quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Necessidade do Novo Nascimento - Martinho Lutero

A Necessidade do Novo Nascimento (sermão pregado por Martinho Lutero)


Sermão pregado pelo Reformador Martinho Lutero, para o Domingo da Santíssima Trindade de 11 de junho de 1536:

"Havia um homem dos fariseus que se chamava Nicodemos, um principal entre os judeus. Este veio a Jesus de noite e lhe disse: “Rabi, sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade te digo se o homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus”. Nicodemos lhe disse: “Como pode um homem nascer de novo sendo velho? Pode por acaso entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe e nascer?”Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não poderá entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes do que eu te disse: é necessário nascer de novo. O vento sopra onde quer e se ouve o seu som; mas ninguém sabe de onde vem e nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. Perguntou-lhe Nicodemos: “ Como pode acontecer isso?” Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre de Israel  e não sabe disso? Em verdade, em verdade te digo que aquilo sabemos falamos, e aquilo que temos visto testificamos, mas vós não recebeis o nosso testemunho. Se eu vos tenho dito coisas terrenas e não acreditastes, como acreditareis se eu vos falar das celestiais? Ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, o Filho do Homem, que está no céu. E assim como Moisés levantou a serpente do deserto, é necessário que o filho do homem seja levantado para que todo aquele que Nele crer, não se perda, mas tenha vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que Nele crer não se perda, mas tenha vida eterna”. João 3:1-16

COMO ALCANÇAR A SALVAÇÃO, a pergunta principal da humanidade

Hoje ainda não lhes foi explicado o Evangelho. Escreve o evangelista São João que certo fariseu de nome Nicodemos veio ao Senhor de noite e teve com ele uma conversa, e Cristo, de sua parte, lhe pregou um sermão para aquele homem piedoso que realmente ele não sabia que fazer com ele: quanto mais o ouvia, menos o entendia.

Sobre essa historia se prega todo ano. Mas como hoje o momento novamente é propício, falaremos mais uma vez sobre ela. Desde que o mundo existe, os sábios que existem nele se perguntam: “De que modo se pode alcançar a justiça e a bem-aventurança?” Essa questão se discute desde quando há homens na terra, e continuará sendo discutida até que o mundo chegue a seu fim. Ainda nos nossos dias atuais pode-se ver com quanto ardor debatemos esse assunto. Todos crêem estar em condições de emitir um juízo, porém, com seu juízo, revelam sua ignorância. Esta mesma questão, como nos informa o Evangelho para o dia de hoje, Cristo a tratou com um homem que, falando nos términos da lei judaica, era uma pessoa corretíssima e muito instruída.

Aquele homem quer discutir sobre aquilo que devemos fazer e como devemos viver para sermos salvos, e espera que Cristo lhe dê uma resposta. “Porque tu” ele diz, “és mestre vindo de Deus, pois os sinais que tu fazes vão além da capacidade de qualquer ser humano. Nós os fariseus ensinamos, no campo do espiritual, a lei de Moisés. Opinas tu que há algo melhor que possa nos recomendar?” Surge assim na discussão entre ambos a pergunta sobre as obras, ou seja, a vida perfeita – a pergunta que inquieta aos homens de todas as gerações.

I. O que tenta alcançar a salvação pelos caminhos das obras, não a alcançará

Já os antigos romanos meditavam com muita seriedade sobre qual era o caminho reto a seguir, acerca de como, por exemplo, se devia lidar corretamente com a casa e a família. Seus interesses se dirigiam diante de toda a exata determinação do que exige a “justiça”. Mas com isso se meteram em um problema que não tem solução, como eles mesmos tiveram que admitir: “excesso de justiça, excesso de injustiça.” Por qual motivo? Porque a “justiça” no sentido estrito da palavra está fora de nosso alcance. Por isso que se tem que buscar o caminho do meio e adaptar-se às circunstâncias. Nesse sentido também se costuma dizer: “acertou como os atiradores quando acertam o alvo”, quer dizer, não graças a sua pontaria, senão graças a um impacto fortuito. Pois um bom atirador e até um eventual ganhador é também aquele que chegou mais próximo do alvo. Assim o reconhecem até os juristas. Tem que se dar por satisfeitos se com seu governo e administração da coisa pública conseguem que ninguém inflija a outro injustiças muito grosseiras, ainda quando seja impossível acertar e aplicar rigidamente a justiça em sua forma pura. Porém quando chega ao poder um desses desorientados, só causa alvoroço, distúrbios e dissensões.

Assim toda autoridade secular tem que se ater ao que é possível. Não obstante, a razão gostaria de elevar a salvação ou a uma ordem política perfeita pela via da injustiça. Porém tal coisa é impossível. Que fazer então? Quase se diria que acontece como com aquele que queria subir uma alta montanha e por não poder fazer, exclamou: “Pois bem, ficarei aqui”. No entanto, Cristo nos diz: “Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20). Ali no sermão do monte o Senhor explica qual o verdadeiro cumprimento da lei, e o que significa acertar o alvo: não se irar, nem mesmo no recôndito do coração; não cobiçar nem mesmo em pensamentos a mulher ou os bens do nosso próximo. Ali se coloca diante dos nossos olhos a justiça mais perfeita. E, apesar de tudo os homens acreditam poder alcançá-la mediante o cumprimento da lei. “Não queremos nem pretendemos”, dizem, “acertar exatamente o alvo”; se o conseguem com certa aproximação, se têm por desculpados. Nós, porém, atentamos para o que nos ensina Cristo: “Ninguém pode ver o reino de Deus ao menos que tenha acertado o alvo”. E no Apocalipse lemos: “Neste tabernáculo não entrará nenhum imundo”. Que devemos fazer pois? Também exclamaremos: “Temos que ficar aqui embaixo, não podemos subir a montanha”?

Tampouco Nicodemos sabe outra coisa que esta: “Eu sou uma pessoa correta, vivo piedosamente conforme a lei e transito pelo caminho que conduz ao céu”. E agora ele quer que esse Mestre lhe expresse sua aprovação ou desaprovação – ainda que não gostaria de pensar nesta última opção, senão espera que o Senhor lhe responda: “Sim, Nicodemos, és perfeito, e ainda: Já és bem-aventurado e os demais entrariam no reino dos céus se fizessem como tu”. Porém, ocorre justamente o contrário: Cristo o bota a correr do reino dos céus: “Por certo, és um homem bom. Porém se não nasces de novo, tua justiça não te servirá de nada.” O “nascer de novo”: esta é a justiça na qual insistimos tanto em nossa pregação. Ou seja: Cristo não tem a intenção de rechaçar a lei, antes quer que ela seja cumprida. “Porém”, diz “a forma como  vós a cumpríeis não tem validade. Cumpríeis a lei só em vossa imaginação, mas não na realidade. Os Dez Mandamentos são perfeitos, e quero que os cumpra. Quem quiser entrar no céu tem que cumpri-los. Porém, com o vosso conceito do ‘direito’ e com a vossa justiça, não os estais cumprindo”. Não temos outra justiça melhor do que a que resultaria do meu cumprimento de tudo o que se manda nas duas tábuas da lei de Moisés. Então seríamos “justos” – porém só justos conforme a justiça dos fariseus, e não conforme a justiça exigida pela lei.

II.  Só a regeneração nos torna participantes da salvação eterna

É-nos dito, pois: “lhe é necessário nascer pela segunda vez”. Para Nicodemos isso é chocante. Ele pensa em outras leis, alem do ponto das leis mosaicas, tais como as que achamos no papado e no judaísmo farisaico; espera que Cristo estabeleça artigos novos, leis novas, todo um código novo. Porém, nada disso: Cristo não diz uma palavra quanto a leis e estatutos novos. “Pois o que possuis em matéria de leis já é mais do que podeis cumprir. Eu, em troca, os prego assim: Vós, vós mesmos precisam chegar ser outras pessoas. Eu não falo de fazer ou não fazer, senão de chegar a ser. Tu tens que chegar a ser outro homem, tens que nascer de novo. Isso será então a justiça que acerta o alvo, a justiça sem mancha nem ruga, a justiça que conseguirá entrar no céu”. Para Nicodemos, ao ouvir Jesus falar dessa maneira, lhe vem certas duvidas. Essas são palavras novas para ele. “Entrar eu pela segunda vez no ventre de minha mãe? Tolice!” Porém a essas tolices Cristo acrescenta outras piores: “não te digo que tenhas de nascer de novo de pai e mãe humanos, senão da água e do Espírito Santo”. Agora, Nicodemos fica totalmente confundido. “Que homem e mulher são esses: água e Espírito?” E como se ainda não fosse suficiente, Cristo lhe pergunta: “Tu és mestre de Israel e não sabes disso?”, o que soa como zombaria manifesta. E sem dúvida, Cristo tem que falar assim porque o assunto é totalmente novo para Nicodemos. Para explicá-lo Cristo recorre a uma ilustração como se quisesse dizer a Nicodemos: “queres que eu desenhe para que tu entendas? Digo-te porém: se não podes captar com a razão, capta-a com a fé. Pois se não acreditaste quando te falei coisas terrenas, como crerás se eu te falasse das coisas espirituais? Nós falamos o que sabemos, e o que sabemos é a verdade e vós não acreditais Pois bem: se alguém não quer crer, deixe-se!”

A nossa pregação, iniciada naquelas condições por Cristo, se apoia exclusivamente na fé. Só com a fé se pode compreender da “regeneração pela água e pelo Espírito”. O Espírito é o homem e a água a mulher. O que isso implica, não o podes medir com a tua razão. Daí o tema que pregamos seja artigo de boas obras ou de fé. E já os papistas aprenderam algo de nós ao dizer que com a fé e a graça começa a vida verdadeiramente cristã. Antes só se falava da missa privada e da invocação dos santos; agora, em troca, dizem que a fé, efetivamente, salva, porém não só a fé, senão a fé em cooperação com nossas obras. E essa cooperação, apóiam, é imprescindível. E a nós criticam duramente afirmando que proibimos as  obras e induzimos os homens à preguiça. Todavia lhes falta bastante para serem tão piedosos e estarem tão próximos da verdade como Nicodemos. Nós nunca proibimos as boas obras; mais ainda: se dizemos algo a respeito das boas obras, nossa própria gente fica logo com raiva, o qual é um claro sinal de que realmente pregamos sobre esse tema.

E apesar disso os papistas seguem blasfemando de nós. Eles ensinam: “as boas obras têm quer vir com a ajuda da fé – vãs palavras que demonstram que esses mestres não têm noção do que é fé, boas obras, nascer do Espírito, nascer de Deus. É por isso que é necessário que estudemos com cuidado o nosso presente texto (João 3:5) e outros iguais. Aqui se fala de “nascer de novo”, não de “fazer algo novo”. Primeiro deves plantar uma arvore, e logo terás também os frutos. Segundo seja boa ou mal a arvore, serão também bons ou maus os frutos. O mesmo ocorre aqui. Nós chamamos um novo nascimento, quer dizer, uma nova maneira de ser, uma nova pessoa, não somente um novo vestido ou novas obras. Quando eu era monge, minha vestimenta era distinta e também minhas obras eram; as sete horas para as orações, a missa, o crisma, o celibato – todas essas eram outras obras, muito dessemelhantes de minhas obras anteriores. Porém a simples mudança das obras não é o que vale; que mude a pessoa, que mudem os pensamentos e o ânimo: esse é o novo nascimento. Portanto não se pode sobrepor as obras à fé. Em que uma criança contribui para que seja concebida e venha à luz? Isso é obra dos pais; a criança não faz nada para que suas perninhas e todos os seus membros cresçam; não é  parte ativa nesse processo de crescimento, senão parte meramente passiva. Qual foi, nesse sentido, a nossa contribuição? Onde estão as obras cooperantes? Queria saber então de onde vem essa insistência de que se deve agregar também obras , e logo obras próprias nossas!

É verdade: a mãe leva a criatura em suas entranhas e lhe dá o calor materno; no entanto, não é obra dela que essa criatura se origine. De igual maneira quem pregamos e batizamos somos nós, no entanto, a palavra e o batismo não são nossos; somente pomos à disposição nossa boca e nossas mãos. Na realidade a palavra e o batismo são de Deus, no entanto somos chamados colaboradores de Deus (1 Coríntios 3:9). É, por certo, uma colaboração bastante modesta a nossa. Não que contribuamos com obra ou a palavra; o único com que contribuo ao batizar e pregar é com a voz, os dedos, a boca. Assim, na geração de uma criança, o pai e a mãe só contribuem com a carne e o sangue como fatores seus; a criatura concebida não contribui absolutamente em nada, senão que “se deixa criar” por Deus todos os seus membros, e a mãe a leva em seu seio. Há alguma razão então para que eu retire a honra de Deus e diga que eu mesmo me gerei e que minha própria atuação contribuiu para que eu nascesse? Isso não significaria um agravo a Deus? Por acaso não somos chamados seus filhos, obras de suas mãos? Se é verdade que as obras colaboram na regeneração, vejo-me obrigado também a achar que eu colaborei com Deus – e isso é uma blasfêmia contra Ele. Mas se é verdade que eu sou nascido de novo, como diz Cristo, não tenho que colaborar com nada, senão que tenho que permanecer quieto e passivo para aquele que é meu Pai e Criador me faça nascer de novo como filho seu. Nesse sentido o apostolo Paulo declara que “nós somos uma nova criação, criados em Cristo para boas obras”. Como se vê, Paulo não se esquece das boas obras, mas as menciona não por que tenham contribuído em algo, não por que sejam elas que produzem a nova criação, mas “para que andássemos nelas”. Se é certo que minhas próprias obras contribuem para que eu seja uma nova criação, bem posso me gloriar de ser meu próprio Deus; porque o criar é obra exclusiva de Deus. Se eu colaboro, então Deus não é meu único Deus, senão que eu também o sou. Por outro lado, se Ele é o único, não o posso ser eu também, como se afirma muito claramente no Salmo: “Ele nos fez e não nós a nós mesmos; somos seu povo e ovelhas de seu pasto”. E não obstante, certa gente incorre em tremenda tolice de sustentar que a fé cria homens novos, mas com a ajuda das obras. Mas precisa de toda lógica dizer que eu me crio a mim mesmo e sou Deus junto com Deus, de modo que Ele me tem a seu lado como um Deus adjunto. Assim como eu não me formei a mim mesmo no corpo de minha mãe, senão que foi Deus quem me formou, valendo-se dos meus membros e do calor de minha mãe, assim tampouco na regeneração somos convencidos mediante nossas próprias forças e obras, senão unicamente pelas mãos e o Espírito de Deus. Em consequência, é ilícito acrescentar obras à fé; do contrário, não é Deus só o que me cria, senão que eu sou simultaneamente com ele meu próprio criador. Ao fogo do inferno com um criador que se cria a si mesmo! A Escritura me chama de uma nova criação de Deus e, não obstante, eu haveria de atribuir a nova criação a mim mesmo? De esse modo eu seria criação e criador, obra e obrador em uma mesma pessoa. A toda luz, esses são pensamentos diabólicos e ensinos de homens cegos. Devemos observar estritamente ao que aqui nos ensina o evangelista São João. Também Paulo nos chama “novas criaturas”. Da mesma maneira, pois, como não contribuo para meu nascimento corporal e pela minha concepção, senão que sou parte meramente passiva e ‘me faço’ gerar e criar, da mesma maneira tampouco as obras contribuem em nada para que o homem seja regenerado. Se não for assim, Deus já não será apenas Deus, senão que nós seremos Deus junto com Ele e seremos nossos próprios progenitores. Mas quando a criatura já está gerada, e quando a criancinha já está formada no seio materno com todos seus membros, a mãe diz: “Sinto que o nenezinho faz as obras que em seu estado pode fazer”. Porem, só o já criado dá esses sinais de sua existência, e só quando foi dado à luz move seus membros, e fica com vida, aprende a caminhar e a cantar. Mas se não tivesse sido criada previamente, agora não se moveria.

III. O regenerado se manifesta como crente mediante a prática de boas obras.

Nossa pregação quanto à nova criação é, pois, uma vez que fomos regenerados, devemos andar em boas obras. Nesse sentido fazemos algo: pregamos; aqueles, todavia, que são convertidos não fazem nada para chegar a sê-lo, já que somos criação e obra de Deus, “criados para que andássemos em boas obras” (Efésios 2:10). Essas palavras nos falam com inteira claridade. A semelhança com uma criatura humana é evidente. A criatura deve se separar do corpo materno; antes de estar completamente formada, não contribui em nada para esse fato. Por que Deus a beneficiou de membros? Para se mover; uma vez nascida deve caminhar, ficar de pé, comer, beber, trabalhar, mandar, pois para isso nasceu. Se não fizesse nada, seria um tronco ou uma pedra. Porém deve fazer algo, para isso foi criada. A isso se refere Cristo quando disse ao fariseu Nicodemos: “Todos vós quereis ser vossos próprios criadores. Possuíeis a lei de Moisés e esforçai-vos para cumpri-la. Porem não obtereis êxito, uma vez que ainda não nascestes de novo; não possuíeis o Espírito Santo. Por conseguinte todas as vossas obras são obras do velho homem. Podeis, por exemplo, construir uma casa ou fabricar um sapato, porém tais obras não têm nada haver com o céu. Não são obras que conferem justiça a quem as faz. Também os gentios são capazes de fazê-las. Ademais trazeis oferendas, circuncidais a vossos filhos, usais as vestiduras sagradas – também isso está ao alcance de qualquer pagão.  Por isso digo que são obras do homem velho, nascido uma só vez, a saber, do seio de sua mãe. Mas se quereis fazer obras que sejam de valor diante de Deus e que tragam proveito ao próximo, precisais nascer de novo. Vós por sua vez acreditam que o fazer obras que exteriormente parecem ser boas já está assegurada a vossa entrada no céu, ainda mesmo o coração não se achando no estado devido. Porem não façais as coisas ao contrário, não comeceis pelas obras!”

Também os papistas são da opinião de que se pode merecer o céu com suas obras que acompanham a graça. É um engano. As boas obras não podem ajudar de nenhuma forma, nem como obras que precedem a graça, nem como obras que lhe correm paralelas, nem tampouco como obras que seguem a graça, senão que tudo tem que proceder do Espírito Santo e da água. “No lugar de pai e mãe vos darei água e o Espírito Santo”, reza a pregação de Cristo. Onde isso é assim, posso dizer: “minhas próprias obras não me criaram, nem me geraram como nova criação, nem tampouco poderão fazê-lo, posto que fui criado e gerado da água e do Espírito”. Também resulta agora fácil provar e julgar os espíritos fanáticos. Pois o que nasceu, o que já foi feito e criado, não tem necessidade de ser feito e criado. Como podem dizer então que as obras subsequentes à graça me geram e me criam? Fazer boas obras é necessário; correto – porém não para chegar a ser por meio delas uma nova criação. Portanto há de se diferenciar entre fé e obras; assim, aqui o Senhor nos ensina. As obras feitas antes da fé são condenadas como pecado. Em contrapartida, as obras feitas por quem já tem fé são obras preciosas e boas. Todavia, tampouco essas servem para nos converter em homens justos, senão para louvar e glorificar a nosso Pai que está nos céus (Mateus 5:16) e para causar alegria aos anjos. Pois quem por meio de boas obras e de uma pregação frutífera honra ao Pai, receberá também dele a recompensa correspondente. Se não andas em boas obras, tampouco nasceu ainda para elas (Efésios 2:10).

Onde se ensina e se vive dessa maneira, a verdade aqui ensinada por Cristo permanece vigente em toda a pureza. Cristo diz que temos que nascer, Paulo reforça que temos que ser criados por Deus. Falando em termos de comparação com uma criatura: a criatura não se gera nem se faz nascer a si mesma, senão que depois de ser criada pode fazer obras. Analogamente, a árvore frutífera depois de plantada dá frutos. Não se diz: “Se não tiver peras na árvore, essa não é uma árvore”, senão o inverso. Por isso cresce a pereira, para que dê peras, para glória e louvor de Deus o Criador, e para que nós as comamos. Assim, a obra de Deus é a que precede, e a nossa obra é a que segue. Igualmente: se não existisse ferreiro, não existiria machado, pois para que machado corte, previamente precisa ser fabricado. Só um perfeito idiota poderia dizer: “Faz-me um machado que colabore na sua fabricação, de maneira que mediante seu despedaçar e cortar se transforme em machado”. Primeiro se fabrica o machado, e só então se pode empregá-lo nos trabalhos aos quais a ele se destinam.

Sobre esse tema se discute de modo por demais obstinado desde os primórdios da humanidade. E esse é o nosso ensino no qual insistimos com toda energia, afim de que conserve o lugar correspondente na igreja e para evitar que penetrem nela pessoas que atribuem um efeito também às obras precedentes ou concomitantes. Primeiro deve estar a criação, o nascimento: logo pode seguir a obra. Nicodemos não pode compreender isso porque ele vive na crença equivocada de que obterá êxito para entrar no céu graças as suas obras precedentes. Cristo se opõe a ele com um sonoro NÃO: “o que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Todos aqueles que ensinam algo que contrarie esse artigo são falsos mestres. Nós, todavia, cremos e damos graças a Deus pelo fato de que ao fim foi trago a luz e posto ao conhecimento de todos qual é o verdadeiro caminho da vida: “Faz com que eu seja regenerado sem a colaboração de nenhuma obra minha, mas apenas pela palavra e pela fé”. Se tal é o caso, sou filho de Deus, tenho livre acesso a casa de meu Pai, e tudo quanto faço é bom e aceito diante de seus olhos. Se meu pé escorrega, Ele me castiga.  Se eu sou uma arvore boa, levo frutos bons. Se a árvore é tomada por vermes nocivos, o Pai os extermina. Se eu sou um bom machado, sirvo para cortar; se no machado se produz uma falha, também esse mal poderá ser sanado pelo Pai. Por isso vós os fariseus estais muito distantes do alvo com vossas obras precedentes; porque dessas resulta não mais que uma justiça válida diante dos olhos do mundo e para ela vale o que acabo de dizer quanto ao atirador. A justiça proveniente da fé acerta o alvo: aponta ao centro mesmo e penetra até a vida eterna – não por nossos próprios meios, senão em união com aquele que é o Mediador, do qual se fala na parte final do evangelho (João 3:14 e similares). Fomos criados por Ele e somos recriados por Ele; por meio Dele somos uma criação perfeita, apesar de ainda não estarmos livres de faltas e debilidades.

Isso se chama falar de forma cristã sobre a regeneração, da qual os papistas, os turcos e os judeus não têm o menor conhecimento. Estou seguro, portanto, que no Concílio[1] dos papistas rejeitarão esse artigo, já que a norma deles é julgar a obra de Deus segundo eles mesmos a entendem. Cristo, porém, sustenta invariavelmente: “O que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. É preciso, pois, deixar de lado os pensamentos próprios, a sabedoria própria, as opiniões próprias e ouvir somente a palavra por meio da qual é criado em ti um coração novo sem a tua contribuição, como o novo ser no corpo da mãe. Este texto soluciona a questão que se vem debatendo no mundo inteiro sobre como é possível uma vida bem-aventurada e feliz. Não há outro meio que a justiça efetuada pela regeneração não atinja o alvo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Joel o derramamento











Joel - O derramento

São Paulo - SP

Londrina - PR

Oseias: a fidelidade do relacionamento com Deus

A fidelidade do relacionamento de Deus

Oseias: A Fidelidade









A Atualidade dos Profetas Menores






Amós - A justiça












Amós - A Justiça




Leitura de Amós

EBD - 4 Trimestre - Lição 1 - A ATUALIDADE DOS PROFETAS MENORES

Lição 01
A ATUALIDADE DOS PROFETAS MENORES
07 de outubro de 2012
Professor Alberto


TEXTO ÁUREO


Mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé 
(Rm 16.26).



VERDADE PRÁTICA


Por ser revelação de Deus, a mensagem dos profetas é perfeitamente válida para os nossos dias.

COMENTÁRIO SOBRE A ATUALIDADE DOS PROFETAS MENORES


Neste trimestre (outubro/novembro/dezembro) começamos o estudo dos profetas menores. Essa designação “profetas menores” não representa uma forma de atribuir menor valor a esse grupo de profetas em relação ao grupo anterior, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, também conhecidos como profetas maiores. Essa designação é referente à classificação feita pela igreja latina, que de forma didática, separou esses livros pela extensão de seu conteúdo, e da mesma forma que os profetas maiores, os profetas menores foram igualmente inspirados por Deus, e têm tanta autoridade quanto os demais.
Uma advertência precisa ser trazida aos que vão estudar os profetas menores. A profecia é preditiva, ou seja, apresenta informações sobre o que há de acontecer no futuro. Mas dizer o que ainda vai acontecer, para que tenhamos a certeza de que Deus realmente falou por meio dos profetas, é apenas uma das funções da profecia. Os profetas, inspirados por Deus, olharam para o futuro, mas também para os seus próprios dias. Eles denunciaram os pecados do povo quando esse se desviava dos caminhos do Senhor. Amós, por exemplo, clamou contra as pessoas ricas de sua época, que de forma injusta, tomavam terras dos mais pobres, deixando-os não apenas sem abrigo, mas também sem condições de ter trabalho cotidiano. Obadias condenou a participação dos edomitas em um ataque contra Judá, pois tinham ascendência comum, e como irmãos, jamais poderiam viver com animosidade. Miqueias clamou para que o ritualismo não fosse superior à obediência, e para que seu povo não pensasse que poderia manter os rituais e serem desobedientes a Deus. Jonas foi mandado a pregar aos ninivitas, e aquela geração se arrependeu. Na geração seguinte, tornaram a fazer as coisas erradas que Deus abominava, e Deus usa Naum para decretar o juízo àquela nação.
Esses são exemplos necessários para que não olhemos os profetas apenas como aqueles que profetizaram sobre o futuro, mas que olharam para a sociedade em seus dias e proclamaram a Palavra do Senhor, a fim de que seus contemporâneos se arrependessem e se voltassem de coração ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Os profetas nos mostram que o povo de Israel (e nós também) precisava se arrepender de seus pecados, para finalmente, serem aceitos por Deus.
Portanto, estudar os profetas menores é um dever dos cristãos que desejam ter suas vidas alinhadas com a vontade de Deus no que tange à vida pessoal e às práticas diárias.

Os Profetas Menores
“Os livros dos Profetas Menores são chamados assim por causa da brevidade relativa em comparação a Isaías, Jeremias e Ezequiel, e não porque sejam menos teologicamente importantes. Os doze livros que compõem os Profetas Menores variam em data entre os séculos VIII e V a.C:


Embora os acontecimentos registrados em Jonas tenham ocorrido no século VIII, a data da autoria do livro é incerta.
[...] Diversos temas teológicos se sobrepõem a maioria destes profetas, especialmente nos mesmos períodos cronológicos acima esboçados.
Os profetas não falaram sobre Deus em termos abstratos de filosofia ou teologia. Falaram dEle como alguém ativamente envolvido no mundo que Ele criou e intimamente interessado no povo do concerto” (ZUCK, R. B. Teologia do Antigo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD. 2009, pp.429-30).


COMENTÁRIO DO TEXTO ÁUREO


Mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé 
(Rm 16.26).

       O contexto do nosso texto áureo está inserido no fechamento da Epístola de Paulo aos Romanos:
Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto,

mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé,

ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém!

O Senhor Jesus, o Messias de Israel e da humanidade é a revelação do mistério de Deus Pai, ele foi predito por todos os profetas:
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas (Hb 1.1-3).
Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou (Jo 1.17-18).
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus (Jo 3.16-18).
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo 14.6).
Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente (Hb 13.8)”.
Abraão, Moisés, e outros profetas do Antigo Testamento possuíam uma mensagem homogenia apontada para a pessoa do Senhor Jesus. O Antigo Testamento, bem como toda a Bíblia é cristocêntrica.
As grandes profecias da Bíblia apontavam para o Senhor Jesus:
“O qual antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 1.2-4)
Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram a graça que vos foi dada. Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir (1 Pe 1.10-11).
Mas tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas... (Mt 26.56a).
E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos (Lc 4.17-21).
Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhe o que dele se achava em todas as Escrituras (Lc 24.26-27).
A Lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele (Lc 16.16).
E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras (Lc 24.44-45).
Examinai as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida (Jo 5.39-40). Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras? (Jo 5.46-47).
Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor. E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado. O qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio. Porque Moisés disse aos pais: O Senhor vosso Deus levantará de ente vosso irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. E acontecerá que toda a alma que não escutar esse profeta será exterminada dente o povo. Sim, e todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também predisseram estes dias. Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, no apartar, a cada um de vós, das vossas maldades (Atos 3.18-26). 
A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome (Atos 10.43)”. 
Portanto os profetas que foram enviados por Deus antes do Senhor Jesus, profetizaram acerca do Salvador, até que: ... vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos (Gl 4.4-5)”.



INTERAÇÃO


4º Trimestre de 2012


Título: 
OS DOZE PROFETAS MENORES

 Comentarista: 
ESEQUIAS SOARES
Um dos mais renomados biblistas do pentecostalismo brasileiro.
Pastor Presidente da Assembleia de Deus em Jundiaí (SP) e da Comissão de Apologética da CGADB.
Formado em Letras (línguas orientais) pela FFLCH da Universidade de São Paulo.
Mestre em Ciências das Religiões pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Professor de Hebraico, Grego e Antigo Testamento.
Autor de diversos livros, artigos e comentários publicados pela CPAD.
O tema que estudaremos é uma das áreas em que o autor é especialista, pois trata-se de alguém que conhece profundamente o hebraico.
Veremos que a mensagem milenar desses profetas muito tem a dizer-nos hoje.
Ouçamos, pois, o Senhor através dos seus santos profetas!


RESUMO DA LIÇÃO 01


A ATUALIDADE DOS PROFETAS MENORES

I. SOBRE OS PROFETAS MENORES
1. Autoridade
2. Origem do Termo
3. Cânon e cenário dos Doze

II. A MENSAGEM DOS PROFETAS MENORES
1. Procedência (vv. 16-18)
2. “A palavra dos profetas” (v.19a)
3. “Como a uma luz que alumia em lugar escuro” (v.19b)

III. A INSPIRAÇÃO DIVINA DOS PROFETAS
1. A iniciativa divina
2. A inspiração dos profetas
3. A autoridade dos Profetas Menores


OBJETIVOS


Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
·   Descrever o panorama geral dos profetas menores.
·   Analisar a procedência da mensagem dos profetas menores.
·   Compreender que os escritos dos profetas menores são divinamente inspirados.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA


Para introduzir a primeira lição utilize o esquema abaixo.
Reproduza-o conforme as suas possibilidades.
O objetivo é mostrar ao aluno um panorama geral dos Profetas Menores.
Sabemos que o surgimento do profetismo em Israel e Judá se deu no período monárquico (veja o Auxílio Bibliográfico I).

AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I

  
      “Profetismo
Movimento que, surgido no século VIII a.C, em Israel, tinha por objetivo restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar as injustiças sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica num povo que já não podia esperar contra a esperança.
Tendo sido iniciado por Amós, foi encerrado por Malaquias. João Batista é visto como o último representante deste movimento” (ANDRADE, C. C. Dicionário Teológico. 8 ed., RJ: CPAD, 1999, p.244).

    “O Ofício Profético
O termo hebraico naby define em si o profeta como porta-voz de Deus.
Enquanto pregava para a própria geração, o profeta também predizia eventos no futuro.
O aspecto duplo do ministério do profeta incluía declarar a mensagem de Deus e predizer as ações de Deus.
Assim, o profeta também era chamado de ‘vidente’ (hb.: roeh), porque podia ver eventos antes de estes acontecerem.
A Bíblia relata o profeta como alguém que era aceito nas câmaras do conselho divino, onde Deus ‘revela o seu segredo’ (Am 3.7)” (LAHAYE, T. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica. 1 ed., RJ: CPAD, 2008, p.383).

Enfatize que as finalidades do movimento eram: restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar as injustiças sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica.


COMENTÁRIO


introdução

PALAVRA CHAVE
ATUALIDADE: 
Qualidade ou estado do que é atual; momento ou época presente.

Neste trimestre, estudaremos os chamados Profetas Menores.
Apesar de antiguíssimos, eles tratam de questões relevantes para os nossos dias e servem de edificação espiritual a todo o povo de Deus.
Entre os temas tratados, temos: a família, a sociedade, a política e a espiritualidade.
Na atual conjuntura, os profetas são um verdadeiro esteio da sabedoria divina para a Igreja de Cristo, pois encorajam-nos a militarmos pela causa de Cristo.

I. SOBRE OS PROFETAS MENORES

1. Autoridade. 
A coleção dos Profetas Menores compõe-se dos seguintes livros:
1.- Oseias,
2.- Joel,
3.- Amos,
4.- Obadias,
5.- Jonas,
6.- Miqueias,
7.- Naum,
8.- Habacuque,
9.- Sofonias,
10.- Ageu,
11.- Zacarias e
12.- Malaquias.
Essa estrutura vem da Bíblia Hebraica e, posteriormente, da Vulgata Latina.
A Septuaginta (antiga versão grega do Antigo Testamento) apresenta nos seis primeiros livros uma disposição diferente da Hebraica, dispondo os livros assim: Oseias, Amos, Miqueias, Joel, Obadias e Jonas.
É importante ressaltar que o valor e a autoridade dos escritos dos Profetas Menores em nada diferem dos Profetas Maiores.
Tal classificação é puramente pedagógica, visando tão somente facilitar a compreensão da presença de uma estrutura literária nos livros proféticos do Antigo Testamento.
Não obstante, ambas as coleções são uma só Escritura e têm a mesma autoridade (Jr 26.18 cf. Mq 3.12; Rm 9.25-27 cf. Os 1.10; 2.23; Is 10.22,23).

2. Origem do termo. 
A expressão “Profetas Menores” advém da Igreja Latina por causa do volume do texto ser menor em comparação aos de Isaías, Jeremias e Ezequiel.
Assim explica Agostinho de Hipona (345-430 d.C.) em sua obra A cidade de Deus.
O termo é de origem cristã, pois, na literatura judaica, essa coleção é classificada como Os Doze ou Os Doze Profetas.
Essa informação é confirmada desde o ano 132 a.C, quando da produção do livro apócrifo de Eclesiástico (49.10).
É também corroborada pelo Talmude (antiga literatura religiosa dos judeus) e ratificada pela obra Contra Apion do historiador judeu Flávio Josefo (37-100 d.C).

3. Cânon e cenário dos Doze. 
O cânon judaico classifica os profetas do Antigo Testamento em anteriores e posteriores, sendo:
a) Anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis; e
b) Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze.
A classificação e o arranjo do cânon hebraico diferem sistematicamente do nosso.
Um dado importante é que todos os profetas, de Isaías a Malaquias, viveram entre os séculos 8 a 5 a.C, tendo alguns deles sido contemporâneos.
O período abrangeu o domínio de três potências mundiais: Assíria, Babilônia e Pérsia.
Oseias, Isaías, Amos, Jonas e Miqueias, por exemplo, viveram antes do exílio babilônico (Os 1.1; Is 1.1; Am 1.1; 2 Rs 14.23-25 cf. Mq 1.1), e outros, como Ageu e Zacarias, no pós-exílio (Ag 1.1; Zc 1.1).


SINOPSE DO TÓPICO (I)

Os escritos dos Profetas Menores têm a mesma autoridade que os outros livros do Cânon Sagrado.


II. A MENSAGEM DOS PROFETAS MENORES

1. Procedência (vv.16-18). 
O apóstolo Pedro afirma que a revelação ministrada à Igreja era uma mensagem real e abalizada pelo testemunho ocular do colégio apostólico.
À semelhança dos apóstolos, os profetas, inspirados pelo Espírito Santo, refletiram fielmente a vontade e a soberania divina acerca da redenção de Israel, em particular, e da humanidade, em geral.
A mensagem dos profetas é de procedência divina e tem, como cenário, as ocorrências do dia a dia.
O casamento de Oseias (Os 1.2-5; 3.1-5) e a visita de Amós a Samaria (Am 7.10-17) são apenas alguns dos exemplos que deram ocasião aos oráculos divinos.
Semelhantemente aconteceu aos apóstolos na transfiguração de Jesus no Monte das Oliveiras (Mt 17.5,6; Mc 9.7; Lc 9.34-36).

2. “A palavra dos profetas” (v.19a). 
Convém ressaltar que a expressão “os profetas”, nessa passagem, não se restringe aos literários e nem mesmo aos Doze.
Porque Deus levantou profetas desde o princípio do mundo (Lc 1.70; 11.50,51).
O ministério e os escritos proféticos eram tão importantes que, algumas vezes, o termo é usado para se referir ao Antigo Testamento (At 26.27).
Entre os seus escritos, encontramos mensagens da vinda do Messias, orientações para a vida humana, para a nação de Israel e até para o mundo.
Há também mensagens que se aplicam à Igreja de Cristo (1 Tm 3.16).

3. “Como a uma luz que alumia em lugar escuro” (v.19b). 
Os profetas pregaram tudo o que diz respeito à vida e à piedade.
Os temas eram diversos: Deus, o ser humano e a criação.
Estaríamos à deriva no mundo sem as palavras dos profetas, pois elas nos levam à luz de Cristo (Sl 119.105).
A Lei e os Profetas anunciaram a vinda de Jesus de Nazaré (Jo 1.45; Lc 24.27).
A mensagem dos profetas foi entregue às gerações futuras, preparando-as para o tempo do Evangelho (1 Pe 1.12).
Por isso, não devemos abdicar de seus ensinamentos, pois a autoridade desses escritos é perfeitamente válida para hoje.


SINOPSE DO TÓPICO (II)

A mensagem dos Profetas é de procedência divina. Jamais por inspiração humana.


III. A INSPIRAÇÃO DIVINA DOS PROFETAS

1. A iniciativa divina. 
O apóstolo Pedro retoma o que afirmou nos versículos 16 a 18.
A mensagem dos profetas não se resume a uma retórica baseada em imaginação humana, nem é algo artificialmente construído.
Nenhuma parte dessa revelação “é de particular interpretação” (v.20).
As experiências dos profetas, como as do próprio Pedro no monte da transfiguração, provam a iniciativa divina em comunicar seus oráculos à humanidade.

2. A inspiração dos profetas. 
Está escrito que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16 — ARA).
O termo grego theopneustos para as expressões “inspirada por Deus” e “divinamente inspirada” vem das palavras Theos,
“Deus”, e pneo, “respirar, soprar”. Isso significa que os profetas foram “movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21 — ARA).
O caráter especial e único da “palavra dos profetas” a torna sui generis.
Ela pode fazer qualquer pessoa sábia para a salvação em Cristo Jesus e é proveitosa para ensinar, repreender, corrigir, redarguir e instruir em justiça (2 Tm 3.15,16).
Nenhuma literatura no mundo tem essa mesma prerrogativa.

3. A autoridade dos Profetas Menores. 
A Igreja submete-se inquestionavelmente à autoridade dos apóstolos, e essa é a vontade de Deus.
Pois, os Evangelhos de Mateus e Lucas, ou pelo menos um deles, são colocados no mesmo nível do Antigo Testamento (1 Tm 5.18; Dt 25.4; Mt 10.10; Lc 10.7).
O mesmo acontece com as epístolas paulinas (2 Pe 3.15,16).
Essa é uma forma de se reconhecer definitivamente o Novo Testamento como Escritura inspirada por Deus.
Depreende-se, então, que todos os livros da Bíblia têm o mesmo grau de inspiração e autoridade.
Logo, devemos dar a mesma atenção e credibilidade aos escritos dos Profetas Menores (2 Pe 1.19).


SINOPSE DO TÓPICO (III)

Os livros dos Profetas Menores têm autoridade divina e são genuinamente inspirados por Deus.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, os Profetas Menores, como parte integrante das Escrituras inspiradas, não devem ficar em segundo plano.
Por isso, recomendamos que, já no início do trimestre, seja feita uma leitura dos Doze Profetas.
Esta facilitará a compreensão da mensagem desses despenseiros de Deus.
Convém ressaltar que o enfoque de cada lição, aqui, raramente coincide com o assunto predominante de cada livro, pois a escolha desses temas baseou-se nas necessidades do mundo de hoje.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA


SOARES, E. O Ministério Profético na Bíblia: A voz de Deus na Terra. 1 ed., RJ: CPAD, 2010.
SOARES, E. Visão Panorâmica do Antigo Testamento. RJ: CPAD, 2003.
ZUCK, R. B. (Ed.). Teologia do Antigo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2009.