 Cr
35.13). Comer o sacrifício era uma ocasião alegre e dava coesão à vida
comunitária. Isto deve ser distinguido da oferta pelo pecado, que era
totalmente queimada e nunca consumida. Para os hebreus, comer o sacrifício
nunca significou comer seu Deus. A participação no ai do Messias cria um
problema se a Ultima Ceia for concebida puramente em termos sacrificiais. Por
esta razão a ênfase na Última Ceia deve ser colocada tanto sobre a aliança
quanto sobre a oferta pelo pecado, se não mais (cp. Aalen, op. cit. 148s.). O
sangue que selou a aliança não é o sangue derramado sobre o altar, mas o sangue
borrifado sobre as pessoas. Há uma correspondência entre a Última Ceia e Êxodo
24.11; os anciãos de Israel viram Deus e comeram e beberam.
A aliança está no
centro do registro da Páscoa. Na noite do Êxodo, Deus se revelou como o Deus
dos pais que se lembraram sua aliança (Êx 2.24; 3.15). Na noite da
crucificação, esta aliança foi reafirmada pela voluntariedade do Messias de
derramar seu sangue. O cordeiro pascal não é, portanto, suficiente para
explicar o sentido completo da Última Ceia; a aliança se impõe como o tema que
cobre com a arca.
Isto levanta o problema
do significado em que sentido é uma nova aliança? O escritor aos Hebreus e
Paulo, algumas vezes, dão a impressão de uma ruptura radical: o primeiro
mandamento é colocado de lado “por causa de sua fraqueza e inutilidade” (Hb
7.18); se a primeira aliança tivesse sido feita sem defeito não haveria
necessidade de uma segunda (8.7); “Quando ele diz nova, toma antiga a primeira”
(8.13); aquele que está em Cristo nova criatura é; as coisas velhas já
passaram, eis que tudo se fez novo (2Co 5.17).
Desde Marcião tem
persistido uma tendência de separar os dois Testamentos e de compreender o
“novo” num sentido radical. A exposição de Paulo sobre o destino de Israel (Rm
9-11) toma tal ruptura impossível. Os Pais da Igreja que falaram de uma
“mudança de aliança” (cp. Lactâncio, Divinae Institutiones IV, 11) fizeram
violência à continuidade da revelação. A doutrina do Logos não permite tal
ruptura; o Cristo preexistente já falava no AT (cp. I Pe 1.11). O escritor de
Hebreus baseia seu argumento na premissa de que o Cristo preencamado estava
presente na história de Israel (cp. W. Manson, The Epistle to the Hebrews
[1951], 79s., 82,96,184ss.). O novum, então, deve ser compreendido em conexão
com o evento messiânico. A Nova Aliança coloca a Velha Aliança à margem de seu
cumprimento escatológico, mas o povo de Deus é uma continuação de Abel até os
dias de hoje (cp. Melanchthon, On Christian Doctrine [1965], 232). Cristo como
o telos da lei (Rm 10.4) traz uma Nova Era, mas não muda as promessas de Deus.
A Nova Aliança é chamada “melhor” que a velha (Hb 8.6) porque Deus em Cristo
cumpre sua promessa de escrever sua lei no coração dos que creem (Hb 8.8ss.). A
Última Ceia, portanto, continua o tema da Páscoa no novo contexto messiânico.
(1) É uma festa em
memória da pessoa e obra do Messias. O anamnesis vai além dos eventos
históricos e se toma uma proclamação e confissão de fé (cp. ICo 11.26).
(2) É uma declaração de
fidelidade entre o Mestre e os discípulos, expressando coesão e uma mútua
interdependência da família cristã.
(3) Reafirma a antiga
aliança, selando-a no sangue do Messias.
(4) Expressa a alegria
da salvação e a esperança escatológica do triunfo definitivo do Messias (cp. J.
Steinbeck, op. cit. 71 ss.)
d. O êxodo cristão. A
ideia fundamental da mensagem do NT é o cumprimento messiânico; Jesus é aquele
de quem Moisés e os profetas escreveram (Jo 1.45). O Messias, através de sua
vida, obra, morte e ressurreição realizou uma “salvação eterna” (Hb 5.9). A lei
era incapaz de fazer isto, porque a lei não tomava nada perfeito (7.19); ela
somente serviu como um provisório até Cristo vir (G1 3.24). A salvação de YHWH,
como demonstrada na história do Êxodo (cp. Êx 14.13), era apenas um prenúncio
do que estava por vir. Todos os atos de Deus no AT apontam para um
acontecimento futuro. Um dia virá, quando o Senhor se revelará como “um
guerreiro que dá vitória” (Sf 3.17). A diferença entre a redenção do Egito e a
salvação messiânica não está nos períodos em que ocorreram. A salvação bíblica
está sempre arraigada no tempo e na história; esta é sua característica mais
peculiar (cp. Daube, op. cit. 271). A distinção não se dá também porque uma é
física (ou política) e a outra espiritual. Mas a distinção j az antes na área
da escatologia; a salvação messiânica é definitiva. Os rabinos consideram a
redenção do Egito como um prenúncio da redenção final (Daube, ibid. 191), o NT
a reivindica como um fato realizado. A Páscoa é o começo da jornada que o
Messias completa ao alcançar sua meta.
“Salvação eterna”
significa que não pode haver outra salvação após o evento messiânico, que é o
definitivo. A aliança eterna que Deus prometeu aos pais (Jr 32.40; 50.5; cp. Is
55.3; Ez 16.60) foi aogra estabelecida e selada no sangue do Messias (Hb
13.20). Em Hebreus a dissolução do culto, a mudança do sacerdócio e a remoção
da lei são as consequências do evento messiânico. Cristo se tomou o caminho
vivo (10.20) para o interior do santuário (6.19), o novo Sumo Sacerdote que,
por seu sacrifício, tomou possível ao homem aproximar-se da presença do próprio
Deus (10.20ss.).
Bowman detecta um
paralelo esboçado em Marcos entre Moisés e Jesus (op. cit. 157). Mas a
semelhança não é uma criação artificial. Ao contrário, deriva do tema pascal; o
Êxodo fala de salvação. Jesus completou o que Moisés começou, mas nunca pôde
realizar num sentido definitivo. A verdadeira libertação é a libertação do
pecado. Ninguém que é escravo do pecado é verdadeiramente livre. Somente aquele
a quem o Filho liberta, é de fato livre (Jo 8.34s.). Paulo chega a uma
conclusão parecida: os pais estavam todos debaixo da nuvem, passaram pelo mar,
foram batizados em Moisés, comeram do manjar espiritual e beberam da fonte
espiritual e, ainda assim pereceram no deserto (I Co 10.1-5). O Êxodo teve um
objetivo limitado, que não foi alcançado até que uma nova geração viesse. Ele
é, portanto, apenas uma parábola da jornada do homem ao seu destino final — a
Terra Prometida. Esta jornada não pode ser feita em sua própria força. O
escravo tem que se tomar liberto do Senhor (I Co 7.22) e a alforria acontece na
cruz de Jesus Cristo. Em Jesus os homens se tornam filhos de Deus (Gl 4.4-6) e
gozam da liberdade dos filhos de Deus (Rm 8.2ss.). O Êxodo do Egito para a
terra de Canaã conduz além da história para a “Cidade” cujas fundações tem
“Deus como arquiteto e edificador” (Hb 11.10). Enquanto que o Êxodo histórico
foi limitado à experiência de um povo, o Êxodo cristão está aberto às nações do
mundo. O destino final do homem é a Jerusalém celestial, a cidade da liberdade
(G1 4.26).
MERRILL C. TENNEY.
Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 787-789.
A Ultima Cela: a Páscoa
Cristã
Um acontecimento tão
importante como aquele que deu origem à nação de Israel não poderia ser ignora·
do pelo Novo Testamento. Isso pode ser comprovado nos cinco pontos abaixo:
1. A morte de Cristo,
que ocorreu exatamente no período da páscoa, sempre foi considerada um evento
capital para os primeiros cristãos, e daí por diante, durante todo o
cristianismo. Jesus é chamado de nosso "Cordeiro pascal- (ver I Cor. 5:7).
Isso tem sido associado pelos cristãos à ideia de expiação e livramento, que
nos liberta dos inimigos da alma. 2. A ordem de não ser partido nenhum osso do
cordeiro pascal foi aplicada por João às circunstâncias da morte de Jesus
Cristo (ver Êxo. 12:46 e João 19:36), pelo que foi estabelecido um vínculo
entre os dois eventos, fazendo o primeiro ser símbolo do segundo.
A ideia de expiação,
como é patente, faz parte vital da questão.
3. O cristão (tal como
os antigos israelitas) deve pôr de lado o antigo fermento do pecado, da
corrupção, da malícia e da desobediência, substituindo-o pelos pães asmos da
sinceridade e da verdade. A santificação (vide) faz parte necessária da
experiência cristã.
4. A última Ceia é
exposta nos evangelhos sinópticos como uma refeição pascal. O evangelho de João
(18:28; 19:14) apresenta o fato de que a refeição foi tomada antes da
celebração, e Jesus foi crucificado ainda naquele mesmo dia (lembrando que,
para os judeus, o dia começava às 18:00 horas). Para muitos, isso constitui um
dos grandes problemas de harmonia dos evangelhos, sobre o que abordo no NTI,
nas passagem envolvidas. Porém essa pequena deslocação cronológica em nada
contribui para anular a associação da última ceia com a pascoa. Talvez o Senhor
Jesus tenha antecipado a refeição por algumas poucas horas. Nesse caso o quarto
evangelho expõe a correta cronologia quanto à -questão, O ensino paulino sobre
a última ceia (1 Cor. 11:23-26) faz com que a mesma seja um memorial tanto da
morte libertadora de Cristo quanto da expiação. Ambos os elementos faziam parte
da páscoa do Antigo Testamento, segundo já vimos. Paulo não menciona
especificamente a páscoa, Daquela seção, embora ele o faça em I Cor. 5: 7.
Eusébio aceitava o conceito da páscoa cristã no sacrifício de Cristo (ver Hit.
5,23,1). E essa também era a ideia tradicional da Igreja antiga. É interessante
que a palavra hebraica par", páscoa, pascha, é tão parecida com a palavra
grega para sofrer, péscbo, que alguns cristãos antigos fizeram a ligação entre
elas, embora não haja qualquer conexão histórica entre esses termos. Cristo
sofreu e ele é a nossa pascoa, um jogo de palavras empregado por Eusébio. Para
os cristãos, a palavra grega anámne (memorial), é uma palavra-chave. A ceia do
Senhor é um memorial que deve ser mantido vivo, até que o Senhor retorne. Essa
é a ênfase paulina, que não se vê nos evangelhos sinópticos, embora. apareça em
Luc. 22.19. Provavelmente, esse elemento foi uma adição crista às declarações
feitas por Jesus, embora sugerida pelo que ele havia dito, se é que ele mesmo
não ensinou assim. Por outro lado, é possível que Mateus e Marcos tenham
omitido uma afirmação genuína de Jesus, e que Paulo. e Lucas preservaram. O que
é certo é que Jesus reinterpretou a páscoa em consonância com as suas próprias
experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja cristã como uma daquelas
muitas coisas que receberam cumprimento e adquiriram maior significação na
pessoa de Cristo, retendo o tipo de símbolo e de lições que descrevi na quarta
seção deste artigo, acima.
A ideia de pacto também
se faz presente. Yabweh firmou um pacto com a emergente nação de Israel. E
Jesus estabelece um pacto com sua emergente Igreja.
5. O êxodo cristão. Não
nos deveríamos esquecer desse aspecto. A páscoa do Antigo Testamento marcava o
começo de urna saída da escravidão; e, de fato, era o poder por detrás dessa
libertação. Assim também, em Cristo, encontramos um êxodo que nos liberta da
velha vida com sua escravização ao pecado. No sentido teológico, algo foi
realizado que não poderia ter sido realizado pela lei. Esse é o tema principal
tanto de Paulo (com sua doutrina da justificação pela fé) quanto do tratado aos
Hebreus. O êxodo judaico libertou um povo inteiro da servidão física. O êxodo
cristão oferece a todos os homens a libertação do pecado, bem como a outorga do
Reino da Luz, onde impera perfeita liberdade. Em Cristo, . pois, os homens
podem tomar-se filhos de Deus (Gâl. 4:4-6), transformados segundo a imagem do
Filho (Rom. 8:29), participantes da natureza divina (11 Ped. 1:4; Col. 2:10). E
agora eles olham para a Cidade celeste corno a sua pátria, da mesma maneira que
Israel buscava uma nova pátria (ver Heb, 11:10). (AM B E NO SEGWZ)
CHAMPLIN, Russell
Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos.
pag. 101-102,
I Cor 11. 23-25 “O
Senhor Jesus, na noite em que foi entregue” [TEB]. Sempre temos de nos lembrar
que a palavra ―Senhor‖, desgastada para nós, era um conceito poderoso e de
conteúdo significativo. Está agindo Aquele que era kyrios, ―Senhor‖ em sentido
pleno. Ao mesmo tempo, porém, ele é mencionado com seu nome pessoal ―Jesus‖.
Por ter-se tornado ser humano ele tinha condições de entregar corpo e sangue
por um mundo perdido. Ele age ―na noite em que ele foi entregue‖. Paulo está
usando a mesma palavra ―entregar, abandonar‖ empregada também em sua poderosa
afirmação de Rm 4.25; 8.32. Por isso também na presente passagem não deve ter o
intuito de salientar especialmente a traição de Judas. Essa noite não se
caracteriza basicamente por um detalhe assim, mas o que determina todo o
acontecimento é que agora o kyrios, o ―Filho‖ foi ―entregue‖ pelo próprio Pai,
no presente caso ―entregue‖ ao juízo e por isso também ao mundo, ao diabo, ao
abandono por Deus. Isso nos revela que o Pai não suporta passivamente o
sofrimento e a morte do Filho, mas que nisso o
amor sacrifical do Pai
é tão incompreensivelmente grande quanto o amor do Filho, que obedientemente se
deixa sacrificar.
O Senhor Jesus “tomou o
pão e, depois de oração de graças, ele o partiu e disse: Isto é meu corpo que é
para vós” [tradução do autor]. Também agora, quando Jesus vê toda a realidade
de sua paixão e morte diante de si no ―partir do pão‖, ele ―agradece‖. Não é
lamento nem tampouco pesar pela despedida que preenchem seu coração, e sim a
gratidão. Seu corpo partido, afinal, é “o para vós”, como é dito aqui com a
mais lacônica reserva bíblica. Nesse breve e contido ―para vós‖ concentra-se
tudo: todo o amor que se entrega pelos culpados e perdidos, e todo o imenso
ganho que resulta desse sacrifício, a eterna redenção dos perdidos. É por isso
que Jesus consegue agradecer; e por essa razão sua igreja pode celebrar esse
―partir do pão‖, essa lembrança da entrega, paixão e morte como santa festa de
alegria.
Nada é dito sobre a
distribuição do pão, sobre receber e comer. Os participantes daquela ceia na
última noite ficam completamente fora do foco. Unicamente o próprio Senhor e
sua ação e fala preenchem tudo. No entanto, o pão foi ―partido‖, a fim de ser
distribuído aos companheiros da ceia e comido por eles. Jesus não protagonizou
uma ação simbólica, a fim de expor aos discípulos uma verdade de maneira
figurada e compreensível, mas com o pão partido ele lhes deu seu corpo. Não um
corpo místico, uma substância transfigurada e sobrenatural, mas justamente
corpo terreno, partido por eles. Contudo, agora recebem verdadeiramente esse
corpo com todo seu sentido de salvação e o ―comem‖, ou seja, acolhem-no para si
com toda sua realidade.
Jesus não queria
celebrar apenas essa uma ceia com seus discípulos e não queria conceder seu
amor apenas a esse pequeno grupo. Ele olhou para a igreja de todos os tempos e
por isso ordenou expressamente: “Fazei isto em memória de mim.” Desse modo a
ceia não se torna mera ―celebração memorial‖. O ―recordar‖ autêntico traz à
presença. A igreja de fato tem necessidade de que toda a sua perdição e toda a
magnitude da ação redentora de seu Senhor sejam expostas vivamente diante dela.
Também o crente repetidamente começa a ―esquecer‖ quem ele é e o que o Senhor
fez por ele. Ao receber, tomar e comer no pão o corpo partido de seu Senhor, a
igreja ―recorda‖ toda a história da salvação de Deus em Cristo. Porém esse
―recordar‖ não consiste apenas de ―pensamentos‖ e recordações, mas de ―fazer‖,
uma ação, um verdadeiro receber. De qualquer forma, o próprio Paulo estava
convicto da ―participação‖ real no corpo do Senhor, como já constatamos em 1Co
10.16.
“Do mesmo modo também o
copo após a refeição” [tradução do autor]. “Do mesmo modo” como com o pão,
Jesus procedeu com o copo. Também o ―tomou‖, proferiu sobre ele a oração de
graças, e o ofereceu aos participantes na mesa, como o pão. Fica explícito o
quanto a ―santa ceia‖ estava inserida na refeição toda e não representava um
ato fechado em si próprio, como entre nós. A partição e distribuição do pão pelo
dono da casa fazia parte do começo de uma refeição. Ela prosseguia até o final,
e somente agora, ―após a refeição‖, bem depois da distribuição do pão, o copo é
abençoado e oferecido.
De maneira mais clara
que no caso do pão Jesus profere aqui todo o significado de salvação da dádiva:
“Esse copo é a nova aliança em meu sangue.” A declaração torna singularmente
perceptível para nós que apesar de toda a realidade da dádiva de modo algum se
trata de quaisquer substâncias sagradas. De acordo com a própria palavra de
Jesus, não está no copo propriamente ―o sangue‖, e sim ―a nova aliança‖, que
por sua vez somente se concretiza ―no sangue de Jesus‖, por intermédio de seu
sangue. Quem recebe e bebe esse copo não recebe por meio dele uma matéria
celestial, mas participação na nova aliança. Deus a havia prometido através do
profeta Jeremias (Jr 31.31-34). Agora a institui e realiza em Jesus. Essa
instituição, porém, não é uma coisa simples, não uma mera declaração de
propósitos. O perdão prometido e necessário para essa nova aliança somente pode
tornar-se realidade pelo fato de que toda a carga de pecados é levada embora
por aquele que é o Cordeiro imaculado e santo de Deus (Jo 1.29). Em
decorrência, a instituição dessa aliança somente podia acontecer através do sangue
e custou o alto preço da morte maldita do Filho de Deus.
I Cor 11. 27 Foi assim
que o próprio Senhor instituiu a ceia. Nem Paulo nem os coríntios podem dispor
dela. Quando, no entanto, uma igreja a celebrar, isso tem de acontecer de modo
digno, de conformidade com sua instituição. Paulo o expressa iniciando a frase
seguinte com um enfático ―por isso‖. “Por isso, quem comer o pão ou beber o
cálice do Senhor de uma maneira indigna torna-se culpado do corpo e do sangue
do Senhor” [tradução do autor]. Como a formulação é importante! A tradução
conhecida de Lutero: ―Quem, porém, come e bebe indignamente‖ quase nos obrigou
a entender ―quem come e bebe como um indigno‖. Quantas pessoas não se
torturaram amargamente com a pergunta se são ―indignas‖ e se com sua participação
na santa ceia estão pecando contra o corpo e sangue do Senhor! Desse modo
foi-lhes infundido nos corações o medo da santa ceia, de maneira que atenderam
ao convite do Senhor Jesus o mais raramente possível ou nunca. O texto grego
diz inequivocamente: aquele que come e bebe “de uma maneira indigna”.
Unicamente assim a frase também se encaixa no contexto da passagem. Paulo não
critica os coríntios por virem à ceia do Senhor como pessoas indignas, mas por
destruí-la através de um modo indigno de celebrá-la. Quando diante da mesa do
Senhor há divisões dilacerando a igreja, quando um sofre fome e o outro está
embriagado enquanto a morte inusitada do Kyrios por todos é proclamada, então
isso constitui uma ―maneira indigna‖. Nesse caso, porém, ela não representa um
defeito estético, mas possui um efeito terrível, que os coríntios precisam ter
em mente. Desse modo tornam-se “culpados do corpo e sangue do Senhor”. Toda
celebração da santa ceia é ―participação‖ no corpo e sangue do Cristo com pleno
realismo, independentemente de como ela é celebrada. Contudo, a questão é se
essa participação salva e agracia ou se ela torna culpado e sentencia. Esse
tornar-se culpado em Cristo corresponde ao ―desprezar a igreja de Deus‖ (v.
22), mas de forma aprofundada. Quem se comporta na ceia do Senhor da maneira
como diversos coríntios não apenas despreza a igreja de Deus, mas ignora e
despreza o próprio Senhor e seu amor sério e sacrifical, tornando-se assim
―culpado de seu corpo e sangue‖, que justamente haviam sido entregues para sua
salvação. Encontramo-nos muito próximos de Hb 10.28-31.
I Cor 11. 28 Diante
dessa seriedade cresce a obrigação do ―exame‖. Paulo não elucidou mais
detalhadamente sua exortação “Examine-se, pois, o homem a si mesmo”. Em parte
alguma do NT se fala de uma ―confissão‖ anterior à ―santa ceia‖. Cada um deve
“examinar-se a si mesmo”. Uma vez que na frase seguinte, como no contexto do
trecho todo, está em jogo ―discernir o corpo‖, ter a atitude correta perante a
ceia do Senhor, bem como perante a irmandade da igreja, também o auto-exame
deverá referir-se sobretudo a isso. Sem dúvida o reconhecimento do pecado tem
importância. Afinal, a verdadeira ―dignidade‖ para a mesa do Senhor Jesus
reside unicamente na minha ―indignidade‖ real e por mim mesmo confirmada. Jesus
realizou a ceia no passado e a realiza ainda hoje unicamente com ―pecadores‖.
Somente os ―perdidos‖ têm necessidade do sacrifício salvador do corpo e sangue
do Senhor. Nesse caso, porém, também estão cientes de toda a santa magnitude da
ceia do Senhor e não a profanam por meio de uma celebração indigna. Estão
plenos do amor do Cristo e por isso dispostos para a irmandade. Os abusos que
se imiscuíram em Corinto são inconcebíveis para eles. Paulo aponta para esse
alvo corretivo do ―exame‖ por meio da palavra grega dokimazein que inclui o
resultado positivo, à semelhança do que acontece também entre nós, quando
falamos de um ―motorista provado‖. Por isso Paulo prossegue: “E, assim, coma do
pão e beba do copo”. Agora, sabendo claramente o que busca na ceia do Senhor, a
saber, não ―seu próprio comer‖ (v. 21), mas verdadeiramente essa grande dádiva
do Cristo e a irmandade da igreja, “assim” o cristão pode e deve vir confiante
e agradecido à mesa do Senhor.
I Cor 11. 29 Mais uma
vez, porém, Paulo salienta diante de uma igreja irresponsável toda a seriedade:
“Pois quem come e bebe, para si próprio come e bebe um juízo se não discernir o
corpo.” Como em 1Co 10. 16s temos de considerar que no “corpo” que alguém “não
está discernindo” sempre ressoa também a ideia do ―corpo de Cristo‖, a igreja.
Os que em Corinto se refestelavam tranquila e opulentamente já não ―discernem‖
no pão, dentre todos os demais alimentos, o corpo do Cristo entregue por eles.
Mas tampouco ―discernem‖ o corpo de Cristo, a igreja, de outras reuniões em que
se podia contemplar com indiferença a fome de pessoas e envergonhar os pobres.
Contudo, nem mesmo agora seu comer e beber permanece ineficaz, apesar de sua
indiferença contra o ―corpo do Senhor‖. Comem e bebem agora com a ceia do Senhor
o juízo para si mesmos. Como em todas as situações Paulo leva a sério o corpo e
os processos físicos! O corpo pertence ao Senhor, em nosso corpo glorificamos a
Deus (1Co 6.13; 6.20). Nosso comer e beber nos leva à união real com os
demônios ou com o corpo e sangue do Cristo (1Co 10.16,20). Pelo comer e beber
honramos a Deus (1Co 10.31). Pelo comer e beber nos submetemos pessoalmente ao
juízo de Deus. É isso que os coríntios, que acreditam, numa falsa
―intelectualidade‖ e ―liberdade‖, não ter necessidade de se importar com os
processos reais e corporais, precisam reconhecer.
I Cor 11. 30 Eles
mesmos têm diante dos olhos que o “juízo” que eles comem e bebem para si não é
mera palavra ou até mera ameaça do apóstolo. Não, esse juízo está sendo
executado: “Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não
poucos que dormem.” Pelo fato de que na celebração indigna da ceia se trata de
comer e beber, a culpa também tem um efeito físico, em fraqueza e enfermidade,
sim, ela até leva a falecimentos. Mais uma vez fica claro todo o realismo na
compreensão paulina da santa ceia.
I Cor 11. 31 Será que
agora os membros da igreja em Corinto estão assustados? Será que buscam o que
poderão fazer? Paulo tem para eles uma resposta clara: “Se nos julgássemos a nós
mesmos (corretamente), não seríamos julgados.” Deus age segundo a
misericordiosa regra de que ele não realiza mais o seu julgamento quando uma
pessoa sinceramente tenta obter clareza sobre si mesma e profere a sentença
contra si mesma.
I Cor 11. 32 Entretanto,
há mais a dizer. Novamente constatamos em Paulo (cf. acima, p. 166s) aquela
peculiar guinada para o positivo, oriunda do fato de estar compenetrado do
evangelho. Até mesmo aqueles em quem já se realizou um juízo, sobretudo aqueles
―fracos e enfermos‖, não precisam desesperar, porém podem ter a certeza:
“Julgados, porém, pelo Senhor, somos disciplinados, para não sermos condenados
junto com o mundo” [tradução do autor]. O sentido da frase não muda
substancialmente quando combinamos as palavras ―pelo Senhor‖ com ―julgados‖ ou
com ―somos disciplinados‖. O importante é que os juízos sobre o crente visam
ser um auxílio genuíno, a fim de que escape do juízo sobre o mundo. Paulo
sempre considerou esse juízo como terrivelmente sério, cf. Rm 2.5; 5.9; 1Ts 1.10.
Nesse juízo sobre o mundo prevalece a ira. Se os juízos disciplinadores de Deus
preservam o crente de “ser condenado junto com o mundo”, então ele poderá
aceitar com grata submissão esses juízos disciplinadores.
Werner de Boor.
Comentário Esperança I Cartas aos Coríntios. Editora Evangélica Esperança.
O Significado da Ceia
do Senhor (11.23-26)
O entendimento de Paulo
a respeito da Ceia do Senhor se originava de uma revelação direta de Deus. O
apóstolo apresenta a autoridade da sua narrativa “fundamentada em um alicerce
imutável”. Quando Paulo recebeu o evangelho diretamente de Cristo (Gl 1.11-12),
e não do homem, ele também recebeu instruções relativas à Ceia do Senhor. Além
disso, ele havia transmitido estas informações à igreja de forma cuidadosa e fiel.
Assim, o apóstolo podia afirmar com segurança e autoridade: Porque eu recebi do
Senhor o que também vos ensinei (23).
A Ceia representava a
inauguração de um novo pacto de graça, e deveria ser observada como um
memorial. Tanto o “corpo partido” quanto o “sangue derramado” deveriam ser
considerados como símbolos e não como referências literais ao corpo de Cristo.
Quando Jesus disse, isto é o meu corpo que é partido por vós (24), ele não
estava fisicamente sentado à mesa. Qualquer ideia sobre uma transformação
milagrosa, tanto no pão quanto no vinho, é contrária ao relato bíblico.
Finalmente, a Ceia do Senhor deveria ser celebrada como um memorial ou
lembrança, e não como meio de salvação. As afirmações: Fazei isto em memória de
mim e Anunciais a morte do Senhor, até que venha (26) confirmam a ideia de que
a Ceia é uma lembrança espiritual ou um símbolo da morte de Cristo.
Celebração da Ceia do
Senhor (11.27-34)
A Ceia do Senhor é uma
recordação espiritual do ato de redenção de nosso Senhor, e um testemunho
público da nossa fé em Jesus Cristo. Portanto, ela deve ser celebrada como um
agradecimento solene.
a) Participação indigna
(11.27).
Paulo afirma que é
possível comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente. O advérbio
indignamente se refere à diferença de pesos; portanto ele significa “pesos
diferentes” ou “indevidamente equilibrados”. A atitude de uma pessoa pode não
estar equilibrada com a importância da ocasião. Se ela participar da Ceia do
Senhor de forma frívola e descuidada, sem respeito ou gratidão, ou mesmo se
estiver em pecado ou manifestando amargura contra outro irmão crente, estará
participando indignamente.
Participar indignamente
é ser culpado do corpo e do sangue do Senhor. A palavra culpado (enochos)
significa “ser passível do efeito penal de um ato; aqui a palavra... [envolve]
a culpa pela morte de Cristo”. Ao invés de se apresentar à mesa com uma atitude
imprópria ou pecadora, o crente deve comparecer “na fé, e com o devido
comportamento em relação a tudo aquilo que é apropriado a este ritual solene”.
b) Exame espiritual
(11.28).
Antes de participar
desse serviço sagrado, examine-se o homem por meio de uma análise rigorosa.
Essa palavra significa testar; portanto, o crente deverá examinar seus motivos
e seus atos. Certamente ninguém poderá ganhar, como um pagamento, a graça e o
perdão de Deus. Mas, por outro lado, um sincero exame irá indicar se a pessoa
compareceu à mesa sagrada levada por motivos sinceros e uma obediência ativa ao
Senhor. O ensino de Paulo é totalmente positivo. Ele não diz que alguém deva
fazer um auto-exame, e deixar a mesa do Senhor em uma situação de desespero.
Pelo contrário, ele aconselha o homem a examinar seu coração e, em seguida,
cheio de uma fé sincera, coma deste pão, e beba deste cálice.
c) Os perigos da
irreverência (11.29-30).
A versão ARA traduz o
versículo 29 da seguinte forma: “Quem come e bebe sem discernir o corpo, come e
bebe juízo para si”. A palavra krima, que a versão ARA traduz como juízo,
significa condenação, como na versão ARC. Paulo não tem a intenção de afirmar
que a pessoa que comparece à mesa sem a qualificação espiritual adequada será
eternamente amaldiçoada. Ele quer dizer que tal ato irá trazer a condenação e a
culpa. Não discernindo o corpo do Senhor significa que o crente não foi capaz
de distinguir entre o memorial sagrado da Ceia de Senhor e outros tipos de
refeição.
O apóstolo indica que
como resultado do abuso da Ceia do Senhor... há entre vós muitos fracos e
doentes e muitos que dormem (30). E muito grave declarar que o abuso da Ceia do
Senhor resulta na maldição eterna, mas Paulo adverte que o castigo de Deus
poderia acontecer, trazendo enfermidades e até a morte física. A palavra fracos
Oasthenes) está relacionado a enfermidades; o termo doentes (arrostos) quer
dizer enfermidade e decadência, enquanto a palavra dormem (koimaomai) é usada
frequentemente no NT para indicar a “morte daqueles que pertencem a Cristo”.
Godet diz que Paulo está descrevendo um “julgamento prévio, especificamente
infligido por Deus, como aquele que Ele envia para despertar o homem para a
salvação”.
d) Participação
reverente (11.31-34)
A maneira de evitar o
castigo de Deus é nos julgarmos a nós mesmos de modo voluntário e sincero (31).
Mas, quando Deus envia seu julgamento para o crente, este é repreendido pelo
Senhor (32). Nesses casos, os castigos de Deus não são severos, mas símbolos do
seu amor. “Eles são enviados para nos livrar dos caminhos do pecado e para não
participarmos da condenação do mundo”.
A maneira adequada de
observar o sacramento é esperar uns pelos outros (33). Os membros devem esperar
até que todos estejam reunidos e depois, com afeição fraterna e respeito,
conduzir a festa do amor. A determinação final do versículo 34 é novamente uma
advertência para não considerar a Ceia do Senhor uma refeição comum. Se um
homem estiver com fome, coma em casa. A finalidade da Ceia é lembrar aos
crentes a obra redentora de Cristo e despertar na igreja um espírito de unidade
e amor.
Alguns outros pontos
relativos a este assunto ainda exigem alguma atenção. Sobre eles Paulo escreve:
Quanto às demais coisas, ordena-las-eis quando for ter convosco (34). Esses
problemas estavam afetando seriamente a vida da igreja e podiam ser adiados
para uma outra ocasião. Quais eram as demais preocupações que Paulo tinha em
mente? Talvez ele quisesse separar completamente a ideia da festa do amor da
celebração da Ceia do Senhor. Sabemos que por volta do ano 150 d.C. o costume
de fazer uma refeição junto com a Ceia do Senhor havia sido abandonado.
Para os cristãos existe
“Força Através das Ordenanças”. 1) Elas foram instituídas pelo Senhor, 23a; 2)
Elas são memoriais do sacrifício de Cristo, 236-26; 3) Elas exigem um
auto-exame, 27-29; 4) Elas produzem a preocupação pelos outros, 33-34.
Donald S. Metz.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 329-331.
Em primeiro lugar,
devemos olhar para trás (vv. 23·26a). O pão repartido nos lembra o corpo de
Cristo dado por nós; o cálice representa seu sangue derramado. É impressionante
o desejo de Jesus de que seus seguidores se lembrem de sua morte. A maioria de
nós procura esquecer os detalhes sobre a morte de nossos entes queridos, mas
Jesus deseja que lembremos como ele morreu.
Isso porque sua morte é
o cerne de tudo o que temos como cristãos.
Devemos lembrar o fato
de haver morrido, pois sua morte faz parte da mensagem do evangelho:
"Cristo morreu [...] foi sepultado" (1 Co 15:3, 4). Não é a vida de
Cristo nem seus ensinamentos que salvam os pecadores, mas sua morte. Portanto,
devemos nos lembrar do motivo de ter morrido: Cristo morreu por nossos pecados;
foi nosso substituto (ls 53:6; 1 Pe 2:24), quitando uma dívida que jamais
poderíamos pagar.
Também devemos lembrar
como ele morreu: voluntária e mansamente, demonstrando seu amor por nós (Rm 5:8).
Entregou o corpo nas mãos de homens perversos e levou sobre si os pecados do
mundo. No entanto, essa "memória" não é apenas uma lembrança dos
fatos históricos. Também é uma participação de realidades espirituais. Quando
celebramos a Ceia do Senhor, não caminhamos ao redor de um monumento e o
admiramos a distância. Temos comunhão com o Salvador vivo, do qual nos
aproximamos pela fé.
Em segundo lugar,
devemos olhar para a frente (v. 26b). Observamos a Ceia do Senhor "até que
ele venha". A volta de Jesus Cristo é a esperança da Igreja e de cada
cristão.
Jesus Cristo não apenas
morreu por nós, mas também ressuscitou e subiu ao céu e, um dia, voltará para
nos levar para junto dele. Não somos hoje tudo o que devemos ser; mas quando o
vermos, "seremos semelhantes a ele" (1 Io 3:2).
Em terceiro lugar,
devemos olhar para dentro (w. 27, 28, 31, 32). Paulo não diz que devemos ser
dignos de participar da Ceia, mas apenas que devemos fazê-lo de maneira digna.
Em um culto de Ceia na Escócia, o pastor reparou que uma mulher da congregação
não aceitou o cálice e o pão oferecidos pelo presbítero, mas apenas ficou
sentada em seu lugar, chorando. O pastor dirigiu-se até ela e disse:
- Pode tomar, minha
cara, a Ceia é para os pecadores!
De fato, é, mas os
pecadores salvos pela graça de Deus não devem tratar a Ceia de maneira
pecaminosa.
A fim de participar
dignamente, é preciso examinar o coração, discernir os pecados e confessá-los
ao Senhor. Tomar a Ceia com pecados não confessados no coração é se tornar réu
do corpo e do sangue de Cristo, pois foi o pecado que o pregou à cruz. Se não
discernirmos nossas transgressões, Deus nos julgará e disciplinará até que
confessemos e deixemos esses pecados.
Os coríntios não
examinavam a si mesmos, mas eram especialistas em examinar a vida de todo
mundo. Quando a igreja se reúne, devemos ter o cuidado de não nos tornarmos
"detetives religiosos" que se dedicam a vigiar os outros, incapazes
de reconhecer os próprios pecados. Se comemos e bebemos indignamente, comemos e
bebemos julgamento (disciplina) para nós mesmos, algo que não deve ser
considerado levianamente.
A disciplina é a
maneira carinhosa de Deus tratar com seus filhos e filhas e de encorajá-los a
amadurecer (Hb 12:1-11). Não é como a sentença de um juiz condenando um criminoso,
mas como a repreensão de um Pai amoroso, que castiga os filhos desobedientes
(e, possivelmente, obstinados). A disciplina é uma prova do amor de Deus por
nós e, se cooperarmos, pode aperfeiçoar a vida de Deus em nós.
Por fim, devemos olhar
a nosso redor (w. 33, 34). Não se deve fazer isso com o objetivo de criticar
outros cristãos, mas sim de discernir o corpo do Senhor (1 Co 11 :29). É
possível que essa frase tenha um sentido duplo: devemos reconhecer seu corpo no
pão e também na igreja a nosso redor – pois a igreja é o corpo de Cristo.
"Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo" (1
Co 10:17). A Ceia deve ser uma demonstração de união na igreja -, mas a igreja
de Corinto não era muito unida. Na verdade, sua celebração da Ceia do Senhor
era apenas uma demonstração de sua desunião.
A Ceia do Senhor é uma
refeição em família, e o Senhor da família deseja que seus filhos amem uns aos
outros e cuidem uns dos outros. É impossível um cristão verdadeiro aproximar-se
do Senhor e, ao mesmo tempo, se manter separado de seus irmãos e irmãs em
Cristo. De que maneira podemos lembrar a morte de Jesus Cristo se não amamos
uns aos outros? "Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós
também amar uns aos outros" (1 Jo 4:11 ).
Nenhuma pessoa que não
é verdadeiramente convertida deve tomar a Ceia. Também um cristão não deve
tomar a Ceia se seu coração não estiver em ordem com Deus e com seus irmãos e
irmãs em Cristo. É por isso que várias igrejas têm um tempo de preparação
espiritual antes de realizar a Ceia, a fim de que nenhum dos participantes
traga disciplina sobre si mesmo. lembro-me de um membro de igreja que me
procurou e contou de uma derrota pessoal que não apenas o havia prejudicado
espiritualmente, como também havia sido "divulgada" por outros e
estava prestes a envergonhar a ele e à igreja.
- O que posso fazer
para colocar a situação em ordem? - ele me perguntou, convencendo-me de que
havia, de fato, discernido e confessado seu pecado. lembrei-o de que, na semana
seguinte, realizaríamos a Ceia do Senhor e sugeri que pedisse a orientação de
Deus. Na noite da Ceia, comecei a celebração de uma forma como nunca havia
feito antes.
- Há alguém que
gostaria de compartilhar alguma coisa com a igreja? - perguntei.
Meu amigo arrependido
colocou-se em pé e veio à frente, onde parou a meu lado junto à mesa da Ceia.
De maneira tranquila e concisa, reconheceu que havia pecado e pediu o perdão da
igreja. Sentimos uma onda de amor vindo do Espírito tomar conta da congregação,
e várias pessoas começaram a chorar. Naquela celebração da ceia,
verdadeiramente discernimos o corpo de Cristo.
Apesar de a confissão
ser um elemento importante, a Ceia não deve ser uma ocasião de "autópsia
espiritual" e tristeza. Deve ser um tempo de ação de graças e expectativa
jubilosa de ver o Senhor! Jesus sabia que, em breve, passaria por grande
sofrimento e morreria, mas ainda assim deu graças. Façamos o mesmo.
WIERSBE. Warren W.
Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag.
792-794.
ELABORADO: Pb
Alessandro Silva.
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